Batalha Naval dos Abrolhos (1631)

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

A Batalha Naval dos Abrolhos ocorreu em 12 de setembro de 1631, na região de Abrolhos, atualmente litoral do estado da Bahia, durante a Guerra dos 8 anos entre os rebeldes holandeses e o Império Hispano-Português (1580-1640).

Dentro desse contexto a Companhia das índias Ocidentais organizou uma esquadra com o objetivo de invadir Pernambuco e tomar o centro econômico da colônia. A esquadra flamenga foi suspendendo aos poucos e rumando para várias direções, a fim de levantar suspeitas. A reunião final ocorreu entorno de Cabo Verde, de onde rumaram para o Brasil: 54 navios e 13 patachos, sob o comando do General Hedandrick Corneliszoon Lonck, contando com o Almirante Pieter Adriaenszoon e o Vice-Almirante Joost van Trappen. No comando das tropas ia o Coronel Diederick van Waerdenburch. O efetivo era cerca de 3.500 marinheiros e 3 mil soldados.

Em 14 de fevereiro de 1630, a esquadra holandesa tomou os portos de Olinda e Pernambuco. Eles desembarcaram cerca de 6 mil combatentes e avançaram para Recife. O governador Matias de Albuquerque fugiu e incendiou a cidade. Os portugueses não tinham como enfrentar os os holandeses em campo aberto, Matias de Albuquerque então adotou a tática de guerrilhas e começou a fustigar invasores. Diante desse quadro, os holandeses foram forçados a se abastecer por mar.

Em maio de 1631, o Almirante Adrian Jansz Pater assumiu o comando o comando da expedição no lugar do Almirante Lonck, que regressou com parte da esquadra à Europa para reforçar as defesas holandesas em Flandres que estava sob ataque da Marinha Espanhola.

Em 5 de maio de 1631, o almirante espanhol Antônio Oquendo deixou Lisboa com uma frota constituída pela sua nau capitânia de 44 canhões e 900 toneladas Santiago de Oliste e a vice-nau capitânia San Antonio de 28 canhões e 700 toneladas; Nuestra Señora de la Concepción de 30 canhões; Nuestra Señora del Buen Suceso de 28 canhões; Nuestra Señora de la Anunciada de 26 canhões; São Carlos de 24 canhões; San Buenaventura de 22 canhões; San Blas, San Francisco e San Pedro de 20 canhões; San Bartolomé e San Martín de 18 canhões; mais as pinaças franceses requisitadas Lion Doré de 10 canhões (rebatizada de San Antonio) e Saint Pierre de 8 canhões (rebatizada de San Pedro). A frota espanhola juntaram-se 5 navios portugueses, o “São Jorge” de 430 tons e 28 canhões; “Santiago” de 20 canhões; São João Baptista de 19 canhões; Nossa Senhora dos Prazeres de 18 canhões e os desarmados “Nossa Senhora da Boa Nova”, “Nossa Senhora do Rozário”, “Santo Antônio”, “Santa Cruz” e “São Jerónimo”. No total 26 navios (incluindo transportes) e 3 mil soldados sob o comando do napolitano Conde de Bayolo.

Em vez de se dirigir diretamente à Pernambuco, o almirante Oquendo levou reforços para a Paraíba, Pernambuco e Bahia. Estas paradas deram tempo para os holandeses se prepararem. Assim que os holandeses souberam de sua chegada, sua frota em Pernambuco, comandada pelo almirante Adrian Pater, partiu para interceptar a esquadra hispano-portuguesa.

Em 3 de setembro, finalmente Oquendo foi para Pernambuco. O almirante holandês sabia que apenas 8 navios espanhóis eram poderosos, então Pater escolheu os seus 16 melhores navios e, carregando 1.500 combatentes de reforço foi caçar a esquadra de Oquendo. Os principais navios holandeses eram os galeões “Prinz Willem” (nau capitânia) de 1.000 tons e 48 canhões, “Geunieerde Provintien” de 900 tons e 50 canhões. Os holandeses dispunham de artilharia de calibre 12 a 48 libras, contra a maioria dos canhões espanhóis e portugueses entre 8 e 24 libras, embora estes possuíssem a poderosa artilharia do “Santiago”.

No dia 12 de setembro, à primeira luz, Pater convocou seus capitães à capitânea para as instruções. O almirante holandês formou sua frota em duas linhas. Pater avançou com brisas fracas de leste-nordeste sobre de Oquendo, que estava a 10 km de distância. O espanhol estava a barlavento e sinalizou para seus galeões que formassem uma meia-lua crescente e se interpusessem entre o inimigo e o comboio. No entanto, cinco navios ficaram fora de vista na retaguarda por não terem recebido as ordens do almirante Oquendo, os navios eram a Anunciada, a Buenaventura, a San Carlos, a San Bartolomé e a nau capitânia do vice-almirante Massibradi. Por outro lado, os holandeses não os viram e, em vez disso, manobraram para enfrentar o resto da frota espanhola.

A luta começou por volta do meio da manhã, quando o San Antonio do vice-almirante Vallecilla abriu fogo contra o Geunieerde Provintien de Thijssen, que avançou junto com o Provincie Ultrecht. Cerca de 15 minutos depois, Oquendo e outros quatro galeões abriram fogo contra a nau capitânia de Pater, se dirigiu diretamente para Santiago de Oliste com Walcheren. Os holandeses mantiveram seus ataques atirando a queima-roupa. Um confronto de vida ou morte eclodiu em torno de cada nau capitânia e do galeão do vice-almirante Massibradi, ambos os lados atirando repetidamente em seus oponentes e ainda incapazes de assaltar para tomar o navio. O menor galeão português, a Nossa Senhora dos Prazeres, do Capitão Cosme do Couto Barbosa tentou apoiar a Santiago, do capitão Oliste, apenas para derivar impotente sob os canhões combinados da Prins Willem e da Walcheren, em seguida foi afundada. Seu lugar foi ocupado pela Concepción, do capitão Juan de Prado. Nessa altura do combate, o almirante Massibradi chegou com seus cinco navios, inclinando aos poucos a balança para os espanhóis, mas a luta continuava acirrada.

Por volta das 16h, um tiro da nau capitânia de Oquendo provocou um incêndio a bordo da Prins Willem. Percebendo a oportunidade o almirante espanhol direcionou seus mosqueteiros para atirar, de modo a dificultar os esforços de combate a incêndio dos holandeses. As chamas ganharam força e Pater, junto com alguns sobreviventes, tiveram que saltar no mar, onde se afogou. Mais ou menos na mesma época, a vice-capitânea de Vallecilla, a San Antonio, devido ao fogo holandês, afundou pela popa, enquanto seu inimigo holandês, a Provincie Ultrecht partiu em chamas e afundou.

O Geunieerde Provintien, do capitão de Thijsen foi derrotado, mas com a posse de um único prêmio, a Buenaventura, do capitão Alonso de Alarcón y Molina, navegou para o lado da San Antonio durante a luta, apenas para perder a vida e o navio. Os navios holandeses restantes se contentaram em atirar de longe, apenas a Hollandia, a Amersfoort e a Fortuijn sendo se envolverem mais próximos, enquanto os hispano-portugueses respondiam ao fogo.

O dia terminou com uma vitória hispano-portuguesa, embora dependendo das fontes as perdas espanholas possam ter sido um pouco maiores. Os holandeses perderam dois galeões e um outro foi capturado, tiveram pelo menos 2 mil mortos e desaparecidos. A nau capitânia holandesa e outro navio de guerra desapareceram sob as ondas, deixando 350 mortos e mais de 80 feridos. Pesquisadores apontam que a frota holandesa perdeu 2.000 homens e três galeões. Os hispano-portugueses tiveram um galeão afundado, um capturado (240 prisioneiros da tripulação do galeão Buenaventura) e outro afundado, em torno de 500 mortos e 100 feridos.

No dia seguinte, o almirante Thijssen não mostrou nenhuma inclinação para retomar o combate e preferiu voltar para Recife. Enquanto isso, Oquendo desembarcou os reforços na Barra Grande de Porto Calvo (apenas 700 deles realmente chegaram ao Arraial do Bom Jesus) Em seguida rumou em direção à Europa escoltando o comboio carregado de açúcar. Em Pernambuco, a guarnição holandesa, posteriormente, evacuou Olinda a fim de concentrar sua força na defesa de Recife.

Imagem de Destaque: The Battle of Abrolhos c. 1632, de Juan de la Corte. Óleo em tela. Museu naval de Madrid. -https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Abrolhos#/media/File:Batalla_naval_de_Pernambuco_o_de_los_Abrojos_(vista_V)._Hacia_1632_Cuadro4-v2-2.jpg

Referências

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Abrolhos

JUNGSTEDT, Alceu O C. Revista Navigator v. 17 n. 33 (2021). Dossiê: O Poder naval e as disputas pelo território no Brasil Colonial. Disponível no sítio eletrônico: https://portaldeperiodicos.marinha.mil.br/index.php/navigator/article/view/2034/2191

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

2 comentários em “Batalha Naval dos Abrolhos (1631)”

    • Bedankt voor de reactie en we verwelkomen suggesties voor essays of als je een essay wilt schrijven.
      Ik ben gepassioneerd door maritieme geschiedenis en uw land is een permanente bron van inspiratie.
      Hoogachtend,
      Ricardo Cabral

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