O inferno verde: a Batalha de Cabo Gloucester

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral 

Uma das batalhas retratadas na minissérie The Pacific foi a Batalha do Cabo Gloucester. Travada entre os dias  26 de dezembro de 1943 e 16 de janeiro de 1944, na ilha de Nova Bretanha, na Nova Guiné, no Pacífico Sul. O seu principal objetivo era tomar o campo de aviação japonês e isolar a principal base japonesa em Rabul, que estava localizada no extremo leste da ilha de Nova Guiné, além cortar as linhas de comunicação japonesas no sudoeste do Pacífico. Esta batalha esta inserida em uma ampla ofensiva dos Aliados nas ilhas do Sudoeste do Pacífico em direção as Filipinas. O comandante em chefe Aliado, dessa parte do teatro de Operações do Pacífico Sul, era o Tenente-General Douglas McArthur.

A operação foi conduzida pela 1ª Divisão de Fuzileiros Navais norte-americanos contra o 17ª Divisão japonesa. A divisão norte-americana vinha de um duro combate contra os japoneses em Guadalcanal (7/8/1942 a 9/2/1943).

A Nova Bretanha é a maior ilha do Arquipélago de Bismark, na atual Papua-Nova Guiné. A ilha está separada da Nova Guiné pelos estreitos Vitiaz e Dampier. A ilha tinha três dos seus lados cercada de recifes, só permitindo a operação com pequenos navios e não tinha portos protegidos, possuía densas florestas tropicais, de clima quente, muito chuvosa durante as moções, com mangues profundos e muitos pântanos. Estas características do terreno limitavam a logística e dificultava a progressão das tropas a pé. Além disso, a ilha tem dois vulcões extintos e um semi-ativo, todos em terrenos elevados e de difícil acesso, e as praias não eram adequadas ao assalto anfíbio. A infraestrutura era precária e juntamente com o tipo de terreno, dificultava o deslocamento de veículos e blindados. O campo de aviação tinha duas pistas, mas apenas uma tinha uma extensão adequada para operações em larga escala e era praticamente inoperante durante as moções.

As forças norte-americanas e japonesas

A Operação tinha o codinome de Backhander e seria o segundo assalto anfíbio da 1ª Divisão de Fuzileiros Navais na guerra. O 7º Regimento de Fuzileiros Navais seria reponsável pelo ataque principal, o 1º Regimento de Fuzileiros Navais faria um ataque diversionário, e o 5º Regimento de Fuzileiros Navais estava empenhado como reserva. O apoio de artilharia era do 11º Regimento de Artilharia dos Fuzileiros Navais. Essas tropas foram organizadas em três equipes de combate: Equipe de Combate “A”, o 5º Regimento de Fuzileiros Navais; Equipe de Combate “B”, o 1º Regimento de Fuzileiros Navais e a Equipe de Combate “C” era o 7º Regimento de Fuzileiros Navais.

A  17ª Divisão Japonesa era a encarregada da defesa da ilha, era uma tropa experiente, já havia servido na China entre outubro e novembro de 1943. A divisão era constituída pela 65ª Brigada, com os 53º e 141º Regimentos de Infantaria e elementos do 4º Grupo de Navegação (Marinha Japonesa). Essas tropas tinham apoio de artilharia de campanha e antiaérea, e uma variedade de elementos de apoio, incluindo engenheiros. A 11ª Frota Aérea e a 6ª Divisão Aérea Naval eram responsáveis pelo apoio aéreo. O efetivo era em torno de 3.883 soldados. O campo de aviação era defendido pelo 1º Batalhão do 53º Regimento de Infantaria com apoio de dois batalhões de artilharia, uma companhia de armamento pesado e um batalhão de artilharia antiaérea. O 2º Batalhão do 53º Regimento de Infantaria, estava na reserva, enquanto o 141º Regimento de Infantaria estava posicionado bem ao sul em torno do Cabo Bushing. Na época dos combates, a eficiência dessas tropas havia sido degradada por doenças e pela falta de suprimentos, devido à interdição dos navios de abastecimento na costa japonesa.

O ataque

No dia 25 de dezembro de 1943, o 112º Regimento de Cavalaria do Exército dos EUA desembarcou em Arawe, na costa centro-sul, a fim de atrair a atenção dos japoneses e  desviar as atenções para o ataque anfíbio em Cabo Gloucester. Esta operação também tinha como objetivo bloquear a rota de reforços e suprimentos japoneses de leste a oeste. As Forças Aéreas dos Aliados bombardearam as posições japonesas e forneceram proteção aérea durante toda a campanha.

O principal assalto anfíbio ocorreu em 26 de dezembro de 1943, após um bombardeio naval e aéreo, seguido do desembarque dos fuzileiros navais dos EUA em ambos os lados da península.

O 1º Regimento de Fuzileiros Navais com uma bateria do 11º Regimento de Artilharia dos Fuzileiros Navais desembarcou no lado ocidental na Baía de Borgen atraindo a atenção dos defensores, avançando no terreno, cortou a estrada costeira perto de Tauali para restringir a liberdade de movimento da tropa japonesa. O avanço prosseguiu, apesar da resistência dos japoneses. A ligação com a força principal ocorreu em 13 de janeiro.

O 1º Regimento de Fuzileiros Navais, principal força de ataque, desembarcou no Ponto Silimati, no lado oriental, com o apoio do batalhão de tanques, avançou para o norte em direção aos campos de aviação. O 5º Regimento de Fuzileiros Navais, que estava na reserva, permaneceu embarcado aguardando ondens para reforçar o ataque. O avanço principal encontrou uma leve resistência no início da operação e foi retardado pelo terreno pantanoso que canalizou as tropas americanas para uma estreita trilha costeira. Em 29 de dezembro, o 5º Regimento de Fuzileiros Navais desembarcou e se movimentou a fim de flanquear os defensores japoneses na área do aeroporto.

No final de dezembro os fuzileiros começaram a romper as linhas de defesa dos japoneses e capturam o campo de pouso. O avanço da infantaria apoiado pelos blindados e artilharia continuou a fim de destruir o restante das forças japonesas. Entre 3 e 10 de janeiro, os japoneses lançam vários contra-ataques, diminuindo brevemente a velocidade do avanço dos fuzileiro. Em 16 de janeiro de 1944, os fuzileiros tomam a colina 660, marcando o fim das operações defensivas japoneses que se retiram para a selva ficando cercadas em uma região da ilha até o fim da guerra.

Em 23 de abri de 1944, a 1ª Divisão de Fuzileiros Navais foi substituída em torno do Cabo Gloucester pela 40ª Divisão de Infantaria do Exército dos EUA, após 117 dias em operações.

https://www.history.navy.mil/content/history/museums/nmusn/explore/photography/wwii/wwii-pacific/south-southwestern-pacific/new-britain-campaign/battle-cape-gloucester/80-g-44373.html

Conclusão

A Batalha de Cabo Gloucester é até hoje muito discutida. A questão principal é sobre a sua contribuição prática para o sucesso das operações no Sudoeste do Pacífico. Os comandantes das Forças Aéreas Aliadas achavam a operação desnecessária, já que as pistas deveriam passar por obras para suportar o volume de tráfego das grandes aeronaves em operações, além disso quando tais obras estivessem concluídas, o campo de pouso não seria mais necessário. Já os comandantes da Marinha e do Exército achavam importante para a segurança das linhas de comunicações marítimas, o apoio de fogo e logístico para a sequência das operações na Nova Guiné.

Se você quiser ver um pouco dessa batalha, tem esse pequeno filme: Battle of Cape Gloucester WWII Combat Footage. Disponível no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=m7-H-4H24u4

Quer saber mais sobre as Operações Anfíbias e Segunda Guerra Mundial (Extremo Oriente e Guerra no Pacifíco), entre nas categorias do site.

Bibliografia

– Hammel, Eric. Coral and Blood: The U.S. Marine Corps’ Pacific Campaign. Pacifica, Califórnia: Pacifica Military History, 2010.

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Sites consultados

https://www.history.navy.mil/content/history/museums/nmusn/explore/photography/wwii/wwii-pacific/south-southwestern-pacific/new-britain-campaign/battle-cape-gloucester/80-g-44373.html

https://www.ibiblio.org/hyperwar/USMC/USMC-C-Gloucester/index.html

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Cape_Gloucester

Indicação bibliográfica

Outra obra muito interessante, são as memórias do Marine R V Burgin que lutou junto II Corpo de Fuzileiros Navais nas campanhas dos Marines de Peleliu até Okinawa, recebendo uma medalha Bronze Star.

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Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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