HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI  POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON

de

OS ESCÂNDALOS EMMA HAMILTON E CARACCIOLOParte VII

Francisco Eduardo Alves de Almeida[1]

Nelson designou o Mutine sob o comando de Capel para levar as boas notícias da vitória para o rei de Nápoles, lá chegando no dia 1º de setembro. A alegria com a notícia foi imensa. Todos na cidade, do rei até o mais modesto cidadão napolitano, estavam aliviados em saber que os franceses foram derrotados e que a ameaça a sua cidade, por enquanto, adiada. No entanto, a pessoa mais alegre na cidade com a notícia foi a esposa do embaixador inglês em Nápoles, Emma Hamilton. Ela mandou fazer uma faixa que foi enrolada em sua cabeça com a inscrição Nelson and Victory. Ao mesmo tempo, escreveu uma carta para Nelson dizendo “eu estou delirando de alegria e lhe asseguro que essa febre é causada por agitação e prazer. Bom Deus, que vitória! Nunca houve nada  tão glorioso, tão completo…eu não gostaria de morrer sem ver e abraçar o vitorioso do Nilo…Oh, bravo Nelson! Oh vitorioso salvador da Itália!”.[2] Tratou-se de uma carta longa cheia de adjetivos elogiosos e enaltecedores sobre Nelson. Laughton criticou o tom da carta escrita a um oficial que ela não tinha intimidade e mal conhecia.

Como Laughton e Mahan descreveram Emma Hamilton em suas biografias?

Tanto Laughton como Mahan fizeram uma análise interessante sobre essa personagem que teria um grande impacto na vida de Nelson. Quem foi essa mulher?

Nascida Amy Lyon em 1761 na cidade Great Neston no condado de Cheshire na Inglaterra, viera de um lar modesto. Segundo Laughton, Amy veio jovem para Londres e por ser extremamente bela e desembaraçada, seguiu maus caminhos.[3] Com 19 anos deu à luz a uma menina que ficou sob os cuidados de sua avó. Laughton afirmou que ela foi reduzida “ao mais baixo estágio de degradação” em sua permanência em Londres.[4] Em 1781 viveu sob a proteção de Sir Harry Fetherstonehaugh, um dissoluto e volúvel nobre que quase a levou à ruína. Em breve Sir Harry a despachou para a proteção de Charles Greville, segundo filho do conde de Warwick. Mudou seu nome para Emma Hart e viveu uma vida de respeitabilidade com Charles, embora fosse declaradamente sua amante. Ele tudo fez para educá-la convenientemente. Por ser muito bonita, virou modelo de diversos artistas ingleses, do qual o mais destacado foi George Romney que pintou cerca de 23 quadros com ela.[5]

Charles era sobrinho de Sir William Hamilton que ficara viúvo havia poucos anos, depois de um longo e feliz casamento. Quando em uma de suas viagens à corte em Londres, Sir William conheceu Emma e a considerou extremamente bela e atraente. Ela estava apaixonada por Charles e embora soubesse que ele não casaria com ela, nutria grandes esperanças. Talvez pensando em um matrimônio mais lucrativo, Charles propôs a seu tio que Emma fosse morar em Nápoles com ele, de modo a diminuir sua solidão. Laughton acredita que não houve barganha nesse oferecimento, no entanto houve uma concordância mútua de que o tio o ajudaria em suas dificuldades financeiras e Emma fazia parte do trato.[6] Para Laughton, até ali Emma se comportara apropriadamente, sem dissipação ou mau comportamento e honestamente amava Charles.[7]

Emma e sua mãe, relutantemente aceitaram passar uma temporada em Nápoles com Sir William, aguardando a chegada posterior de Charles, o que efetivamente acabou não ocorrendo. As cartas de Emma para Charles eram de solidão e saudade, com perguntas frequentes quando ele iria se encontrar com ela na Itália. Em uma das cartas ela chegou a ameaçá-lo dizendo que “eu nunca serei sua amante [de Sir William]. Se você me afrontar, eu o farei [Sir William] casar comigo”.[8] Aos poucos Sir William foi se envolvendo com Emma, ao mesmo tempo em que ela constatou que fizera parte de um negócio e que Grevillle não iria jamais encontrá-la em Nápoles. Sir William foi se rendendo aos encantos de Emma. A diferença de idade era muito grande, 35 anos. Laughton apontou que o senso de moralidade prevalente em Nápoles era diferente da existente em Londres, menos relaxado e mais estrito. Sir William indicou diversos tutores para ensinar Emma boas maneiras, o italiano, o canto e música. Diria Emma, em carta para Greville em agosto de 1787, que “Sir William gosta muito de mim e é muito gentil…nunca está longe. Não vai a lugar algum sem mim”.[9]

A voz de Emma realmente era agradável e ela chegou a ser sondada para uma temporada de três anos em Madrid, ao soldo de seis mil libras. No entanto o seu ponto alto artístico era a representação de imagens estáticas conhecidas como “atitudes”.[10] Em 1787 Joham Goethe, ao visitar Nápoles e a mansão dos Hamilton, ficou admirado com o desempenho de Emma nessas “atitudes”, dizendo que “Sir William Hamilton, depois de estudar e amar arte, descobriu uma das mais perfeitas expressões de arte e da natureza em uma bela e jovem mulher…ela vive com ele, uma britânica de cerca de 20 anos de idade. Ela é muito bonita e possui bela estampa”.[11]

Depois de cinco anos de relacionamento, Sir William resolveu casar-se com ela na Inglaterra em 1791. Ao regressarem a Nápoles, ela foi apresentada oficialmente a família real e a rainha, em especial, que a recebeu muito bem, sendo a partir dali reconhecida como uma das beldades do corpo diplomático e a líder da sociedade britânica na cidade. Seu passado foi totalmente esquecido e sua lembrança passou a ser apenas a sua beleza física, sua bela voz, sua atuação nas “atitudes” e seu bom humor.[12]  Todos que visitavam a mansão dos Hamilton em Nápoles se encantavam com Emma, embora alguns criticassem sua postura pouco elegante e a necessidade que ela tinha de agradar e ser admirada por todos. Aos poucos ela foi se tornando amiga da rainha Maria Carolina e alardeava a toda sociedade napolitana sua intimidade com a rainha. Laughton acreditava, no entanto, que a influência que Emma dizia ter sobre a soberana não era assim tão intensa, mas ao contrário, Maria Carolina era que se aproveitava da esposa do embaixador Sir William para conseguir, por meio dela, o apoio em sua luta contra os franceses[13], responsáveis pela morte de sua irmã, Maria Antonieta. Por certo, Emma considerou-se, em razão dessa relação com a rainha e da confiança de Sir William, uma das forças por detrás da política napolitana, se não da política britânica no Reino de Nápoles.[14] Laughton considerava Emma extremamente vivaz, inteligente, sem afetação, com uma bela voz, ótima atriz nas “atitudes”, bem humorada e muito bonita, no entanto tinha uma tendência natural a ser mentirosa, chegando ao ponto de dizer que “em muitas das frases de Emma para as pessoas [da sociedade] não existia uma [frase] que fosse totalmente verdade”.[15] Para Laughton, acreditou-se, durante muitos anos, que Emma tivesse sido a mola-mestra por detrás das engrenagens entre a GB e Nápoles e que, ao final, o governo britânico a abandonou no término da vida, no entanto isso se mostrou totalmente irreal, à luz da documentação disponibilizada e das ações subsequentes.

Pode-se perceber que Laughton não simpatizava com Emma, no entanto, mesmo em sua antipatia, procurava apontar pontos positivos em sua personalidade e ações. Até esse ponto nada disse sobre o seu futuro caso rumoroso com Nelson.

E como Mahan percebia Lady Hamilton ?

“A cena no navio foi terrivelmente de efeito…subiu ela [Lady Hamilton] a bordo exclamando ‘O Deus, foi isso possível ?’ Ela caiu em meu braço mais morta que viva. Lágrimas, entretanto, logo corrigiram as coisas”[16]. Essa foi a parte da carta de Nelson para Frances que Mahan escolheu para dizer que “isso foi o início de uma intimidade destinada, no final, a afetar profunda e tristemente o futuro de Nelson”[17].

Mahan, ao discutir a personagem Lady Hammilton, iniciou afirmando que Emma tinha uma bela face, um charme natural e disposição, completamente inexperiente e com quase nenhuma norma moral.[18] Nesse aspecto, disse Mahan, não houve muito progresso para ser esperado, uma vez que Greville cujas normas, com menor desculpa, não eram muito melhores que as dela. Mahan estava se referindo ao período em que Emma viveu sob às custas de Greville. Para o autor norte-americano, Lady Hamilton era afetuosa e impulsiva, de bom humor, com instintos generosos, entretanto “ela era ambiciosa e excepcionalmente inteligente”. Para ela a glória era mais importante que a honra, sendo que seu amor pela adulação era sua característica principal[19]. Sua ambição, algo natural para ela, foi nutrida na vida para ser autocontrolada, disse Mahan. Além disso, afirmou que Emma tornou-se indispensável para Sir William e ao mesmo tempo e pelos mesmos métodos, um objeto mais desejável por ele, por causa de evidente atração que exercia sobre os outros homens. Na própria sociedade napolitana, muitos se prostravam perante sua beleza e inteligência e até a chegada de Nelson a essa cidade, não houve nenhuma cena ou escândalo envolvendo Emma com outros homens[20], embora muitos a desejassem sexualmente.  Mahan diria, também, que a Emma que Nelson reencontrou em 1798 não havia melhorado essencialmente da Emma Hart de seis anos antes.

Emma, ao encontrar Nelson, fez de tudo para inflar o seu já enorme ego, fazendo com que ele acreditasse em qualquer coisa, até que a pródiga rainha de Nápoles fosse a própria Madonna, sendo o herói do Nilo um “crente”, afirmou Mahan.[21] Nelson ficou cego de amor por ela e tudo que ela lhe dizia, ele aceitava de bom grado e passou a ser um personagem dominado em corpo e alma. Emma era uma mulher brava, capaz, sanguínea e eficiente, sem ser impedida de suas ações por temores ou escrúpulos. Ela era uma mulher que, se considerassem apenas nervos e inteligência, e se houvesse alguma distinção exclusiva para ela, podia até se tornar confiável, disse Mahan.[22] Ela poderia apreciar e admirar o heroísmo e sob o estímulo da excitação, de magnanimidade autocontrolável se fosse observada por outras pessoas, ela era capaz de ações heróicas da mesma forma.[23] 

Para Mahan, um admirador do herói de Burham Thorpe, a bajulação administrada por uma mulher [Emma] de tal beleza e de dons artísticos sobre Nelson, não o fez infelizmente perceber o que estava por trás daquelas atitudes.[24]  Para o historiador norte-americano Emma, dificilmente, alguma vez amou Nelson[25], no entanto, existiam em seu espírito, impulsos capazes de respostas simpáticas para seus atos heroicos. Era inconcebível, para Mahan, que o dever fosse visto por ela da mesma forma que por ele, nem que uma mulher de certa nobreza de atitudes levaria um homem reconhecido como Nelson por toda a Inglaterra e no continente, até transformá-lo em um motivo de piadas.[26] O certo é que Nelson nunca encontrou uma mulher como Lady Hamilton, que lhe deu admiração e apreciação, sem esconder e sem medida, e em breve Nelson estaria aos seus pés.

Romântico por natureza, Nelson estava em permanente contato com ela, que o atendia em tudo que era necessário. Ele chegou a dizer em carta a Frances com entusiasmo, em mais de uma vez, que “Lady Hamilton é uma das melhores mulheres desse mundo; ela é uma honra para o seu sexo”.[27] Pode-se imaginar o sentimento de Frances, ao receber esses elogios exagerados de seu marido sobre uma mulher que ela não conhecia e que estava ao seu lado todo o tempo. A natureza emocional de Nelson ficou totalmente abalada quando travou contato com Emma. A admiração que ela sentia por ele, só fez aumentar a sua própria vaidade.

Mahan não simpatizava com Emma, pois considerava que ela tinha uma enorme influência sobre Nelson e que essa influência nem sempre foi por motivos nobres. A fascinação e vaidade de “conquistar” o coração daquela mulher bela, inteligente e espirituosa fizeram com que ele [Nelson] ficasse cego ao que ocorria em sua volta. Sua subordinação aos desejos daquela mulher fascinante teria consequências desastrosas para a carreira de um almirante que, até ali, se distinguira como um dos mais importantes personagens da história da RN. Seus pensamentos eram para ela e a sua dependência emocional foi completa. Ao contrário de Laughton, Mahan não poupou críticas a Emma por sua influência sobre Nelson. 

Cumprindo determinações de St Vincent, Nelson aportou em Nápoles no dia 22 de setembro de 1798. Com ele em seu esquadrão vieram o Vanguard, o Culloden e o Alexander, enquanto Hood permanecia defronte a Alexandria, bloqueando os navios mercantes franceses lá fundeados.

No momento em que o Vanguard lançou a sua âncora na baía de Nápoles, Nelson foi recebido entusiasticamente por Sir William e Lady Hamilton que, de tanta emoção em encontrá-lo, desfaleceu em seu braço. Como dito, em sua testa Emma colocou uma faixa com os dizeres “Nelson e a vitória”, demonstrando toda a sua emoção com aquela vitória britânica no Egito. Seguiu-se um choro compulsivo de Emma em frente a Nelson, sendo nesse momento o início de seu relacionamento com ela. Essa intimidade, para Laughton, estava destinada a ter uma marcada influência no destino de Nelson.[28] Depois da visita do casal Hamilton, compareceram a bordo o rei e a rainha para cumprimentarem o herói do Nilo.

Emma praticamente se apoderou de Nelson em sua estada em Nápoles. Sir William, inclusive, o convidou para residir com eles enquanto estivesse no porto. Nelson, relutantemente, aceitou a oferta. O herói do Nilo precisava ainda de cuidados, pois seu ferimento na cabeça, embora cicatrizado, ainda lhe causava grandes dores de cabeça e irritação, nada com que Emma não pudesse ajudá-lo. Aos poucos, Nelson tornou-se dependente de seus cuidados. Segundo Laughton, Nelson deve ter comparado sua recuperação em Bath junto a Frances e a atenção de Emma para com ele naquela situação. Frances, sempre calma, controlada e talvez fria, não era páreo para aquela bela mulher viva, entusiasmada e cheia de charme como Lady Hamilton.[29]

Seguiram-se festas, bailes e banquetes em honra dos marinheiros britânicos surtos em Nápoles. A figura central daquelas festividades era sempre Lady Hamilton e sua confidente a rainha Maria Carolina. Nelson ficou maravilhado, tanto com Emma como com a corte napolitana. Para Laughton, embora Nelson fosse se tornando escravo daquela bela mulher, ele não cessou de ser um grande chefe militar naval. Para o historiador inglês existia uma ideia naquele final de século XIX de que a paixão por Emma o tenha retido em Nápoles, negligenciando o seu dever. Isso era totalmente injustificado. Nelson continuava sendo Nelson, para Laughton.[30]

Existia um temor justificado de que os franceses, que ocupavam parte da península italiana, ameaçassem o Reino das Duas Sicílias. Além do mais, Maria Carolina, munida de um ódio incontrolável pelos franceses, conseguiu convencer seu marido de que deveria atacar primeiro os matadores de sua irmã. Nisso Nelson concordou, como sempre, procurando a ação.[31] Emma participou daquela decisão de Nelson concordar com a rainha, servindo como intermediária entre os dois. Para Mahan, o perigo dos franceses na península não era nem tanto o perigo militar, mas o perigo de ideias revolucionárias, as mesmas que derrubaram a monarquia na França em 1789.[32]

Em outubro, Nelson suspendeu com seus navios para Malta, onde estabeleceu um bloqueio naval, regressando novamente para Nápoles para apoiar o ataque napolitano contra os franceses que ocupavam Roma. No dia 22 de novembro, um exército napolitano atacou os franceses na direção de Roma, ao mesmo tempo em que Nelson, com seus navios, atacou Livorno e tomou o porto, designando Troubridge como comandante local.[33]

Com o avanço napolitano, os franceses sob o comando do general Championnet evacuaram a cidade de Roma, fazendo com que Ferdinando lá entrasse triunfalmente. Logo em seguida, os franceses contra-atacaram os napolitanos, que debandaram em completa confusão. Os franceses, então, os perseguiram até Nápoles. Só havia uma atitude a tomar, o abandono da cidade e o refúgio em Palermo na Sicília. Nelson já estava de volta à cidade para apoiar a retirada da família real. A população não permitiria que seus reis abandonassem a cidade e a deixasse a mercê dos franceses, assim foi organizada secretamente a fuga da família real, com a coordenação da própria Lady Hamilton e Nelson. Segundo Laughton, a participação de Lady Hamilton foi apenas de assumir a função de intermediária entre Nelson e a própria rainha. Durante muitos anos, Emma procurou demonstrar que ela foi a grande arquiteta da evacuação da família real de Nápoles, sendo que, tanto a família real, como Nelson, foram apenas instrumentos de sua vontade. A documentação posteriormente liberada, segundo Laughton, demonstrou que realmente o papel de Emma foi apenas marginal.[34]  Os navios britânicos seriam os vetores nessa fuga. No final de dezembro, finalmente, em segredo, a família real fugiu de Nápoles a bordo do Vanguard.

Durante o trânsito para Palermo, a força de Nelson foi atingida por forte tempestade e o filho mais novo de Maria Carolina, de apenas seis anos de idade, entrou em convulsão e em pouco tempo faleceu, nos braços de Emma, que tudo fez para aliviar o sofrimento da criança e de sua mãe, a rainha. Esse fato teve um profundo impacto em Nelson que observou a coragem de Emma em situações de perigo[35]. Estava totalmente apaixonado por aquela mulher de outro homem.

Em Palermo, Nelson morou com os Hamilton, o que provocou rumores escandalosos que logo chegaram à Inglaterra. Em uma carta a Saumarez, o capitão Ball disse que “estou preocupado pelos muitos parágrafos que saíram nos jornais a respeito dele [Nelson] e Lady Hamilton. Estou convencido que não existe nada impróprio entre eles, S.Exa [Nelson] não falharia em ficar encantado com as suas [de Lady Hamilton] realizações e maneiras, que são muito fascinantes”.[36]

Apesar disso, o escândalo aumentou em Palermo, segundo Mahan. As jogatinas eram frequentes na casa dos Hamilton e, tanto Nelson como Emma, gastaram muitas libras nos jogos de cartas. Todos na esquadra começaram a se preocupar com as atitudes do casal Nelson e Emma, às vistas de seu marido, que parecia nada perceber. Troubridge, amigo pessoal de Nelson, escreveu uma carta para seu comandante, chamando sua atenção para os jogos de azar noturnos que varavam a noite e preocupavam seus amigos. Disse ele o seguinte a Nelson:

Perdoe-me, meu Lorde, é a minha sincera estima pelo senhor que me faz mencionar isso. Eu sei que o senhor não tem prazer em jogar a noite toda o jogo de cartas; então por que sacrificar sua saúde, conforto, renda, tranquilidade, tudo, aos costumes de um país onde sua permanência não pode ser longa ?…S.Exa é um desconhecido para metade do que ocorre e da faladeira que isso ocasiona; se o senhor soubesse o que seus amigos sentem pelo senhor, tenho certeza  cortaria todas as festas noturnas…eu imploro que V.Exa largue isso…é minha sincera estima que tenho pelo senhor que me faz arriscar o seu desprazer.[37]  

Por detrás de toda essa preocupação de Troubridge estava o já escandaloso relacionamento de Nelson com Lady Hamilton.

No dia 23 de janeiro de 1799, as forças francesas tomaram Nápoles e foi estabelecida a República do Partenon, com apoio entusiasta de diversos jacobinos napolitanos, inclusive o príncipe Caracciolo, que fora íntimo da família real e que se voltara para os franceses por acreditar que a república seria a melhor forma de governo para Nápoles.

O rei de Nápoles designou, então, Nelson como comandante-em-chefe da esquadra napolitana. Imediatamente Nelson convocou Troubridge e em março o designou para bloquear o porto de Nápoles com quatro navios de linha e tomar o maior número possível de ilhas que margeassem essa cidade. No mês seguinte, Salerno, Sorrento e Castellamare caíram em poder do rei de Nápoles, sendo que as forças reais foram recebidas com alegria pelas populações locais. A Ilha de Malta foi bloqueada e apenas uma guarnição francesa permanecia em La Valleta. Aos poucos a influência francesa ia diminuindo e em breve a cidade de Nápoles seria reconquistada e lá ocorreria um dos episódios mais controversos na vida de Nelson, o caso Caracciolo.

O caso Caracciolo:  

Os franceses ocupavam Nápoles desde 23 de janeiro e segundo Laughton muitos napolitanos jacobinos, por motivos políticos ou mesmo por oportunismo, colaboraram com os invasores e outros, incluindo oficiais que frequentavam a corte das Duas Sicílias traíram ou se venderam para as tropas de Bonaparte. Troubridge, que comandava a força responsável pelo bloqueio da baía de Nápoles, ao aventar a possibilidade de capturar alguns desses oficiais, considerou mais apropriado entregar esses militares a uma corte marcial napolitana, no entanto como que antecipando a sentença, afirmou que “se isso for o caso [ele mesmo julgar] deverei confirmar [a sentença] ? Minha mão não irá tremer ao assinar meu nome [na sentença]. Sem alguns exemplos, nada poderá ir bem”.[38]

Enquanto ocorria o bloqueio em frente a Napoles, Nelson recebeu a informação de que uma grande força naval francesa suspendera de Brest, se juntara a uma força espanhola e entrara no Mediterrâneo. Acreditava que o objetivo francês era a retomada de Minorca. Imediatamente determinou que os navios que bloqueavam Nápoles, assim como outros que se encontravam em outros rincões do Mediterrâneo, se agregassem a ele em Palermo. O único navio que permaneceu defronte a Nápoles foi a fragata HMS Seahorse sob o comando do capitão Edward Foote, com a determinação de prover apoio às forças reais napolitanas que operavam próximo à cidade, sob o comando do cardeal Ruffo.

Nelson temia, também, um ataque à Sicília, no entanto acreditava que, enquanto mantivesse uma força naval nesse local, os franceses não ousariam o forçamento de uma batalha naval. Nelson continuava a sentir um rancor vigoroso contra os franceses. Dizia em alto e bom som “abaixo, abaixo com os franceses! Isso é minha oração constante! Abaixo com os amaldiçoados vilões franceses! Meu sangue ferve ao falar sobre os franceses. Detesto todos, monarquistas ou republicanos”.[39] Quanto aos jacobinos napolitanos que colaboraram com os franceses, Nelson era, também, radical. Em carta a Troubridge escreveu “avise-me quando algumas cabeças [de jacobinos] forem cortadas…somente isso me confortará”.[40]

Nelson continuava, entretanto com pensamentos depressivos e em carta a um amigo, Alexander Davidson, declarou o seguinte:

Meu único desejo é afundar com honra ao túmulo e quando isso agradar a Deus, vou me encontrar com a morte com um sorriso. Não que eu seja insensível às homenagens e consideração que o rei e meu país delegarem a mim, não mais que qualquer oficial poderia merecer;  assim estou pronto para deixar esse mundo de problemas e não invejar ninguém, somente aqueles que estiverem em um terreno de seis pés por dois.[41]   

 Nelson, segundo Mahan, estava depressivo em razão principalmente de seu sentimento em relação a Emma. Acrescentava-se a isso a preocupação com os sucessos franceses na península itálica e a ameaça à família real napolitana em Palermo. Os franceses continuavam com uma poderosa força naval no Mediterrâneo, ainda sem ser detectada.

Com a formação de uma nova coalizão englobando a Rússia, Turquia, Áustria, Portugal e Nápoles, a sorte das forças napolitanas começou a mudar. As tropas de Napoleão começaram, então, a se retirar da península itálica, evacuando Nápoles, mantendo apenas o castelo de Sant´Elmo e os castelos de Uovo e Nuovo com forças jacobinas rebeldes. Imediatamente Nelson, depois de conversar com o rei, juntamente com Sir William e Emma, se deslocou para Nápoles para apoiar as forças de Ruffo, que já ocupavam a cidade. Pensava ele que talvez as forças navais francesas para lá se dirigissem e um encontro naval se daria. Ao se aproximar de Nápoles, Nelson recebeu a informação de que Ruffo assinara um armistício com os rebeldes jacobinos, com o aval de seu subordinado capitão Foote. Para Nelson aquele ato de Ruffo foi considerado “infame”. Para ele os rebeldes eram amotinados e deviam ser castigados com rigor. Ruffo assinou o armistício, prometendo salvo-conduto para os rebeldes prisioneiros, que seriam embarcados em navios mercantes e enviados à França[42]. Para Nelson, Ruffo e Foote não tinham autoridade nem poder para tomar tal decisão, assim declarou o armistício sem efeito e determinou que os rebeldes se rendessem às forças navais britânicas, incondicionalmente.

Ruffo seguiu, então, para o navio de Nelson HMS Foudroyant e com o auxílio de Sir William como tradutor, procurou demover Nelson de sua decisão, seguindo-se uma áspera discussão, sem nenhum resultado para ele. Nelson não tinha nenhuma simpatia pelos rebeldes, que considerava traidores do rei e amotinados, sujeitos a pena capital.

Um desses jacobinos que caiu prisioneiro foi o príncipe Francesco Caracciolo, um comodoro na Marinha napolitana, de uma família de posses, bem relacionado na corte de Nápoles e com seus colegas britânicos. Ele acompanhara os reis a Palermo, no entanto, ao ser proclamado que suas propriedades seriam confiscadas pelos jacobinos, solicitou a Ferdinando o seu retorno a Nápoles para negociar. As condições impostas a ele pelos rebeldes foram se agregar ao grupo jacobino e lutar contra o rei. Caracciolo aceitou, o que o tornou um traidor, segundo Laughton.[43] Ao pressentir que seria considerado culpado após a capitulação, procurou fugir, mas foi capturado e enviado como prisioneiro ao Foudroyant.

Nelson, então, determinou ao comandante napolitano da fragata Minerve, capitão conde Thurn, inimigo de Caracciolo, para estabelecer imediatamente uma corte marcial para julgá-lo, com alegações de traição e rebelião contra o rei. No dia 29 de junho às 0900hs foi iniciado o julgamento. Caracciolo alegou que foi obrigado a se agregar aos jacobinos, o que não foi aceito pela corte. Às 1200hs a corte o sentenciou à morte por enforcamento na própria fragata Minerve. Ao ser participado da decisão, Nelson determinou o imediato cumprimento da pena. Caracciolo pediu clemência, o que não foi aceita por Nelson. A noite, ele foi enforcado como um último ato de desonra, já que o seu pedido para ser fuzilado, como era costume para os nobres, lhe foi negado por Nelson. Seu corpo, por ordem de Nelson foi lançado ao mar.

Laughton considerou Caracciolo um traidor, um desertor e como tal deveria ser tratado. Para esse historiador, as mentiras contadas por Robert Southey em sua biografia do herói de Barham Thorpe[44] conspurcaram a imagem de Nelson. Foi dito por Southey que Caracciolo era um homem velho de 70 anos de idade, o que não era verdade, pois ele só tinha 47 anos de idade. Alegou Southey, também, que a corte foi ilegal e que Nelson era apenas um joguete nas mãos da rainha e de Lady Hamilton que odiavam os jacobinos. Para Laughton tudo isso era falso.[45]Em relação à Lady Hamilton, Laughton disse que não queria discutir a questão de sua moralidade, no entanto considerava que ela era gentil, e mesmo que fosse sanguinária, ela não teve nenhum contato com Nelson durante esse acontecimento. Para Laughton, Nelson considerava o motim e traição um ato passível de pena capital e que a “conduta de Nelson nesse período estava longe de ser culpável e desonrosa, uma ‘mancha em sua memória [conforme dito por Southey][46]´ ao contrário foi honrada e meritória”.[47]

Por sua vez, para Mahan Nelson agiu corretamente ao desqualificar o armistício[48].  No caso específico de Caracciolo, não existia dúvida de que ele tinha consciência de que era um traidor e seu destino estava traçado. Nelson tinha autoridade para designar uma corte marcial e podia estabelecer o cumprimento da pena imediatamente. Não existe nenhuma prova de que Lady Hamilton o tenha influenciado nesse caso, embora reconheça que talvez tenha sido contaminado, tanto pela rainha como por Emma, em seu horror aos insurgentes.[49] Nelson, para Mahan, agiu corretamente e certamente teria aprovado a execução do almirante Byng na Guerra dos Sete Anos, mesmo que a covardia não tenha sido provada[50]. Qualquer ato que se afastava da correção de atitudes era, para ele, muito sério. Basta lembrar a sua atitude nos motins de Spithead e Nore.      

       Assim percebe-se que, tanto Laughton como Mahan, concordaram com as atitudes de Nelson no caso Caracciolo e consideraram o último um traidor e passível de ser punido com a pena de morte, o que acabou ocorrendo.

Enquanto ocorriam esses atos, Lorde St. Vincent era substituído por Lorde Keith que não era simpático a Nelson. Keith era escocês e possuía o título de barão. Era um almirante com bom senso e frieza, que fizera uma carreira brilhante até ali. Nelson, já sentido com o afastamento de Jervis, a ele escreveu o seguinte no dia 10 de junho:

Tivemos a notícia que o senhor está indo para casa. Isso nos atinge fortemente e a mim em particular; tanto assim que tenho vontade de retornar se isso efetivamente ocorrer. No entanto, para o bem de nosso país, não nos abandone nesse sério momento. Não desejo detratar o mérito de quem for o seu sucessor, mas levará tempo, que acredito a guerra não dê para ser, de qualquer modo, um St. Vincent.[51]   

Em verdade, Nelson desejava ser nomeado comandante-em-chefe no lugar de Keith. Acreditava que Keith, um vice-almirante, poderia substituir Lorde Bridport que era comandante-em-chefe da Esquadra do Canal e que iria se retirar em breve, deixando assim o caminho para sua nomeação no Mediterrâneo. Nelson, ainda contra-almirante da Esquadra vermelha, acreditava que poderia ser promovido a vice-almirante azul e assim ser designado para essa função, entretanto em razão de suas conexões escandalosas com Emma, ou em razão de sua antiguidade ou mesmo suas rusgas com Keith, acabou não sendo alçado a esse comando[52].

Logo ao assumir o comando, Lorde Keith determinou que Nelson seguisse imediatamente para Minorca, com o propósito de defendê-la de um possível ataque da força naval francesa que se encontrava no Mediterrâneo e ainda não fora localizada. Nelson recusou-se a cumprir a ordem, dizendo que a segurança da Sicília e de Nápoles requeria que ele permanecesse aonde estava, fundeado na baía de Nápoles. Mais uma vez, Nelson desobedecia a uma ordem superior frontalmente. Por duas vezes Keith repetiu a ordem para Nelson defender Minorca e nas duas vezes Nelson recusou, dizendo inclusive que “penso corretamente em não obedecer a ordem de V.Exa…eu tenho escrúpulos em decidir o que é melhor para salvar o Reino de Nápoles e arriscar Minorca”.[53] Ao receber uma terceira missiva de Keith mais enfática, Nelson resolveu designar o comodoro Duckworth com quatro navios de linha de 74 canhões para seguir para Minorca, enquanto ele permanecia com a maior parte dos navios na baía de Nápoles. Uma clara indisciplina e insubordinação. Laughton foi enfático ao criticar a atitude de Nelson, pois a primeira preocupação de um oficial era a obediência[54]. Ele preferiu deliberadamente agir por sua própria conta a obedecer as ordens de Keith. Laughton afirmou que não existia nenhuma evidência de que Lady Hamilton o tenha influenciado nessa decisão infeliz, no entanto ele acreditou que a segurança do Reino de Nápoles era uma preocupação de Nelson e nessa decisão a influência de Emma foi enorme.[55] Laughton foi claro ao criticar essa postura de Nelson. Mahan, da mesma forma que Laughton, criticou severamente a atitude de Nelson por sua “injustificada desobediência”[56]. Para o autor norte-americano seria impossível conduzir operações militares se o comandante-em-chefe fosse questionado e ameaçado por um subordinado e parecia que Nelson desconhecia as circunstâncias das ordens de Keith e só conhecia suas próprias circunstâncias. Para Mahan, Nelson só se preocupava com a família real napolitana e seu destino, ligados a afeição de uma mulher em especial, Lady Hamilton.[57] Uma crítica dura a Emma e sua influência sobre Nelson. Não cabia a Nelson, disse Mahan, decidir o que era melhor para Minorca ou Nápoles, isso competia a Keith.[58] Nenhuma regra geral podia suplantar o princípio geral de obediência, no qual a unidade e concentração de esforços, o grande objetivo do movimento militar, podia ser conseguido.[59] Mahan não poupou Nelson nem Emma.

Keith conseguiu localizar a força francesa e iniciou uma perseguição que o levou para o Atlântico até o porto de Brest, onde a força inimiga fundeou e talvez por isso não tenha tomado uma atitude mais enérgica contra Nelson, de todo modo Lorde Spencer, Primeiro Lorde do Almirantado, enviou uma carta censura contra a atitude de Nelson em não obedecer Lorde Keith. A situação de Nelson no Mediterrâneo ficou difícil. Por seus serviços, no entanto, o rei das Duas Sicílias o elevou a duque com o título de duque de Bronte, doando para Nelson uma área na Sícilia que lhe daria um retorno de cerca de três mil libras anuais[60].

Enquanto isso ocorria, Napoleão conseguiu transportar seus 16 mil homens do Egito para a França, para grande desgosto de Nelson. Nenhum navio britânico percebeu a fuga dessas tropas do Egito. Nelson dera determinações explícitas de que não permitiria que qualquer francês saísse do Egito, sem ser prisioneiro de guerra.[61]    

Em dezembro de 1799, Keith regressou ao Mediterrâneo. Determinou, então, que Nelson instituísse uma patrulha próxima a Malta, na direção sudeste, no entanto, o último considerou que a melhor posição seria a nordeste, em uma clara contestação a seu comandante.

 No dia 18 de fevereiro de 1800, a força subordinada a Nelson avistou um dos poucos navios franceses que havia escapado do Nilo, o navio de linha Genereux, com três corvetas e um transporte. Depois de um breve combate, no qual se destacou a fragata britânica HMS Success do capitão Peard, o Genereux foi capturado, para alegria de Nelson.

Keith, imediatamente, enviou congratulações a ele, no entanto, como sempre, Nelson creditou essa captura a sua posição, que efetivamente não era a determinada por Keith. Nelson atribuiu o seu sucesso a sua experiência de sete anos na área.[62] Pouco antes do natal, Keith determinou que Nelson assumisse o bloqueio de Malta. Nelson, em resposta a ele, comentou que em razão de sua má saúde desejava passar o comando a outro oficial e seguir para Palermo para ser atendido por seus amigos Hamilton. Para Laughton sua decisão foi baseada por sua paixão por Lady Hamilton e não queria ficar longe dela[63], além disso, pensava em se afastar do serviço, por ter sido preterido por Keith. Em 26 de fevereiro de 1800 escreveu para seu amigo Lorde Minto, agora embaixador em Viena, dizendo que “tenho sérios pensamentos em abandonar o serviço ativo. O Hospital de Greenwich parece um local ideal para mim, após ter sido evidentemente preterido para comandar o Mediterrâneo”.[64]

Seus oficiais, em especial Troubridge, rogaram a Nelson que não deixasse o comando e permanecesse na estação, pois isso acarretaria consequências imprevisíveis para sua carreira e reputação. Apesar desse pedido, o amor por Emma foi mais forte e ele passou o comando para Troubridge e seguiu no Foudroyant para Palermo. Em lá chegando no dia 16 de março, passou seu pavilhão para um transporte e determinou que Berry no Foudroyant voltasse para a posição de bloqueio em frente a Malta. Como sempre, a sorte acompanha os líderes e ela não abandonou Nelson, pois logo depois de chegar a posição, o Foudroyant se agregou ao Lion e Penélope e conseguiu capturar o último navio de linha francês que sobrevivera ao Nilo, o Guillaume Tell. Mahan não desculpou Nelson pelo abandono de sua posição, afirmando que “não era apropriado que o comandante de uma divisão estivesse afastado de seu comando, quando eventos importantes ocorressem”.[65] Laughton, da mesma forma criticou veementemente a atitude de Nelson dizendo que “era impossível para o Almirantado tolerar essa pobre conduta, mesmo provindo do vencedor do Nilo. Qualquer outro oficial com menos crédito e gratidão nacional teria sido sumariamente demitido”.[66] Nelson, como sempre, escreveu para Berry o felicitando pela captura do Guillaume Tell.

Lorde Spencer enviou-lhe uma carta delicada na qual pedia que ele voltasse para a Inglaterra para tratar-se e que seria inconveniente que ele permanecesse em Palermo, em uma clara admoestação de sua conduta.[67] Seu próprio amigo, Lorde Minto, diria que era “difícil condenar e pensar mal de um herói…por ser tolo a respeito de uma mulher que tem arte o suficiente para fazer tolos outros mais espertos que um almirante…ele em muitos pontos é um grande homem, em outros um bebê”.[68]

Nelson queria seguir no Foudroyant para à Inglaterra com o casal Hamilton, já que Sir William fora exonerado da função de embaixador em Nápoles, no entanto Keith não autorizou o afastamento desse importante navio do Mediterrâneo. Keith, em sua última correspondência com Nelson, disse que “quando a saúde de um homem é levada em consideração, há um fim em tudo, e eu designarei a primeira fragata que puder”[69].Emma não queria seguir em um navio tão pequeno, assim Nelson, juntamente com Emma e Sir William, decidiu seguir por terra para à Inglaterra. Para Laughton esse caso era escandaloso, no entanto não era só o amor que conduzia o herói inglês, mas também a má saúde agravada pelo pancada na cabeça que tivera no Nilo, que fêz com que agisse dessa forma. Laughton procurava sempre não imputar somente a Emma as decisões equivocadas de Nelson.

Por fim, Nelson com o casal Hamilton, resolveu viajar por terra à Inglaterra. Seguiram, então, para Livorno, Ancona e Trieste. Tanto Nelson como Sir William não passaram bem nessa travessia. De Trieste seguiram para Viena, onde permaneceram alguns dias. Foram recebidos com grande distinção pela população vienense, em razão da vitória de Nelson sobre os franceses. Em Viena eles foram recebidos pelo príncipe Esterhazy e muitos cortesãos, inclusive por Lady Minto, esposa de Lorde Minto, embaixador britânico na corte vienense e amigo de Nelson. Naquela oportunidade, Joseph Haydn apresentou a Missa Nelson em homenagem ao herói do Nilo. A conexão com o almirante foi por que Haydn a compôs após a vitória em Aboukir contra Napoleão, uma homenagem a Lorde Nelson. Lady Minto, comentando sobre Nelson e Emma disse que “[Nelson] é devotado a Emma, ele pensa que ela é um anjo, e fala dela em sua frente e por trás e ela o leva como um domador de urso. Ela [Emma] senta a seu lado no jantar, corta a sua carne e ele carrega o lenço dela”.[70]

De Viena seguiram para Praga, onde foram recebidos com pompa pelo arquiduque Carlos. Depois se dirigiram a Dresden. Nessa cidade foram recepcionados pelo embaixador inglês Hugh Eliott, irmão de Lorde Minto. Uma das convidadas ao jantar disse que “Lady Hamilton se apoderou dele [Nelson] e ele é um prisioneiro feliz, o mais submisso e devotado que conheci”.[71] Nessa cidade a eleitora, em razão da vida dissoluta de Emma no passado, se recusou a recebê-la oficialmente, o que provocou a reação de Nelson que não aceitou um convite para uma visita protocolar em sua homenagem.

De Dresden seguiram para Hamburgo, onde pegaram um navio para Yarmouth, lá chegando no dia 6 de novembro de 1800. Em breve, Nelson se veria em frente a Frances. A sociedade londrina já discutia o escândalo o envolvendo com Lady Hamilton.


[1] Oficial de Marinha graduado em Ciências Navais pela Escola Naval (1978) . Graduado em História (UFRJ), com  mestrado e doutorado em História Comparada (UFRJ) e pós-doutorado em Ciência Política pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval. 

[2] Ibidem, p. 126.

[3] Laughton usou a expressão em inglês “fell into evil ways”.

[4] Ibidem, p. 131.

[5] Ibidem, p. 132.

[6] Ibidem, p. 134.

[7] Ibidem, p. 135.

[8] Ibidem, p.137.

[9] Idem.

[10] Normalmente Emma representava um modelo clássico estático e tal espetáculo foi muito comum na Europa no século XVIII.

[11] Ibidem, p. 138.

[12] Ibidem, p. 139.

[13] Ibidem, p. 141.

[14] Ibidem, p. 142.

[15] LAUGHTON, John Knox. Nelson. op.cit. p. 127.

[16] Carta de Horatio Lorde Nelson para Lady Frances Nelson escrita a bordo do HMS Vanguard em 25 de setembro de 1798. Fonte:  NAISH, op.cit. p. 401.

[17] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v1  op.cit. p. 372.

[18] Ibidem, p. 373.

[19] Ibidem, p. 374.

[20] Ibidem, p. 377.

[21] Ibidem, p. 381.

[22] Ibidem, p. 384.

[23] Idem.

[24] Ibidem, p. 385.

[25] A frase em inglês escrita por Mahan foi “that she ever loved him is doubtful” .

[26] Ibidem, p. 386.

[27] Ibidem, p. 387.

[28] LAUGHTON, John Knox. Nelson. op.cit. p. 125.

[29] Ibidem, p. 128.

[30] Ibidem, p. 129.

[31] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson v1. op.cit. p. 388.

[32] Ibidem, p. 390.

[33] Ibidem, p. 393.

[34] LAUGHTON, John Knox. Nelson. op.cit. p. 130.

[35] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson v1. op.cit. p. 395.

[36] Ibidem, p. 396.

[37] Ibidem, p. 398.

[38] LAUGHTON, John Knox. Nelson. op.cit. p. 132.

[39] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v1  op.cit. p. 411.

[40] Idem.

[41] Ibidem, p. 412.

[42] LAUGHTON, John Knox. Nelson. op.cit. p. 134.

[43] Ibidem, p. 137.

[44] SOUTHEY, Robert. The Life of Nelson.v1  London: Cassell and Co, 1909.

[45] LAUGHTON, John Knox. Nelson. op.cit. p. 138.

[46] SOUTHEY, op.cit, p. 177.

[47] LAUGHTON, John Knox. Nelson. op.cit. p. 139.

[48] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v1  op.cit. p. 436.

[49] Ibidem, p. 441.

[50] Ibidem, . 443.

[51] Carta de Horatio Lorde Nelson para Lorde St. Vincent a bordo do HMS Foudroyant em 10 de junho de 1799. Fonte: LAUGHTON, John Knox. Nelson´s Letters and Dispatches. op.cit p. 196.

[52] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2 op.cit. p. 2.

[53] Carta de Horatio Lorde Nelson para Lorde Keith a bordo do HMS Foudroyant em 19 de julho de 1799. Fonte: LAUGHTON, John Knox. Nelson´s Letters and Dispatches. op.cit p. 205.

[54] LAUGHTON, John Knox. Nelson. op.cit. p. 140.

[55] Ibidem, p. 141.

[56] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v1  op.cit. p. 446.

[57] Ibidem, p. 450.

[58] Idem.

[59] Ibidem, p. 453.

[60] LAUGHTON, John Knox. The Nelson Memorial. op.cit. p. 153.

[61] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 16.

[62] Ibidem, p. 27.

[63] LAUGHTON, John Knox.  Nelson . op.cit. p. 144.

[64] Carta de Horatio Lorde Nelson para Lorde Minto a bordo do HMS Foudroyant escrita em 26 de fevereiro de 1800.Fonte: LAUGHTON, John Knox. Nelson´s Letters and Dispatches. op.cit p. 235.

[65] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 32.

[66] LAUGHTON, John Knox.  Nelson . op.cit. p. 147.

[67] Idem.

[68] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 34.

[69] Ibidem, p. 35.

[70] Ibidem, p. 41.

[71] Ibidem, p. 44. Trata-se da senhora St George uma viúva irlandesa que morava em Dresden.

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