Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
A Batalha de Lissa ocorreu em 13 de março de 1811, durante a Campanha do Adriático das Guerras Napoleônicas.
A batalha foi travada no Mar Adriático pela posse da estratégica ilha croata de Vis (Lissa em italiano), de onde um esquadrão britânico, composto por 3 fragatas (HMS Active, 38; HMS Amphion, 32; HMS Cerberus, 32) e 1 navio postal (HMS Volage, 22), sob o comando do Comodoro William Hoste vinha atacando a navegação francesa no Adriático. Os franceses precisavam controlar o Adriático para suprir seu exército nas províncias da Ilíria. Napoleão então enviou uma força de invasão em março de 1811, composta por 3 fragatas francesas (Favorite, 40; Flore, 40; Danaé, 40) e 3 venezianas (Bellona, 32; Corona, 40; Carolina, 32)), um brigue (Mercure, 16), duas escunas (Principessa Augusta e Principessa di Bologna, um xebec (Eugenio)e duas canhoneiras, transportando um batalhão (cerca de 500 soldados) de soldados italianos sob o comando do comodoro Bernard Dubourdieu. Este foi um dos feitos navais mais brilhantes das guerras.
Dubourdieu transportou um exército franco-veneziano para os Bálcãs. Hoste o encontrou perto da Ilha de Lissa. Dubourdieu formou 2 colunas, uma a barlavento composta pela Favorite, Flore e Bellona e outra a sotavento com as fragatas Danaé, Corona e Carolina.
O esquadrão de Dubourdieu foi localizado se aproximando da ilha de Lissa às 03:00 de 12 de março de 1811 pelo capitão Gordon no HMS Active, que liderou o esquadrão britânico de Port St George em um cruzeiro ao largo de Ancona. Virando para o oeste, o esquadrão britânico aguardou a aproximação francesa na linha à frente, navegando ao longo da costa norte da ilha a menos de meia milha da costa.
Por volta das 6 h, Dubourdieu estava se aproximando da linha britânica pelo nordeste em duas divisões, liderando com a fragata Favorito à frente da divisão de barlavento ou oeste. Dubourdieu esperava passar à frente do HMS Active na frente da linha britânica e cruzá-la mais a leste com Danaé, que liderava a divisão de sotavento. Dubourdieu pretendia quebrar a linha britânica em dois lugares e destruir o esquadrão britânico no fogo cruzado.
Hoste, que tinha sido protegido de Nelson e não havia participado da Batalha de Trafalgar, ergueu um sinal de bandeira: “Lembre-se de Nelson!” Suas tripulações comemoraram. Ao se aproximar da força de Hoste, Dubourdieu percebeu que seria incapaz de cruzar com sucesso a proa da HMS Active devido à velocidade do navio britânico, e também seria incapaz de romper sua linha devido à proximidade dos navios britânicos.
Às 9 h, Hoste abriu fogo. Dubourdieu viu que os navios de Hoste estavam muito próximos para quebrar sua linha. Ele ordenou que seus homens se reunissem na proa de seu navio, Favorite de 40 canhões. Ele atacaria o navio capitânea de Hoste, HMS Amphion de 32 canhões (2º da linha) e tentaria abordá-lo. Havia 500 soldados italianos em seus navios. Hoste percebeu a manobra de Dubourdieu.
Hoste atirou três vezes com seu obuseiro de 140 mm com mais de 750 balas de mosquete. Quando a Favorite estava a alguns metros de distância, ele atirou. O canhão varreu a proa da Favorite matando Dubourdieu, todos os oficiais da fragata e parte da infantaria. O comando da esquadra francesa para o capitão Jean-Alexandre Péridier, da Flore, de 40 canhões. A Favorite danificada encalhou. A guarnição britânica de Lissa capturou sobreviventes. Péridier continuou o plano de Dubourdieu. Hoste inverteu seus navios. Isso obrigou Péridier a ajustar sua linha. A Flore e a Bellona de 32 canhões alcançaram a HMS Amphion, agora na retaguarda da linha de Hoste. Eles a pegaram em um fogo cruzado. Danaé de 40 canhões aproximou-se da HMS Volage de 32 canhões. As carronadas da HMS Volage varreram o convés de Danaé, forçando-a a recuar.
A fragata veneziana Corona, de 40 canhões, enfrentou o HMS Cerberus de 32 canhões. Ambos sofreram muito. O HMS Active de 38 canhões expulsou a Corona. Péridier recuou. A HMS Amphion atacou a a Flore que se rendeu. A HMS Amphion capturou a veneziana Bellona após uma troca de fogos. A Corona foi engajada. Após 45 minutos, a Corona pegou fogo e se rendeu. Flore fingiu rendição a cada navio britânico que passava. Quando eles foram embora, ela fez reparos e escapou para o porto francês de Lesina.
No final da batalha, Hoste perdeu 45 mortos, 145 feridos. Péridier perdeu 700 mortos, feridos (incluindo ele) ou cativos e 1 fragata francesa e 2 venezianas. Todos os navios sobreviventes precisavam de grandes reparos, obrigando Hoste a atracar em Ragusa (atual Dubrovnik).
Hoste foi forçado a se retirar quando os suprimentos acabaram. Hoste mais tarde exigiu que a Flore retornasse e se rendesse adequadamente, no que foi ignorado. A posição da França no Adriático era agora insustentável. A Marinha francesa era incapaz de reforçar seus exércitos balcânicos. A fragatas Bellona e Corona foram comissionadas na Marinha Real como o transporte de tropas HMS Dover e HMS Daedalus, respectivamente.
A superioridade estratégica britânica na região estava assegurada; quando os reforços franceses para o Adriático partiram de Toulon em 25 de março, eles foram caçados e levados de volta à França pelo capitão Robert Otway, do HMS Ajax, antes mesmo de passarem pela Córsega.
Durante o restante de 1811, os esquadrões de fragatas britânica e francesa continuaram a lutar pelo controle do Adriático, sendo o combate mais significativo a Ação de 29 de novembro de 1811, na qual um segundo esquadrão francês foi destruído. A ação teve efeitos significativos a longo prazo; a destruição de um dos esquadrões mais bem treinados e liderados da Marinha Francesa e a morte do agressivo Dubourdieu acabaram com a capacidade francesa de atacar os Bálcãs contra o Império Otomano.
Na Grã-Bretanha, a ação de Hoste foi amplamente elogiada, os primeiros-tenentes da esquadra foram todos promovidos a comandante e os capitães todos agraciados com uma medalha comemorativa. A batalha foi saudada como uma importante vitória britânica, tanto pela disparidade entre as forças, quanto pelo sinal “Lembre-se de Nelson” levantado por Hoste, ex-subordinado do almirante Horatio Nelson. As ações do esquadrão britânico foram descritas uma das mais brilhantes vitórias navais britânicas da guerra.
A batalha foi uma antecipação dos combates navais contemporâneos. O combate entre fragatas em ações de guerra de litoral, transporte de tropas e apoio as operações em terra.
Um dado interessante é que as campanhas navais das quais o capitão William Hoste participou, serviram de inspiração para duas renomadas séries de romances navais: a Série Aubrey-Maturin, escrita por Patrick O’Brian e a Série Captain Thomas Kidd, escrita por Julian Stockwin.
Imagem de Destaque: Battle of Lissa, 13 March 1811, Nicholas Pocock
Bibliografia
https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Lissa_%281811%29
The Battle of Lissa: History’s Forgotten Naval Encounter
https://threedecks.org/index.php?display_type=show_battle&id=163
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.