Campanha das Ilhas Aleutas: O conflito entre Japão e EUA na costa do continente americano

de

Prof. Esp. Pedro Silva Drummond

Introdução

O Japão desde meados da década de 1930, esteve em um processo de expansão no continente asiático. As disputas e conquistas territoriais com a China e posteriormente a guerra contra a Rússia, fazem parte de uma política expansionista que teve início desde a Era Meiji e teve seu término somente após a Segunda Guerra Mundial.

Os conflitos japoneses no Sudeste Asiático não foram os únicos, durante o final de 1941, o Japão iniciou um processo de batalhas e conquistas na região do Pacifico, o que ficou conhecido durante a Segunda Guerra Mundial, como a Guerra do Pacifico, que teve Japão e EUA, como as principais potências nesse Teatro de Operações;

No contexto dos conflitos entre Japão e EUA, aconteceu a Campanha das Ilhas Aleutas, quando o Japão invadiu e conquistou parte do território do Alasca (EUA), principalmente as Ilhas de Attu e Kiska, durante junho de 1942 e agosto de 1943.

Campanha das Ilhas Aleutas

Com a entrada do Japão na Segunda Guerra Mundial e um processo de grandes batalhas contra os países Aliados, principalmente os EUA, um dos territórios que se tornaram alvos dos japoneses foram o conjunto de Ilhas Aleutas, especialmente por causa da sua proximidade com o Japão. “Estendendo-se para oeste no Oceano Pacífico, a cadeia de cerca de 150 ilhas fica a apenas 1.200 quilómetros da base militar mais próxima do Japão – mais perto do Japão do que de Seattle, Washington.” (https://www.pbs.org/wgbh/americanexperience/features/alaska-japan/)

Mapa das Ilhas Aleutas
https://en.wikipedia.org/wiki/Aleutian_Islands_campaign

No dia 06 e 07 junho de 1942, os japoneses atacaram as Ilhas Aleutas. Os primeiros ataques que levaram o controle das ilhas pelos japoneses foram os bombardeamentos na base militar norte-americana no porto de Dutch Harbor, que nesse período era uma região controlada pela Holanda.

O ataque japonês a base militar dos EUA, foi feito pela Frota da Área Norte do Japão, composta por: “uma força de dois porta-aviões, cinco cruzadores, doze contratorpedeiros, seis submarinos, e quatro transportes de tropas, juntamente com navios auxiliares de apoio.”, sob o comando do Vice-Almirante Boshiro Hosogaya, e que resultou na morte de aproximadamente 100 norte-americanos.

Após o ataque bem sucedido pelos japoneses a base militar norte-americano, a força japonesa partiu para conquistar as ilhas de Attu e Kiska. Um dos objetivos estratégicos do Japão de controlar as ilhas Aleutas, seria: “de evitar a possibilidade de uma força conjunta EUA-Soviética e a possibilidade de atacar o continente japonês através das Ilhas Curilas no futuro..” (https://academic-accelerator.com/encyclopedia/aleutian-islands-campaign)

Os EUA antes mesmo da invasão japonesa, tinham suas preocupações em relação à região, o general dos EUA Billy Mitchell, já tinha advertido os congressistas dos EUA, em 1935, sob a importância do Alasca na sua visão: “o valor estratégico das ilhas era a sua capacidade de controlar as rotas marítimas no Pacífico”. (https://academic-accelerator.com/encyclopedia/aleutian-islands-campaign). Além disso, existia o temor que as ilhas pudessem ser usadas como bases para um ataque às cidade da costa oeste do País.

O ataque japonês as Ilhas Aleutas, teria início com o Vice-Almirante Boshiro Hosogaya, que faria um ataque anfíbio contra a Ilha Adak. “Hosogaya foi instruído a destruir todas as forças e instalações americanas encontradas em Adak, mas os japoneses não sabiam que a ilha estava indefesa. As tropas de Hosogaya deveriam retornar aos seus navios e se tornar uma reserva para dois desembarques adicionais: o primeiro em Kiska, 240 milhas (390 km) a oeste de Adak, o outro na ilha mais ocidental das Aleutas, Attu, 180 milhas (290 km) a oeste de Kiska.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Aleutian_Islands_campaign#Killed_in_action).

Estação de rádio da Marinha no porto no porto de Dutch Harbor pegando fogo após o ataque japonês
https://en.wikipedia.org/wiki/Aleutian_Islands_campaign

Nos primeiros dias de junho de 1942, as Forças Armadas dos EUA no Alasca, consistia em: “45.000 homens, com cerca de 13.000 em Cold Bay (Fort Randall), na ponta da Península do Alasca, e em duas bases das Aleutas: a instalação naval no porto holandês, na ilha de Unalaska, a 320 quilômetros de distância a oeste de Cold Bay, e a recém-construída Base Aérea do Exército de Fort Glenn, 70 milhas (110 km) a oeste da estação naval do Porto Holandês. O efetivo do Exército, sem os integrantes da Força Aérea, nessas três bases totalizava não mais de 2.300, composto principalmente por tropas de infantaria, artilharia de campo e antiaérea, e um grande contingente de engenheiros de construção, que foi utilizado na construção de bases.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Aleutian_Islands_campaign#Killed_in_action).

Outro motivo importante que possibilitou a conquista das Ilhas Aleutas pelos japoneses foi o seguinte: “Quando o Havaí foi atacado, o Alasca estava mal preparado para um ataque ao seu território. Apenas seis aeronaves estavam funcionando. 21.945 militares estavam estacionados em guarnições em todo o território, mas essas guarnições estavam separadas por centenas, às vezes milhares de quilômetros, e a falta de transporte terrestre confiável dificultava o movimento, a comunicação e a coordenação. O projeto de construção de estradas começou em abril de 1942, apenas quatro meses depois de Pearl Harbor.” (https://www.pbs.org/wgbh/americanexperience/features/alaska-japan/)

Ataque Japonês

Durante a invasão japonesa, houve pouca resistência. “A única presença militar americana em Kiska era uma estação meteorológica da Marinha dos Estados Unidos com 12 homens – dois dos quais não estavam presentes durante a invasão… Os japoneses invadiram a estação, matando dois americanos e capturando sete.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Japanese_occupation_of_Kiska).

Hasteamento da bandeira japonesa na Ilha Kiska, nas Aleutas, em 6 de junho de 1942
https://en.wikipedia.org/wiki/Aleutian_Islands_campaign

No dia seguinte foi à vez de Attu: “as forças navais japonesas comandadas por Boshirō Hosogaya desembarcaram tropas sem oposição em Attu em conjunto com as mesmas forças que invadiram Kiska no dia anterior. Uma força composta por 1.140 soldados de infantaria sob o comando do major Matsutoshi Hosumi assumiu o controle da ilha e capturou a população de Attu, que consistia de 45 aleutas e dois americanos, Charles Foster Jones (1879-1942), um operador de radio amador e repórter meteorológico, originário de St. Paris, Ohio, e sua esposa Etta (1879-1965), professora e enfermeira, originária de Vineland, Nova Jerse . A vila consistia em várias casas ao redor do porto de Chichagof , no lado nordeste da ilha.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Japanese_occupation_of_Attu)

Contra-ataque dos EUA

No final de agosto de 1942, as forças dos EUA começaram a se organizar para atacar os japoneses que tinham controlado as ilhas em Aleutas. Os norte-americanos atacaram e conquistaram à Ilha Adak, cerca de 400 quilômetros a leste de Kiska. Após a conquista, da Ilha Adak, a engenharia norte-americana conseguiu concluir uma pista em apenas duas semanas, possibilitando, que os bombardeiros pesados ​​B-24 lançassem ataques de Adak, contra os japoneses na região. Ainda em agosto de 1942, “a guarnição de Attu foi transferida para Kiska para ajudar a repelir um suposto ataque americano. De agosto a outubro de 1942, Attu ficou desocupado até a chegada de uma força de 2.900 homens comandada pelo coronel Yasuyo Yamasaki.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Japanese_occupation_of_Attu)

Durante os meses subsequentes, as forças norte-americanas aumentavam na região e, “em 1943, 100.000 soldados americanos estavam baseados no Alasca e 13 novas bases foram construídas.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Aleutian_Islands_campaign#Killed_in_action)

Frota dos EUA pronta para atacar Kiska.
https://en.wikipedia.org/wiki/Aleutian_Islands_campaign

Em 11 de maio de 1943, os norte-americanos iniciaram o ataque para reconquistar Attu, “nos lados norte e sul da península. Mapas ruins e mau tempo impediram o apoio eficaz de artilharia, tiros navais ou ataques aéreos. Demorou uma semana em terreno desafiador para que as forças se unissem e prendessem os japoneses, que se defendiam em posições bem escondidas em terreno elevado. Após a ligação, os japoneses retiraram-se em direção ao porto de Chichagof. Em 29 de maio, a guarnição japonesa de Attu transmitiu por rádio a notícia de sua derrota. Naquela noite, os japoneses participaram de um ataque desesperado às posições americanas…. Quinhentos e quarenta e nove americanos foram mortos na luta por Attu, com outros 1.148 feridos. Clima, doenças e terreno foram responsáveis ​​por 2.100 vítimas não relacionadas à batalha.” (https://www.abmc.gov/news-events/news/remembering-aleutian-campaign-world-war-ii)

Forças dos EUA em Attu, Biblioteca do Congresso
https://www.pbs.org/wgbh/americanexperience/features/alaska-japan/

A batalha em Kiska, iniciada em 15 de agosto de 1943, foi completamente diferente, tanto pelos norte-americanos, quanto pelos japoneses. “A campanha curta, mas difícil fez o comando americano reconsiderar os seus planos para Kiska. As forças de assalto e apoio foram aumentadas para a Operação Cottage, o ataque a Kiska e os planos foram reformulados. De junho a agosto, as forças aliadas bombardearam Kiska por via aérea e marítima. Com quase 30.000 soldados terrestres americanos e 5.000 canadenses comprometidos em Cottage, as forças desembarcaram em meados de agosto e descobriram que os japoneses haviam evacuado secretamente. A vitória sobre Kiska foi conquistada em Attu e os japoneses foram forçados a deixar o território americano.” (https://www.abmc.gov/news-events/news/remembering-aleutian-campaign-world-war-ii)

Fuzileiros americanos desembarcando em Kiska, em agosto de 1943
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/confira-5-fatos-sobre-invasao-japonesa-no-alasca.phtml

Conclusão

A Batalha nas Ilhas Aleutas é conhecida como a Batalha Esquecida, por causa de outros eventos mais conhecidos, valorizados e a importância durante a guerra nos rumos da Guerra no Pacífico. Isso não significa que esse conflito foi irrelevante para o conflito entre EUA e Japão.

Com a derrota japonesa nas Ilhas Aleutas, os norte-americanos conquistaram bases seguras para atacar os japoneses no Pacífico Norte e os bombardeiros conseguiram iniciar os ataques ao norte do Japão. A reconquista das Ilhas Aleutas, também contribuiu na guerra na Europa, com os navios de carga russos que passavam por Kiska e o porto de Dutch Harbor, a caminho de Vladivostok e as aeronaves russas que levavam materiais necessários para a Frente Oriental na guerra contra a Alemanha.

Historicamente existe uma divergência de interpretações sob o motivo que levou a invasão japonesa. Alguns historiadores acreditam que a invasão japonesa nas Ilhas Aleutas, ocorreu com o objetivo de “distrair” as forças norte-americanas durante a Batalha de Midway, para dividir a Frota do Pacífico dos EUA entre as Ilhas Aleutas e o Atol Midway, visto que, os ataques nos dois locais aconteceram simultaneamente. Outros pesquisadores, porém, são contra essa visão, e acreditam que o Japão invadiu as Ilhas Aleutas para proteger o seu flanco norte e não como uma distração.

Imagem de Destaque: Celebração da conquista japonesa de Kiska pintada pelo artista Tomoharu Mikami – https://www.japaoemfoco.com/a-batalha-esquecida-a-invasao-japonesa-do-alasca/

Bibliografia

– Relembrando a Campanha das Aleutas na Segunda Guerra Mundial. Disponível em: <https://www.abmc.gov/news-events/news/remembering-aleutian-campaign-world-war-ii>. Acessado em: 26/08/2023

– Japão invade as Ilhas Aleutas. Disponível em: <https://www.pbs.org/wgbh/americanexperience/features/alaska-japan/>. Acessado em: 26/08/2023

– https://en.wikipedia.org/wiki/Aleutian_Islands_campaign

– https://en.wikipedia.org/wiki/Japanese_occupation_of_Kiska

– https://en.wikipedia.org/wiki/Japanese_occupation_of_Attu

– https://academic-accelerator.com/encyclopedia/aleutian-islands-campaign

Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.

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