A Base Industrial de Defesa Iraniana e seus principais produtos

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral e Ms. Rodolfo Laterza

Durante o governo do Xá Mohammed Reza Pahlavi, de 1941 a 1979, as forças armadas iranianas dependiam fortemente de importações estrangeiras para atender às suas necessidades de armamento. Entre 1970 e 1978, o Irã importou US$ 20 bilhões em armas, munições e equipamento militar dos Estados Unidos. Essas compras incluíram a venda de caças F-4, F-5 e F-14, helicópteros de ataque AH-1 e várias outras plataformas de armas que o Irã ainda opera hoje. Além das compras diretas, o Irã também adquiriu os direitos de licenciamento para produzir várias armas ocidentais, como o fuzil de assalto Heckler & Koch G-3 e a submetralhadora MP5 (Alemanha), Rheinmetall MG3 (Alemanha) e o sistema de mísseis superfície-ar da Rapier, da British Aerospace. Muitos desses sistemass ainda são produzidos no Irã hoje.

Até 1979, o Irã e os Estados Unidos eram aliados e tinham excelentes relações, mas com a Revolução Islâmica e a invasão da Embaixada norte-americana, tudo isso mudou e os dois países se tornaram inimigos.

A República Islâmica do Irã passou então a apoiar movimentos xiitas estimulando lutas sectárias em outros estados muçulmanos a fim de propagar a revolução, levando a um aumento das rivalidades entre os grupos religiosos no interior na região.

Após a revolução Islâmica e o verdadeiro êxodo de grande parte da elite econômica e de parte da classe média o Irã estava com as estruturas estatais enfraquecidas, em especial, as Forças Armadas, vítimas de expurgos, deserções e condenações. Tais fatores levaram o Iraque a tentar resolver antigos problemas fronteiriços (a questão dos limites da margem oriental do Shatt al-Arab e a província do Cuzistão) e ao mesmo tempo derrubar o regime islâmico que trazia instabilidade para o regime do partido Ba’ath de Saddam Hussein pela guerra (1981). Lembro que no Iraque a minoria sunita governava a maioria xiita e ainda tinha a questão dos curdos no norte do país. A guerra terminou em 1988 e deixou os dois países exaustos, mas consolidou o regime islâmico no Irã.

Desde 1979, o Irã, por diversos motivos, tem recebido da ONU e das potências ocidentais, em particular dos Estados Unidos, uma série de sanções que prejudicaram seu desenvolvimento econômico e o acesso à tecnologias de ponta. No entanto, os iranianos tem conseguido superar suas dificuldades na área bélica driblando as restrições com importações triangulares, por intermédio de países que não aderiram ao regime proposto pelos EUA e seus aliados, além de aquisições no mercado negro.

Os iranianos investiram muito na formação de mão de obra, só para se ter uma ideia Teerã forma mais de 200 mil engenheiros por ano e são muito eficientes em engenharia reversa e no desenvolvimento de processos para a produção de materiais tecnologicamente avançado, para os iranianos não importa o quanto custa, mas o produto final. Mas não se enganem, apesar da retórica do governo e da propaganda, a indústria de defesa iraniana em muitos aspectos é obsoleta e existem dúvidas sobre a performance e eficácia de seus armamentos.

O Irã tem construído sistemas de armas impressionantes: mísseis balísticos, veículos aéreos não tripulados (UAV) e capacidades navais. No entanto, não conseguiram avançar na produção de blindados, aeronaves de combate e helicópteros de ataque modernos verdadeiramente originais. A falta de acesso a tecnologias de armas avançadas sem dúvida prejudica significativamente o desenvolvimento desses sistemas de armas convencionais.

O desenvolvimento da indústria de defesa iraniana está alinhado com os objetivos estratégicos do governo que tem que lidar com inimigos estratégicos tecnologicamente muito superiores como os Estados Unidos e Israel, além de um entorno regional desafiador (para saber mais acesse https://historiamilitaremdebate.com.br/o-ira-e-a-balanca-de-poder-no-oriente-medio/ e https://historiamilitaremdebate.com.br/analise-do-conflito-curdo-iraniano/ )

A estratégia militar do Irã é estruturada para responder aos princípios tradicionais do planejamento estratégico militar norte-americano. Esse objetivo estratégico levou a BID iraniana a priorizar cinco áreas: defesa de aérea, artilharia e mísseis balísticos, guerra eletrônica e cibernética, poder aéreo limitado e combate naval. São essas áreas que a indústria de defesa iraniana tem mostrado avanços tecnológicos significativos e impressionantes, e a criação dessas armas continua sendo o foco principal da BID iraniana.

Atualmente, os iranianos conseguiram implementar acordos informais de cooperação com a China e a Rússia que devem permitir um salto de qualidade nos sistemas de armas produzidos.

A indústria de defesa do Irã está organizada sob controle estatal e é supervisionada pelo Ministério da Defesa e Logística das Forças Armadas (MDLFA) que é responsável pela formação de mão-de-obra, pesquisa e desenvolvimento, produção e aquisição de determinadas categorias de sistemas de armas. No total, o MDLFA e suas estruturas subordinadas colaboram com mais de 3.150 empresas e 92 universidades que formam a base industrial de defesa iraniana.

Em 2020, o Irã gastou pelo menos US$ 15,825 bilhões em gastos com defesa, que totalizaram 11.7 % do total de gastos do governo. Alguns especialistas, no entanto, acreditam que a verdadeira extensão dos gastos militares do Irã é significativamente maior do que o valor relatado, já que grande parte do financiamento realizado pelo Corpo de Guardas Revolucionários Islâmicos do Irã (CGRI) é desconhecido até mesmo dos poderes executivo e legislativo iranianos.

No período de 2017-2021, o Irã lançou um grande programa de modernização voltado especificamente para o desenvolvimento e produção de mísseis, defesa aérea e naval, drones e sistemas de guerra eletrônica, fortalecendo a BID e reduzindo a dependência externa.

https://www.army-technology.com/projects/karrar-main-battle-tank/

Setor de armas terrestres

Desde o fim da Guerra Irã-Iraque a BID sofreu uma redução no investimento no setor de armas terrestres. Isso ocorreu devido a uma uma mudança no cenário estratégico iraniano no seu entorno regional imediato, pois a maioria dos confrontos terrestres foram campanhas de contrainsurgência, de pequena escala contra adversários militarmente inferiores.

Apesar da relativa baixa produtividades, Teerã afirma que é capaz de produzir veículos terrestres totalmente nacionais e que estes são iguais ou superiores aos modelos de veículos ocidentais. No entanto, a realidade é bem diferente, pois a maioria dos veículos terrestres nacionais produzidos pela BID são modelos ocidentais, russos ou chineses obtidos antes da queda do Xá. Tais veículos foram modificados e atualizados de acordo comas necessidades e os limites tecnológicos iranianos.

Os modelos originais de muitos dos veículos terrestres ainda produzidos no Irã atualmente foram aposentados e descontinuados décadas atrás pelos construtores originais. O único carro blindado terrestre avançado e moderno que o Irã pode alegar ter produzido localmente é o MBT Karrar, que foi apresentado em 2016. Segundo Teerã, o MBT é uma plataforma superior, em alguns aspectos, ao russo T-90 tanque. Essa afirmação, porém, é confrontada com extremo ceticismo por parte de especialistas internacionaiss, já que o Irã não tem meios financeiros, nem tecnológicos para desenvolver um veículo tão avançado. Além disso, parece que a própria plataforma Karrar é baseada no antigo modelo de tanque russo T-72, que não é mais produzido na Rússia, nem na Ucrânia.

O Irã tem uma série de limitações tecnológicas de desenvolver veículos blindados terrestres verdadeiramente originais e modernos. No entanto, essa limitação não se estende à sua capacidade de produzir equipamentos básicos de forças terrestres, como armas pequenas e munições, artilharia e ATGMs. Com relação a essas armas, o Irã é capaz de produzir mais de 50 tipos de munição e projéteis e fornece para as suas forças, a maioria de suas armas de pequeno porte por meio de desenvolvimento local ou engenharia reversa que utiliza.

https://www.globalsecurity.org/jhtml/jframe.html#https://www.globalsecurity.org/
military/world/iran/images/submarines-1.gif|||Iranian%20Submarines

Setor Naval

O desenvolvimento assimétrico da BID iraniana talvez seja melhor representado por seu setor de produção naval. Devido a suas limitações financeiras e tecnológicas, o Irã bucou a criação de uma marinha de águas azuis em favor de uma frota para a guerra de litoral litorânea capaz de negar a seus adversários o acesso às águas territoriais ao redor do Irã, particularmente, o Estreito de Ormuz.

Esse opção estratégica levou a um investimento na criação de pequenas embarcações de ataque rápido, mísseis antinavio, minas navais, drones e submarinos convencionais. No entanto, a marinha do Irã ao que prece está mudando a sua estratégia em direção a incorporação de meios navais aptos para o combate em alto mar.

https://estrategiaglobal.blog.br/2022/09/guarda-revolucionaria-do-ira-revela-seu-novo-navio-com-lancador-vls-de-misseis.html

A partir de 2001, o Irã começou a construir fragatas de mísseis leves, a classe Moudge, com 1.500 ton de deslocamento, armadas com mísseis, foram planejadas 7 fragatas, sendo 4 construídas.

https://www.usni.org/magazines/proceedings/2020/march/need-know-international-navies

Em 2021, a Marinha da República Islâmica do Irã revelou seu maior navio de guerra o Makran, um antigo petroleiro convertido em navio base-avançada, capaz de transportar tropas para longe das águas territoriais do Irã.

Em 2023, a Marinha iraniana anunciou o desenvolvimento de um porta aviões e a implantação de mísseis de cruzeiro de longo alcance na corveta de mísseis Shahid Soleimani (um catamarã de 600 tons).

No entanto, a indústria naval iraniana prioriza a produção de embarcações leves capazes de fazer guerra de litoral. Limitada a esse objetivo a BID naval iraniana tem sido bem-sucedida. O Irã mostrou que é capaz de produzir uma série de pequenas embarcações de ataque rápido, leves e bem armadas. Em 2021, o Irã adicionou 110 novas embarcações de pequeno porte à sua esquadra. O Irã também é uma das poucas países do mundo capazes de produzir submarinos. O Irã recentemente atualizou seus 3 submarinos russos classe Kilo e 14-20 mini-submarinos norte-coreanos Yono. O Irã também é capaz de produzir internamente, com assistência norte-coreana, a nova classe de submarino Fateh, cujo primeiro submersível foi comissionado em 2019.

Especialistas acreditam que a capacidade da indústria de defesa iraniana de produzir minas navais e mísseis antinavio melhorou nos últimos anos. Em particular, muitos apontam para os mísseis anti-navio Zafar, Nasr, Noor e Ghader como evidência do desenvolvimento de armas navais do Irã, com alguns mísseis anti-navio sendo capazes de serem lançados de submarinos.

Setor Aeronáutico

Segundo a maioria dos especialistas, a BID irania tem uma capacidade bem limitada de produzir aeronaves de combate de asa fixa modernas de forma independente, apesar dos pronunciamento em contrário de Teerã. No entanto, os iranianos tem demonstrado uma capacidade impressionante de manter, atualizar e apresentar novas versões de antigas aeronaves adquiridas dos Estados Unidos e da Rússia/URSS sob o regime de Xá Reza Pahlavi, como o F-4, F-5, F-14, Su-24 e MiG- 29. Outros caças são Chengdu F-7 (China) e Mirage F-1 (França). O F-5 foi modificado e se tornou o Saeqeh 2. Muitas dessas aeronaves já foram aposentadas em seus países de origem como por exemplo, o F-14 Tomcat, aposentado pela Marinha norte-americana em 2007.

Saeqeh 2
https://www.defesaaereanaval.com.br/geopolitica/ira-apresenta-o-saeqeh-2-seu-novo-caca-supersonico-de-treinamento-avancado

As diferenças visuais entre o Saeqeh e o Northrop F-5E original parecem limitadas aos dois estabilizadores de cauda vertical em vez de um, asas adicionais e entradas de jato alteradas. A fuselagem, trem de pouso, motores, armamento e instrumentos do cockpit parecem idênticos ao F-5E, o que indica que o Saequeh não é um caça a jato recém-construído, mas uma modificação dos Northrop F-5 existentes. Outros caças derivados do F-5 são o Azarakhsh e o Kowsar.

Em 2029, Teerã apresentou o jato de treinamento Yasin, com previsão de produção em série a partir de 2023. Este treinador é de produção nacional iraniana.

https://en.wikipedia.org/wiki/HESA_Yasin#/media/File:Unveiling_ceremony_of_Yasin_advanced_
jet_trainer_(019).jpg

Essas aeronaves envelhecidas ainda constituem a maior parte da força aérea iraniana, com a maioria das aeronaves “nacionais” não passão de atualizações e/ou remodelação das antigas aeronaves. Especialistas estimam que o Irã é capaz de produzir internamente, de pendendo da peça ou sobressalente, algo entre 15% a 70% do material necessáro para manter sua frota em condições operacionais. Muitas das peças de reposição sãos retiradas de aeronaves canibalizados e/ou compras no mercado negro. Apesar desse impressionante esforço a maior parte das aeronaves iranianas são obsoletas e mal atualizadas.

Em termos de helicópteros militares, a indústria de defesa iraniana ainda tem baixo nível de capacitação para produzir internamente plataformas de engenharia reversa e peças de reposição.

HESA Shahed 285 (Bell 206)

O Irã ainda mantém e opera muitos helicópteros militares estrangeiros, como o Bell AH-1, o Bell 206 e o russo Mi-17, por meio de peças de reposição fabricadas internamente, canibalizadas e do mercado negro. O Irã também conseguiu produzir alguns helicópteros “nacionalizados” baseados em projetos de engenharia reversa dos EUA, como os modelos Shahed 278 e 285, derivados do Bell 206.

Shahed 278 (Bell 206)
https://en.wikipedia.org/wiki/HESA_Shahed_278#/
media/File:Shahed_278.jpg

Semelhante ao tratamento de aeronaves de asa fixa, a BID Irã demonstrou capacidade de modernizar helicópteros antigos de fabricação estrangeira, como o AH-1, que são comumente reivindicados pelo governo iraniano como aeronaves rotativas totalmente originais.

Sharifi-1 (Bell AH-1J Cobra 209)

Setor de Mísseis Balísticos

A capacidade iraniana de produzir mísseis balísticos do Irã é a joia da coroa da sua BID. O desenvolvimento de mísseis balísticos continua sendo a peça central da estratégia de dissuasão militar iraniana é o principal foco do investimento do governo em sua BID.

O foco na pesquisa e no desenvolvimento da missílica pelo iraniano rendeu dividendos significativos. O programa de mísseis balísticos se tornou capaz de produzir mísseis cada vez mais potentes. Com assistência e importações da Rússia, China e, em particular, da Coréia do Norte, o Irã conseguiu desenvolver e fabricar internamente mísseis capazes de atingir alvos cada vez mais distantes, com maior carga útil e precisão. A classe de mísseis Shahab foi originalmente baseada em mísseis projetados pela União Soviética (Shahab-1 e Shahab-2) e Coréia do Norte (Shahab-3). À medida que a classe de mísseis Shahab envelheceu, o Irã avançou na atualização de seu arsenal, modificando e atualizando o Shahab-3 no Ghadr-1 mais confiável e simplificado, e com o próprio Ghadr-1 sendo eventualmente aprimorado no Emad, em 2015. Além disso, Teerã construiu o Sejil-2, que parece ser um míssil de genuíno design iraniano. Sem dúvida um grande feito da BID iraniana.

https://www.aereo.jor.br/2018/05/11/ira-ameaca-destruir-por-completo-maiores-cidades-de-israel/

O Irã já demonstrou ser capaz de produzir variantes e classes de mísseis balísticos como o Fateh-110. Todas as indicações apontam para o desenvolvimento contínuo de um programa de mísseis balísticos, com novos mísseis como o Sejil-3 já acreditando estar em desenvolvimento.

Em fevereiro de 2023, os iranianos anunciaram o desenvolvimento de um míssil cruise de longo alcance, 1.650 km. Em fins de maio de 2023, Teerã anunciou a construção do primeiro míssil hipersônico iraniano, o Fattah. Segundo as autoridades iranianas trata-se de um míssil hipersônico com uma velocidade máxima de 15.000 km/h, de alta precisão, alta capacidade de manobra e com um alcance de 1.400 km. Em junho a Marinha iraniana anunciou que implantou mísseis de cruzeiro com alcance de 2.000 km e que esse mísseis poderiam ser lançados de plataformas terrestres, navais (em lançadores de mísseis vertical) e aéreas.

No entanto, os especialistas tem dúvidas quanto à precisão dos mísseis balísticos iranianos, uma vez que muitos mísseis iranianos mais antigos e se os sistemas de orientação GPS estão completamente funcionais. O mesmo se refere aos mísseis hipersônicos e cruise. Tais questões, estão sendo desenvolvidas nos projetos de novos mísseis. È certo que enquanto a estratégia militar nacional iraniana depender do uso de mísseis balísticos, é muito provável que os sistemas de orientação continuem a ser aperfeiçoadas.

Setor de Veículos Aéreos Não Tripulados

A BID iraniana tem um grande programa de desenvolvimento de veículos aéreos não tripulados (UAVs) capazes de cumprir vários tipos de missão: ataque, vigilância, aquisição de alvos e reconhecimento. Por meio de uma combinação de pesquisa local e engenharia reversa de UAVs estrangeiros que o Irã conseguiu adquirir no mercado negro, a indústria de defesa iraniana desenvolveu uma ampla gama de drones militares.

Especula-se que o Irã agora possui uma dúzia de modelos diferentes de UAV, com múltiplas variantes de cada modelo também existentes. Alguns desses modelos como o Shared, o Yasir, o Abadil, o Arash, o Kaman,  o Fotros e o Karrar, são relativamente baratos, capazes de realizar operações de vigilância, reconhecimento, lançar bombas ou até mesmo conduzir ataques suicidas usando o próprio drone como uma carga destrutiva. (para saber mais acesse https://historiamilitaremdebate.com.br/o-programa-de-drones-do-ira/)

A maioria dos modelos de UAV iranianos não se destaca em sofisticação ou eficácia em relação aos modelos de drones ocidentais. No entanto, os drones iranianossão adequados para as necessidades estratégicas do governo iraniano e de governos sem muitos recursos e com desafios estratégicos semelhantes.

Sistemas de Defesa Aérea

A BID produz versões e atualizações de sistemas estrangeiros por meio de engenharia reversa.

Setor nuclear

Embora o Irã não tenha nenhuma arma nuclear conhecida em seu inventário, ele tem a capacidade de montar uma bomba nuclear com o estoque de urânio disponível e os vetores para lançá-la

Exportação de armas e perspectivas futuras

Em outubro de 2020, a ONU suspendeu o embargo de armas, o Irã pode mais uma vez comprar e vender armas no mercado global de armas, ainda que logo as os EUA e seus aliados impuseram uma série de novos impedimentos ao comércio de armas e tecnologias estratégica para o Irã.

Mas independente disso o Irã não aumentou significativamente suas importações ou exportações de armas no período desde o fim oficial do embargo. De 2017 a 2021, o Irã recebeu apenas US$ 13 milhões em importações de armas, todas provenientes da Rússia. Esse número é muito pequeno em relação aos rivais regionais do Irã, como a Arábia Saudita, que foi o segundo maior importador de armas do mundo no mesmo período (US$ 149,46 milhões importados de 2017-2021).

A ausência de uma corrida às importações de armas após o fim do embargo é, pelo menos parcialmente, atribuída as más condições econômicas iranianas, em virtude das sanções dos EUA e seu aliados, a pandemia de COVID-19 e outras variáveis. Outro fator seria a política iraniana de manter um alto grau de independência do mercado global de armas para suas necessidades de defesa. Ainda assim, o Irã comprou um número limitado de armas estrangeiras, provavelmente para fazerem engenharia reversa.

Muitas das fragilidades da BID são estruturais como o baixo desenvolvimento da siderurgia em produzir aços e ligas especiais, da indústria química, de eletroeletrônicos, máquinas, turbinas e motores de alto desempenho.

O comércio de armas deve permanecer em baixo nível, pelo menos legalmente, devidos aos embargos impostos pela ONUao comércio de armas com o Irã. Apesar dos impedimentos a liderança iraniana está comprometido com um alto nível de exportação de armas, até para financiar suas BID e as importações ilegais de componentes e sistemas de armas que realiza.

O Irã também enfrenta problemas para a expansão do escopo de suas exportações de armas, já que muitos dos países que procuram comprar sistemas de armas de baixo custo oferecidos pelo Irã também podem encontrar produtos similares de fabricantes russos e chineses. Existe uma demanda por armamentos iranianos, particularmente em países isolados ou sob sanções que procuram Teerã, pois a BID iraniana produz uma variedade impressionante de armas eficazes e baratas, especialmente no campo de mísseis e UAVs.

Em 2022, circularam na imprensa ocidental que a Rússia comprando drones e mísseis iranianos, embora russos e iranianos não confirmem a transação. O Irã tem boas perspectivas de para suas exportações para países como Venezuela, Síria, Mauritânia, Iêmen, Líbano e Iraque. Desde 2000, o Irã exportou mais de US$ 429 milhões em armas para Síria, Iraque, Sudão e Venezuela. O Irã também é conhecido por exportar armas para atores não estatais, como o libanês Hezbollah e o iemenita Houthis, que no passado receberam mísseis e drones suicidas, juntamente com outros armamentos, de fabricantes de armas iranianos.

Conclusão

Os acordos (formais e informais) com russos e chineses vão permitir que o Irã tenha acesso a componentes tecnologicamente e sistemas de armas avançados e atualizados como caças, helicópteros, guerra eletrônica e cibernética, defesa antiaérea e antimíssil entre outros. A inteligência norte-americana acusa Moscou de estar enviando para Teerã vários armamentos capturados na Ucrânia para engenharia reversa. Existem evidências de que a cooperação e o comércio de armas entre Rússia e Irã se intensificou, com Teerã colaborando para o esforço militar russo em troca de tecnologia, máquinas, motores e outros tipos de componentes.

A principal força militar do Irã reside em suas capacidades assimétricas: o uso de plataformas não tripuladas, mísseis de cruzeiro, mísseis balísticos e uma intrincada rede de proxies regionais.

A implicação maior e mais importante dessas remessas é a longo prazo: a capacidade do Irã de fazer engenharia reversa, replicar e produzir em massa componentes dessas plataformas, o que adicionará capacidades militares mais convencionais aos arsenais do Irã e seus representantes. O Irã tem uma indústria de armas bem desenvolvida e historicamente teve sucesso na engenharia reversa de várias plataformas, incluindo caças, mísseis e peças de aeronaves. Depois de capturar um drone de reconhecimento RQ-170 Sentinel dos EUA em 2011, o Irã revelou variantes de engenharia reversa armadas e desarmadas em 2014. Em 2018, voou uma dessas cópias da Síria para o espaço aéreo israelense, onde foi abatida. O Irã também criou várias versões domésticas do míssil antitanque BGM-71 TOW dos EUA, incluindo o Toophan e suas variantes, que desde então transferiu para seus representantes na Síria e no Iêmen. Os principais adversários do Irã – Estados Unidos e Israel – terão que planejar não apenas um exército iraniano com capacidades mais avançadas, mas também uma rede regional de representantes equipados com armamento mais avançado do Irã.

A história única do desenvolvimento da BID iraniana, fruto da decisão estratégica de Teerã em resposta as sanções internacionais, moldou uma indústria de defesa com alto grau de assimétricas em suas capacidades. Embora a base industrial de defesa do Irã seja incapaz de produzir internamente veículos blindados e aeronaves modernas – dois pilares centrais da maioria das forças armadas contemporâneas – ela demonstrou uma capacidade impressionante de fazer engenharia reversa, atualizar e manter os sistemas de armas antigos que possui.

A alta prioridade que o Irã dá a certas tecnologias, em particular mísseis balísticos e veículos aéreos não tripulados, foi exitosa, pois os levou a produzir uma ampla gama de armamentos produzidos internamente. Apesar desses avanços, décadas de vários embargos internacionais de armas deixaram grande parte do arsenal militar do Irã obsoleto, e muitas das armas desenvolvidas localmente são inferiores aos armamentos ocidentais, russos e chineses usados pela maioria de seus adversários regionais e globais. A recente expiração do embargo de armas das Nações Unidas, juntamente com um possível levantamento de parte das sanções ao Irã, após o restabelecimento do Plano de Ação Integral Conjunto, têm o potencial de mudar essa realidade no longo prazo.

Imagem de Destaque: https://en.mehrnews.com/news/160562/What-high-tech-military-equipment-can-Iran-offer-world

Referência Bibliográfica

http://www.us-iran.org/resources/bazaars-t9lfj

https://www.army-technology.com/features/iran-military-arsenal/

https://www.bbc.com/news/world-middle-east-50982743

New Missiles, New Risks: The Escalatory Implications of Iran’s Precision-Strike Weapons

https://nationalinterest.org/feature/5-iranian-weapons-war-america-should-fear-12092

Iran launches production of HESA Yasin Light jet powered trainer aircraft

Irã apresenta primeiro míssil balístico hipersônico, segundo mídia estatal (msn.com)

10 países que possuem os maiores números de graduados em engenharia por ano

https://www.tehrantimes.com/news/485632/Iran-triples-arms-exports

https://oilprice.com/Geopolitics/International/Irans-Weapon-Exports-Are-Becoming-A-Big-Problem-For-The-West.html

What the Russia-Iran Arms Deals Mean for the Middle East

https://www.thedrive.com/the-war-zone/ukraine-situation-report-iranian-officials-admit-to-selling-russia-ballistic-missiles

https://www.reuters.com/world/middle-east/iran-says-it-has-developed-long-range-cruise-missile-2023-02-24/

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

Delegado de Polícia, historiador, pesquisador de temas ligados a conflitos armados e geopolítica, Mestre em Segurança Pública

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