A Batalha de Nablus

de

Prof. Dr. Ricardo Cabral

Entre os dias 5 a 8 de abril de 2002,as Forças de Defesa de Israel (FDI) e as forças palestinas travaram a Batalha de Nablus, cidade palestina na Cisjordânia. Esta batalha faz parte da Operação Escudo Defensivo na Segunda Intifada e foi a primeira onde os exército usou táticas de guerra urbana mais sofisiticadas contra os palestinos.  

Antecedentes

Em seus estudos de situação e pelos informes do Mossad, o Estado-Maior das FDI esperava uma grande resistência em Nablus, e especialmente na sua Casbah (Cidade Velha). O Hamas e o Fatah lançaram dezenas de homens-bomba. Apesar de um ataque anterior bem-sucedido a Balata, o Estado-Maior ainda estimava que centenas de homens armados estariam entrincheirados na cidadee que poderiam causar pesadas baixas às FDI. Dois dias após o início da Operação Escudo Defensivo, foi aprovada uma extensão da operação ao norte de Ramallah, para Nablus e Jenin. Originalmente, a missão foi confiada a uma divisão de reserva, mas posteriormente foi transferida para a divisão mais experiente da Cisjordânia.

O Brigadeiro General Yitzhak Gershon, comandante da 98º Divisão paraquedistaa, recebeu duas brigadas de infantaria regulares, uma Brigada de Pára-quedistas e a Brigada Golani, juntamente com uma divisão blindada de reserva. Um empreiteiro privado permitiu que o comandante do 890º Batalhão de Pára-quedistas (da 35ª Bgd Pqdt) usasse um canteiro de obras para treinamento por três dias. Houve quase um motim entre um pelotão blindado de reserva, que alegou não estar devidamente treinado para a guerra urbana. Oficiais blindados de alto escalão eventualmente os convenceram a se juntar à operação.

A Batalha

As forças blindadas e de infantaria israelenses ocuparam rapidamente a maior parte da cidade, com confrontos ocorrendo em torno dos campos de refugiados. Helicópteros de ataque da Força Aérea Israelense dispararam foguetes contra as defesas palestinas na praça principal de Nablus e nas ruas vizinhas, mas com efeito mínimo.

A Cidade Velha de Nablus foi atacado por dois batalhões simultaneamente, utilizando duas táticas de combate diferentes. A Brigada Golani avançou usando veículos blindados Achzarit e escavadeiras blindadas para remover barricadas.

A Brigada Golani se engajou em intensos combates de rua com os palestinos, forçando muitos a se retirarem para a parte ocidental da Cidade Velha, onde foram atacados pela Brigada de Pára-quedistas. Os palestinos na Casbah foram distribuídos em pequenos esquadrões, compostos por dois a quatro homens, sendo cada esquadra responsável por um setor. Cargas explosivas foram colocadas entre os becos e posições de tiro foram tomadas. Nasser Badawi, comandante das Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, disse: “Estamos esperando que os israelenses saiam de seus veículos blindados e lutem contra nós no terreno”.

Os pára-quedistas avançaram enviando várias pequenas forças ao mesmo tempo para ocupar casas na Casbah e confundir os combatentes palestinos. Muitas vezes, os palestinos expunham as suas posições aos atiradores militares israelitas, disparando contra as forças israelitas noutra direção.

Dezenas de palestinos armados morreram numa batalha que durou dias, enquanto franco-atiradores israelitas disparavam contra as vielas sinuosas e os soldados abriam caminho através do mercado e entravam nos bairros densamente povoados e escuros, minados com bombas palestinianas caseiras.

Em 8 de Abril, os palestinos anunciaram a sua rendição. A aceitação da rendição foi adiada por duas horas, durante as quais os pára-quedistas mataram mais combatentes palestinos

As FDI enviaram soldados de casa em casa em busca de laboratórios de explosivos e de supostos Kúffar ou kaffir (extremistas em árabe), agindo contra o que chamou de possível fonte da bomba que matou sete pessoas, incluindo cinco norte-americanos na Universidade Hebraica, no dia 1 de agosto de 2002

As FDI afirmaram que encontraram dois laboratórios de explosivos abastecidos com ácidos e fertilizantes para a fabricação de bombas, bem como munições e armas, incluindo um foguete rudimentar. Os soldados explodiram os prédios de apartamentos que continham os laboratórios.

De acordo com uma palestra posterior do comandante da Brigada de Pára-quedistas, Coronel Aviv Kochavi, o Chefe do Estado-Maior Israelita (Ramatkal) Shaul Mofaz, estava descontente com o fato de duas outras cidades palestinianas, Qalqiliyah e Tulkarm, terem se rendido quase sem baixas palestinas. Mofaz argumentou que era melhor não deixar homens armados em Nablus (o que era proibido pelos os Acordos de Oslo). Tão logo as FDI se retiraram da Cisjordânia, os kuffars palestinos retomaram os seus ataques.

Os combates

As FDI lidaram com uma força de resistência palestina organizada, mas mal armada e treinada, também não tinham uma estratégia de guerra urbana e lhes faltava coordenação das ações defensivas. Lições aprendidas que seriam levadas para Gaza em futuras confrontações com Israel.

Os palestinos continuariam usando ataques suicidadas (1993-2005), mas com a retirada de Israel de Gaza (2005) passaram a lançar foguetes e se preparar para uma incursão das FDI.

Em 2007, quano o Hamas assumiu o controle de Gazza passou a construir túneis para as mais diversas finalidades, criar oficinas para a construção de foguetes, treinar seus militantes (com o Hezbollah e os iranianos) em técnicas de combate urbano, se aperfeiçoando em incursões no território israelenses para realização de emboscadas e utilização de armadilhas explosivas (muitas das vezes com dispositivos explosivos improvisados).

A operação em Nablus, com alguns aperfeiçoamentos, passou a ser a operação padrão israelense: uso extensivo do seu poder de fogo (artilharia e aviação), incursões com blindados, destruição da infraestrutura militar e civil. A infantaria ou entra a pé no sítio urbano depois que terreno foi nivelado ou embarcada em blindados, daí faz uma operação de limpeza nos prédios, passando de um prédio para outro usando explosivos para abrir caminho sem expor a infantaria nas ruas, posiciona snipers para cobir com fogo o deslocamento e helicópteros para reconhecimento, posteriormente vão unilizar drones. A operação busca ocupar os parques e praças, controlar as principais vias urbanas e eliminar a resistência. A engenharia passa ter a missão de limpar as edificações das armadilhas ou explodir os prédios e outras instalações, eliminar/remover os obstáculos nas vias de circulação.

A medida que as operações se sucederam e foram várias como a Chumbo Fundido (2008), Pilar Defensivo (2012), Margem Protetora (2024), Guardião das Muralhasas (2021) e a Espada de Ferro (2024). As IDF se preopcupam menos com a população civil, principalmente quando perceberam que os terroristas a usam como escudos humanos. Uso da Doutrina Dahiya de Israel que ve todos os palestinos como inimigos não distinguindo a população civil dos combatentes.

Um ponto a se observar apesar de tantas operações e o nível crescente de violência empregado por Israel, os kuffur palestinos parecem pouco se importar com as vítimas civis, tanto do seu lado, quanto dos civis israelenses, ou do nível de destruiçãodo território. A estratégia de desgaste é visível e seus resultados pouco práticos para os palestinos.

Consequências

Cerca de setenta palestinos e oito civis foram mortos. Pelo menos um oficial das FDI foi morto por fogo amigo. Centenas de palestinos foram presos. Kuffurs palestinos de alto escalão, como Nasser Awais, do Fatah, e Husam Badran, do Hamas, conseguiram fugir para Tubas, apenas para serem presos uma semana depois.

O pesado ataque da aviação e da artilharia israelense provocou danos em centenas de edifícios, sessenta e quatro foram gravemente danificados, dezessete edífícios ques tinham significado histórico e  quatro edifícios foram completamente destruídos.

As IDF tiveram um morto e os palestinos setenta, não divulgaram o número de feridos ou desaparecidos.

Bibliografia

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Nablus

http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/1915162.stm

https://www.newarab.com/analysis/how-nablus-became-heart-palestinian-struggle

https://www.timesofisrael.com/3-days-in-march-how-the-2nd-intifadas-bloodiest-hours-seeded-todays-middle-east/

https://www.nytimes.com/2002/08/03/world/israelis-clamp-down-on-nablus-hunting-suspects.html

https://www.newarab.com/analysis/how-nablus-became-heart-palestinian-struggle

*Imagem em destaque: http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/1915162.stm

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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