Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia, dando início a maior campanha militar convencional na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Na área de operações do norte, o principal alvo era Kharkov, a segunda cidade da Ucrânia. Os primeiros obusess russos explodiram na cidade e em poucas horas houve confrontos de infantaria e combates com blindados nos subúrbios. A batalha na cidade intensificou-se durante março e abril, enquanto uma vigorosa defesa ucraniana mantinha os russos afastados. Em meados de maio, os russos foram expulsos de Kharkov e até este momento (22/8/2023), não voltaram.
A batalha de Kharkov de 2022 é uma volta a um passado não tão distante. Kharkov, que os ucranianos agora chamam de Kharkiv, foi um dos mais violentos campos de batalha urbano da Frente Oriental durante a Segunda Guerra Mundial. Durante esse conflito, as forças soviéticas, incluindo divisões russas e ucranianas, perderam centenas de milhares de vidas tentando defender ou recapturar Kharkov da Wehrmacht. No processo, a guerra avançou e retrocedeu como ondas pela cidade. Entre outubro de 1941 e agosto de 1943, a cidade trocou de mãos quatro vezes. Embora as grandes batalhas de Stalingrado, Leningrado e Kursk tenham se tornado estratégicamente mais relevantes, a violenta disputa por Kharkov não é menos proeminente, a posse da cidade foi fundamental para o resultado do flanco sul da guerra na Frente Oriental.
Contexto operacional
Após a vitória na Batalha de Kiev (7/7 a 26/9 1941) o alto-Comando do Exército (Oberkommando des Heers, OKH) determinou ao Grupo de Exércitos Centro, comndado pelo Marechal de Campo Fedor von Bock, reajustasse o seu dispositivo para realizar o ataque em direção à Moscou, antes da rasputitsa. O 2º Grupo Panzer virou para o norte em direção a Bryansk e Kursk. Em seu lugar, o Grupo de Exércitos Sul, comandado pelo Marechal de Campo Walther von Reichenau, determinou que o 6º Exército, do General der Panzertruppe Friedrich Paulus, e o 17º Exército do tenente-general Carl-Heinrich von Stülpnagel, assumisse o comando das divisões Panzer. A principal formação ofensiva do Grupo de Exércitos Sul, era o 1º Grupo Panzer, do tenente-general Paul Ludwig Ewald von Kleist, recebeu ordens para se mover para o sul em direção a Rostov-on-Don e aos campos de petróleo do Cáucaso, a fim cumprir a Diretiva nº 35 de Hitler, conquistando a cidade de Melitopol. Nessas campanhas, os nazistas fizeram 600 mil prisioneiros de guerra. Com isso o 6º e 17º Exércitos, gastaram cerca de três semanas reagrupar e reajustar o dispositivo, quando se constatou uma brecha entre os dois exércitos.
A derrota no sul obrigou o Alto Comando do Exército Vermelho (STavka) resolveu recuar e formar uma nova linha defensiva em Kursk e Rostov, comprometendo algumas unidades antes destacada para a defesa de Moscou (provavelmente prevendo os contratempos ao avanço nazista provocados pela rasputitsa). O Marechal Semyon Timoshenko, um dos mais competentes comandantes do Exército Vermelho, reconstituiu os 6º, 21º, 38º e 40º Exércitos de Rifles praticamente do zero, já que estas unidade tinham sido quase que dizimadas diante o avanço alemão.
A Guerra na Ucrânia Soviética
Em 6 de outubro, o Grupo de Exércitos Sul avançou de Sumy e Okhtyrka em direção a Belgorod e Kharkov. Ao mesmo tempo, o 17º Exército lançou uma ofensiva de Poltava em direção a Lozova e Izyum, a fim de proteger o flanco do 1º Exército Panzer (anteriormente 1º Grupo Panzer). A ofensiva alemã provocou o recuo do 6º Exército soviético (comandado por Rodion Malinovsky) e do 38º Exército (comandado por Viktor Tsiganov).
À medida que os alemães se aproximavam de Moscou, o Exército Vermelho sofreu grandes derrotas em Vyazma e Bryansk, resultando em 700 mil baixas. As escassas reservas disponíveis foram enviadas para defender Moscou, deixando a Frente Sudoeste vulnerável. Sem reforços, os soviéticos foram forçados a recuar para Voronezh para evitar o colapso do seu flanco sul.
Os principais objetivos do exército alemão antes do inverno eram tomar Leningrado, Moscou e os acessos aos campos petrolíferos do Cáucaso. Kharkov, embora fosse um objetivo secundário, era de vital importância. Além de protegerem os flancos das suas pontas de lança motorizadas, os alemães valorizavam Kharkov pela sua importância industrial e pelo seu papel como um entroncamento ferroviário. A captura da cidade empurraria os exércitos soviéticos das Frentes Sudoeste e Sul de volta para Voronezh e Stalingrado, cortando os seus principais centros de transporte.
Na segunda semana de outubro, contudo, a ofensiva alemã foi dificultada pela rasputitsa e pelos desafios logísticos na área entre o rio dnieper e as linhas da frente. Todas as pontes rodoviárias desabaram e a ameaça dos blocos de gelo descendo o rio representava um desafio para a substituição dos pontões. Para garantir a captura de Kharkov, Hitler desviou recursos do 17º Exército para apoiar o 6º Exército. Isto enfraqueceu os esforços do 17º Exército para proteger o flanco do 1º Exército Panzer e contribuiu para a derrota alemã na Batalha de Rostov. Depois de 17 de outubro, as geadas noturnas melhoraram as condições das estradas, mas os alemães, ainda com equipamento para o outono foram prejudicados pela neve e pelo frio, pois esperavam que toda a invasão de Barbarossa fosse concluída antes do inverno.
A conquista de Kharkov visava ocupar um importante centro de indústrias militares (armas, motores e munições) e um estratégico nó ferróviário. A cidade era vital para o esforço de guerra soviético. Além disso, a região localizada na bacia do rio Donets, era vital para o acesso à Criméia, Cáucaso, região do Dnieper e o Donbass. Além desses objetivos, havia a necessidade de se fechar a brecha existente entre o 6º e o 17º Exército alemão.
1ª Batalha de Kharkov (de 20 a 24 de outubro de 1941)
Os soviéticos perceberam a manobra nazista e se anteciparam, começando a evacuar a cidade, principalmente, as estratégicas instalações industriais. A evacuação das plantas industriais começou antes da Alemanha estivesse pronta para atacar e estava quase concluído em 20 de outubro de 1941. Um total de 320 trens foram usados para transportar equipamentos de 70 grandes fábricas
O LV Corpo de Exército, comandado pelo general de infantaria Erwin Vierow recebeu a missão de conquistar Kharkov. O corpo consistia de três divisões, o ataque seria liderado pela 101ª Divisão de Infataria Leve avançando pelo norte, enquanto que a 57ª Divisão de Infantaria progredia pelo sul. O apoio de fogo seria feito por duas baterias de camhões de 88 mm que foram anexadas a 57ª. A 100ª divisão de Infantaria Leve foi colocada na recerva e não participou dos combates.
Para defender Kharkov, os soviéticos empenharam apenas uma divisão, a 216ª de rifles. A resistência deveria atrasar os alemães tempo suficiente para que os equipamentos das fábricas fosse retirado e evacuado.
Os alemães esperavam uma intensa batalha urbana, mas com a retirada do material estratégica quase concluída, não tiveram muita dificuldades em conquistar a cidade.
Em 21 de outubro, a 101ª Divisão de Infantaria Leve avançou para uma posição cerca de seis quilômetros a oeste de Kharkov. Como ponta de lança da divisão, o 228º Regimento de Infantaria Leve posicionou seu 1º e 3º Batalhões defensivamente na frente, enquanto o 2º Batalhão permaneceu na reserva.
Em 22 de outubro, o regimento foi designado para realizar reconhecimento para avaliar a força inimiga. Mais tarde naquele dia, por volta do meio-dia, um batalhão de infantaria soviético com apoio de tanques lançou um ataque contra o regimento. O regimento repeliu com sucesso o ataque e conseguiu destruir dois tanques inimigos.
Durante a noite, informações vindas das patrulhas de reconhecimento foram transmitidas ao quartel-general da divisão, revelando que a 216ª Divisão de Rifles soviética havia assumido posição no extremo oeste da cidade, reforçando sua posição com ninhos de metralhadoras, poços de morteiros e campos minados. Em preparação para a próxima ofensiva, o 3º Batalhão (posicionado no flanco direito do regimento) recebeu reforços, incluindo dois canhões da unidade de artilharia da divisão, o 85º Regimento de Artilharia, uma companhia de engenheiros e um batalha de canhões antiaéreo de 88 mm. O 2º Batalhão recebeu os mesmos reforços, exceto o canhão AA. Enquanto isso, o 1º Batalhão foi designado reserva regimental. Além disso, o 1º Batalhão do 229º Regimento de Inafantaria Leve foi designado para proteger o flanco esquerdo do 228º. A hora planejada para o ataque foi marcada para meio-dia para coincidir com as ações da 57ª Divisão de Infantaria.
No entanto, devido a um atraso na prontidão da 85ª Artilharia, o ataque teve que ser adiado. Durante esse tempo, a companhia antitanque, que estava presa na lama na retaguarda, finalmente chegou à frente e recebeu a ordem de fornecer um pelotão de canhões antitanque de 37 mm para cada batalhão da linha de frente. Finalmente, às 14h25, a artilharia estava totalmente preparada e o ataque foi remarcado para as 15h. Para surpresa dos alemães, os soviéticos ofereceram pouca resistência e recuaram. Em 24 de outubro de 1941, Kharkov foi capturado pelo 6º Exército.
A 2ª Batalha de Kharkov (12 a 28 de maio de 1942)
A segunda batalha de Kharkov se deu em um contexto operacional completamente diferente da primeira. A Wehrmacht havia fracassado em capturar Moscou (30/9/1941 a 7/1/1942), a chamada Operação Typhoon, levando o OKW e o Stavka a reajustarem seu dispositivo e atualizarem os seus planos de acordo com a nova situação operacional.
No início de 1942, Stalin e o Stavka começaram a trabalhar no planejamento de uma série de ofensivas ambiciosas em toda a extensão da Frente Oriental a fim de limitar o potencial ofensivo alemão em direção a Moscou. Os soviéticos lançaram ofensivas vitoriosas em Rostov (27 de novembro a 2 de dezembro de 1941) e em Barvenkovo – Lozovaya (18 a 31 de janeiro de 1942) na região de Donbass. O marechal Semyon Timoshenko foi encarregado pela ofensiva no sul e sua missão era a libertação de Kharkov, Donbass e Sebastopol.
As forças do marechal Timoshenko e do tenente-general Kirill Moskalenko penetraram nas posições alemãs ao longo do norte do rio Donets, a leste de Kharkov. Os combates continuaram em abril, com Moskalenko cruzando o rio e estabelecendo uma tênue cabeça de ponte em Izium. No sul, o 6º Exército soviético teve sucesso limitado na defesa contra as forças alemãs, que conseguiram manter uma cabeça de ponte própria na margem leste do rio. Chamando a atenção de Stalin, estabeleceu o ritmo para o prelúdio da eventual ofensiva destinada a atingir Pavlohrad e Sinelnikovo e, eventualmente, Kharkov e Poltava.
Em janeiro de 1942, os exército soviéticos da Frente Sudoeste e a Frente Sul lançaram um grande ataque entre Kharkov, no norte, e Artemovsk, no sul.
Em 11 de maio de 1942, o Exército Vermelho conseguiu alocar seis exércitos em duas frentes, entre outras formações em uma relativamente curta frente de operações. A Frente Sudoeste tinha o 21º , o 28º, o 38º e o 6º Exércitos. Neste mesmo dia, o 21º Corpo de Tanques foi transferido para a região com o 23º Corpo de Tanques, com outros 269 tanques. Havia também três divisões de fuzileiros independentes e um regimento de fuzileiros da 270ª Divisão de Fuzileiros, concentrados na área, apoiados pelo 2º Corpo de Cavalaria em Bogdanovka. A Frente Sul Soviética tinha os 57º e 9º Exércitos, juntamente com trinta divisões de rifles, uma brigada de rifles e o 24º Corpo de Tanques, o 5º Corpo de Cavalaria e três divisões de rifles de Guardas. No auge da batalha, a Frente Sul podia operar onze canhões ou morteiros por quilômetro de frente!!!
Em 5 de abril de 1942, Hitler emitiu a Diretiva 41, que fazia do sul a principal área de operações da Operação Case Blue, a campanha de verão, em detrimento das demais frentes. As divisões do Grupo de Exércitos Sul foram reforçadas entre o fim de abril e o início de maio. O objetivo estratégico ficou claro após as vitórias de Erich von Manstein e do 11º Exército na Crimeia. O objetivo principal continuou a ser o Cáucaso, os seus campos petrolíferos e, como objetivo secundário, a cidade de Stalingrado.
O 6º Exército Alemão, sob o comando do recém-nomeado General Paulus, recebeu ordens para lançar a Operação Fredericus em 30 de abril de 1942, o que não ocorreu. Esta operação tinha como objetivo derrotar os exércitos soviéticos na saliência de Izyum, ao sul de Kharkov, criada durante as ofensivas soviéticas da primavera em março e abril.
A expectativa do OKW era que o 6º Exército estivesse em condições de iniciar a Operação Fredericus em abril. A fim de cumprir esse prazo, o exército alemão estava se reagrupando no centro para a ofensiva em torno de Kharkov. Em 10 de maio, Paulus apresentou seu planejamento final da Operação Fredericus e temia um ataque soviético. A essa altura, Timoshenko estava pronto para a atacar em direção ao Cáucaso.
Em 12 de maio de 1942, as forças soviéticas do marechal Semyon Timoshenko lançaram uma ofensiva contra o 6º Exército alemão a partir de uma saliência estabelecida durante a contra-ofensiva de inverno.
Após fogos de preparação lançados pela artilharia e bombardeio aéreo, a infantaria e a uma massa blindada avançaram. No entanto, os tanques estavam densamente agrupados, um erro tático que seria explorado pelos alemães. Ambos os braços da pinça blindada fizeram penetrações, principalmente no sul. Mas alguns comandantes soviéticos, como Nikita Khrushchev, Comissário Militar da Direção Sudoeste, olhavam para a evolução da situação operacional e sentiram que estavam caindo em uma armadilha. Dois terços dos tanques ofensiva foram desdobrados no ataque à Izyum, visando tomar Krasnogrado antes de virar para noroeste para atacar a própria Kharkov. O problema era que os avanços inicialmente encorajadores dos soviéticos foi contra unidades romenas, além disso, a medida que avançavam estavam expondo flancos cada vez mais extensos e mais vulneráveis. Enquanto os soviéticos avançavam, no norte cerca de 14 divisões alemãs tinham conseguido deter o avanço de forma relativamente rápida. A saliência de Izyum estava começando a parecer uma protuberância insustentável, pronta para ser cercada.
Após esse início promissor, a ofensiva soviética foi interrompida em 15 de maio por ataques aéreos massivos. Durante a fase de planejamento da operação, o Stavka e Stalin cometeram uma série de erros de avaliação em relação ao 6º Exército alemão, das próprias capacidades de suas forças e na condução das operações que acabaram por facilitar um contra-ataque de duplo envolvimento (em pinça) alemão em 17 de maio, que isolou três exércitos soviéticos do resto da frente. Cercados em um bolsão, a força soviética, em torno de 250 mil homens, foi em grande parte exterminada por fogos vindos de todos os lados, dos blindados, da artilharia e das metralhadoras alemãs, bem como por 7.700 ton de bombas lançadas pela Luftwaffe Após seis dias de cerco, a resistência soviética terminou e as tropas que sobraram se renderam. Além das perdas em vidas humanas os soviéticos tiveram mais de 1200 tanques, em torno de 2 mil obuseiros, 3 mil morteiros e mais de 500 aviões todos destruídos pelo alemães.
A batalha foi uma esmagadora vitória alemã, com 280 mil baixas soviéticas, em comparação com apenas 20.000 para os alemães e seus aliados. O Grupo de Exércitos Sul Alemão aproveitou sua vantagem, e cercou o 28º Exército soviético, em 13 de junho, na Operação Wilhelm e forçou o recuo dos 38º e 9º Exércitos, em 22 de junho. Em 28 de junho, a Wehrmacht deu início a Operação Fridericus II, como uma operação preliminares para Case Blue, que foi lançada como o principal ofensiva alemã na Frente Oriental em 1942.
Cumpre ressaltar que o ataque de três exércitos soviéticos resultou em um avanço de quase 100 km antes de ser parado pela resistência alemã. Kharkov permaneceu nas mãos dos alemães, mas uma saliência profundamente controlada pelos soviéticos agora se projetava para as linhas alemãs aproximadamente centradas em Izyum, um contorno tático que teria profundo significado para a continuidade da guerra.
A 3ª Batalha de Kharkov (19 de fevereiro até 15 de março de 1943)
A Terceira Batalha de Kharkov foi uma série de batalhas na Frente Oriental entre o Grupo de Exércitos ao Sul, da Alemanha nazista, contra o Exército Vermelho, no entorno da cidade de Kharkov, o contra-ataque alemão levou à recaptura das cidades de Kharkov e Belgorod.
A situação operacional do Grupo de Exércitos Sul não era boa, o 6º Exército Alemão estava sendo cercado na Batalha de Stalingrado, pelo Exército Vermelho, e suas linhas estavam muito distentidas.
Em 2 de fevereiro, após a rendição do 6º Exército alemão em Stalingrado, a Frente Central do Exército Vermelho voltou sua atenção para o oeste. Em 25 de fevereiro, a fim de não perder a iniciativa e se aproveitando da fragilidade da posição alemã expandiu sua ofensiva contra o Grupo de Exércitos Sul e o Grupo de Exércitos Centro nazistas.
Em 2 de janeiro de 1943, o Exército Vermelho lançou as Operações Gallop (29/1 a 18/2/1943)) e Star (10/2 a 14/2/1943) quebrando as linhas defensivas alemãs e recapturando Kharkov, Belgorod, Kursk, Voroshilovgrad e Izium.
A Operação Gallop era parte de uma série de contra-ofensivas após o cerco de Stalingrado a fim de romper a ofensiva alemã de verão em 1942. A série de contra ofensiva tinha por objetivo colapsar a linha de frente alemã no sul da Rússia e no nordeste da Ucrânia, a fim de explorar a fragilidade do dispositivo alemão. A operação foi lançada em 29 de janeiro de 1943 e visava Voroshilovgrad (Luhansk), Donetsk, e depois em direção ao Mar de Azov para isolar todas as forças alemãs a leste de Donetsk. Foi conduzido pela Frente Sudoeste, comandada pelo general de exército Nikolai Fyodorovich Vatutin. A ofensiva foi inicialmente bem-sucedida com os soviéticos romperam as fracas linhas alemãs os empurraram para uma linha a oeste de Voroshilovgrad.
No entanto, a continuidade das operações desgastaram as unidades soviéticas e estenderam demais suas linhas. Os meses de operações contínuas tiveram um grande impacto enorme no Exército Vermelho e algumas divisões estavam reduzidas a 1mil/2mil soldados sem grande eficácia de combate.
Diante do possível colapso no sul, o comando alemão reajustou seu dispositivo e criou um novo Grupo de Exércitos Sul a partir das unidades semidestruídas dos antigos Grupos de Exércitos A, B e Don, sob o comando do marechal Erich von Manstein.
As ofensivas soviéticas, inicialmente bem-sucedidas, acabaram por estender suas linhas de abastecimento e seu dispositivo (efetivo e meios insuficientes para cobrir toda a frente de batalha), durante uma contra-ofensiva em Kharkov, os alemães perceberam e atacaram recuperando a iniciativa e derrotaram o contra-ataque soviético. O resultado seria uma última ofensiva estratégica alemã em Kursk.
Em 2 de feveriro de 1943, a Operação Star foi desencadeada em meio a Operação Gallop. O ataque soiviético foi desencadeado pela, Frente Voronezh sob o comando do general de exército Filipp Golikov e era parte da Operação Ofensiva Estratégica Voronezh-Kharkov.
Em 19 de fevereiro de 1943, o marechal de campo Erich von Manstein lançou seu contra-ataque em Kharkov, usando o novo II Corpo SS Panzer Corps (3 divisões de infantaria blindada a Leibstandarte SS Adolf Hittler, a Das Reich, a Totenkofpf e elementos da 16ª Divisão de Infantaria), comandado pelo general Paul Hasser e dois exércitos panzer. Manstein se beneficiou muito do apoio aéreo maciço da Luftflotte 4, do Marechal de Campo Wolfram von Richthofen, cujas 1.214 aeronaves realizaram mais de 1.000 missões por dia, no período de 20 de fevereiro a 15 de março, para apoiar as tropas terrestres alemãs, um nível de poder aéreo igual ao durante o Caso Azul ( a ofensiva estratégica deflagrada no ano anterior).
A Wehrmacht conseguiu flanquear, cercar e derrotar as pontas de lança blindadas do Exército Vermelho ao sul de Kharkov. Em 7 de março, deu início as operações a fim de retomar Kharkov. Em 11 de março, o SS Panzer Corps decidiu atacar Kharkov e em quatro dias de combates de casa em casa, a cidade foi recapturada pela Divisão SS Leibstandarte em 15 de março. As forças alemãs recapturaram Belgorod dois dias depois, criando a saliência que em julho de 1943 levaria à Batalha de Kursk.
A ofensiva alemã custou ao Exército Vermelho cerca de 90.000 baixas. Os combates de casa em casa em Kharkov também foram particularmente sangrentos para o II Corpo SS Panzer alemão, que teve aproximadamente 4.300 baixas entre mortos, feridos e desaparecidos quando as operações terminaram, em meados de março.
4ª Batalha de Kharkov (de 3 a 23 de agosto de 1943)
Em 3 de agosto de 1943, a forças soviéticas dos Frontes Voronezh e Estepe lançaram a Operação Polkovodets Rumyantsev, um ataque ao flanco norte do Grupo Sul do Exército alemão. A operação era um desdobramento da Batalha de Kursk. O objetivo era recapturar Belgorod e Kharkov e destruir o que sobrou do 4º Exército Panzer e do Destacamento do Exército Kempf (cerca de 18 divisoes blindadas e de infantaria bastante desfalcadas, em um total de 200 mil combatentes e 240 tanques).
As forças soviéticas eram de sete exércitos de armas combinadas, dois exércitos de tanques e 1 exército da força aérea Voronezh. Os soviéticos contavam com 980 mil combatentes, mais de 12 mil peças de artilharia e morteiros, 2.400 tanques e artilharia autopropulsada, mais de 13 mil peças de obuses e lançadores de foguetes, além de mais de 1.300 aeronaves de combate
A operação levou à retirada das forças alemãs na Ucrânia para trás do rio Dnieper e preparou o cenário para a Batalha de Kiev (13/11 a 22/12/1943).
As forças alemães tiveram 26 mil baixas (mortos, feridos e desaparecidos) e perderam 240 tanques e um número desconhecido de peças de artilharia. Já os soviéticos tiveram em torno de 70 mil baixas(mortos, feridos e desaparecidos), mais de 1.800 tanques, mais de 400 peças de artilharia e 153 aviões.
Lições aprendidas
Uma das lições mais importantes que surgiram das batalhas travadas ao redor de Kharkov, no Donbass. foi a importância do reconhecimento e análise das informações. As forças soviéticas foram capazes de surpreender e superar as forças alemãs devido à sua rede de inteligência superior. Eles foram capazes de reunir informações críticas sobre os movimentos das tropas alemãs e planejar seu ataque de acordo, o que os levou à vitória.
Os soviéticos utilizaram muito bem o princípio da massa, daí a importância de reunir reservas e equipamentos próximos do front de modo a sustentar as operações sejam defensivas, ou ofensivas, a fim de manter a intensidade e durar na ação.
A flexibilidade tática e operacional. Os comandantes soviéticos mostraram notável flexibilidade nos seus planos de batalha, adaptando-se às mudanças no campo de batalha e tomando decisões rápidas que levaram ao seu sucesso. Essa flexibilidade permitiu-lhes superar os alemães e ganhar vantagem na batalha.
Em que pese o nível de treinamento, da experiência, da qualidade da liderança e do equipamento, a Wehrmacht, na maior parte da campanha, não conseguiu manter uma certa paridade em termos de efetivo e de meios disponíveis em relação aos soviéticos. As perdas em batalha soviéticas eram rapidamente repostas, enquanto que os alemães já mostravam a dificuldade em lidar com o número elevado de baixas e perda de equipamento. Tal situação fruto de decisões estratégicas equivocadas, como por exemplo combater em duas frentes, Mediterrâneo e Leste Europeu, e que logo se transformariam em três com a invasão da Normandia, pesariam cada vez mais no esforço de guerra alemão.
Finalmente, as Batalhas de Kharkov mostraram a importância da logística e das linhas de abastecimento. As forças soviéticas conseguiram manter as suas tropas bem abastecidas, o que lhes permitiu a durar na ação e lutar mais duramente que os alemães. Eles conseguiram trazer reforços e suprimentos rapidamente, o que levou ao seu sucesso.
Conclusão
A série de batalhas na região de Donbass foram decisivas para o destino da guerra. Os soviéticos tinham uma série de vantagens estratégicas: a extensão do front, os numerosos efetivos e reservas soviéticas, a relativa tolerância ao número de baixas e de perdas de equipamento soviético permitia ao Stavka mudar o esforço principal sempre que encontravam uma resistência mais organizada e provida de meios dos nazistas.
As grandes perdas de efetivos e meios da Wehrmacht entre julho e agosto de 1943 restringiram severamente as capacidades dos Grupos de Exércitos Sul e Centro. O sucesso na Batalha de Kurk permitiu aos soviéticos tomar a iniciativa elançar uma série de operações ofensivas durante o inverno de 1943 (que libertariam Kiev e o restante da ucrânia) e no ano de 1944. A Operação Bagration, durante a qual o Exército Vermelho quase destruiu o exército alemão na Frente Oriental, expôs a fragilidade das forças alemães no front oriental.
Imagem de Destaque: https://www.coh2.org/news/730/first-battle-of-kharkov-oct-1941
Fontes
– https://en.wikipedia.org/wiki/First_Battle_of_Kharkov
– https://www.historynet.com/kharkiv-ukraine-world-war-2-kharkov/
– https://www.worldwar2facts.org/2nd-battle-of-kharkov.html
– https://www.historynet.com/kharkov-1943-the-wehrmachts-last-victory/
– https://www.coh2.org/news/730/first-battle-of-kharkov-oct-1941
– https://www.thoughtco.com/third-battle-of-kharkov-2361480
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.