Filme Filhos da Guerra

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Em 2013, foi lançada a mini-série alemã Filhos da Guerra (Unsere Mütter, unsere Väter (traduzido para o português: “Nossas mães, nossos pais“, lançado nos Estados Unidos como Generation War), dirigida Philipp Kadelbach, produzida por Benjamin Benedict
Nico Hofmann e Jürgen Schuster, com roteiro de Stefan Kolditz. A minissérie é constituída de três episódios de noventa minutos e se passa na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial, a partir da perspectiva de cinco jovens, que como não poderia deixar de ser provocam mudanças inesperadas nas suas vidas.

No verão de 1941, cinco amigos e amigas se encontram pela última vez em Berlim e marcam de se reencontrar no Natal, imaginando que a guerra teria um fim rápido. Mas a história mostra que não foi assim. Voltaram a se encontrar no local combinado, um “pub”, somente em 1945. Mas apenas três deles apareceram. Dois dos protagonistas, os irmãos Wilhelm e Friedhelm, serviam no Heer (Exército Alemão, parte da Wehrmacht) no Leste Europeu. Charlotte trabalhava como enfermeira num hospital de campanha. Greta sonhava em ser cantora e tenta ajudar seu namorado judeu Viktor a fugir da perseguição nazista na Alemanha.

http://lounge.obviousmag.org/insatisfacao_reversa_no_verso/2013/09/unsere-mutter-unsere-vater-o-cinema-alemao-e-uma-nova-perspectiva.html

Unsere Mütter, Unsere Väter dividiu opiniões assim que estreou na Alemanha, em 2013, e a polémica em torno da série ultrapassou fronteiras. Apesar do sucesso de audiências na Alemanha, com mais de sete milhões de espectadores, a forma como foi retratado o regime nazi e o comportamento da população alemã foi muito contestada. A principal crítica recebida foi pelo fato de apresentar os alemães mais como vítimas dos efeitos da guerra do que como responsáveis por ela.

A qualidade técnica da produção e o desempenho do elenco mereceram elogios, mas a série foi também acusada de revisionismo histórico e de passar uma imagem virtuosa da Wehrmacht.

Na Polônia a recepção a Filhos da Guerra foi particularmente ruim, tendo mesmo dado origem a cartas de protesto por parte dos embaixadores poloneses na Alemanha e na Áustria. Em causa está na perspectiva da série sobre o movimento de resistência polaco Armia Krajowa, retratado como um grupo antissemita (acusação endossada por pesquisadores judeus, mas rechaçada pelos poloneses).

No Reino Unido, assim que se soube que a BBC Two iria exibir Generation War (o título internacional da série em inglês) surgiram protestos da comunidade polonesa residente no país, que organizou uma manifestação junto à sede da estação pública britânica.

A minissérie foi vencedora de 18 prêmios nacionais e internacionais. Na Alemanha ganhou o Deutscher Fernsehpreis (Prêmio da TV Alemã) e a Goldene Kamera (Câmera Dourada), no exterior ganhou os prêmios de melhor filme do Festival de Cinema de Shanghai, do Prix Europa 2013 e o Emmy Internacional 2014.

https://m.imdb.com/title/tt1883092/mediaviewer/rm450879488

Reproduzo abaixo uma parte da excelente crítica feita por Bruno Ribeiro para o site Obvius.

“Unsere Mütter, unsere Väter”, traduzido para o português brasileiro “Nossas mães, nossos pais”, e lançado nos Estados Unidos como “Generation War”, é uma minissérie alemã dividida em três partes, cada uma com em média uma hora e meia de duração, retratando a história de cinco personagens de ideais e ascensões muito distintas, porém, que são amigos desde a infância e vivem sua juventude na Alemanha, em plena Segunda Guerra Mundial, em 1941, exatamente quando o Terceiro Reich inicia campanha contra Rússia. Destes cinco amigos, dois são irmãos, Wilhelm e Friedhelm Winter, que virão a servir seu governo na militância como soldados nazistas; Charlotte, outra cidadã alemã que servirá como enfermeira para a tropa de front; Greta também considerada cidadã alemã para a época, que mais tarde se tornará uma cantora muito famosa e por fim, Viktor, um judeu filho de um alfaiate. Já se torna bem claro o conflito que haverá, simplesmente ao citar os personagens centrais, a minissérie traz experiências individuais que os levam a diferentes rumos que o esperado, mas que não cabe citar aqui. Alguns pontos serão elencados pelo seu diferencial, que fazem dessa obra uma forma genial de mostrar algo tão conhecido por outra perspectiva.

Friedhelm – Irmão novato, inteligente e com princípios humanitários: O primeiro ponto em questão é sobre um dos personagens centrais, Friedhelm já desde o início apresenta um pensamento diferente do que sua pátria vive, totalmente contra os ideais do Führer, destaca logo no começo que “A guerra só trará o pior de todos nós”.

Alfaiate, pai de Viktor, e a perda da identidade: Judeu e residente por muitos anos na Alemanha, pelo medo e pela falta de reconhecimento em sociedade a princípio, a personagem cria uma repulsa pela própria cultura em busca da alteridade naquela sociedade.

https://m.imdb.com/title/tt1883092/mediaviewer/rm2027937792

A admiração pelo Führer por uma maioria considerável: Uma das passagens do primeiro capítulo dessa minissérie expõe uma cena onde um dos soldados agradece a figura de Adolf Hitler, pois com sua nova forma de governo a economia está aquecida, o que fez com que o cidadão alemão percebesse a princípio, a guerra como algo ganho e válido, também pelo carisma de seu governante.

A cronologia dos fatos e a evolução da guerra: Nos três episódios o tempo decorre de forma diferente, e a mudança que ocorre em todos os personagens é um reflexo do cenário de guerra que também se transforma, já no segundo capítulo pode-se notar a dúvida sobre a validade daquela guerra, todos vão por um processo de perdas sendo tomados pelo cansaço.

O medo duplicado: O medo e a raiva por aqueles que eram perseguidos sempre foi muito nítido historicamente, porém, o filme mostrou outra face, o medo dos alemães natos. As formas manipuladoras de poder de Adolf Hitler colocavam o cidadão alemão contra as outras pessoas que não se encaixavam em seus padrões, na lógica de que estes certeiramente se colocariam de fronte contra os alemães, a atitude era equiparada a uma forma de legítima defesa.

O contexto social e a interferência no cotidiano: Aqui retrato a cena de uma mãe que se vira para a filha, e no objetivo de fazer pará-la de chorar, cita “Para com isso ou os Russos virão”. A imposição do medo pela contextualização vivida.

A figura de Adolf Hitler como o Estado: De todos os filmes nazistas que vi, em nenhum deles a imagem de Hitler era deixada de lado. Nesta minissérie houve a explanação do poder de Adolf, demonstrada pelos coronéis e comandantes, que eram a extensão do seu poder, mas ainda assim é muito curiosa essa perspectiva já que a sua imagem aparece apenas uma vez, e em um panfleto.

https://villains.fandom.com/wiki/Major_Hiemer

A vida desses amigos que antes era marcada por sonhos e planejamentos foi definitivamente roubada por esta fase da história, pois os destina para meios muito diferentes e alguns finais trágicos. Houve muitos elogios em todas as esferas internacionais, mas o jornal Kölner Stadt-Anzeiger classificou Generation War uma sucessão de clichês sem profundidade; não posso afirmar se essa crítica foi rígida demais ou não no meio alemão, tenho conhecimento de que os temas cinematográficos na Alemanha rondam muito sobre a Segunda Guerra Mundial e o Nazismo, porém, pela minha visão formulada e simplificada pelo estudo da história, esta minissérie gerou uma interpretação completamente nova sobre o ângulo das consequências da guerra e a sociedade que viveu e participou dela. Por ser um marco da história muito lembrado e condenado, uma camada de repulsão fica envolto a sensibilidade diante a sociedade, não só a perseguida, mas a que foi submetida a perseguir.

A minissérie é muito rica em imagem, sonoridade, e roteiro; eu literalmente estive presa na frente da tela passando boas horas me enriquecendo de conhecimento histórico e político e desfrutando de um enredo muito bem elaborado, que capaz de entreter o espectador por toda trama. Este texto análise quase fica como um convite à inserção do cinema informador, que retoma as nossas memórias, e como já dito, as memória de outrem, de um ângulo completamente alheio ao senso comum.

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Link para o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=Sc8PZP1hbJ4

Imagem de Destaque: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-218782/

Fontes

https://www.dw.com/pt-br/pol%C3%AAmica-s%C3%A9rie-de-tv-alem%C3%A3-%C3%A9-premiada-no-emmy-internacional/a-18085334

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Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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