Prof. Esp. Pedro Silva Drummond
Introdução
Os países europeus envolvidos na Primeira Guerra Mundial vinham desde o século XIX passando por diversos acirramentos entre si. As disputas por territórios em outros continentes, a Guerra Franco-Prussiana e o aumento do Nacionalismo, são alguns exemplos de disputas que culminaram com a Grande Guerra, como explica Margaret MacMillan: “O medo teve papel relevante nas posições adotadas pelas nações em relação às outras e na aceitação por seus líderes e suas políticas da guerra como instrumento de política. A Áustria-Hungria temia desaparecer como potência, a menos que tomasse alguma medida a respeito do nacionalismo sul-eslavo dentro de suas fronteiras, e isso exigia fazer algo a propósito da atração de uma Sérvia sul-eslava e independente. A França temia sua vizinha Alemanha, mais forte econômica e militarmente. Os alemães encaravam apreensivos o leste. A Rússia desenvolvia-se rapidamente e se rearmava. Se a Alemanha não lutasse logo com a Rússia, podia nunca mais ser capaz de fazê-lo. A Inglaterra tinha muito a ganhar com a continuação da paz, mas temia, como sempre temera, que uma única potência dominasse o Continente. Cada potência temia outras, mas temia também seu próprio povo… O nacionalismo étnico, da mesma forma, era uma força desagregadora na Áustria-Hungria, mas também na Rússia e na Inglaterra.” (Margaret MacMillan, 2014, p.27)
Em um período de acirramento dos envolvidos, foi criado um sistema de Alianças, onde diversas Nações europeias se viram implicados, uniram-se Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália, formando a Tríplice Aliança, enquanto, França, Inglaterra e Rússia, formaram a Tríplice Entente.
O início da Primeira Guerra Mundial teve como principal acontecimento a morte do herdeiro do Império Austro-Húngaro, arquiduque Francisco Ferdinando, em 28 de Junho de 1914, em Sarajevo, por um nacionalista Sérvio. O fato foi o estopim de uma guerra anunciada, onde os participantes já entendiam que um conflito poderia acontecer e se preparavam como explicado anteriormente por MacMillan.
Com o assassinato do Francisco Ferdinando, a consequência, foi à declaração de guerra do Império Austro-Húngaro á Sérvia, país de origem do assassino. A declaração de guerra aos Sérvios teve como consequência o envolvimento da Rússia no conflito, que era aliado da Sérvia, provocando o envolvimento de todos os integrantes participantes do sistema de Alianças, criado antes da Primeira Guerra Mundial.
A Batalha de Tannenberg acontece no primeiro mês da Primeira Guerra Mundial, entre 26 e 30 de agosto de 1914, quando a Rússia avança sobre o território Prússia, e encontra as forças alemães num dos grandes conflitos da Grande Guerra.
Batalha de Tannenberg
A Batalha de Tannenberg ocorre no contexto do primeiro mês de conflito, e no momento ainda de preparação das nações envolvidas. Nos primeiros dias de agosto teve início o avanço da Rússia sobre a Prússia Oriental, e durante meados de agosto inicia-se às primeiras batalhas entre russos e alemães, como a Batalha de Stallupönen, de 17 de Agosto, vencida pelos alemães, e a Batalha de Gumbinnen, de 20 de Agosto, vencida pelos russos.
A derrota da Alemanha para a Rússia na Batalha de Gumbinnen e o desejo do General von Prittwitz em recuar para o rio Vístula (Polônia), motivaram a troca de Comando do Oitavo Exército. O General Paul von Hindenburg, que estava na reserva, foi convocado para assumir o comando das tropas no lugar do von Prittwitz.
No dia 23 de Agosto, Hindenburg e seu chefe do Estado-Maior, Erich Ludendorff, assumiam seus postos, e iniciavam os preparativos do que seria a Batalha de Tannenberg. O plano executado pelos alemães já tinha sido planejado pelo Coronel Max Hoffmann, que estava na frente Oriental desde o comando de von Prittwitz. O plano de Hoffmann, indicava que, “se um pequeno destacamento de cobertura fosse deixado para trás para observar o Primeiro Exército russo, … poderia utilizar a excelente rede ferroviária dos alemães e transferir dois corpos de exército para o sul, a fim de enfrentar Samsonov e, com sorte, desferir-lhe um golpe debilitante. Enquanto o Segundo Exército avançava, parecia muito vulnerável, especialmente nos flancos”. (Hastings, 2014, p.257).
O exército russo era dividido em duas partes, o Primeiro Exército Russo, sob o comando do General Paul Rennenkampf, enquanto o Segundo Exército Russo, era comandado pelo General Aleksandr Samsonov. O exército russo era muito superior numericamente em relação aos alemães, “os russos destacaram para a ofensiva do norte 480 batalhões, contra os 130 alemães; 5.800 canhões russos contra 774.” (Hastings, 2014, p.252-253).
No dia 26 de outubro, “os russos entraram em Rastenburg, exatamente no centro da Prússia Oriental. A batalha recomeçou no lago Masúria, perto das povoações de Frögenau e Tannenberg, em 27 de agosto. Num momento decisivo, os nervos de Ludendorff cederam de tal modo que ele mesmo propôs que se chamasse o general François e que se fizesse um novo cerco das forças de Samsonov, conforme Hoffmann havia projetado. Hindenburg, imperturbável perante a intensidade e o risco da batalha, apoiou o plano de Hoffmann. A luta prosseguiu. Na manhã de 28 de agosto, Ludendorff insistiu para que o general François desviasse o avanço de suas tropas para apoiar um setor fraco da frente, mas François desobedeceu, empurrando os russos.” (Gilbert, 2017, p.57).
No dia 30 de Agosto, a batalha tinha um ponto final, como explica Gilbert: “Por volta de 30 de agosto, o exército de Samsonov estava derrotado. “O imperador confiou em mim”, disse ele ao seu chefe do Estado-Maior enquanto buscavam segurança num bosque que, ainda que não soubessem, já estava em mãos alemãs. “Como poderei encará-lo depois desse desastre?” Dezenas de milhares de russos estavam em retirada. Os homens largavam os rifles para conseguirem correr mais depressa, mas muitos avançavam em direção ao seu onipresente inimigo… Em triunfo, os alemães anunciaram que tinham capturado 30 mil feridos e 95 mil ilesos, recolhendo quinhentas peças de artilharia. Os cavalos capturados também somavam milhares. Foram necessários sessenta trens para transportar o saque do campo de batalha para a Alemanha.” (Gilbert, 2017, p.57). A Alemanha saiu da batalha com “apenas doze mil baixas, do total de 150 mil soldados que Hindenburg empregara na batalha”. (Hastings, 2014, p.265).
Após a grande derrota russa no final de Agosto, na Batalha de Tannenberg, e a numerosa perda do exército comandado pelo General Aleksandr Samsonov, que acabou morrendo no conflito. Os alemães iniciaram nos primeiros dias de setembro a Primeira Batalha dos Lagos Masurianos, que tinha como objetivo derrotar o General Paul Rennenkampf, do I Exército Russo, e expulsar definitivamente os russos da Prússia Oriental.
Conclusão
Nos primeiros dias da Primeira Guerra Mundial, as batalhas tinham sido iniciadas nas duas frentes de batalha (Ocidental e Oriental), o que estava fora dos planos da Alemanha, de acordo com o Plano Schlieffen, o objetivo era “um ataque alemão ao norte da França, através da Bélgica e da Holanda, passando ao longo da fronteira fortificada da França e descendo até Paris… De acordo com o plano alemão, Paris seria ocupada e a vitória sobre a França seria concluída em seis semanas, quando os alemães poderiam marchar contra a Rússia.” (Gilbert, 2017, p.39)
O avanço russo necessitou por parte da Alemanha uma maior atenção sobre os conflitos ocorridos na frente oriental. Após as Batalhas de Stallupönen e Gumbinnen, o alto comando das Forças Armadas da Alemanha decidiu substituir a direção das forças do exército na região, retirando von Prittwitz e colocando em seu lugar, Hindenburg, essa mudança provocou uma mudança nos rumos da batalha na região.
O novo comandante do 8º Exército da Alemanha, juntamente com seus oficiais, conseguiram organizar uma estratégia que possibilitou uma grande vitória alemã, como explica Carlos Dároz: “O general Paul von Hindenburg, assumiu o comando das forças alemãs e aniquilou o exército russo em Tannenberg…. Esta foi, provavelmente, a mais completa e espetacular vitória da 1ª Guerra Mundial – o cerco e a destruição do 2º Exército Russo virtualmente acabou com a invasão russa da Prússia Oriental, antes mesmo desta ter realmente começado. A interceptação de mensagens, desavenças pessoais e a desobediência militar tiveram um papel preponderante.” (Dároz).
Um dos motivos para a grande vitória alemã foi à interceptação de mensagens importantes sobre o exército russo na região. A nova forma de comunicação utilizada pelos militares, provocava diversas interceptações, como explica Hastings: “Na nova era das comunicações sem fio, todos os beligerantes tinham muito a aprender sobre a segurança” (Hastings p.258).
Com a vitória alemã sobre o General Aleksandr Samsonov, e as grandes perdas do exército russo, os comandantes e seus soldados alemães foram reconhecidos por seu grande triunfo, como cita Gilbert: “Ludendorff, já recuperado, elaborou um triunfal comunicado para o Kaiser. O comunicado se dizia escrito em Frögenau, mas Hoffmann propôs que o local fosse alterado para Tannenberg, cenário de uma batalha, cinco séculos antes, na qual os cavaleiros teutônicos, entre os quais um Hindenburg, tinham sido massacrados por um vasto exército de eslavos e lituanos. A Batalha de Tannenberg, como ficou conhecida na história, foi descrita pelo general Ironside como “a maior derrota sofrida por qualquer combatente durante a guerra””. (Gilbert, 2017, p.57).
Imagem de Destaque: O reverso de uma libertação do medalhão de prata alemão da Primeira Guerra Mundial da Prússia Oriental em 1914, referindo-se à Batalha de Tannenberg. O general Hindenburg lutando contra o urso russo com sua espada.
https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Tannenberg#/media/File:WWI_German_Silver_Medal_East_Prussia_1914._Reverse.jpg
Bibliografia
– DARÓZ, Carlos. A Batalha de Tannenberg (1914) – Uma Vitória Clássica. Blog História Militar, 2019. Disponível em: <http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/2009/10/batalha-de-tannenberg-1914-uma-vitoria.html>. Acessado em 19/02/2022.
– GILBERT, Martin. A Primeira Guerra Mundial: os 1.590 dias que transformaram o mundo. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2017.
– HASTINGS, Max. Catástrofe 1914: A Europa vai à Guerra. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
– MACMILLAN, Margaret. Primeira Guerra Mundial. 1ª ed. São Paulo: Globo Livros, 2014.
Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.