Bombas atômicas alemãs na Segunda Guerra Mundial?

Prof. Esp. Pedro Silva Drummond

Introdução

A Segunda Guerra Mundial sempre foi um dos temas históricos de maior interesse entre o público em geral, pesquisadores e historiadores. Nos últimos anos, principalmente no século XXI, novos estudos e temas estão sendo revisitados, além de novas abordagens que começaram aparecer, com a abertura de documentos que até as últimas décadas eram secretos.

 Nesse contexto de surgimento de novos estudos, um dos temas que estão provocando diversas discordâncias e debates, é se realmente a Alemanha Nazista teve acesso a uma bomba atômica. O assunto veio à tona através do pesquisador Rainer Karlsch, autor do livro A Bomba de Hitler, que através de pesquisas em arquivos soviéticos, ocidentais e medições realizadas em um dos locais de teste teria comprovado a existência da arma, como relata o autor: “A coisa importante no meu livro é a descoberta de que os alemães tinham um reator atômico perto de Berlim que funcionou por um breve período, talvez durante alguns dias ou semanas. A segunda descoberta importante foram os testes atômicos realizados em Turíngia e no Mar Báltico” (FURLONG)

Armas Nucleares?

Quando se pensa em armas nucleares na história, quase todo mundo, pensa nas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Neste sentido, a pesquisa feita por Karlsch sobre bombas atômicas, indica uma bomba similar as jogadas no Japão? Não, o autor relatou que “os alemães tinham uma arma nuclear tática hiíbrida… o último teste, realizado em Turíngia, no dia 3 de março de 1945, devastou uma área de 500 metros quadrados, matando centenas de prisioneiros de guerra e detentos de campos de concentração.” (FURLONG).

Turíngia, fica localizada no sul da Alemanha, e a cidade funcionou como base militar soviética após a Segunda Guerra Mundial.

As pesquisas de Karlsch, responderiam uma outra pergunta que surgiria após a descoberta das bombas, porque os alemães não usaram os armamentos? Na pesquisa do autor, é indicado que os alemães não estavam prontos para utilizá-las, “havia ainda problemas nos sistemas de lançamento e detonação.” (FURLONG).

Relatórios oficiais preparados por agentes militares russos relataram que foram realizados dois testes nucleares na região: “Os alemães estão em vias de fazer e testar uma nova arma secreta, que tem uma grande força destrutiva. A bomba disponível tem um diâmetro de 1,5 metros… Foi comunicado pela nossa fonte confiável da Alemanha: os alemães realizaram duas grandes explosões na Turíngia.” (https://www.terra.com.br/)

Dúvidas sobre a utilização do Armamento

A realização de pesquisas e experiências nucleares pela Alemanha Nazista, não é novidade, existem diversos fatos que comprovam essa informação, mas a novidade trazida por Karlsch foi o uso do armamento. Até o final do século XX, se acreditava que os alemães não tinham conseguido desenvolver a arma nuclear.

A visão de Karlsch no entanto, é muito contestada, desde o lançamento do livro em 2005, jornais, historiadores e físicos criticam o entendimento do autor. Muitos deles, reconhecem que a obra lançada traz dados interessantes e desconhecidos, mas analisam que faltariam provas para as interpretações do pesquisador do livro.

Alguns exemplos da análise de jornais alemães do período, como Der Spiegel e Berliner Zeitung contestaram o livro do autor, o jornal Der Spiegel afirmou “As testemunhas que ele apresentou são pouco confiáveis ou não estão relatando informações de primeira mão; supostamente, documentos-chave podem ser interpretados de diversas maneiras”, enquanto o Berliner Zeitung relatava a opinião do físico Michael Schaaf, “Karlsch demonstra uma falta catastrófica de entendimento de física… embora Karlsch tenha mostrado que a pesquisa alemã sobre o urânio foi mais longe do que se acreditava, não havia uma bomba atômica alemã. O próprio Karlsch admitiu que não tinha prova absoluta de suas alegações, mas disse que esperava que seu livro levasse a mais pesquisas sobre o assunto.” (FURLONG).

Para Dieter Hoffmann, pesquisador de História da Ciência do Instituto Max Planck de Berlim, “Karlsch não é um mero charlatão. Ele contribui com elementos importantes para a ciência e, devido à sua tenacidade, foi o primeiro a ter acesso aos arquivos russos… outro mérito de Karlsch teria sido a atenção dada a outros grupos de pesquisa que se empenharam no desenvolvimento de armas militares. Até hoje, pesquisadores ocupados em investigar a pesquisa nuclear no período nazista se concentraram nos trabalhos do grupo de cientistas ligados ao físico Werner Heisenberg, que dizia que Hitler estava muito longe de possuir a bomba. Karlsch argumenta que esta tarefa talvez estivesse a cargo de um grupo menor e menos conhecido. “O grupo em torno de Kurt Diebner parece ter estado mais próximo do que até então se acreditava””. (https://www.dw.com)

Agora no entendimento de Hoffmann, “a fissão do urânio foi descoberta na Alemanha. Agora, que a primeira bomba atômica tenha sido detonada lá nos anos 40, me parece pouco digno de crédito.” (https://www.dw.com)

O Físico Gerhard Fussmann da Universidade Humboldt de Berlim, foi outro que opinou sobre a pesquisa de Karlsch: “Nada se sabe sobre a constituição da bomba testada pelos nazistas na Turíngia. Só existem depoimentos de leigos e especulações baseadas em documentos históricos.” (https://www.dw.com)

Fussmann, porém, relata que ficou surpreso com alguns dados do livro: “Para mim, é novidade que existia um reator nuclear ao sul de Berlim… As análises indicam que eles conseguiram produzir urânio 235 enriquecido a 10%, ao menos em pequenas quantidades”. (https://www.dw.com)

Conclusão

A utilização de bombas atômicas na Segunda Guerra Mundial foi uma realidade, os fatos em Hiroshima e Nagasaki, comprovam isso. A Alemanha tinha cientistas que trabalhavam em artefatos atômicos, também é uma verdade, existem inúmeras fontes sobre o assunto. Agora, até que ponto a Alemanha produziu uma bomba atômica ou arma nuclear tática são episódios merecedores de maior estudo, até por causa do aparecimento de novos documentos que necessitam de análises para contribuir para uma comprovação dos fatos.

Imagem de Destaque: Imagem não reproduz a bomba em Turíngia, é só um exemplo de bomba atômica – https://www.libertaddigital.com/opinion/libros/la-bomba-atomica-1276234522.html

Referência Bibliográfica

– FURLONG, Ray. Hitler testou pequena bomba atômica, diz historiador. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/reporterbbc/story/2005/03/050314_hitlerg>. Acessado em: 25/05/2023.

– Teria Hitler fabricado a bomba atômica?. Disponível em: <https://www.dw.com/pt-br/teria-hitler-fabricado-a-bomba-at%C3%B4mica/a-1519066>. Acessado em: 25/05/2023.

– Livro revela que nazistas usaram bomba nuclear em 1945. Disponível em:  <https://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u81640.shtml>. Acessado em: 25/05/2023.

– Documentário: nazistas estavam desenvolvendo bomba atômica. Disponível em: <https://www.terra.com.br/noticias/mundo/europa/documentario-nazistas-estavam-desenvolvendo-bomba-atomica,df2c79f12d73a63fbca73d68dcbf3ae9xnhgRCRD.html>. Acessado em: 25/05/2023.