Sérgio Vieira Reale
Capitão-de-Fragata (RM1)
Sobre a Guerra Naval na Antiguidade[1] e na Idade Média[2], podemos afirmar que: os navios de guerra eram empregados no combate à pirataria para a defesa do tráfego marítimo e na defesa do litoral contra possíveis invasores; eram plataformas flutuantes como meio para o transporte de tropas.
As armas empregadas pela infantaria – flechas, pedras e misturas incendiárias lançadas por meio de catapultas – não eram capazes de infligir danos significativos à estrutura do navio inimigo. Os primeiros canhões tinham um alcance reduzido e a munição não era explosiva. A guerra no mar era um prolongamento das batalhas terrestres e o combatente adversário era o principal objetivo da guerra naval. Prevalecia à tática do abalroamento (choque), que poderia afundar o navio inimigo. Caso contrário, era realizada a abordagem, para que as tropas, após a luta corpo-a-corpo nos conveses, tomassem o controle do navio inimigo como fonte de renda.
A Idade Moderna teve início com a tomada da cidade de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453 e terminou com o início da Revolução Francesa em 1789. A invasão da cidade de Constantinopla pelos turcos marcou o declínio do Império Romano do Oriente e criou um grande problema para o Ocidente. O acesso ao Mar Negro, que possibilitava a chegada às Índias, foi fechado.
Com essa passagem bloqueada, os turcos passaram a cobrar taxas mais altas sobre o comércio das especiarias.
Iniciou-se, assim, a busca das monarquias européias por novas rotas comerciais para o oriente, que resultou na descoberta do caminho marítimo para as índias e do continente americano (novo mundo). Nesse sentido, houve uma mudança do eixo marítimo comercial do Mar Mediterrâneo para o Oceano Atlântico. Portugal, a partir do século XV, foi o primeiro país europeu a se destacar como poder marítimo.
A expansão ultramarina portuguesa acarretou a quebra do monopólio italiano sobre o comércio de especiarias no oriente, pois as cidades de Gênova e Veneza dominavam o mercado de especiarias no Mar Mediterrâneo oriental. O pioneirismo de Portugal em relação aos outros países europeus, na expansão marítima, pode ser atribuído aos seguintes fatores: posição geográfica privilegiada, centralização monárquica, tecnologia náutica desenvolvida e ausência de conflitos armados.
O navegador genovês, Cristóvão Colombo, considerado imprudente quanto as suas pressuposições de que poderia atingir a Ásia pelo ocidente, foi questionado pela igreja e por reis. Contudo, depois de muita persistência por parte do navegador, ele conseguiu o apoio dos Reis da Espanha, Fernando e Isabel, e em 1492, se lançou numa aventura que marcada por incertezas, foi finalmente coroada com a descoberta da América (novo mundo).
Após a descoberta do caminho marítimo para as índias a penetração portuguesa no Oriente não foi pacífica, face à oposição dos muçulmanos e dos interesses comerciais na região. Em 1509, coube a D. Francisco de Almeida (militar e explorador português), após uma sequência de combates navais contra esquadra do islã, travara Batalha Naval de Diu (oeste da Índia), cuja vitória contribuiu para fortalecer a presença portuguesa no Oceano índico.
A Batalha de Diu, realizada no Mar da Arábia, é reconhecida como uma das mais importantes da história, pois estabeleceu a superioridade naval européia no Oceano Índico.
Durante o século XVI, o Mar Mediterrâneo foi um teatro de operações marítimo entre cristãos e muçulmanos. Esperava-se que uma batalha decisiva entre duas esquadras de galeras resolvesse essa situação. Em 1571, para conter a expansão dos turcos otomanos no mediterrâneo oriental e na Europa tivemos a Batalha Naval de Lepanto (Grécia), última batalha entre navios a remo.
Essa batalha foi realizada pela Santa Liga, coalizão naval formada pelos cristãos espanhóis, genoveses e venezianos, contra os turcos otomanos. O principal objetivo da Santa Liga era, principalmente, recuperar a estratégica ilha de Chipre, que havia sido conquistada pelos turcos.
Naquele período, as galeras ainda eram os principais navios de guerra. Estes navios tinham 41 metros de comprimento, 5 metros de boca (largura), possuíam 24 remos de cada lado e deslocava cerca de 200 toneladas.
Elas eram de madeira, movidas á vela ou a remos. Possuíam canhões o que exigia um maior número de remadores para compensar o aumento do peso das embarcações.
No alvorecer do século XVII, o poder na Europa encontrava-se dividido pela Inglaterra, Holanda e França e Espanha. Entre eles, existia uma forte disputa pela hegemonia do continente e pela disputa do uso dos mares, cujos resultados produziram impacto na ordem internacional.
Coube a Inglaterra, por sua geografia e mentalidade marítima de seu povo, a partir da segunda metade do século XVII, o papel de potencializar o desenvolvimento do poder marítimo, em especial, o emprego da Marinha de Guerra como instrumento para garantir seus interesses comerciais.
Na disputa entre holandeses e ingleses o “Ato de Navegação de 1651”, baixado pela Inglaterra, estabeleceu que mercadorias compradas da Inglaterra ou vendidas a ela só poderiam ser transportadas em navios ingleses. Nesse sentido, tinha os objetivos de reduzir o poderio comercial holandês e desenvolver a Marinha Inglesa.
Vale mencionar as grandes batalhas navais ocorridas entre holandeses e ingleses no século XVII. No final destes combates, os holandeses estavam enfraquecidos e foram obrigados a negociar a paz. O objetivo da Inglaterra era conquistar o domínio do comércio europeu. A partir daquele momento a inglaterra se torna a maior potência naval do mundo.
Às inovações tecnológicas produzidas pela Revolução Industrial desde os meados do século XVIII promoveram significativas alterações na construção e na guerra naval: propulsão a vapor, substituição da madeira pelo ferro, projetil explosivo, o hélice para substituir as rodas de pá, o aparecimento das minas e dos torpedos.
O tamanho e o poder de destruição dos canhões era crescente. À medida que o calibre e o peso dos canhões aumentou surgiu a necessidade de construir um convés abaixo do convés principal. Desse modo, foram feitas aberturas no costado, pelos traveses (laterais do navio), a fim de aumentar a estabilidade dos navios de madeira.
Desta forma, o navio passaria a ser o novo objetivo da guerra naval, devido a progressiva capacidade do canhão em causar danos estruturais (inclusive na mastreação).
No que se refere à tática, a manobra dos navios buscava possuir o vento, ou seja, obter a posição do barlavento para iniciar o ataque. Cabe ressaltar que, surgiram duas escolas táticas para o combate no mar. A Formalista defendia que a esquadra deveria se posicionar paralelamente à esquadra inimiga para iniciar o combate. Por outro lado, a escola Meleísta sustentava que o melhor seria a concentração de forças sobre a esquadra inimiga de forma a envolvê-la. No final da idade moderna, a galera ainda era o principal navio de guerra do Mar Mediterrâneo. A propulsão à vela acarretou que as ações táticas fossem realizadas levando em consideração a direção e intensidade do vento. A coluna era a formatura mais adequada para o emprego dos canhões.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. JUNIOR, Haroldo Basto Cordeiro. DE ARS BELLUM. O estado da arte bélica no inicio do século XX. Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 121, n. 01/03, jan/mar. 2001.
2. ALBUQUERQUE, Antônio Luiz Porto; SILVA, Léo Fonseca e. Fatos da História Naval. 2.ed. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha. 2006.
3. VIDIGAL, Armando e de Almeida, Francisco Eduardo Alves. Guerra no Mar: batalhas e campanhas navais que mudaram a história. Record. 2009.
[1] Período compreendido entre a invenção da escrita e a queda do Império Romano Ocidente 476 d.C
[2] Período compreendido entre a queda do Império Romano do Ocidente 476 d.C e a conquista de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453 d.C