HORATIO LORDE NELSON, O HERÓI  POLÊMICO, SEGUNDO ALFRED THAYER MAHAN E SIR JOHN KNOX LAUGHTON – A BATALHA DE COPENHAGEN E MERTON – Parte VIII

de

Francisco Eduardo Alves de Almeida[1]

Nelson foi recebido entusiasticamente na Inglaterra pela população, no entanto Frances não se dirigiu a Yarmouth para recebê-lo, preferindo permanecer em Londres, um sinal de que o escândalo já chegara a seus ouvidos. Dois dias depois, acabaram se encontrando em Londres. Ela foi extremamente fria na recepção[2]. Ela, afinal, era uma mulher humilhada, no entanto Laughton imputou muito da atitude de Nelson em relação a ela, à sua própria culpa. Nelson conquistara fama e glória. Ele estivera ferido, no entanto Lady Nelson se contentou em apenas escrever cartas contidas e permanecer na Inglaterra. Muitos de seus defensores apontaram que ela tinha uma obrigação com o pai de Nelson, já que ela cuidava de seu bem-estar. Para Laughton isso não se justificava, pois Edmund Nelson tinha filhas e nora que deveriam estar cuidando dele. O lugar de Frances, para Laughton, era ao lado do marido e não ao lado de Edmund. Sabendo ela da vaidade de Nelson e o deixando aos cuidados de uma gentil, bela e fascinante mulher como Emma, enquanto lhe enviava elegantes frases em cartas, era digna de culpa. Além disso, a conduta de seu filho Josiah Nisbet na RN era abaixo da crítica. Ele, com auxílio de Nelson, subira rapidamente de midshipman para capitão, no entanto suas atitudes eram rudes, destemperadas  e grosseiras. Como seu pai morrera insano, já se acreditava que aqueles vícios de Josiah eram hereditários. St Vincent, em razão de sua admiração por Nelson, o perdoara diversas vezes. Frances, por ser mãe, era cega a todos esses defeitos de seu filho[3]. As discussões entre Nelson e Frances tornaram-se freqüentes a respeito da conduta de Josiah e isso fêz com que Nelson já estivesse se afastando aos poucos de Frances. Laughton, embora reconhecendo o papel de Emma na separação de Nelson com Frances, procurou justificar o herói imputando a ela parte da responsabilidade pelo rompimento que se deu no dia 13 de janeiro de 1801. Em uma dessas discussões, Laughton mencionou que Nelson vagou tarde da noite em um estado de completo desespero e de repente se viu na casa de Sir William na Grovernor Square e lá foi colocado na cama, em razão de sua agonia. Sir William persuadiu-o a procurar a alegria em sua vida profissional, uma vez que não tinha satisfação em sua vida conjugal.[4]

Data desse período, 29 de janeiro, o nascimento de sua filha Horatia com Emma. As circunstâncias desse nascimento foram mantidas em segredo. Na correspondência entre Nelson e Emma, de modo a esconder a existência de Horatia, eles se dirigiam um ao outro com outros nomes. Nelson passou a ser o senhor Thompson, como se fosse um marinheiro a ele subordinado e Emma como senhora Thompson que ficara na Inglaterra. Os dois serviam como intermediários entre esses dois personagens. Para Laughton houve, inclusive, muita confusão de personagens nas cartas trocadas entre os dois.[5] O propósito era exatamente esconder o relacionamento adúltero entre os dois e a existência de uma filha nascida desse relacionamento. As cartas que chegaram até os dias de Laughton e Mahan foram as preservadas por Emma, já que Nelson destruiu todas as cartas que lhe foram enviadas por ela, de modo a que não caíssem em mãos alheias. Ele chegou a pedir formalmente a Emma que destruísse as missivas dizendo “eu queimo todas as suas queridas cartas por que é o certo para o seu bem e desejo que você queime todas as minhas”.[6] Sabe-se então desse artifício de nomes pelas cartas preservadas por Emma. 

Mahan, por sua vez, procurou defender Frances, ao dizer que ela queria reconquistar o seu marido, no entanto sua tática perante Emma foi deficiente. Nelson acreditava poder manter seu relacionamento adúltero com Emma, sob os olhares aquiescentes de Frances, o que aconteceu na corte napolitana[7]. Lady Nelson não aceitaria tal situação, ponderou Mahan. O historiador norte-americano relatou um fato ocorrido no teatro, alguns dias depois da chegada de Nelson à Inglaterra, para demonstrar a tristeza de Lady Nelson com a postura de seu marido. Encontravam-se em um camarote Nelson, Frances, Emma e seu marido. Durante todo o espetáculo  Nelson foi só atenção com Emma, deixando Frances de lado e sem qualquer apoio. Isso foi de tal forma humilhante que Lady Nelson perdeu os sentidos e teve que ser amparada[8]. Os mexericos se transformaram em escândalo na sociedade inglesa. Uma grande amiga e admiradora de Nelson, Lady Spencer, mulher do Primeiro Lorde do Almirantado, o tratou com frieza e distância em razão de sua atitude infamante com Emma.[9]

Por onde Nelson andasse naquele período, ele era ovacionado como o maior herói da GB pela população em geral, no entanto sua recepção na corte de Jorge III foi fria. Em sua apresentação ao rei, Jorge III apenas o cumprimentou e logo se dirigiu ao general que estava a seu lado, conversando animadamente com o último por 30 minutos, ignorando a existência de Nelson. Jorge III já estava contaminado pelo comportamento indecoroso de Nelson em sua relação a mulher de Sir William, seu amigo de longa data. A rainha nem ao menos o cumprimentou. A moralidade era importante para os soberanos ingleses[10]. Um dos membros da corte, Sir William Hotham, diria posteriormente que “sua conduta [de Nelson] em relação a Lady Nelson foi o extremo de sua injustificada fraqueza, por que deveria, pelo menos, tentar esconder sua enfermidade, sem publicamente magoar os sentimentos de uma mulher [Frances] cuja conduta ele sabia ser irrepreensível”.[11]  A postura de Nelson foi criticada por Mahan. Pela primeira vez em sua biografia, Mahan apontou a existência do diário de Lady Hamilton que foi publicado em 1815[12]. Nela Emma procurou justificar sua conduta em seu relacionamento com Nelson. Mahan apontou o fato gerador do rompimento definitivo entre Nelson e Frances. Estando ambos tomando café da manhã, Nelson só falava de Emma. Frances, cansada de ouvir o nome de Emma continuamente em sua casa, explodiu dizendo que estava cansada de ouvir o seu nome todo o tempo. Deu assim um ultimato a Nelson, ou ela ou Emma. Calmamente Nelson disse “cuidado Fanny com o que diz. Eu a amo sinceramente, mas não posso esquecer minhas obrigações com Lady Hamilton ou falar dela de outro modo que afeto e admiração”[13]. Levantou-se e a partir daí separaram-se formalmente.

Mahan, ao contrário de Laughton, defendeu Lady Nelson veementemente. Lady Nelson, apesar de humilhada e menosprezada por ele, sempre falou com carinho e admiração de seu herói. Procurou, até o final de sua vida, justificar suas atitudes, demonstrando superioridade e resignação. Mahan diria que “a conduta de Lady Nelson não foi somente afetiva, inteligente e prudente, mas admirável durante toda a sua vida de casada e sem nenhuma crítica a ela”. Viria a falecer em 1831, perdoando todas as atitudes de Nelson.[14] Mahan apontou que Nelson não apenas enganou Frances, mas também seu grande amigo Sir William e isso, para um herói reconhecido como ele, passou a ser imperdoável.        

Imediatamente Nelson se apresentou para o serviço e foi designado para servir sob as ordens do almirante Sir Hyde Parker, comandante-em-chefe da Esquadra do Báltico. Sir Hyde era um oficial general genioso, cujo apelido na RN era ‘Parker Vinagre’[15], no entanto sua bravura era reconhecida e sua incapacidade de se adaptar a novas idéias era a sua marca[16].

O pavilhão de Nelson foi içado no HMS St George, como segundo-comandante de Sir Hyde, sendo promovido a vice-almirante da Esquadra Azul. Sua recepção por Sir Hyde foi fria e distante, o que o deixou magoado.[17]

A situação no Báltico estava se complicando para a GB. A determinação britânica de controlar o comércio dos neutros nessa área, declarando que muitos dos transportes lá circulando levavam contrabando para a França, trouxe grandes ressentimentos à Suécia, Dinamarca e Rússia. Aproveitando-se dessa situação, Napoleão se prontificou a ceder Malta à última e liberar seis mil prisioneiros russos em seu poder. Em razão dessas confabulações, o czar Paulo reviveu a chamada Neutralidade Armada junto com a Suécia e Dinamarca em 16 de dezembro de 1800[18]. O propósito desse pacto era resistir a inspeção de navios da RN que procuravam contrabando. Os britânicos conquistaram, logo depois, Malta, o que provocou uma retaliação russa ao confiscar 300 navios mercantes britânicos, aprisionando suas tripulações até que a GB lhe cedesse essa ilha. Em seguida, a Prússia se agregou a esse pacto, desafiando a RN nessa importante região. Vale mencionar que não existia formalmente um estado de guerra entre a GB e esses países.[19]

Imediatamente Sir Hyde recebeu ordens de deslocar sua esquadra com 15 navios de linha, além de fragatas, chalupas, brigues e outros navios menores para o Báltico, bloqueando Copenhagen, para em seguida seguir para Reval para atacar o esquadrão russo lá localizado, prosseguindo então para Cronstadt para “atacar, capturar ou destruir qualquer navio pertencente à Rússia”.[20] A idéia era forçar a saída da Dinamarca do bloco, se as negociações se tornassem infrutíferas. Nelson demandou a imediata ação de Sir Hyde sem perda de tempo. Dessa maneira, a força de Sir Hyde suspendeu com destino a Copenhagen no dia 12 de março de 1801. Em carta para Emma, Nelson disse que “será o primeiro se viver e você dividirá toda a ‘sua’[21] glória. Assim será minha realização, me distinguir para que seu coração pule de alegria quando meu nome for citado”[22]. Diria posteriormente que detestava homens que usavam tinta e canetas, sendo os melhores negociadores da GB na Europa os seus navios de guerra.[23]

Os britânicos enviaram um negociador para convencer os dinamarqueses a abandonarem a coalizão dentro de 48 horas, antes da chegada da força de Sir Hyde. Sua missão fracassou, o que era esperado por Nelson. No dia 20 de março os navios britânicos fundearam a 18 milhas de Copenhagen e começaram a se preparar para a ação.

A cada dia perdido, significava que os dinamarqueses tornavam-se mais fortes. A cidade de Copenhagen possuía duas entradas bem distintas, uma ao norte, protegida pelas baterias Crown, com diversos canhões que exporiam os navios britânicos a uma fuzilaria devastadora e uma entrada pelo sul cuja navegação era mais difícil em razão dos baixios, mas que possibilitava evitar as baterias e obter alguma surpresa, uma vez que os navios de guerra dinamarqueses encontravam-se fundeados quase em frente à cidade de Copenhagen. Como era de seu feitio, Nelson imediatamente enviou uma carta a Sir Hyde propondo o seu plano de ataque pelo sul, afirmando o seguinte:

Tenho convicção de que  nenhum momento deve ser perdido em atacar o inimigo; eles [os dinamarqueses] ficarão mais poderosos a cada dia…minha única consideração é como chegar a eles, arriscando o menos possível nossos navios…dessa forma aqui está V.Exa com toda a segurança, certamente com a honra da Inglaterra em suas mãos, como nunca houve para qualquer oficial britânico. De sua decisão depende se nosso país será degradado aos olhos da Europa ou se levantará a cabeça para cima em qualquer oportunidade; novamente repito, nunca nosso país dependeu tanto do sucesso da esquadra nessa situação…apoiando V.Exa meu caro Sir Hyde, através dessa árdua e importante tarefa que lhe foi confiada, nenhum esforço mental ou de coração ficará devendo de seu mais obediente e fiel servidor…Nelson e Bronte.[24]                      

A idéia de Nelson era investir inicialmente pelo norte, desbordar uma grande banco de areia, o Middle Ground, localizado em frente a Copenhagen e subir o canal pelo sul para surpreender os dinamarqueses. Para tanto, solicitou a Sir Hyde a cessão de dez navios de linha. Sir Hyde concordou com o plano e cedeu 12 navios.

Durante a noite do dia 31 de março, a fragata Amazon sob o comando do capitão Edward Riou sondou o canal sul para encontrar um caminho seguro por essa entrada, uma vez que todas as bóias marcadoras de canal foram retiradas pelos dinamarqueses. Na manhã do dia seguinte, os navios avançaram para um fundeadouro a cerca de seis milhas ao norte de Copenhagen, onde Sir Hyde ancorou seus navios. Nelson com os seus 12 navios prosseguiu, desbordando o Middle Ground fundeando ao sul, aguardando ventos favoráveis para investir  e procurar engajar a esquadra inimiga.

Na noite do dia 1 de abril, Nelson ofereceu um jantar a seus comandantes e estava confiante com a operação que ocorreria no dia seguinte. Nesse jantar estavam seus mais chegados comandantes, capitães Foley, Hardy, Fremantle, Riou, Inman e o contra-almirante  Thomas Graves, seu sub-comandante. Todos estavam alegres e beberam em homenagem a RN e ao sucesso[25]. O plano de ataque foi discutido e aprovado por todos que lá se encontravam.

Figura 5 – Posições na batalha naval de Copenhagen. Fonte: MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson. v2, op.cit, p. 84.

No dia 2 de abril, pela manhã, as condições estavam favoráveis e Nelson determinou que seus navios investissem o canal sul em linha de coluna, guiados pelo mestre do HMS Bellona. O primeiro navio na coluna foi o HMS Edgar, seguido do seu antigo navio Agamemnon.  Ao começar a evolução de sua força, três navios ficaram encalhados o próprio Bellona, o Agamemnon e o Russell. Os outros nove passaram incólumes e fundearam em frente a esquadra dinamarquesa. Às dez horas da manhã o bombardeio começou. A distância entre as duas colunas era de apenas 200 jardas[26]. O navio de Nelson o Elephant estava localizado no meio da coluna britânica, em frente ao capitânea inimigo o Dannebrog.[27]Existiam cerca de vinte navios inimigos de linha e baterias flutuantes.[28]

À uma hora da tarde o combate já era desesperado e nenhum navio dinamarquês fora silenciado, enquanto dois navios de Nelson, o Bellona e o Russell estavam em dificuldades. A bordo do Elephant um tiro de canhão acertou o mastro principal e espalhou farpas de madeira em volta de Nelson que poderiam feri-lo ou mesmo matá-lo. Sem perder a compostura, Nelson virou para o coronel William Stewart que era do exército e estava como ligação com sua força, e disse: “lembre-se disso, eu não gostaria de estar em qualquer outro lugar além daqui”.[29]  Sir Hyde tudo assistia à distância e vendo a situação se deteriorar, determinou que Nelson retirasse os seus navios da área e abandonasse a ação. Ao ver o sinal de recuar içado no navio de Sir Hyde, Nelson falou para o comandante do Elephant , capitão Foley o seguinte: “que eu seja condenado se assim proceder ! Você sabe Foley, eu tenho o direito de ficar cego algumas vezes”. Pegou então a luneta e a colocou no seu olho cego direito e disse “eu realmente não vejo o sinal”.[30] E assim o combate prosseguiu por mais uma hora. Às duas horas da tarde, os navios inimigos começaram a cessar o fogo de artilharia, em razão do grande número de mortos e feridos em seus conveses. O Dannebrog pegou fogo e explodiu, matando todos os seus feridos que não foram evacuados. As baixas dinamarquesas cresciam rapidamente, assim como as próprias perdas britânicas. Nelson vendo que a matança iria prosseguir sem sentido, enviou uma carta ao príncipe dinamarquês por meio do capitão Frederick Thesiger de seu estado-maior e fluente na língua dinamarquesa. Nela Nelson solicitava um armistício dizendo o seguinte:

Lorde Nelson tem a intenção de poupar a Dinamarca que não resistirá mais; mas se o fogo continuar da parte dinamarquesa, Lorde Nelson será  obrigado a destruir todas as baterias flutuantes [navios e pontões artilhados] que foram tomadas, sem ter o poder de salvar os bravos dinamarqueses que as defenderam. Nelson e Bronte vice-almirante, sob o comando do almirante Sir Hyde Parker[31].     

O príncipe aceitou os termos da carta e foi estabelecido um armistício que efetivamente retirou a Dinamarca da aliança com a Rússia. Laughton afirmou que muitos historiadores sugeriram que essa carta de Nelson não tinha o propósito de evitar maiores baixas nos dinamarqueses, mas apenas de compor uma saída honrosa da força sob o seu comando, que estava, também, sofrendo muitas mortes, inclusive de dois de seus comandantes, os capitães Riou do Amazon e Mosse do Monarch.[32] Laughton acreditou que Nelson queria mesmo evitar o banho de sangue que estava ocorrendo no lado inimigo e sua ação foi humanitária, inclusive por que nas primeiras horas do armistício ele não retirou seus navios da posição em que se encontravam. Estava efetivamente terminada a batalha de Copenhagen com mais uma vitória de Nelson.

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Copenhagen_(1801)#/media/File:The_Battle_of_Copenhagen,_2_April_1801_RMG_BHC0528.tiff

Mahan, por seu lado, bem mais inclinado a elogiar seu herói que Laughton, disse que não era somente a superioridade de julgamento ou a qualidade combatente que Nelson possuía em relação a Sir Hyde. Era a sua característica moral que lhe permitia fechar os olhos para o perigo e dúvidas em torno do único caminho para se obter o sucesso e assim salvar a sua força da derrota[33]. Para o historiador norte-americano, a vitória de Nelson em Copenhagen foi a mais importante até aquele momento e foi o confronto mais crítico no qual se engajou.[34] 

As notícias da vitória chegaram a Londres no dia 15 de abril e as duas câmaras passaram moções de agradecimento a Sir Hyde, a Nelson, ao almirante Graves e a todos os oficiais e praças da esquadra, no entanto nenhuma medalha foi cunhada pelo sucesso, nem houve um voto de cumprimentos da cidade de Londres, fatos que deixaram Nelson muito aborrecido[35], fazendo-o escrever cartas de reclamação a Lorde St Vincent e ao Lorde Mayor de Londres[36].

Naquele mês de abril, os britânicos receberam a notícia de que o czar Paulo havia sido assassinado e as ordens para atacar os russos foram suspensas, aguardando-se definição do novo czar Alexandre sobre os próximos passos da Rússia. Enquanto isso ocorria, Sir Hyde foi exonerado da Esquadra do Báltico, sendo substituído por Nelson. No dia 7 de maio, já à frente da esquadra, Nelson suspendeu com 11 navios de linha em direção a base russa de Revel, onde procuraria forçar a força naval russa a uma decisão. Para sua decepção, nenhum navio russo estava lá localizado. A esquadra russa havia suspendido alguns dias antes para Cronstadt[37]. Nelson, preocupado em ficar preso pelo gelo flutuante, retornou para Copenhagen. Alexandre, ao contrário da política de seu pai, resolveu dissolver a Neutralidade Armada e afastar o fantasma da guerra entre a Rússia e a GB.

O coronel Stewart, que estava servindo no estado-maior de Nelson, fêz um relato interessante sobre a rotina de Nelson naquele período de operações no Báltico. Disse Stewart o seguinte:

Sua hora de acordar era às quatro ou cinco horas da manhã e de dormir às vinte e duas horas; o café da manhã nunca era depois de seis horas e geralmente perto de cinco horas. Um midshipman ou dois estavam sempre presentes; e sei que ele [Nelson] chamava o pessoal de serviço de 00-04 horas para o café da manhã. Na mesa com eles ele gostava de contar piadas e ser jovial com esse grupo. No jantar convidava a cada vez um oficial do navio e era polido e hospitaleiro para com ele.[38]

 Enquanto isso ocorria, Nelson alegou doença e mágoa com a morte repentina de seu irmão Maurice, imediatamente solicitando a Lorde St Vincent, Primeiro Lorde do Almirantado, sua substituição. Lorde St Vincent concordou com o seu pedido e designou o vice-almirante Sir Charles Pole para assumir a Esquadra do Báltico. Em sua despedida, Nelson agradeceu o apoio e a dedicação dos oficiais e praças que lutaram em Copenhagen e pela “perfeita disciplina e alegre obediência de cada componente [da esquadra]”.[39] Logo em seguida embarcou no brigue Kite e seguiu para a Inglaterra, aonde chegou no dia 1 de julho de 1801. Emma estava em sua cabeça e logo se encontraria com ela. Para Mahan, qualquer que tenha sido a ligação de Emma com Nelson, a sua melhor chance para o futuro era sua constância e que eventualmente ‘ela se casaria com ele’, além disso, a morte de Sir William não estaria longe e o desejo de união de ambos estaria realizada[40].

Em agosto, Nelson foi elevado no pariato a visconde assumindo o título de visconde Nelson do Nilo e Burham Thorpe, ao mesmo tempo em que foi designado por Lorde St. Vincent para comandar um grupo expressivo de fragatas, brigues e pequenas embarcações na defesa da costa inglesa entre Orfordness e Beachy Head contra uma propalada invasão francesa[41]. Esse comando seria independente do almirante Lutwidge, oficial general mais antigo presente, que fora comandante de Nelson.[42]

Ao assumir o comando, Nelson, imediatamente, preparou um memorando com suas idéias sobre a defesa dessa região. Acreditava que o objetivo dos franceses era Londres com um desembarque na costa de Essex ou Suffolk com cerca de 40.000 homens, sendo que esse grande exército estaria sendo reunido em Boulogne, Calais e Havre.[43] Londres sendo o objetivo, o rio Tâmisa seria um dos caminhos. A idéia era atacar a força inimiga, logo que ela tocasse a costa britânica, com uma flotilha de navios menores e por tropas em terra.[44]  Conforme o tempo foi passando, Nelson percebeu que essa ameaça era infundada. Ao invés de esperar qualquer ação francesa, Nelson resolveu tomar a iniciativa e planejou um ataque a Boulogne com sua força. Sua idéia era atacar os navios franceses lá localizados durante a noite de 15 para 16 de agosto.

O ataque, em razão da forte corrente local, se processou em vagas, o que diminuiu o ímpeto do ataque e os franceses se defenderam eficientemente, sob o comando do almirante La Touche Treville. O desastre se abateu sobre os britânicos, que foram repelidos com grande número de baixas. Segundo Laughton, sua vaidade, inflada com os sucessos, esteve ausente nessa hora de infortúnio.[45] Em verdade, Nelson trouxe para si toda a responsabilidade pelo fracasso. Disse ele que “a mais espetacular bravura foi demonstrada por muitos de nossos oficiais e praças…nenhuma pessoa pode ser culpada por mandá-los ao ataque, a não ser eu mesmo…todos se comportaram bem”.[46] Um fato particularmente o afetou: a morte do mestre e comandante Edward Parker, seu auxiliar direto, atingido por tiros de mosquete. Em quase todas as cartas enviadas a Emma, Nelson falara desse jovem oficial com grande admiração e sua morte o deixou arrasado. Em uma de suas cartas disse que “temo que sua morte tenha feito uma ferida em meu coração que o tempo dificilmente curará. Mas Deus é bom e todos nós um dia morreremos”.[47]

St Vincent não procurou culpar Nelson pelo fracasso, muito pelo contrário. Em carta a Nelson disse que “não nos foi dado o sucesso. V.Exa e seus galantes oficiais e marinheiros muito certamente merecem-na. Não posso me expressar suficientemente pela admiração com o zelo e coragem perseverante com o qual essa façanha galante foi realizada, lamentando sinceramente as perdas ocorridas”.[48]

Nesse ínterim, preliminares de um acordo de paz estavam sendo discutidas entre a GB e a França. Nessas confabulações, o próprio embaixador francês foi recebido em Londres por uma população entusiástica com as perspectivas de paz. Nelson, sempre avesso aos franceses, disse que “estava envergonhado de seu país…não existia nenhuma forma de lidar com os franceses, a não ser os nocauteando…eu não permitiria nenhum francês na esquadra a não ser como prisioneiro…minha mãe [de Nelson] odiava os franceses”.[49] Para ele eram praticamente sinônimas as palavras “francês” e “rufião”, segundo Laughton[50]. Com esse espírito, Nelson solicitou sua exoneração da força naval do sul da Inglaterra, no que foi negado por St. Vincent assessorado pelo seu principal auxiliar no Almirantado, o capitão Troubridge, amigo de Nelson. Com o último, Nelson tornou-se particularmente ressentido, pois presumiu que Troubridge era contra a sua exoneração, como forma de impedir sua união com Emma. Suas cartas para ela nesse período demonstraram um misto de raiva e ressentimento com seu ex-amigo. Em uma delas, Nelson escreveu o seguinte:

Minha querida amiga [Emma]. Eu ouso dizer que o mestre Troubridge engordou. Eu sei que me torno pequeno com minha reclamação, no qual pela indiferença deles [de St. Vincent e Troubridge] com minha saúde isso não ocorreria ou pelo menos eu deveria ter melhorado há muito tempo atrás, estando em um cômodo quente, com um bom fogo e amigos sinceros…acredito que deixarei este pequeno esquadrão com muitas mágoas e com boas recomendações de todos que o compõem…entretanto, sou sábio o bastante para rir da falta de julgamento deles e ser eu mesmo, seu mais cortês amigo de fé. Nelson & Bronte[51]

Laughton defendeu tanto St Vincent como Troubridge, ao dizer que eles não mantiveram Nelson embarcado apenas por prazer, mas sim que exonerá-lo rapidamente não era o melhor caminho a seguir, pois a paz não havia chegado ainda. Acreditou Laughton que não era a saúde que mais preocupava Nelson, mas sim seu afastamento de Lady Hamilton, pelo menos para Troubridge, que assistiu ao escândalo ocorrido em Palermo. Nem St Vincent e tampouco Troubridge queriam ser vestais da moralidade, no entanto não poderiam se curvar aos vícios amorosos de Nelson em relação a Emma, como mais importantes que o serviço de Sua Majestade[52].

Para Mahan , por sua vez, a atitude de Nelson para com seu amigo Troubridge pode ser justificada pela estado mental  de “exasperação e excitação” em que se encontrava, pois além do afastamento de Emma, ele estava constantemente mareado a bordo de uma pequena fragata[53]. Em carta a Emma disse ele que “o tempo está muito ruim e estou muito mareado…Oh ! como o tempo está ruim…estou tão terrivelmente mareado que não consigo agüentar minha cabeça”.[54] Tudo isso fazia com que reagisse mal a demora em ser substituído. Essa explicação de Mahan é interessante, pois não deve ser esquecido que ele, também, sofreu terrivelmente os efeitos dos mares ruins em sua carreira. O temor das tempestades e os efeitos da mareação tiveram conseqüências permanentes na trajetória de Mahan na Marinha dos EUA, fazendo com que considerasse aquela vida de embarcado desagradável. Assim o fato de Nelson sentir os efeitos do mar, quando a bordo de um navio pequeno, no caso uma fragata, para Mahan teve um grande peso em sua avaliação quanto ao estado de espírito do herói de Burham Thorpe.    

No dia 15 de outubro, Nelson recebeu a notificação oficial do término das hostilidades entre o UK[55] e a França. Em 25 de março de 1802 a Paz de Amiens foi assinada. Ele teria que esperar um pouco mais, até o dia 10 de abril de 1802, quando foi dispensado por St Vincent e se dirigiu a sua nova residência em Merton em Surrey, em companhia de Emma e Sir William.

A volta ao Mediterrâneo:

A compra da nova residência de Nelson foi efetuada por Lady Hamilton a seu pedido. Segundo Laughton, Emma era uma boa negociadora, quando sua insaciável vaidade ou sua paixão pelo prazer não interferia em sua conduta e ao que tudo indica essa compra foi rápida, econômica e de bom gosto.[56]  As despesas foram divididas igualmente por Nelson e Sir William. Nos próximos 16 meses Nelson se recolheu nessa residência, que lhe era muita cara. Para Emma, já não mais uma jovem, a necessidade de manter uma intensa vida social em Merton foi fundamental, sob o olhar aquiescente de Nelson, que nada reclamava, em razão de sua louca paixão. Por sua vez, Sir William, já com a idade de 71 anos, começou a sentir o peso daquela vida intensa e desregrada de Emma. Ele queria descansar e a contínua presença de 12 a 14 pessoas à mesa todo o dia começou a lhe incomodar. Do incômodo a passagem para a fricção com Emma foi um pulo. Em carta para Emma, disse que os modos de vida de ambos eram muito diferentes e que talvez a separação fosse a melhor solução, ao invés das contínuas discussões entre os dois, no entanto essa separação faria Lorde Nelson “nosso melhor amigo, muito desconfortável e ficaria sensivelmente mais sentido que nós [ele e Emma]. Eu bem sei da pureza da amizade de Lorde Nelson por Emma e eu ”[57].

Mahan, durante a permanência de Nelson em Merton, transcreveu opiniões de pessoas que tiveram acesso a sua casa naquele período e que descreveram algumas características de sua personalidade. A primeira opinião foi do sobrinho de Nelson, Mr. Matcham que escreveu para o Times de Londres em 6 de novembro de 1861 uma reminiscência sobre seu tio. Disse Matcham que Nelson apreciava uma conversa tranqüila e durante as refeições ele era um dos menos escutados e embora fosse o grande herói, ele Matcham, não o ouviu referir-se a qualquer de suas grandes ações navais. Ele sempre se comportava como um gentleman, além de ser um verdadeiro marinheiro, com uma disposição pessoal sempre calorosa, nunca utilizando expressões grosseiras, sendo seu coração tão terno quanto corajoso. Afirmou que “aqueles que o conheciam, mais estimavam o seu valor e muitos como eu [Matcham] que não conheciam sua superioridade profissional, testemunharam sua gentileza, bondade, boas maneiras e cortesia. Ele [Nelson] não era um rude e turbulento[58] capitão do mar”.[59]

Além de sua conduta social, Mahan procurou apontar outra característica pessoal de Nelson, a sua elevada caridade com pessoas mais necessitadas. Em carta para Sir Harris Nicolas, um dos organizadores das cartas de Nelson, a filha de um vigário anglicano de Merton comentou que o almirante sempre ajudou pecuniariamente as obras de caridade do vicariato, procurando não se identificar quando da doação. Sua casa em Merton era sempre procurada pela receptividade com os mais pobres, “dando um exemplo de propriedade e regularidade, do qual existiam poucos que não podiam se beneficiar dessa bondade”[60]. Mahan exaltou, também, a grande religiosidade de Nelson e sua crença nos desígnios da Providência. O almirante foi um homem profundamente influenciado pela religião. Seu amigo nos últimos anos de vida foi o capelão da Victory que mencionou que Nelson era realmente o filho de um religioso e que ele nunca ia se deitar, sem antes se ajoelhar para rezar, demonstrando, sempre que podia, que ele era um filho da Igreja anglicana e um verdadeiro crente nos desígnios de Deus. Mesmo em viagem, Nelson incentivava o capelão a proferir sua missa semanal para a tripulação da Victory e que, após o sermão, discutia com o religioso se o tema havia sido apropriado ou não para a tripulação.[61]

Mahan, sendo também religioso, fêz questão de ressaltar essa característica de Nelson na crença na Providência, quase que indicando sua própria crença nos desígnios de Deus. Houve aqui uma identificação direta com o personagem e uma concordância com o seu modo de encarar a religião. Ao mesmo tempo, Mahan procurou apontar com esses dois testemunhos da vida quotidiana em Merton, as qualidades sociais de Nelson, em uma clara demonstração de ligação direta com o personagem biografado. Laughton, mais comedido, nada comentou sobre essas opiniões e muito menos exaltou as qualidades de Nelson durante sua estada em Merton, embora acreditasse efetivamente nessas qualidades. A diferença de ênfase entre os dois biógrafos é mais que evidente nesse período da vida de Nelson.

Data desse período, novamente, a sua defesa ferrenha de seus subordinados em Copenhagen. As medalhas que seriam outorgadas aos vencedores de Copenhagen foram negadas novamente, tanto por St Vincent, como pelo primeiro-ministro Lorde Addington, visconde Sidmouth. Nelson se rebelou contra esse procedimento e não se conformou com essa falta de reconhecimento do governo em sua mais feroz batalha. Mahan acreditou que a negativa em outorgar medalhas aos que lutaram sob Nelson, parecia estar relacionada aos que permaneceram com Sir Hyde Parker, isto é, afastados do combate. Houve, inclusive, uma necessidade de esquecer por parte do Almirantado a conduta passiva de Sir Hyde naquela contenda, o que levaria posteriormente a sua demissão. De modo a não condecorar alguns e outros não, ficou decidido que ninguém receberia qualquer comenda, o que deixou Nelson revoltado, tanto com St. Vincent como com Lorde Addington. Para Mahan essa controvérsia sobre as medalhas foi o principal incidente ocorrido em Merton entre outubro de 1801 e maio de 1803[62].

Em 26 de abril de 1802, o pai de Nelson, já com 79 anos de idade, que mantinha um relacionamento muito cordial com o filho, veio a falecer. Nos últimos meses, Nelson pouco vira o pai, em razão de sua aproximação com Frances. Sir William, também, nos últimos meses vinha com a saúde cada vez mais debilitada, sendo constantemente atendido por Nelson e por Emma. Aos poucos sua condição sanitária foi se deteriorando e nos últimos seis dias Nelson não arredou pé de sua cama, segurando sua mão, enquanto Emma suportava o travesseiro que mantinha a cabeça de Sir William em posição confortável. Afinal, no dia 6 de abril de 1803, Sir William veio a falecer, o que deixou Nelson muito deprimido. Em carta para seu amigo o duque de Clarendon, Nelson disse que “meu amigo Sir William Hamilton morreu nesta manhã, o mundo nunca perdeu um gentleman mais correto e realizado”.[63]

Laughton tem uma opinião interessante sobre o relacionamento entre esses três personagens, Nelson, Sir William e Emma que passaram a viver juntos em Merton, em uma situação  que chocava a vida social londrina. Para Laughton, não existia nada mais estranho que a relação existente entre os três. Tanto Nelson como Sir William expressavam explicitamente grande estima e amizade um pelo outro, no entanto pelas cartas escritas por Nelson nos últimos três anos, ele vinha desonrando o seu amigo, tendo a certeza que era o pai do bebê gerado pela esposa de Sir William e os dois, ele e Emma, vinham desejando morte de seu “gentleman mais correto e realizado”. Era tudo isso hipocrisia? Perguntou Laughton. Na maior parte dos casos, a resposta óbvia seria sim, no entanto nesse caso específico, Laughton apontou que a melhor resposta seria um duvidável não. Existem elementos históricos de que Nelson se convenceu ou foi convencido por Emma de que ela era esposa de Sir William apenas no papel. Ele se convenceu de que Sir William casara com Emma apenas para ter uma esposa à mesa e nas suas cartas para ela Nelson se referia a Sir William como “seu tio” e a ela se referia ingenuamente como a “mais virtuosa das mulheres”.[64] Laughton questionou qual seria a atitude de Nelson se soubesse do passado de Emma, o que seria uma triste ironia, no entanto nessa condição existe um quebra-cabeça psicológico que não admite qualquer solução satisfatória[65]. Para Laughton, Sir William conhecia o passado nebuloso de Emma, no entanto ele vinha vivendo com ela por 16 anos sem qualquer escândalo, pensava ele, e a alta consideração e amizade que mantinha com Nelson, fazia com que ficasse cego ao que ocorria ao seu redor. Para Laughton, Sir William havia esquecido que “a amizade é constante em todas as outras coisas, com exceção da política e nos assuntos de amor”[66].

Mahan, por sua vez, sempre crítico da conduta de Nelson em relação a Emma, indicou que a conjunção desses dois personagens no leito de morte de Sir William era estranho, quase que além da compreensão. Um homem falecendo, sendo sistematicamente enganado e afetuosamente sendo tratado, até o seu último momento pelos seus “traidores”[67], sendo que um deles, Nelson, se jactava de ser fiel a seus amigos. Para Mahan, Sir William tinha uma simplicidade em sua confiança dificilmente compreendida por um homem de sua experiência e antecedentes. Mahan, também, conjecturou que Sir William pode ter percebido o que ocorria a sua volta e escolheu esconder as falhas de Emma com auto-abnegação, a qual não deixou de ser um ato nobre.[68] 

Um dos assíduos freqüentadores de Merton foi Lorde Minto, amigo pessoal de Nelson, que tinha uma idéia muito negativa do relacionamento entre ele e Emma. Em carta para sua esposa, Lorde Minto escreveu o seguinte, no início de 1802:

Fui à casa de Lorde Nelson em Merton no sábado para jantar e retornei hoje antes do meio dia. Toda a casa e o modo de vida é tal que me torna zangado e melancólico…Ela [Emma] continua a encher Nelson com muita bajulação, enquanto ele continua a aceitá-la tão calmamente como uma criança come sua papinha. O amor que ela transmite a ele não é só ridículo, mas desprezível. Não somente os quartos, mas toda a casa, escadas e tudo estão cobertos com nada mais que quadros dele e dela, de todos os tamanhos e formatos e representações de todas os seus combates navais, brasões, peças de prata em sua homenagem, o mastro do Orient, etc, um excesso de vaidade que contraria seus próprios propósitos.[69]

Enquanto isso ocorria, as tensões européias continuavam. Napoleão utilizou a Paz de Amiens para expandir seus poderes ao anexar o Piemonte, Elba e parte da Suíça, além de pressionar tanto a Holanda como Nápoles a diminuir o comércio com o UK. Em resposta o governo britânico chamou de volta o seu embaixador em Paris. Napoleão respondeu, ao tomar Hanover, uma possessão familiar de Jorge III. A guerra retornava com toda a sua violência em 16 de maio de 1803. Nelson foi então chamado a assumir o cargo de comandante-em-chefe do Mediterrâneo como vice-almirante da Esquadra Azul. Para Mahan, Bonaparte tinha os olhos voltados para o UK. A invasão da ilha era o “maior de todos os seus objetivos” e o resto ficava secundário perante esse propósito.[70] Nelson, por sua vez, embora reconhecesse a invasão possível, imaginava as dificuldades enfrentadas pelo grande corso e que naquela oportunidade o Mediterrâneo era o passo inicial para a empreitada francesa contra os britânicos.[71] Ele continuava a pensar na segurança da família real napolitana como um dos principais objetivos para a sua esquadra.

*Imagem em destaque: https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Copenhagen_(1801)#/media/File:Nelson_Forcing_the_Passage_of_the_Sound,_30_March_1801,_prior_to_the_Battle_of_Copenhagen_RMG_BHC0522.tiff


[1] Oficial de Marinha graduado em Ciências Navais pela Escola Naval (1978) . Graduado em História (UFRJ), com  mestrado e doutorado em História Comparada (UFRJ) e pós-doutorado em Ciência Política pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Professor do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da Escola de Guerra Naval. 

[2] LAUGHTON, John Knox.  Nelson . op.cit. p. 152.

[3] Ibidem, p. 153.

[4] LAUGHTON, John Knox.  The Nelson Memorial . op.cit. p. 180.

[5] LAUGHTON, John Knox.  Nelson . op.cit. p. 155.

[6] LAUGHTON, John Knox.  The Nelson Memorial . op.cit. p. 185.

[7] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 48. 

[8] Idem.

[9] Ibidem, p. 49.

[10] LAUGHTON, John Knox.  The Nelson Memorial . op.cit. p. 171.

[11] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 50.

[12] LONG, W.H. Memoirs of Emma, Lady Hamilton. The Friend of Lord Nelson and the court of Naples. New York: P.F. Collier, 1910.

[13] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 53.

[14] Ibidem, p. 55.

[15] Em inglês ‘Vinegar Parker’.

[16] LAUGHTON, John Knox.  The Nelson Memorial . op.cit. p. 187.

[17] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 66.

[18] LAUGHTON, John Knox.  The Nelson Memorial . op.cit. p. 173.

[19] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 63.

[20] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 157.

[21] Nelson utilizou nessa carta “of all his glory” denotando que se referia a 3a pessoa que era ele próprio.

[22] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 68.

[23] Ibidem, p. 69.

[24] Carta de Horatio Lorde Nelson para Sir Hyde Parker escrita a bordo do HMS Elephant em 24 de março de 1801. Fonte: LAUGHTON, John Knox. Nelson´s Letters and Dispatches. op.cit p. 248.

[25] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 83.

[26] Cerca de 180 metros. Ver Figura 5.

[27] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 160.

[28] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 85.

[29] Ibidem, p. 90. A frase em inglês dita por Nelson foi “mark you, I would not be elsewhere for thousands”.  Pela sexta vez Nelson se defrontou com a morte, cumprindo mais uma etapa da jornada do herói de Cambell.

[30] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 160. Em inglês Nelson disse o seguinte “damn  me, if I do. You know Foley I have a right to be blind sometimes. I really do not see the signal”.

[31] Carta de Horatio Lorde Nelson para o Crown Prince escrita do HMS Elephant em 2 de abril de 1801. Fonte: LAUGHTON, John Knox. Nelson´s Letters and Dispatches. op.cit p. 257.

[32] Ambos tiveram um monumento erguido na catedral de St Paul em Londres em suas homenagens. Fonte: LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 165.

[33] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 93.

[34] Ibidem, p. 98.

[35]Nelson não concordava com a omissão do governo em relação aos seus subordinados, assim acreditava que eles deveriam ser recompensados pelos sacrifícios. 

[36] Correspondente a prefeito de Londres.

[37] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 166.

[38] Diário do Coronel William Stewart sobre a campanha de Copenhagen em abril e maio de 1801. Fonte: LAUGHTON, John Knox. Nelson´s Letters and Dispatches. op.cit p. 277.

[39] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 168.

[40] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 116.

[41] Esse comando foi chamado de “Squadron on a Particular Service”. Fonte: MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 133.

[42] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 169.

[43] Ibidem, p. 170.

[44] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 128.

[45] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 173.

[46] Idem.

[47] LAUGHTON, John Knox.   The Nelson Memorial . op.cit. p. 219.

[48] Ibidem, p. 215.

[49] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 174.

[50] Idem.

[51] Carta de Horatio Lorde Nelson para Lady Emma Hamilton escrita da HMS Amazon em 20 de outubro de 1801. Fonte:  MACDONALD AND SON. The Letters of Lord Nelson to Lady Hamilton with supplement of interesting letters by distinguished characters. London: Thomas Lovewell & Co Staines House, Barbican, 1814, letter XXIX. Em inglês o fecho da carta foi “your most obliged and faithful friend”.

[52] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 175.

[53] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 142.

[54] Carta de Horatio Lorde Nelson para Lady Hamilton escrita da HMS Medusa em 31 de agosto de 1801. Fonte: MACDONALD AND SON, op.cit. letter XVI.

[55] A partir de 1801 foi assinado o Ato de União com a Irlanda, assim o estado britânico passou a ser chamado de Reino Unido, United Kingdom ou UK.

[56] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 176.

[57] Ibidem, p. 178. Parece que Sir William não queria perceber o que ocorria a sua volta.

[58] A palavra utilizada por Matcham foi “boisterous” traduzido como turbulento.

[59] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 157.

[60] Ibidem, p. 159.

[61] Ibidem, p. 160.

[62] Ibidem, p. 167.

[63] LAUGHTON, John Knox.   Nelson . op.cit. p. 179.

[64] Idem.

[65] Ibidem, p. 180.

[66] LAUGHTON, John Knox.   The Nelson Memorial . op.cit. p. 224. A frase utilizada por Laughton em inglês foi “Friendship is constant in all other things, save in the office and affairs of love”.

[67] Mahan utilizou a palavra severa “betrayers”, traidores, para indicar a conduta de Nelson e Emma.

[68] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 177.

[69] Carta de Lorde Minto para Lady Minto escrita em 22 de março de 1802 de Merton. Fonte: LAUGHTON, John Knox.   The Nelson Memorial . op.cit. p. 225.

[70] MAHAN, Alfred Thayer. The Life of Nelson.v2  op.cit. p. 186.

[71] Ibidem, p. 187.

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