O incrível Lauri Törni que combateu por três países diferentes

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Lauri Allan “Lasse” Törni nasceu em 28 de maio de 1919, na cidade de Viipuri, na Finlândia, filho de um capitão de navio, teve uma educação formal até entrar para o serviço militar em 1938, no 4º Batalhão Jaeger.

Törni tinha estatura mediana (1,78) era um homem atlético, de poucas palavras, bastante combativo, audacioso, corajoso, persistente e profundamente anti-comunista.

1 – Finlândia

A primeira experiência em combate de Törni foi em Rautu durante a Guerra de Inverno (1939-1940) quando os soviéticos invadiram a Finlândia. Törnu era subsargento (uma graduação entre cabo e sargento), encarregado do abastecimento. Uma posição que pouco condizia com sua personalidade audaciosa, corajosa e cheia de iniciativa, pois bem em um dia, com uma temperatura de 42 graus abaixo de zero, Törni cruzou sozinho as linhas inimigas, voltando com um prisioneiro. Ele fez isso tão silenciosamente que nem mesmo os próprios sentinelas finlandeses perceberam alguma coisa. Essa façanha elevou o moral, o espírito de luta e a confiança entre seus companheiros. Durante as ferozes batalhas que caracterizaram a Guerra de Inverno, Törni teve sob suas ordens uma patrulha especializada na destruição de tanques. Destacou-se durante o cerco de Lemetti, ao norte do Lago Ladoga. Assumiu também, como suplente, uma companhia e no final da guerra fez um curso para oficiais da reserva. No verão de 1940, Törni por sua bravura em combate foi distinguido com as Medalhas da Independência de 1ª e 2ª Classe

https://www.defensa.com/ayer-noticia/lauri-trni-desde-finlandia-vietnam-silencioso-camino-heroe

Em 1941, Töri fez a viagem à Alemanha, após passar pelo duro treinamento militar na SS Freiwilligen Bataillon Nordost foi servir como voluntário junto a Wermacth. Nas SS, os oficiais recebiam um posto equivalente ao de seu país, então Lauri Törni tornou-se Untersturmführer (segundo-tenente).

Quando os alemães invadiram a URSS em 1941 e a Finlândia decidiu aderir àquela campanha de recuperação dos territórios perdidos durante a Guerra de Inverno, o marechal Gustaf Mannerheim pediu a Berlim que pelo menos parte dos voluntários que serviam nos exércitos alemães voltassem à Finládia para participar na Guerra da Continuação (25/6/1941 a 19/9/1944). Töri foi um dos que retornou.

Törni recebeu o comando de uma patrulha da 8ª Seção Ligeira pertencente à 1ª Divisão. Com ela avançou para Petrosavodsk, capital da Carélia Oriental, chegando à região do Canal Stalin. Em 23 de março de 1942, foi gravemente ferido por uma mina na noite de enquanto, com seus homens, cruzava as linhas inimigas usando esquis. Ele foi promovido a tenente e durante o verão voltou para sua antiga unidade, sem se importar com os fragmentos de metal ainda em seu corpo. Por volta dessas datas, o comando do Exército finlandês criou companhias ou destacamentos de caça nas divisões, formados exclusivamente por voluntários, para realizar missões especiais, principalmente, atrás das linhas inimigas.

Insígnia no Destacamento Töni
https://en.wikipedia.org/wiki/Lauri_T%C3%B6rni#/media/
File:Lauri_T%C3%B6rni_(Larry_Alan_Thorne)
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Detachment_T%C3%B6rni(Osasto_T%C3%B6rni)1943.png

Em Janeiro de 1943, Törni formou um deles dentro da 1ª Divisão e quando esta unidade foi posteriormente dissolvida montou outra que se encarregaria de combater como guerrilheiros na retaguarda das posições russas. Durante as sangrentas batalhas do verão de 1944, a fama de Törni se espalhou por toda parte. Seu destacamento, cujos membros usavam um emblema de raio amarelo, foi empenhado em muitas missões caracterizadas tanto pelo perigo, quanto pela urgência. O treino dos caçadores de Törni era um dos mais exigentes, mas absolutamente necessário face às ações de destruição e reconhecimento na retaguarda profunda do inimigo que realizaram. Os seus comandos agiram furtivamente obtendo grande sucesso. Seus feitos tem servido como inspiração para muitos livros de aventuras. Sua habilidade com a puukko, a faca nacional finlandesa, durante as missões de guerrilha tornou-se lendária. Os russos chegaram a oferecer três milhões de marcos finlandeses (cerca de 464 mil euros atualmente), pela cabeça de Törni.

Em 9 de junho de 1944, os russos lançaram um grande ataque decisivo contra os finlandeses no istmo da Carélia, o tenente Törni mais uma vez se destacou por quebrar uma ameaça de cerco e infligir pesadas perdas inimigas. Duas semanas depois, enquanto conduzia um ataque de combate, ele obteve informações sobre os novos planos de ataque dos russos, o que novamente lhes permitiu repelir seus ataques.

Entre 24 a 26 de junho de 1944, a companhia de Törni forçou a retirada de dois regimentos inimigos que haviam conseguido se aproximar de um importante entroncamento rodoviário e que quase impediu a retirada das tropas finlandesas.

Em 9 de julho, Lauri Törni recebeu a mais alta condecoração finlandesa de guerra: a Cruz de Mannerheim.

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2 – III Reich

Em setembro de 1944, com a assinatura do armísticio entre a Finlândia e a URSS, Törni foi desmobilizado. Em janeiro de 1945, Törni foi recrutado pelo movimento de resistência pró-alemão na Finlândia e partiu para treinamento de sabotadores na Alemanha, com a intenção de organizar a resistência caso a Finlândia fosse ocupada pela União Soviética. O treinamento terminou prematuramente em março, mas como Törni não conseguiu voltar para a Finlândia, então se juntou como capitão ao Batalhão de Voluntários Finlandeses das Waffen-SS para lutar contra as tropas soviéticas nas proximidades de Schwerin, na Alemanha. Töri se rendeu aos britânicos nos últimos dias da Segunda Guerra Mundial, sendo levado para um campo de prisioneiros em Lübeck, na Alemanha. Em junho de 1945, Töri escapa do campo de prisioneiros e retorna para a Finlândia.

3 – Estados Unidos

Em 1949, Töni viajou para a Suécia, um ano depois para a Venezuela e de lá de navio até as proximidades da costa norte-americana no Golfo do México, mas precisamente em Mobile, Alabama. Töri pulou do navio e nadou até a praia. Do Alabama viajou para Nova York, sendo acolhido pela comunidade finlandesa e trabalhando em várias profissões.

Em 1953, Törni obteve uma autorização de residência por meio de um Ato do Congresso que foi conduzido pelo escritório de advocacia de William Donovan, ex-chefe do Escritório de Serviços Estratégicos (antecessor da CIA) durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1954, conforme previsto na Lei Lodge-Philbin, Lauri Törni se alistou nos Exército dos EUA  e adotou o nome de Larry Thorne. No Exército, incorporou no Fort Dix, New Jersey. A média de idade de seus companheiros era de 19 anos, enquanto a dele era de 35, o que não deixava de impressionar pela forma física e capacidade técnica. No Exército norte-americano fez os cursos: Mountain Arid Cold Weather Survival Course (Curso de Sobrevivência em Montanha e Clima Frio), no Colorado; paraquedista, no Fort Benning, na Geórgia, e obtendo então a qualificação em HALO (High Altitude Low Opening). Em 1957, como integrante de uma divisão de tropas aerotransportadas foi servir no 1º Grupo Especial de Guerra, em Bad Tölz, na Alemanha Ocidental.

Em 1957, Thorne se tornou cidadão norte-americano e foi designado para frequentar o curso de formação de oficiais na Officer Candidate School, após o término comissionado como primeiro-tenente no Signal Corps, posteriormente, recebeu uma comissão no Exército. Em 1960, foi promovido promoção a capitão.

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De 1958 a 1962, Thorne serviu no 10º Grupo de Forças Especiais em Bad Tölz. Nesse período cumpriu uma missão importante a busca e recuperação de equipamentos sensíveis de um U-2 que havia caído nas montanhas Zagros, no Irã, o que lhe rendeu uma reputação notável, pois várias outras equipes haviam falhado na localização e no resgate.

Em 1963, Thorne foi designado para o Destacamento de Forças Especiais A-734 estacionado no distrito de Tịnh Biên e designados para operar o Civilian Irregular Defense Group (CIDG) acampamentos em Châu Lăng e mais tarde em Tịnh Biên, no Vietnã do Sul. Durante um ataque do vietcong ao acampamento CIDG, em Tịnh Biên, e em operações na região de Phan Chau, no comando de destacamento de operações especiais Thorne por sua conduta corajosa e destemida em combate recebeu além dos ferimentos, duas medalhas Purple Heart e uma medalha de Silver Star por bravura durante a batalha. Dada a idade e as muitas cicatrizes no corpo, quando recebeu alta do hospital, ofereceram-lhe a oportunidade de assumir um cargo burocrático, que ele recusou terminantemente.

Em 1965, Thorne voltou ao Vietnã para servir no 5th special Forces Group, posteriormente ele então foi designado conselheiro militar no Military Assistance Command, Vietnan – Studies and Observations Group (MACV–SOG), uma unidade de operações especiais dos EUA com foco na guerra irregular no Vietnã.

https://www.reddit.com/r/Colorization/comments/k0ppfc/
lauri_t%C3%B6rni_larry_thorne_when_he_was_serving_as_a/

4 – Acidente e Morte

Em 18 de outubro de 1965, Thorne estava supervisionando a primeira missão da Operation Shining Brass, que tinha como objetivo localizar pontos de infiltração dos vietcongues ao longo da trilha de Ho Chi Minh e destruí-los com ataques aéreos. O grupo era constituído por dois helicópteros CH-34 Choctaw da Força Aérea sul-vietnamita (que foram lançados do Campo de Forças Especiais norte-americano, em Kham Duc) e um Cessna O-1 Bird Dog Forward, da Força Aérea norte-americana, que funcionaria como controle aéreo. O voo aconteceu em um clima tempestuoso em uma área montanhosa do distrito de Phước Sơn, na província de Quảng Nam, a 40 km de Da Nang, Vietnã. Enquanto um CH-34 descia para deixar a equipe de seis operadores de forças especiais, o CH-34 carregando Thorne e o O-1 ficaram voando por perto. Quando o helicóptero de lançamento voou acima da cobertura de nuvens, tanto o CH-34 quanto o O-1 haviam desaparecido. As equipes de resgate não conseguiram localizar o local do acidente. Pouco depois de seu desaparecimento, Thorne foi promovido ao posto de major e condecorado postumamente com a Legião do Mérito e a Distinguished Flying Cross. Os restos mortais de Thorne e da tripulação só foram encontrados em 1999 e seus restos mortais foram enterrados no Cemitério Nacional de Arlington em 2003.

Imagem de Destaque: https://www.youtube.com/watch?v=0_p5jFDqu3M

Bibliografia

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/lauri-torni-o-heroi-de-guerra-que-lutou-por-tres-paises-diferentes.phtml

https://en.wikipedia.org/wiki/Lauri_T%C3%B6rni

https://www.defensa.com/ayer-noticia/lauri-trni-desde-finlandia-vietnam-silencioso-camino-heroe

Lauri Törni (Larry Thorne) when he was serving as a Green Beret during the Vietnam war from Colorization

Filmete no YouTube:

O mortífero soldado que lutou em 3 exércitos Lauri Allan Törni: https://www.youtube.com/watch?v=0_p5jFDqu3M

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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