A Guerra Naval na Idade Contemporânea no Século XIX

de

Sérgio Vieira Reale – Capitão-de-Fragata (RM1)

A Idade Contemporânea é o período histórico compreendido entre o início da Revolução Francesa, em 1789, e os dias de hoje. Ao longo desse período, a História Naval tem sido marcada por significativas transformações tecnológicas no setor da construção naval, na propulsão e no armamento dos navios de guerra.

Cabe frisar que, mais recentemente, a criação e a evolução dos sistemas de armas, que passaram a integrar armas e sensores, foram criados para aumentar a velocidade de reação em ambientes de múltiplas ameaças na guerra naval (submarina, aérea e de navios de superfície). Além disso, o uso de drones (veículos aéreos não tripulados) em ações de guerra naval, tem sido cada vez mais frequentes no século XXI. Mas nem sempre foi assim.

Às inovações tecnológicas produzidas pela Revolução Industrial desde os meados do século XVIII promoveram significativas alterações na construção e na guerra naval: propulsão a vapor, substituição da madeira pelo ferro, projetil explosivo, o hélice para substituir as rodas de pá, o aparecimento das minas e dos torpedos.

A guerra no mar não é um fim em si mesma e toda batalha tem algum efeito na história. Retornando ao início do século XIX, Napoleão Bonaparte, coroado imperador na França em 1804, iniciou uma política expansionista na Europa, encontrando como principal inimigo a Inglaterra.

A Batalha Naval de Trafalgar[1] ocorrida em 1805, no alvorecer da Idade Contemporânea, entre a esquadra inglesa e a esquadra franco-espanhola resultou na vitória britânica e no fracasso do “Grande Projeto” de Napoleão Bonaparte, que era invadir a Grã-Bretanha. Vale ressaltar que, esta foi a última batalha naval com propulsão à vela.

A Revolução Industrial, que começou na Inglaterra no final do século XVIII, chegou aos navios de guerra a partir da segunda metade do século XIX. Em 1859, a França lançou ao mar a Fragata “Gloire”, primeiro navio revestido de couraça, mas ainda de madeira e propulsão à vela.

Em 1860, os ingleses lançaram o “Warrior”, couraçado com casco de ferro. O navio inglês “Devastation”, lançado em 1871, já não possuía mais propulsão a velas, pois era dotado de motores a vapor. Naquele período estava ocorrendo uma breve disputa entre o Poder Naval francês e o Poder Naval inglês. Os ingleses mantiveram a supremacia naval.

Entretanto, foi na Guerra Civil Norte-Americana ou Guerra da Secessão (1861-1865) onde o navio encouraçado passou a se afirmar em relação aos navios de madeira. Em 1862, em “Hampton Roads”, tivemos a primeira batalha naval entre dois navios encouraçados. O resultado foi inconclusivo.


O CSS Virgínia dos confederados (sulistas) foi construído a partir do casco de madeira da Fragata USS Merrimack. O navio possuía propulsão a vapor, chapas de ferro, doze canhões de diferentes calibres e um esporão[2] na proa. O USS Monitor da União já tinha leme, hélice, possuía uma couraça de ferro e dois canhões montados numa torre giratória, que permitia conteirar e atirar sem ter que manobrar o navio. Era um navio moderno que trazia muitas inovações tecnológicas.   

Torre giratória do USS Monitor

Os navios de madeira do século XIX, movidos a vela, começaram a dar lugar aos encouraçados de ferro e posteriormente de aço movidos a vapor. Outra novidade decorrente da Revolução Industrial foi o surgimento do submarino. Ainda durante a Guerra da Secessão tivemos o aparecimento do submarino Hunley. A guerra naval trouxe importantes ensinamentos daquele conflito. A principal operação de guerra naval da Marinha da União, que era superior, foi o bloqueio naval nos portos Confederados. Essa guerra consagrou a importância do encouraçado (navios com casco de ferro), que comparado aos navios de madeira sofria menos danos quando atacados por canhões.

Uma nova arma apareceu sob as águas. Um submarino, que foi projetado por Horace Lawson Hunley, para combater o bloqueio da União sobre os portos do Sul. A tripulação era composta por oito voluntários. O “Hunley” tinha um deslocamento de 7,5 toneladas, 12 metros de comprimento e 1,15 metros de largura. Era iluminado a vela no seu interior. A propulsão era humana, onde a hélice era movida por manivelas movimentadas pelos tripulantes. Para imersão, o submarino utilizava bombas manuais para encher os tanques de lastro com água e para voltar à superfície enchiam os tanques de lastro com ar. O “Hunley”navegava a cinco metros de profundidade e precisava vir a superfície a cada 25 minutos para renovação do ar interior.

Na noite do dia 17 de fevereiro de 1864, sete homens sob o comando do Tenente George Dixon atacaram e afundaram o navio veleiro USS Housatonic da União. Quando os marinheiros que estavam no convés do navio avistaram o submarino, já era tarde demais. Então, eles reagiram com armas de fogo atirando no casco de ferro do submarino. O submarino estava muito perto para os canhões do navio. O USS Housatonic estava bloqueando o porto de Charleston na Carolina do sul. Ele era um navio veleiro, tinha 62 metros de comprimento e 155 marinheiros a bordo.

O Hunley era equipado com uma lança de, seis metros de comprimento. Durante o ataque, que foi noturno, ele se aproximou evitando a detecção e lançou o torpedo com material explosivo, que se fixou no casco do USS Housatonic. Em seguida, a tripulação começou a fazer a retração com a maior velocidade possível para se afastar. O torpedo foi acionado e explodiu causando o afundamento do USS Housatonic.

Logo após o cumprimento da missão, o Hunley despareceu misteriosamente e só foi localizado 131 anos depois, em 1995, na baía de Charleston.

Ataque do submarino Hunley ao USS Housatonic

Os navios de guerra do século XX não se pareciam em quase nada com os navios do século XIX. Ressaltando, principalmente, o período das duas grandes guerras mundiais ocorridas no século XX.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. JUNIOR, Haroldo Basto Cordeiro. DE ARS BELLUM. O estado da arte bélica no inicio do século XX.  Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, v. 121, n. 01/03, jan/mar. 2001.

2. ALBUQUERQUE, Antônio Luiz Porto; SILVA, Léo Fonseca e. Fatos da História Naval. 2.ed. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha. 2006.

3. VIDIGAL, Armando e de Almeida, Francisco Eduardo Alves. Guerra no Mar: batalhas e campanhas navais que mudaram a história. Record. 2009.

4.https://www.defesaaereanaval.com.br/historia/o-impressionante-encontro-dos -restos-do-primeiro-submarino-militar-do-sestados-unidos/

5.https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/o-naufragio-do-submarino-css-hunley.phtml

6.https://www.youtube.comcivilwarsubmarinecrew

 7.Civil War Submarine Crew DISAPPEARS | Digging For The Truth (S4, E2) | Full Episode


[1] Cabo localizado ao sul da cidade de Cádiz na costa espanhola. 

[2]  Protuberância destinada a perfurar o casco do navio inimigo por meio do choque entre os navios.

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