Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
Em 11 de fevereiro de 1797, a bordo da fragata britânica HMS Minerve, o Comodoro Horatio Nelson, passou pela frota espanhola entre Gibraltar e Cádiz. A esquadra espanhola era constituída por 27 navios de linha, 7 fragatas, 1 brigue e 4 urcas armadas, sem ser vista graças ao forte nevoeiro.
Em 13 de fevereiro de 1797, Nelson alcançou a frota britânica (15 navios de linha, 5 fragatas, 1 chalupa e 1 cutter) ao largo da Espanha e passou a localização da frota espanhola para o Vice-Almirante John Jervis, embarcado em sua nau capitânia Victory. Sem saber do tamanho da frota de seu oponente, pois no nevoeiro, Nelson não conseguiu contá-los, Jervis decidiu partir imediatamente para interceptar. Os espanhóis sem saber da presença britânica, continuaram em direção a Cádiz.
No início do dia 14, a esquadra britânica localizou a frota espanhola, estava a 35 milhas a barlavento. Neste mesmo dia, o Comodoro Nelson, a bordo do HMS Captain voltou a se juntar à frota do Vice-almirante John Jervis, a cerca de 25 milhas a oeste do Cabo de São Vicente, na ponta sudoeste de Portugal. Nelson chegou pouco antes dos britânicos manobrarem para interceptar a frota espanhola.
No início da batalha, Jervis sinalizou que os navios ingleses formassem a linha de batalha e se preparassem para engajar o inimigo. O Almirante José de Córdoba y Ramos determinou que a esquadra espanhola formasse duas linhas de batalha. Quando a batalha começou, os espanhóis ainda não estavam prontos para a batalha. A esquadra espanhola estava navegando a sotavento, e os navios viraram a bombordo sucessivamente no ponto onde estavam. O objetivo era quebrar a linha britânica. Isso foi interessante, pois devido a formação que os espanhóis estavam, nem todos os navios conseguiam ver os sinais, então as manobras eram repetidas, para evitar se chocarem uns contra os outros. A manobra espanhola visava quebrar a linha britânica e engajá-los navio a navio, aproveitando o seu maior poder de fogo em relação aos britânicos. Ao observar a manobra espanhola, Nelson viu aí uma oportunidade.
Nelson havia retornado a sua capitânea o HMS Captain (74 canhões) e nessa altura da batalha estava na retaguarda da linha britânica, muito mais perto do grupo maior de navios espanhóis. Ele chegou à conclusão de que a manobra britânica não seria concluída a tempo de permitir que os navios britânicos conseguissem engajar os navios espanhóis, a menos que os movimentos dos navios espanhóis pudessem ser impedidos. Até que isso acontecesse, todo ganho seria perdido. Interpretando o sinal de Jervis como quis e desobedecendo às ordens recebidas, Nelson deu ordens ao capitão Ralph Miller para tirar o HMS Captain da linha de batalha enquanto enfrentava o grupo menor de navios espanhóis.
Nelson instruiu Miller a passar entre os navios HMS Diadem e HMS Excellent e atravessasse a proa dos navios espanhóis que formavam o grupo central da esquadra que estava a barlavento. Este grupo incluía o Santísima Trinidad, o maior navio de linha na época, com 130 canhões; o San José, de 112 canhões, Salvador del Mundo, de 112 canhões; San Nicolás, de 84 canhões; San Ysidro, de 74 canhões e o Mexicano, de 112 canhões.
A decisão de Nelson de atacar os maiores navios de linha espanhóis foi pura ousadia. Como comandante subordinado, ele estava sujeito às ordens de seu Comandante-em-Chefe (Almirante Jervis); ao tomar esta ação, ele estava agindo contra a ordem de “linha de forma à frente e à ré do HMS Victory” e usando sua própria interpretação ampla de “tomar posições adequadas” o sinal posterior. Caso a ação tivesse falhado, ele teria sido submetido à corte marcial por desobediência às ordens diante do inimigo, com consequente perda do comando e desgraça.
Às 3:20 h, com um grito de “Abadia de Westminster ou Vitória Gloriosa!”, Nelson ordenou a seus tripulantess que cruzassem o primeiro navio espanhol e atacassem o segundo, mas tarde ele escreveu.
Nelson percebeu que os principais navios espanhóis estavam escapando e usou a HMS Captain para sair da linha de batalha e atacar os navios espanhóis muito maiores. O capitão trocou tiros com a nau capitânia espanhola, Santísima Trinidad, que montava 136 canhões em quatro conveses. Mais tarde, o capitão enfrentou de perto o San Nicolas de 80 canhões, quando o navio espanhol foi neutralizado por um ataque do HMS Excelente, Nelson atacou o San José, de 112 canhões.
“Por volta das 3h, o HMS Excellent já estava em ação em um combate corpo a corpo com o San Nicolás que, com o mastro do traquete perdido, estava em ação contra o HMS Capitain. O HMS Excellent disparou contra San Nicolás e depois navegou para varrer pelo fogo à frente. Para evitar o HMS Excelente, o San Nicolás orçou e colidiu com San José, que havia sofrido a perda do mastro da mezena e outros danos. A HMS Captain estava agora quase ingovernável, seu traquete caiu para o lado, deixando-a em um estado deplorável, com pouca opção a não ser abordar os navios espanhóis. A HMS Captain abriu fogo contra os navios espanhóis com seu lado de bombordo e, em seguida, colocou o leme e enganchou com as fateixas de bombordo com o quarto de estibordo de San Nicolás.”
Com a HMS Captain quase manobrável, Nelson a conduziu para a São Nicolau e a abordou embarcou. Nelson estava se preparando para ordenar que seus homens embarcassem em San José em seguida, quando ela sinalizou sua intenção de se render. A abordagem de São Nicolau, resultou na tomada dos dois maiores navios espanhóis, foi mais tarde imortalizada como “Ponte patenteada de Nelson para embarque de primeira classe”.
O HMS Captain foi o navio britânico mais danificado, pois esteve no meio da ação por mais tempo do que qualquer outro navio. Nelson permaneceu a bordo dos navios espanhóis capturados enquanto seus homens prendiam os espanhóis. Enquanto estava nessa faina, os navios britânicos saldavam Nelson quando eles passaram. Após deixar os navios em segurança, Nelson voltou ao HMS Captain para agradecer ao capitão Miller e presenteou-o com a espada do capitão do San Nicolás. Com o HMS Captain muito danificado, Nelson embarcou no HMS Irresistible.
Sobre a Batalha do Cabo de São Vicente podemos dizer que foi uma grande vitória para a Marinha Real, os 15 navios britânicos derrotaram 27 navios espanhóis. Além disso, os navios espanhóis tinham um número maior de canhões e homens. A esquadra britânica era bem treinada, disciplinada e experiente. Enquanto a esquadra espanhola não estava bem treinada, não manobrava com a mesma habilidade marinheira e rapidez que os britânicos. Os espanhóis foram valentes e lutaram com bravura, mas pagaram pela inexperiência. Devido ao fato de não conseguirem formar as linhas, os sinais enviados pela capitânea do almirante José de Córdoba y Ramos não eram bem visualizados, com isso o comando e controle foi deficiente durante toda a batalha. Depois que a San José foi capturada, descobriu-se que algumas de suas armas ainda tinham os tampões nos canos. Durante a batalha, a confusão entre a frota espanhola era tão grande, que eles não conseguiram usar seus canhões, sem causar mais danos aos seus próprios navios do que aos britânicos.
Durante a batalha Nelson mostrou suas principais características quando estava em batalha: ousadia, determinação, liderança, sangue-frio e a capacidade de vislumbrar a manobra que daria a vitória. Era observador perpicaz da situação e criativo ao manobrar seu navio ou esquadra em combate.
A Batalha do Cabo de São Vicente (https://historiamilitaremdebate.com.br/batalha-do-cabo-de-sao-vicente/) deu fama a Jervis e Nelson. Jervis foi feito Earl St Vincent e Nelson foi promovido a contra-almirante e nomeado cavaleiro por sua iniciativa e ousadia.
Imagem de Destaque: https://en.wikipedia.org/wiki/HMS_Captain_(1787)#/media/File:HMS_Captain_capturing_the_San_Nicolas_and_the_San_Josef.jpg
Bibliografia
https://en.wikipedia.org/wiki/HMS_Captain_(1787)
https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Cape_St.Vincent(1797)
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.
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