Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
A Batalha de Chesapeake foi a batalha naval decisiva da Guerra de Independência dos Estados Unidos que ocorreu perto da foz da Baía de Chesapeake em 5 de setembro de 1781. Os combatentes eram uma frota britânica, constituída por 24 navios de linha e 1.42 canhões, comandada pelo contra-almirante Sir Thomas Graves e uma frota francesa com 19 navios de linha e 1.410 canhões, liderada por Contra-almirante François Joseph Paul, o Conde de Grasse. A batalha foi estrategicamente decisiva, pois impediu a Marinha Real de reforçar ou evacuar as forças sitiadas do tenente-general Lord Cornwallis em Yorktown, Virgínia. Os franceses conseguiram controlar as linhas de comunicação marítimas na área das 13 colônias contra os britânicos e forneceram ao exército franco-norte-americano artilharia de cerco e reforços franceses. Estes provaram ser decisivos no cerco de Yorktown, efetivamente garantindo a independência das Treze Colônias.
O almirante francês de Grasse tinha a opção de atacar as forças britânicas em Nova York ou na Virgínia. Após analisar a situação, optou pela Virgínia, chegando a Chesapeake no final de agosto. O contra-almirante Graves soube que de Grasse havia navegado das Índias Ocidentais para a América do Norte e o esquadrão do almirante francês de Barras, com 8 navios da linha, 4 fragatas e 18 transportes carregando armamentos franceses e equipamentos de cerco, também havia navegado de Newport, Rhode Island. De Grasse concluiu que eles iriam unir forças em Chesapeake. Graves levou sua esquadra para o sul de Sandy Hook, Nova Jersey, fora do porto de Nova York, e chegou à foz do Chesapeake no início de 5 de setembro, quando seus batedores viram a esquadra de Grasse já ancorada na baía. De Grasse preparou apressadamente a maior parte de sua esquadra para a batalha – 24 navios da linha – e partiu para encontrá-lo. O engajamento de duas horas ocorreu após horas de manobras.
De Grasse tinha vários problemas, vários navios estavam com suas tripulações bem desfalcadas, faltavam oficiais, mestres e marinheiros, não haviam homens suficientes para guarnecer os canhões. Além disso, a esquadra francesa estava ancorada e deveria navegar contra a maré, De Grasse ordenou que os navios suspendessem e formassem a linha de batalha ao saírem da baía. O esquadrão de vanguarda francês estava bem adiante dos outros dois esquadrões, o central e da ré, abrindo uma lacuna, grande o suficiente, para que os britânicos pudessem cortar a sua linha de batalha.
Por volta das 16 h, mais de 6 horas desde que as duas frotas se avistaram pela primeira vez, os britânicos – que tinham o barlavento e, portanto, a iniciativa – se aproximaram o suficiente para engajar os franceses. A batalha teve início com o HMS Intrepid (64 canhões) abrindo fogo contra o Marseillois (74 canhões), navio de linha que liderava a linha de batalha. A ação rapidamente se generalizou, com a vanguarda e o centro de cada linha trocando canhonaços. Os franceses, em uma prática pela qual eram conhecidos, tendiam a mirar nos mastros e cordames britânicos, com a intenção de prejudicar a mobilidade e a manobrabilidade de seu oponente. Os efeitos desta tática logo ficaram evidentes no combate: o HMS Shrewsbury (74 canhões) e o HMS Intrepid, navios de linha ponteiros da linha britânica, tornaram-se praticamente impossíveis de manobrar, e posteriormente saíram da linha de batalha. O resto do esquadrão da ré do contra-almirante Francis Samuel Drake também sofreu grandes danos, mas as baixas não foram tão graves quanto as dos dois primeiros navios. O ângulo de aproximação da linha britânica também desempenhou um papel nos danos que sofreram; os navios da vanguarda foram expostos aos canhões franceses enquanto apenas seus canhões de proa podiam ser usados contra os franceses.
A vanguarda francesa também foi castigada pelo fogo britânico, embora de forma menos severa. O capitão Cillart de Surville, do Réfléchi (64 canhões), foi morto na abertura dos combates pelo HMS Princess, do Almirante Drake, e os quatro navios da vanguarda francesa estavam lutandos contra sete ou oito navios britânicos. A Diadème, ficou incapaz de se manter na batalha, tendo apenas quatro canhões de trinta e seis libras e nove de dezoito libras aptos para uso e foi gravemente danificada. Diadème (74 canhões) foi resgatada pela intervenção oportuna da Saint-Esprit.
A certa altura, o HMS Princess (70 canhões) e o Auguste (80 canhões), do almirante Bougainville estavam próximos o suficiente para que o almirante francês considerasse uma ação de abordagem. Drake conseguiu se afastar, mas isso deu ao contra-almirante Bougainville a chance de atingir o HMS Terrible (74). Seu mastro, já em mau estado antes da batalha, foi atingido por várias balas de canhão francesas, e suas bombas, já sobrecarregadas na tentativa de mantê-la à tona, foram seriamente danificadas por tiros pouco acima da linha d’água.
Por volta das 17 h, o vento começou a mudar, para desvantagem britânica. De Grasse deu sinais para que a vanguarda se movesse mais à frente para que mais da frota francesa pudesse se envolver, mas Bougainville, totalmente engajado com a vanguarda britânica, do contra-almirante Samuel Hood ao alcance dos mosquetes, não queria arriscar. Quando o seu esquadrão finalmente começou a se afastar, os oficiais britânicos interpretaram isso como uma retirada.
O centro de ambas as linhas estavam engajados, mas o nível de danos e baixas sofridas foi visivelmente menor. Os navios dos esquadrões de retaguarda quase não se envolveram na batalha. O contra-almirante Hood relatou que apenas três de seus navios dispararam alguns tiros. Os sinais conflitantes contínuos emitidos por Graves e as discrepâncias entre os registros dele e de Hood sobre quais sinais foram dados e quando, levaram a recriminações imediatas e uma eventual investigação formal.
Após o combate, Graves levou sua esquadra para leste, se afastando de Yorktown, onde as tropas britânicas estavam cercadas. Em 8 e 9 de setembro, a frota francesa às vezes ganhava vantagem do vento e ameaçou brevemente os britânicos. Em 9 de setembro, de Grasse voltou para a baía de Chesapeake naquela noite. Chegando em 12 de setembro, descobriu que Barras havia chegado dois dias antes desbarcando as tropas e os suprimentos para o reforço do cerco. Em 13 de setembro, os almirantes britânicos, Graves, Hood e Drake, se reuniram e decidiram não atacar os franceses, devido o estado da esquadra e a superioridade francesa. Graves voltou a Nova York para organizar um esforço de socorro maior. A esquadra britânica partiu em 19 de outubro, dois dias após a rendição de Cornwallis…
Conclusão
Tendo em vista que as linhas de batalha das duas frotas não se encontravam completamente; apenas as seções dianteira e central totalmente engajadas, a batalha foi, consequentemente, bastante equilibrada, embora os britânicos tenham sofrido mais baixas e danos nos navios, quando o combate foi interrompida ao pôr do sol. As táticas britânicas empregadas durante a batalha, principalmente, a questão dos sinais enviados por Graves e o fato de Hood não ter perseguido os franceses, têm sido objeto de debate desde então.
As duas frotas navegaram à vista uma da outra por vários dias, mas de Grasse preferiu atrair os britânicos para longe da baía onde de Barras deveria chegar carregando equipamento de cerco vital, o que de fato ocorreu e foi decisivo para a rendição da tropa britânica cercada em Yorktown. De Grasse se separou dos britânicos em 13 de setembro e voltou para Chesapeake, onde de Barras havia chegado.
A Batalha de Chesapeake foi uma vitória tática e estratégica para os franceses e norte-americanos que selou o principal resultado da guerra.
Imagem de Destaque: https://ltwilliammowett.tumblr.com/post/668530554461896704/battle-of-chesapeake-bay-1781-by-patrick-obrien
Fontes
https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_the_Chesapeake
https://revolutionarywar.us/year-1781/battle-chesapeake-capes/
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.