A Batalha Naval do Golfo de Oman de 1554

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

A Batalha do Golfo de Aman, foi uma grade vitória da Marinha Portuguesa contra a Marinha Otomana.

Em fevereiro de 1554, os portugueses despacharam de Goa uma Esquadra composta de seis galeões (São Mateus, Santa Cruz, São Sebastião, São Tiago, São Lourenço e São Tomé), seis caravelas, e vinte e cinco fustas e catures. Todos os navios iam muito bem equipados e municiados, com uma guarnição de em torno de 1.200 homens. Das suas guarnições faziam parte mil e duzentos portugueses, além dos habituais auxiliares canarins e malabares. A esquadra portuguesa era comandada por D. Fernando de Meneses que tinha como missão: em primeiro lugar, capturar as «naus de Meca» que nessa época do ano costumavam regressar ao mar Vermelho idas do golfo de Bengala ou de Achém; em segundo lugar, dar combate às galés turcas estacionadas em Baçorá se elas voltassem a sair para o mar.

Já a Marinha Otomana era composta por 15 galeras e em torno de mil combatentes comandados pelo almirante Seydi Ali Reis.

Desde que os portugueses estabeleceram fortes e feitorias no golfo Pérsico e no Oceano Índico, os otomanos sentiram a queda do volume de comércio e da sua influência na região. O Império otomano lançou uma série de expedições militares contra os portugueses a fim de retomar o controle da navegação no Golfo Pérsico.

Durante todo o mês de março, a esquadra portuguesa não avistou um único navio mercante cruzando o Bab-el-Mandeb, presumivelmente porque a presença da frota portuguesa desencorajou qualquer viagem naquela temporada.

Em abril, a esquadra partiu para Mascate, onde parte da esquadra permaneceu passar o inverno (“inverno” significando a estação das monções) enquanto D. Fernando levou os remos, um galeão e vários navios mercantes para Ormuz, para substituir D. Antão de Noronha tendo Bernardim de Sousa como capitão daquela fortaleza. Quando os ventos de oeste começaram a soprar em julho, o galeão foi enviado de volta e Dom Fernando enviou 3 pequenas caturras de pescadores nativos para patrulhar Shatt al-Arab em busca de galés turcas. Os pescadores informaram aos portugueses que Moradobec (Murat Reis) havia sido substituído por Alecheluby (Seydi Ali), e estava prestes a zarpar para Suez com 15 galeras.

http://marinhadeguerraportuguesa.blogspot.com/2014/12/batalhas-navais-indico-1554.html

A batalha

No início de agosto, os turcos partiram de Basra. Em Mascate, os protugueses foram  alertadas sobre o movimento dos turcos. Aproveitando os ventos gerais de sudeste que predominam durante o mês de agosto no golfo de Omã, as forças portuguesas suspenderam rumo ao Cabo Musandam para enfrentá-los. A es quadra portuguesa adotou a formação em linha não muito regular, com as fustas a frente, seguidos pelas caravelas e depois pelos galeões pesados com intervalos bem grandes entre os navios. Os capitães se preocupavam em ser o primeiro a abordar o inimigo, sem muitas considerações de ordem táctica.

Em 10 de agosto, a esquadra otomana foi avistada cruzando o cabo, navegando contra o vento em formação de coluna. O almirante Seydi Ali ordenou que sua frota mantivesse a formação, navegando contra o vento em direção aos portugueses. À medida que se aproximavam, as bombardas das fustas portuguesas e do galeão Santa Cruz começaram a trocar tiros com as principais galeras turcas. O vento aumentara, fixando-se em sudoeste, o que fez aumentar a velocidade e a capacidade de manobra das caravelas e galeões portugueses. Devido ao fogo pesado dos portugueses, no último momento, Seydi Ali Reis ordenou que todas as galeras virassem para estibordo ao mesmo tempo, evitando assim os navios portugueses. Com esta manobra as galés turcas afastaram-se rapidamente dos navios lusitanos, acabando pouco depois por ficar a barlavento da armada portuguesa. Por mais que as caravelas e os galeões puxassem tudo para a orça, nenhum deles conseguiu chegar à ponta Lima antes das galés a terem dobrado Em consequência, os otomanos escaparam com sucesso de um combate desfavorável com os portugueses e agora rumavam para Mascate.

A manobra da esquadra otomana surpreendeu aos portugueses. D. Fernando de Meneses reuniu os capitães portugueses da nau São Mateus (capitânia) para discutir como alcançar as galeras turcas. A sugestão de um experiente piloto português e que seguissem para a costa de Omã, pois os ventos sopravam para leste na costa persa e permitiriam que eles chegassem a costa de Omã à frente dos turcos.

Então a esquadra portuguesa navegou para o norte, depois para o leste e depois de alguns dias voltou a Mascate, onde receberam a notícia de que os turcos ainda não haviam chegado.

Os otomanos acreditando que tinham deixado definitivamente os portugueses para trás, avançaram lentamente contra o vento, para dar descanso aos remadores. Manobra arriscada, pois embarcações ligeiras a remo portuguesas os acompanhavam de longe.

Caravelas
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Os portugueses esperaram dois ou três dias em Mascate, antes de partirem ao encontro da frota otomana no Cabo Suadi.

Na manhã de 25 de agosto, os turcos mais uma vez avistaram a esquadra que Seydi Ali Reis pensou ter escapado vários dias antes. A armada portuguesa adotou uma formação em linha com a linha de fustas a frente, seguida da linha de caravelas e por último uma linha de galeões. Nessa altura o vento era moderado de leste, o que permitia aos navios portugueses navegar praticamente à popa arrasada. Como os portugueses iam a navegar à vela projetando-se sobre um horizonte de mar e os turcos navegavam a remos projetando-se sobre a terra, era inevitável que avistassem aos portugueses muito antes de poderem ser avistados por eles ela.

No entanto, a esquadra portuguesa tinham agora um vento oeste mais favorável, mas como os turcos navegavam tão perto da costa com as velas abaixadas. O resultado foi que os portugueses só os avistaram a uma distância relativamente curta.

O resultado foi que os portugueses foram incapazes de manobrar a tempo de evitar que algumas galeras otomanas passassem por eles. A São Mateus (capitânea) era então a nau mais próxima da costa e parecia a melhor posicionada para interceptar as galeras turcas.

Foi então que alguém lançou para o ar a ideia de fundear para, ao menos, poder disparar a artilharia contra elas. De forma atabalhoada foi largado um ferro e carregado o pano. Lentamente, o galeão começou a alinhar a proa ao vento, enquanto os artilheiros, aguardavam de morrões acesos. Finalmente o galeão ficou paralelo à coluna de galés e a pequena distância delas. Já tinham passado nove galés quando a São Mateus começou a disparar seus canhões contra a frota inimiga, mas a décima foi atingida. Vários homens foram mortos e a galê otomana desviou abruptamente, bloqueando o caminho das galés seguintes imobilizando-as. As caravelas portuguesas, os navios mais ágeis da frota, prontamente manobraram  para enfrentar as galeras em uma batalha de abordagem.

A caravela de Dom Jerónimo de Castelo Branco foi a primeira a abalroar duas galés, lançando um grande número de bombas antes de as abordar. Em desordem, muitos marinheiros e soldados turcos pularam para o mar, onde foram abatidos pelo calado raso das fustas portugueses. Várias outras caravelas chegaram para atacar o resto das galeras, varrendo-as pelo fogo, as abordando e as conquistando pela espada. As galeras se renderam após meia hora de luta.

Enquanto prosseguia o combate entre as caravelas e as galés, as fustas metiam-se entre estas e a terra e matavam com lanças todos os turcos que tentavam alcançar a costa a nado. Com as nove galés que lhe restavam, pairando a barlavento, Seydi Ali Reis assistia a destruição das seis que tinham ficado para trás.

Com o combate se decidindo em favor dos portugueses, Seydi Ali Reis decidiu seguir com o que restou da sua esquadra para o leste através do Mar da Arábia até Gujarat na esperança de escapar dos portugueses o mais rápido possível. D. Fernando de Meneses ordenou a D. Jerônimo e as caravelas que os perseguissem.

Consequências

Além das galés otomanas, os portugueses capturaram 47 canhões de bronze, que levaram para Mascate. Seydi Ali Reis acabaria por chegar a Gujarat, e foi forçado a entrar no porto de Surat pelas caravelas de Dom Jerónimo, onde foi recebido pelo governador de Gujarat. Quando o vice-rei português soube em Goa da presença deles na Índia, despachou dois galeões e 30 galês em 10 de outubro para a cidade, para pressionar o governador a entregar os turcos. O governador não os entregou, mas propôs destruir os seus navios, ao que os portugueses concordaram. Mais tarde, Seydi Ali Reis suportaria uma jornada de mais de 2 anos antes de finalmente voltar a Constantinopla por terra, tendo escrito sobre as terras por onde passou durante a viagem. De acordo com seus escritos, Seydi Ali nunca percebeu que a frota que encontrou em 10 e 25 de agosto era a mesma.

Imagem de Destaque: https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_the_Gulf_of_Oman#/media/File:Seydi_Ali-Ambush.png

Bibliografia

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_the_Gulf_of_Oman

http://marinhadeguerraportuguesa.blogspot.com/2014/12/batalhas-navais-indico-1554.html

http://afmata-tropicalia.blogspot.com/2010/05/caravelas-e-naus.html

https://academia.marinha.pt/pt/edicoes/historiadamarinha/HistoriaMarinhaPortuguesa_1500-1668.pdf (obra muito interessante organizada por Francisco Contente Domingues sobre as embarcações, os homens do mar e a arte de navegar do período da Expansão Marítima Portuguesa)

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

2 comentários em “A Batalha Naval do Golfo de Oman de 1554”

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