Prof. Esp. Pedro Silva Drummond
Nos primeiros meses de 1944, os Aliados planejavam um ataque às tropas alemãs, esse novo ataque, seria feito pelos Países Ocidentais, a URSS já travava um duro conflito contra a Alemanha, no lado oriental. A decisão final é que o destino do ataque aliado seria a França, no que ficou conhecida como a Batalha da Normandia, no dia 06 de Junho de 1944, “Dia D”.
O planejamento para a invasão e conquista da França pelos Aliados, necessitava abranger conquistas de locais importantes, para o desembarque de tropas e materiais, que não somente as praias da Normandia.
O Estado-Maior Aliado entendia que era necessário garantir um porto de águas profundas para permitir o transporte de reforços e materiais, sem esse local, seria necessário levar tudo para a Inglaterra, para que pudesse ser transportando em navios menores, consequentemente em menor quantidade, para que os materiais chegassem à França em regiões com águas pouco profundas. A região escolhida foi Cherbourg , no extremo norte da Península de Cotentin, que tinha um porto com águas profundas e acessível para o desembarque dos Aliados.
A Batalha de Cherbourg fez parte do contexto das invasões Aliadas na França, em junho de 1944, com o objetivo de expulsar os alemães do território e avançar para a Alemanha, a fim de derrotar Hitler e acabar com a Segunda Guerra Mundial na Europa.
A Batalha
No dia 06 de Junho, “Dia D”, aconteceu o lançamento dos paraquedistas da 82ª e 101ª Divisões Aerotransportadas na Praia de Utah, o objetivo era garantir o desembarque das tropas na praia e posteriormente, preparar o terreno para a captura da Península de Cotentin e da cidade portuária de Cherbourg.
O comando das tropas responsáveis pela conquista de Cherbourg, VII Corpo de Exército do Primeiro Exército, coube ao Major-General Joseph Lawton Collins. Collins era “apelidado de “Lighting Joe” por sua perseguição implacável às forças japonesas durante a campanha de Guadalcanal, quando comandou a 25ª Divisão de Infantaria”. O objetivo de Collins era “avançar sobre Cherbourg logo após pousar em Utah Beach. Se Cherbourg pudesse ser tomada rapidamente, talvez não fosse necessário isolar completamente a península num ataque demorado através da sua base.” (Blumberg)
A decisão do ataque de Cherbourg foi outra, o comandante do Primeiro Exército, General Omar Bradley, decidiu avançar para oeste, dividindo as forças inimigas no Cotentin e isolando Cherbourg no processo. No dia 07 de Junho, o V e VII Corpo se uniram, para avançar aos objetivos planejados, “o vale inundado do rio Douve foi cruzado em 9 de junho, e a cidade de Carentan foi protegida nove dias depois pela 101ª Divisão Aerotransportada, após uma luta de oito dias contra a resistência tenaz do 6º Regimento de Pára-quedistas alemão.” (Blumberg)
As forças alemãs “preocupadas com a ameaça de um avanço para Cherbourg, … ordenaram que a 77ª Divisão de Infantaria, então vinda da Bretanha, seguisse para Valognes, a sudeste de Cherbourg. O 77º de menor força (10.000 homens em dois regimentos de granadeiros) ostentava apenas 16 peças de artilharia de campanha e 12 canhões antitanque pesados. Apenas dois de seus batalhões de infantaria lutariam a noroeste de Utah Beach; um terceiro foi anexado à guarnição de Cherbourg, dentro da cidade. (Blumberg)
Mesmo com as dificuldades impostas pelos alemães, as forças norte-americanas continuavam avançando. “Em 16 de junho, as 82ª e 9ª Divisões, usando dois regimentos cada como suas principais forças de assalto, cruzaram o Douve perto da cidade de St.-Sauveur-le-Vicomte. No dia seguinte, dois batalhões do 47º Regimento de Infantaria, 9ª Divisão de Infantaria, protegeram a área ao redor de St.-Lo-d’Ourville, perto da costa oeste, e no dia 18 o Cotentin foi efetivamente isolado pelo VII Corpo de exército.” (Blumberg)
Após o isolamento de Cotentim, Bradley e Collins elaboraram um plano para tomar Cherbourg. O planejamento era usar “três divisões em uma formação lado a lado: 4ª Divisão à direita, 79ª Divisão de Infantaria no centro e 9ª Divisão de Infantaria. no flanco esquerdo. Junto com as unidades de tanques e caça-tanques normalmente atribuídas a cada divisão de infantaria, suporte blindado adicional deveria ser fornecido pelos dois esquadrões do 4º Grupo de Cavalaria. Além dos batalhões de canhões divisionais orgânicos, uma pontuação de batalhões de artilharia pesada de 105 mm e 155 mm do VII Corpo de exército e do Primeiro Exército ajudaria na redução da Fortaleza de Cherbourg.” (Blumberg)
Em Chernourg, as forças alemães, lideradas pelo tenente-general von Schlieben eram: “estimadas em 25.000 homens. Esperava-se que outros 15.000 combatentes inimigos fossem acrescentados na forma de refugiados dos combates ocorridos entre o desembarque dos Aliados na Normandia e o isolamento da península pelos americanos. Acreditava-se que a maioria dos defensores alemães eram membros da Luftwaffe e da Marinha, tripulações antiaéreas e trabalhadores da Organização Todt.” (Blumberg)
No dia 22 de Junho teve início o ataque: “o bombardeio aéreo começou às 12h40. Um total de 562 caças-bombardeiros foram envolvidos em ondas sucessivas a cada 5 minutos. Das 13h00 às 13h30, os regimentos das 4ª e 9ª divisões de infantaria deixaram claro que foram submetidos ao fogo amigo destas aeronaves e que as perdas eram deploráveis. Apesar de tudo, o ataque terrestre é desencadeado às 14h00 enquanto 387 bombardeiros ligeiros e médios bombardeiam 11 baterias alemãs durante um total de 55 minutos. Se os ataques aéreos baixarem o moral do adversário e danificarem as suas redes de comunicação, não afetam as construções adversas que permanecem intactas na sua maior parte. O progresso das unidades no terreno é lento e difícil: cada aldeia e cada ponto alto entre a primeira e a segunda linha de defesa é um sólido ninho de resistência que os americanos lutam para reduzir.” (https://www.dday-overlord.com/en/battle-of-normandy/cities/cherbourg)
Em 24 de junho, “todos os regimentos das três divisões americanas (exceto o 8º IR atrasado antes de La Glacerie) estão posicionados nas alturas às portas de Cherbourg. Enquanto isso, os Aliados criaram uma força naval composta por 18 navios de guerra (3 navios de guerra, 2 cruzadores pesados, 2 cruzadores leves e 11 destróieres) reforçada por 3 esquadrões de caça-minas e a 159ª Flotilha de varredura de minas. Esses edifícios, retirados do dispositivo já instalado ao largo da Normandia desde 6 de junho, estão reunidos sob o nome de Força-Tarefa Combinada 129 e são comandados pelo Contra-Almirante Morton Deyo. Esta frota deve permitir silenciar as baterias costeiras da fortaleza de Cherbourg, ao mesmo tempo que realiza apoios de fogo em benefício da infantaria.” (https://www.dday-overlord.com/en/battle-of-normandy/cities/cherbourg)
Nos dois dias seguintes os conflitos continuaram (25 e 26 de junho), no dia 26 de junho, “a 9ª Divisão de Infantaria se encarrega de limpar a parte oeste e a 79ª Divisão de Infantaria cuida do centro: a praia é alcançada às 8 horas pelo 313º IR, Mas os combates continuaram durante todo o dia nos arredores e dentro do Fort du Roule até a rendição dos cem alemães ali presentes. O 1º batalhão do 47º IR da 9ª Divisão de Infantaria é detido ao nível do arsenal enquanto o 2º batalhão toma o hospital onde foram tratados quase 150 americanos feridos. O 3º batalhão avança com o apoio de tanques próximos ao estádio e ao cemitério que os alemães minaram. O 39º IR que se infiltra vindo de Octeville e seu 2º batalhão chega à prefeitura onde 400 soldados alemães se rendem. Na noite de 26 de junho, 10 mil soldados inimigos foram capturados mas o arsenal ainda resistiu aos americanos que decidiram esperar até o dia seguinte para lançar novos assaltos.” (https://www.dday-overlord.com/en/battle-of-normandy/cities/cherbourg)
No dia 27 de junho, os últimos alemães se rendem, pondo fim aos combates na região e libertando Cherbourg do domínio da Alemanha.
Conclusão
A Batalha de Cherbourg, “custou à vida de 2.800 soldados americanos e cerca de 7.500 soldados alemães. O VII Corpo de exército do General Collins também registrou a perda de 5.700 desaparecidos e 13.500 feridos, enquanto os alemães têm 39.000 prisioneiros.” (https://www.dday-overlord.com/en/battle-of-normandy/cities/cherbourg)
Após a conquista de Cherbourg, engenheiros foram enviados para o local, com o propósito, de reparar os danos causados pelos alemães, que durante o conflito pela região, causou diversos danos do porto, com o objetivo de impedir a utilização das instalações portuárias.
A utilização do porto de Cherbourg, só voltou a acontecer em 17 de julho, quando “o primeiro navio aliado descarrega a sua carga. Os numerosos suprimentos que se seguem servem para abastecer a logística de guerra americana porque as necessidades são muito importantes: as 28 divisões aliadas envolvidas na Batalha da Normandia precisam cada uma de 750 toneladas de reabastecimento por dia, um total diário de 12.500 toneladas. Para manter este esforço de guerra constante, uma rota logística especial conhecida como “Red Ball Express” é selecionada para acomodar o fluxo permanente de veículos que transportam suprimentos. Seu ponto de partida é em Cherbourg e fica diretamente no centro de carga localizado em Saint-Lô. Os veículos carregaram a sua carga a partir de 24 de Agosto de 1944 (reunidas em 67 empresas de transporte, totalizando 132 em 29 de Agosto) e depois viajaram nesta estrada onde são prioritárias e os civis não podem emprestar, para os sucessivos depósitos da linha da frente.” (https://www.dday-overlord.com/en/battle-of-normandy/cities/cherbourg)
Durante todo o resto da Segunda Guerra Mundial, os EUA controlaram o porto e a cidade de Cherbourg, somente com o fim da guerra, os norte-americanos deixaram a cidade e entregaram aos franceses, no dia 14 de outubro de 1945.
Imagem de Destaque: Vista de Cherbourg com o porto à distância – https://warfarehistorynetwork.com/article/d-day12-assault-on-cherbourg/
Bibliografia
– BLUMBERG. Arnold. Dia D +12: Ataque a Cherbourg. Disponível em: <https://warfarehistorynetwork.com/article/d-day12-assault-on-cherbourg/>. Acessado em 13/10/2023.
– Cherburgo (Mancha). As cidades da Normandia durante as batalhas de 1944. Disponível em: <https://www.dday-overlord.com/en/battle-of-normandy/cities/cherbourg>. Acessado em 13/10/2023.
– A batalha de Cherburgo. Disponível em: < https://www.liberationroute.com/pois/985/the-battle-of-cherbourg>. Acessado em 13/10/2023.
– Lutas esquecidas: assalto à fortaleza Cherbourg, junho de 1944. Disponível em: <https://www.nationalww2museum.org/war/articles/assault-on-fortress-cherbourg-june-1944>. Acessado em 13/10/2023.
– KNIGHTON, Andrew. Batalha da América por Cherbourg, junho de 1944. Disponível em: <https://www.warhistoryonline.com/world-war-ii/americas-battle-for-cherbourg.html>. Acessado em 13/10/2023.
Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.