Operação Midnight Hammer representa um golpe estratégico ou início de uma nova fase?

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No sábado, 21 de junho, os Estados Unidos realizaram uma ofensiva coordenada contra três instalações diretamente ligadas ao programa nuclear iraniano. A ação, denominada Operação Midnight Hammer, mobilizou sete bombardeiros B-2, mais de 125 aeronaves de apoio e mais de vinte mísseis de cruzeiro Tomahawk. Em coletiva no dia seguinte, o chefe do Estado-Maior Conjunto, general Dan Caine, destacou a dimensão inédita da operação, que marcou a primeira utilização em combate da bomba GBU-57 Massive Ordnance Penetrator (MOP) — um armamento projetado especificamente para atingir alvos profundamente enterrados.

Embora o Irã não disponha atualmente de uma ogiva nuclear, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) informou recentemente que o país acumulou material físsil suficiente para produzir até nove artefatos nucleares, caso opte pela militarização. O ataque, portanto, teve como provável objetivo impedir que Teerã amplie seu estoque de urânio altamente enriquecido ou eleve sua pureza ao patamar de 90%, limiar técnico para aplicações bélicas.

Alvos estratégicos: Fordow, Natanz e Isfahan

A ofensiva atingiu dois centros de enriquecimento de urânio — Fordow e Natanz — além do complexo nuclear de Isfahan. Fordow e Natanz são as únicas instalações de enriquecimento em funcionamento conhecidas no país. Entretanto, dias antes dos primeiros ataques israelenses em junho, o governo iraniano revelou que uma terceira unidade estava em fase final de construção, possivelmente localizada em Isfahan, segundo avaliação do diretor da AIEA, Rafael Grossi.

Natanz já havia sido alvo de um ataque israelense em 13 de junho, que comprometeu sua infraestrutura de centrifugação, fornecimento de energia e instalações auxiliares. Na mesma data, o complexo de Isfahan — responsável por atividades como conversão de urânio, fabricação de combustível, metalurgia e produção de centrífugas — também foi parcialmente atingido.

Na operação norte-americana de 21 de junho, apenas Fordow e Natanz foram bombardeadas com o uso de MOPs lançadas por B-2s. Isfahan, por sua vez, foi atingida exclusivamente por mísseis Tomahawk lançados a partir de um submarino dos EUA. Aparentemente, o grau de proteção antiaérea em Isfahan e a natureza dos alvos tornaram desnecessário o uso de armas de penetração profunda.

Fordow: símbolo da resiliência e ambição iranianas

Fordow é uma instalação fortemente protegida, situada sob uma montanha a 29 km de Qom, projetada para resistir a ataques aéreos. Com cerca de 54 mil m², abriga aproximadamente 3 mil centrífugas, entre modelos IR-1 e IR-6. O local ganhou ainda mais relevância após o colapso do acordo nuclear de 2015 (JCPOA), quando o Irã retomou suas atividades de enriquecimento — alcançando 60% de pureza, muito além do necessário para fins civis.

Antes do ataque de junho, analistas indicavam que apenas os Estados Unidos possuíam capacidade bélica suficiente para causar danos relevantes a Fordow. O emprego das MOPs, com 13 toneladas e capacidade de penetrar instalações subterrâneas, foi a resposta direta a esse desafio.

Avaliação dos danos: sucesso parcial?

Logo após a ofensiva, o presidente Donald Trump declarou que as instalações iranianas haviam sido “completamente obliteradas”. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, classificou a operação como um “sucesso impressionante”. Já o general Caine evitou detalhar os danos, afirmando que avaliações mais precisas ainda estavam em andamento.

Fontes israelenses ouvidas pelo New York Times afirmaram que Fordow sofreu danos substanciais, mas não foi totalmente destruída. Há também especulações de que o Irã tenha removido parte do urânio armazenado da instalação dias antes do ataque. Imagens de satélite datadas de 19 de junho mostram movimentações defensivas ao redor de Fordow, incluindo o fechamento de entradas com rochas e areia — o que pode ter dificultado os impactos diretos.

Além disso, medidas técnicas como o preenchimento da sala de centrífugas com gás inerte poderiam ter sido adotadas como forma de evitar a dispersão de substâncias tóxicas e limitar o risco de contaminação, dificultando a retomada das operações.

O enigma do estoque remanescente

Segundo a AIEA, o Irã possui cerca de 400 kg de urânio enriquecido a 60%, um volume preocupante do ponto de vista da proliferação nuclear. Esse material estava, até recentemente, armazenado em Isfahan. A localização atual é incerta. Se não for destruído ou neutralizado, esse estoque continua sendo um trunfo estratégico para Teerã — que poderá retomar o enriquecimento para fins militares em instalações ocultas ou reconstruídas.

A persistência desse urânio de alto teor representa um dos principais riscos geopolíticos no curto prazo. A comunidade internacional intensificará seus esforços de inteligência para rastrear o paradeiro desse material e evitar sua conversão em armamento.

E agora?

As declarações iniciais de autoridades norte-americanas indicam que a operação teve caráter pontual. Tanto o presidente Trump quanto o secretário de Defesa ressaltaram que Washington não busca uma escalada militar com o Irã, mas sim o enfraquecimento de sua capacidade de produzir armas nucleares. Ainda assim, a resposta iraniana será determinante para o desdobramento da crise.

Há indícios de que o Parlamento iraniano votou pelo fechamento do Estreito de Hormuz — rota que movimenta cerca de 20% do petróleo global. A decisão final, no entanto, cabe ao Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã.

Historicamente, o regime iraniano tem alternado entre retaliações simbólicas e gestos de contenção. Após a morte de Qasem Soleimani em 2020, por exemplo, o Irã atacou bases norte-americanas no Iraque, mas deu sinais prévios que permitiram a evacuação e evitaram baixas.

Se seguir essa mesma lógica, Teerã poderá retaliar de forma calculada, buscando preservar sua imagem interna e externa sem provocar uma guerra em larga escala. O equilíbrio entre demonstração de força e prudência será, mais uma vez, o fio condutor das próximas decisões.

*Artigo originalmente publicado no portal The Center for Strategic and International Studies (CSIS), com autoria de Joseph Rodgers – vice-diretor e pesquisador do Projeto sobre Questões Nucleares. https://www.csis.org/analysis/what-operation-midnight-hammer-means-future-irans-nuclear-ambitions

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