Luiz Martins de Souza Dantas: O Embaixador brasileiro que se tornou “Justo entre as Nações”

de

Prof. Esp. Pedro Silva Drummond

Introdução

A Segunda Guerra Mundial tem no dia 1 de Setembro de 1939, a data do início dos conflitos, com a invasão na Polônia. Nos próximos dias e meses, após a invasão e o controle da Polônia, a Alemanha conquistou boa parte dos territórios que compõe a Europa Ocidental. Entre os Países conquistados, está à França, aonde Luiz Martins de Souza Dantas, que é o objeto de análise desse texto, foi Embaixador durante 1922 até 1943.

Em Junho de 1940, a Alemanha conquista o território francês, poucos meses depois do início da Segunda Guerra Mundial. A capital da França foi transferida para Vichy, na chamada “zona livre” do País, local onde Souza Dantas também seguiu.

Após a saída do Embaixador de Paris para Vichy, se inicia os primeiros registros de vistos diplomáticos irregulares para Judeus. Essa ajuda do Embaixador brasileiro na França possibilitou que décadas depois, ele fosse reconhecido pelo Estado de Israel como o “Justo entre as Nações”.

Hall dos Nomes no Museu do Holocausto (Yad Vashem)
https://m.folha.uol.com.br/mundo/2017/06/1895806-museu-do-holocausto-em-jerusalem-busca-nomes-de-vitimas-do-nazismo.shtml

A chegada de Adolf Hitler ao poder na Alemanha, provocou uma política antissemita desde o início do governo, que permaneceu durante toda a Guerra. Essa política que durante a Segunda Guerra Mundial, inclusive, ficou mais agressiva, pode ser divida em quatro fases: “A primeira (1933 a 1935) foi a da discriminação e início da exclusão da vida pública, com medidas como proibição do exercício de profissões liberais, de frequência a escolas e universidades e de boicote contra lojas judaicas. A segunda fase compreende os anos de 1935 a 1938: isolamento e degradação, que se inicia com as Leis de Nuremberg, segundo as quais os judeus deixavam de ser considerados cidadãos e eram proibidos de se casar com “arianos”, sob pena de morte. Na terceira fase, de 1938 a 1941, iniciada a partir da “Noite dos Criastais Quebrados”, o primeiro pogrom do século XX, e marca o início da violência física em massa contra os judeus e da deportação para os campos de concentração… Nesse momento, os judeus foram completamente banidos da vida econômica na Alemanha. As propriedades judaicas foram colocadas em contas e confiscadas pelo Estado. Nesse período, eclode a Segunda Guerra Mundial, a expansão do “espaço vital” da Alemanha nazista, o aumento das vítimas, dos campos, e se inicia o confinamento em guetos dos judeus. A quarta e última fase, de 1941 a 1945, é a da “Solução Final da Questão Judaica” – ou seja, do extermínio em massa” (Holocausto e Anti-Semitismo)

Luiz Martins de Souza Dantas e os Judeus

A fuga de Judeus da Alemanha teve início desde o surgimento das políticas antissemitas, e aumentou com as Leis de Nuremberg e a Noite dos Cristais. Com a expansão alemã e o começo da Segunda Guerra Mundial, a fuga dos Judeus se intensificou por toda Europa. Na França, esse aumento, aconteceu com a guerra e consequentemente, a conquista alemã do território francês.

Diante de um conflito que estava ocupando praticamente toda a Europa, a procura por parte dos Judeus de representações diplomáticas fora do Continente Europeu, aumentaram.

Como citado anteriormente, o papel do Embaixador Luiz Martins de Souza Dantas, como um dos nomes que ajudou na saída dos Judeus da França, tem início com a saída de Paris para Vichy, como explica Koifman (2020), “Os primeiros registros que conseguimos localizar de vistos diplomáticas irregulares concedidas pelo embaixador, começam a aparecer a partir de sua saída de Paris. A preocupação de Souza Dantas por causa da situação dos refugiados não começou com a queda da França, mas perante o desespero e a necessidade absoluta de tanta gente fugir do país por uma questão de sobrevivência, O embaixador reagiu facilitando a saída para aqueles que puderam de alguma forma chegar até ele.”

O desejo de Souza Dantas era retirar aquelas pessoas da França, como esclarece Ferraz (2016), “Os vistos não obedeceram as regras e exigências legais instituídas pelo MRE. Todos eles foram preenchidos a próprio punho e com um carimbo da embaixada brasileira. O próprio embaixador, até onde se sabe, não possuía nenhum controle de quantos ou à quais pessoas concedeu os vistos. Em depoimento realizado em 1942 e enviado ao MRE em 1 de Maio, afirmou que “(…) quase todos foram concedidos somente para facilitar a saída da França de infelizes votados ao suicídio (…)” ou, como sabemos hoje, às câmaras de gás.” As pesquisas mais recentes trazem um número aproximado de 400 Judeus que chegaram ao Brasil e aproximadamente quase 1000 que conseguiram sair da França e tiveram outro destino.

Placa comemorativa em Paris reconhece Souza Dantas como um “grande amigo da França”.
https://www.terra.com.br/noticias/mundo/quem-foi-o-embaixador-brasileiro-que-contrariou-hitler-e-vargas-para-ajudar-fugitivos-do-nazismo,fceac92b03f75cfba1656e51a9f87ecadebj4kaw.html

A atitude assumida pelo Embaixador Luiz Martins de Souza Dantas, permitiu que posteriormente, fossem feitas uma série de homenagens por Israel, como o título, já citado, “Justo entre as Nações” e no próprio Museu do Holocausto (Yad Vashem), existe uma placa, com o nome de Souza Dantas, em reconhecimento pelas vidas que salvou, no Jardim dos Justos entre as Nações.

Parede de Honra no Jardim dos Justos entre as Nações, indicando o nome dos integrantes brasileiros
https://news.tvs-24.com/entertainment/tv/50243.html

No caso do governo brasileiro, a situação era bem diferente, o governo Vargas tinha criado a Circular 1127, de 1937, que restringia a entrada de pessoas de origem semita no País, e posteriormente, a Circular 1498, de 1941, que suspendia completamente a entrega de vistos para Judeus em todas as missões diplomáticas do País.

Essas decisões provocavam com que as relações entre o Embaixador Luiz Martins de Souza Dantas e o governo Vargas continuassem estremecidas. A relação entre o Governo Vargas e o Embaixador sofreu durante alguns períodos sérios abalos, como no dia que o Diplomata recebeu em Paris o ex-Presidente Washington Luís, que tinha sido deposto por Vargas em 1930. No final de 1941, foi instaurado pelo governo, um inquérito administrativo contra o Embaixador.

Conclusão

O Embaixador Luiz Martins de Souza Dantas, com as suas atitudes em defesa daqueles que estavam sendo perseguidos pela Alemanha, principalmente de Judeus, acabou se tornando uma figura relevante na História do Brasil, Israel e da Segunda Guerra Mundial.

As dificuldades enfrentadas pelo Embaixador com o governo Vargas, no período anterior a Segunda Guerra Mundial e os primeiros anos do conflito, acabaram tomando outros rumos, quando o Brasil declarou guerra à Alemanha.

Meses antes, a declaração de guerra pelo Brasil, o inquérito contra o Diplomata, foi arquivado, e posteriormente, a figura de Souza Dantas acabou sendo visto como um símbolo brasileiro contra as medidas criadas por Hitler e seu governo.

O Embaixador Souza Dantas acabou se tornando juntamente com Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, funcionária do Consulado Brasileiro em Hamburgo, os únicos brasileiros reconhecidos por Israel como “Justo entre as Nações”, por terem ajudado os judeus na Segunda Guerra Mundial. Essa homenagem atualmente foi concedida para 36 diplomatas e milhares de pessoas.

Imagem de Destaque: Embaixador Luiz Martins de Souza Dantas https://www.brnotrails.cz/en/object/39-hlinky-104-escape-to-brazil

Bibliografia

BRANDI, Paulo. Verbete Luís Martins de Sousa Dantas. Rio de Janeiro: CPDOC. Disponível em: <http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/dantas-luis-martins-de-sousa>. Acessado em:28/12/2021.

FERRAZ, Bárbara Zimetbaum. Os Refugiados Judeus no Governo Vargas e o papel do Embaixador brasileiro na França, Luiz Martins de Souza Dantas. Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 2016.

KOIFMAN, Fábio. Souza Dantas: Justo entre las Naciones. Brasília: FUNAG, 2020.

https://diversitas.fflch.usp.br/holocausto-e-anti-semitismo

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Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.

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