Excesso de generais e staffs inflacionados reduzem a capacidade operacional das forças armadas
Recente artigo escrito pelo pesquisador e professor no Instituto de Estudos Estratégicos do U.S. Army War College, John R. Deni, traz um panorama sobre o Exército dos Estados Unidos, que enfrenta dificuldades para atender às exigências da Estratégia de Defesa Nacional com a atual quantidade de pessoal autorizada. O conteúdo está disponível no portal The Defense One.
Um dos principais problemas apontadors pelo analista é o aumento do número de quartéis-generais e de funcionários, muitos dos quais não existiam nem durante a Segunda Guerra Mundial, nem nos anos 1990. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, o número de funcionários do Exército cresceu 60%, e a expansão dos quartéis-generais se espalhou por toda a força. Essa proliferação de sedes consome recursos que seriam necessários para as unidades de combate. Além disso, não se pode demonstrar que a criação de múltiplos grandes quartéis-generais tenha tornado o Exército mais eficaz ou eficiente em suas funções.
Um exemplo claro dessa expansão burocrática é o Comando de Gestão de Instalações do Exército (IMC, na sigla em inglês), criado em 2006. Sua missão é “reduzir a burocracia, aplicar uma estrutura uniforme de gestão das instalações do Exército dos EUA, preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da comunidade militar”. O IMC é liderado por um tenente-general, com um major-general como vice e um brigadeiro-general como chefe de estado-maior. O comando conta com 30 mil soldados e 70 mil civis. Antes de sua criação, as instalações militares eram administradas por comandantes de guarnição, que se reportavam aos generais locais. A teoria por trás da centralização dessa função era padronizar os processos e aumentar a expertise. No entanto, na prática, os resultados ficaram aquém das expectativas, e o Exército vive uma “crise” na gestão dessas instalações nos últimos anos.
Outro exemplo relevante é o Corpo de Aquisições do Exército, criado em 1989, que atualmente emprega 1.600 oficiais comissionados e muitos outros civis de alto escalão. Desde sua criação, o Exército fracassou em diversos programas de aquisição, desperdiçando bilhões de dólares em iniciativas como o Sistema de Artilharia de Campo Crusader, o Sistema de Combate Futuro, o Veículo de Combate Terrestre, o helicóptero RAH-66 Comanche e o sistema de Artilharia de Canhão de Alcance Estendido XM1299, entre outros. Nenhum programa significativo do Exército foi bem-sucedido desde os anos 1980, uma situação que um ex-secretário do Exército descreveu como uma “história de fracasso”. Em 2018, o Exército criou o Comando de Futuros (Futures Command), adicionando outro grande quartel-general de 4 estrelas para supervisionar uma já extensa estrutura de aquisição, que inclui o Centro de Futuros e Conceitos do Exército, o Comando de Desenvolvimento de Capacidades de Combate do Exército e seus laboratórios de batalha associados, o Comando de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia do Exército, e a Atividade de Análise de Sistemas Materiais do Exército, entre outros. Apesar dessa enorme infraestrutura, o desempenho do Exército nessa área continua aquém.
A expansão do número de quartéis-generais e de pessoal também está acompanhada de uma tendência de “superoficialização” das forças armadas, o que é um fator significativo no aumento dos custos com pessoal desde 2001. Em 2024, um em cada seis soldados será oficial (um aumento de 21% desde 2000). Cerca de um terço do orçamento do Exército é destinado ao pagamento de oficiais e suas regalias. Entre 1965 e 2018, o número de oficiais-generais nas Forças Armadas dos EUA como porcentagem do total de pessoal aumentou 46%, o número de oficiais 4 estrelas subiu 114%, e o de oficiais 3 estrelas aumentou 149%. Essa inflação deliberada de postos e a sobrecarga de pessoal contribuem para uma cultura burocrática que exige relatórios constantes dos comandantes juniores. Um estudo do Army War College revelou que os comandantes estão sobrecarregados com “uma quantidade sufocante de exigências obrigatórias”, a ponto de não conseguirem cumpri-las, levando-os a recorrer à evasão desonesta. Essa situação provavelmente contribui para o êxodo de jovens oficiais, frustrados pela carga administrativa excessiva que dificulta o cumprimento de sua principal missão: treinar soldados para o combate.
Em resumo, o Exército dos Estados Unidos deveria fechar organizações que não sejam essenciais, reduzir a proporção de oficiais em relação ao número de praças e simplificar suas estruturas burocráticas inchadas. Essas medidas aumentariam o número de vagas disponíveis para unidades operacionais, diminuiriam os requisitos de relatórios desnecessários, reduzirão os custos com pessoal e aumentarão a produtividade e a eficiência dos quartéis-generais que permanecem. O setor privado adota a filosofia de ser mais enxuto e menos hierarquizado – e essas são prioridades claras para a administração que está por vir. O Exército dos EUA deveria seguir esse exemplo.
Fonte: The Army is too top-heavy – Defense One