Os Indígenas Brasileiros integrantes da FEB na Segunda Guerra Mundial

de

Profº. Esp. Pedro Silva Drummond

A Segunda Guerra Mundial teve início em 1939, e durante os primeiros anos de combate o continente americano, teve pouca participação no conflito, principalmente o sul-americano. Nações como EUA e Brasil, enxergavam no conflito, uma oportunidade de fazer comércio. Essa visão começou a mudar após, o ataque a Pearl Harbor, quando os Estados Unidos entraram na Guerra e a postura do Brasil alterou-se em 1942, após a Reunião de Chanceleres do Rio de Janeiro, 28 de Janeiro de 1942, quando rompeu relações diplomáticas com a Alemanha.

Após o Brasil romper relações diplomáticas com a Alemanha em Janeiro de 1942 e os ataques aos navios brasileiros por parte da marinha alemã, a Nação decretou o Estado de Beligerância em 22 de Agosto de 1942, e dias depois, o Estado de Guerra em, 31 de Agosto de 1942.

Durante os meses seguintes iniciaram-se os diálogos sobre o envio de um contingente para a Guerra. As conversações só terminaram em 1943, quando a FEB (Força Expedicionária Brasileira) foi constituída e o envio das primeiras tropas ocorreu em 30 de Junho de 1944.

Durante a formação e o envio dos 25 mil integrantes da FEB para Itália, os expedicionários que participaram do conflito, eram originários de todas as regiões do Brasil, Francisco César Ferraz caracteriza esse militar: “o retrato mais fiel do Brasil: jovens trabalhadores rurais e urbanos, provenientes das classes populares, entremeados com alguns membros da classe média e poucos membros da elite. Sua escolaridade média era baixa”. (apud Iervolino, 2011, p.38)

Dentro desse contingente que foi destinado para Itália, será analisado um pequeno grupo do total enviado, que são os indígenas. O Brasil teve dentro das suas forças militares alguns indígenas que participaram das batalhas no teatro de operações.

Indígenas na Guerra

Em meio aos militares enviados pelo Brasil na Itália, é encontrado pessoas de diversas regiões do País e origens, como os povos indígenas, como cita Paula Sperb: “Entre os cerca de 25 mil de soldados brasileiros que combateram as tropas nazistas de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) estavam dezenas de indígenas, de etnias como terena, cadiueu, kinikinau e guarani.” (SPERB)

O Pesquisador Geral Duarte Ferreira ainda destaca o perfil desses indígenas no Teatro de Operações: “Vucápanavo Brasil, ou seja, vamos para frente Brasil, traduzido do idioma Terena, era o lema daqueles índios que empunharam a bandeira brasileira ao lado dos civilizados que falavam uma língua tão estranha. […] Os índios trabalharam na remoção e balizamento de campos minados, desobstrução de túneis, conservação de estradas e construção de pontes. Eles tiveram que se adaptar como soldados e índios às intempéries do tempo e às condições do território inimigo.” (CEZAR, 2017, p. 17).

Em relação ao recrutamento dos indígenas para a FEB, Diunes de Araujo Cezar, explica: “Quanto ao recrutamento, a literatura trata como alistamento voluntário e convocação, no qual, a partir de algumas leituras e pesquisas, pode-se dizer que ultrapassa o sentido de apenas convocação, chega a ser um recrutamento coercitivo. A rara bibliografia nacional, que versa sobre o indígena na 2ª GM, não explica com aprofundamento os passos do processo de recrutamento.” (CEZAR, 2017, p. 18).

Diunes de Araujo Cezar ainda destaca sobre a questão do recrutamento: “foram convocados os indígenas que já haviam prestado serviço militar, os chamados “reservistas”, e voluntários (novatos) que não tinham os conhecimentos militares”. (CEZAR, 2017, p. 18).

https://informaparaiba.com.br/2021/01/09/indigenas-brasileiros-lutaram-contra-nazistas-na-segunda-guerra-mundial/

Quanto ao número de indígenas que integraram a FEB, é ainda incerto, porém, alguns número são conhecidos, como explica a Revista Verde-Oliva: “Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1943, vários índios Terena foram convocados para incorporar no 9º BECmB. Após exames médicos, foram convocados: Aurélio Jorge, Dionísio Lulu, Leão Vicente, Irineu Mamede, Honorato Rondon, Antônio Avelino da Silva, Pedro Belizário Pereira e Natalino Cardoso; todos da Aldeia Bananal; Venceslau Ribeiro, de Nioaque; Olímpio de Miranda; Rafael Dias, da Aldeia Limão Verde; Otavio, índio Kadiwéu; e Antônio da Silva, Dionísio Dulce Leão Vicente, da Aldeia Água Branca. Outros dois índios Kinikinao, da Aldeia de Lalima, foram mortos e não identificados até então. Algumas dessas informações sobre etnias ainda estão em checagem no Arquivo Histórico do Exército”. (Revista Verde-Oliva, 2015, p.65).

Quanto ao envolvimento dos índios no conflito Diunes de Araujo Cezar explica: “é de desconhecimento quase geral da população brasileira. Se, por um lado, foram “oficialmente invisibilizados”, por outro lado, podemos afirmar que “oficialmente” não foram segregados, discriminados ou qualquer outra forma de diferenciação.” (CEZAR, 2017, p. 22).

Soldados da FEB (Força Expedicionária Brasileira) exibem bandeira nazista capturada em 1945 com a rendição de 20.000 alemães às tropas brasileiras. Divulgação/ Museu Marechal José Machado Lopes
https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1686446655477556-indigenas-brasileiros-lutaram-contra-nazistas-na-segunda-guerra-mundial

Conclusão

A participação do militar brasileiro na Segunda Guerra Mundial foi composto de diversos grupos, desde o oficial de carreira das Forças Armadas até o filho do imigrante e o indígena, que em muitos casos não acompanhavam com interesse o debate se o Brasil deveria ou não entrar no conflito.

Quanto ao envolvimento do índio, foi em um número reduzido, porém, não significa que não houve importância. Esses indígenas febianos, assim como todos os outros brasileiros, que partiram para a Itália saíram do País para lutar em nome do Brasil e merecem o reconhecimento.

Reconhecimento esse que o soldado brasileiro teve pouco em relação ao governo. A FEB antes mesmo de chegar ao Brasil, foi desmobilizada, e muitos dos soldados foram ignorados pelos governantes, após a chegada ao País.

Imagem de Destaque: Venceslau Ribeiro (à direita): indígena chegou ao posto de segundo sargento na FEB e lutou contra os nazistas na Itália na Segunda Guerra Mundial. Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército/Divulgação

https://www.historianopaint.com/2021/01/indigenas-brasileiros-lutaram-na-feb.html

Bibliografia

– CEZAR, Diunes de Araujo. A Participação dos Índios da Região de Aquidauana na Segunda Guerra Mundial: Memórias de Guerreiros e Soldados. Trabalho de Conclusão de Curso (Lato Sensu). Universidade do Sul de Santa Catarina, Santa Catarina, 2017.  

– Diretrizes do Estado Novo (1937 – 1945). O Brasil na guerra. Disponível em: <https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos37-45/OBrasilNaGuerra#:~:text=O%20Brasil%20na%20guerra%20%7C%20CPDOC&text=Em%20s%C3%ADntese%3A%20Em%20repres%C3%A1lia%20ao,foram%20torpedeados%20por%20submarinos%20alem%C3%A3es.>

– Iervolino, Ana Paula. A participação de teuto-brasileiros na FEB (1944-1945): Memória e Identidade (Dissertação de Mestrado). Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2011.

– Revista Verde-Oliva. Os Índios Terena na Campanha da Itália. Centro de Comunicação Social do Exército. Brasília-DF, Ano XLII, nº228, julho 2015.

– SPERB, Paula. Índios brasileiros lutaram contra nazistas na Segunda Guerra Mundial. Disponível em: <https://www.defesanet.com.br/ecos/noticia/39256/Indigenas-brasileiros-lutaram-contra-nazistas-na-Segunda-Guerra-Mundial-/>

Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.

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