A Guerra de Drones da Ucrânia contra a Rússia

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Mark Galiotti, da Spector, afirma que Vladimir Putin vendeu a Guerra contra a Ucrânia para o povo russo como uma necessidade de segurança a uma ameaça existencial contra um Ocidente expansionista e agressivo e os ucranianos como um instrumento dos Estados Unidos e da OTAN contra a Rússia.

Ao mesmo tempo, Putin fez vários pronunciamentos afimando que a guerra seria feita longe das fronteiras e o povo russo estaria em segurança em seu território. No entanto, Kiev, cada vez mais parece querer levar a guerra até a Rússia, fazendo ataque midiáticos, que provocam poucas perdas, mas tem um grande efeito psicológico como  o ataque com drones realizado nos arredores de Moscou.

https://www.turbosquid.com/pt_br/3d-models/ukrjet-uj22-airborne-drone-3d-1942296

O drone foi identificado como um Ukrjet UJ-22 de fabricação ucraniana, capaz de carregar até 20 kg de explosivos, com uma velocidade  de cruzeiro de 120 Km/h, operando num teto máximo de 6 mil metros. O alcance guiado remotamente é de 100 km, mas pode voar de forma autônoma até 800 km

Em 28 de fevereiro de 2023, um Ukrjet UJ-22 caiu perto de uma estação de distribuição de gás 60 milhas a sudeste de Moscou. Isso fica a mais de 300 milhas do território ucraniano mais próximo – e muito perto do conforto de Putin.

O Ukrjet UJ-22 é drone multipropósito tem um alcance de quase 500 milhas, mas só pode ser controlado diretamente dentro de 100 milhas, provavelmente estava voando baixo e operando em uma rota pré-programada, quando esbarrou em algumas copas de árvores e caiu. Tu-141

https://eurasiantimes.com/tupolev-attacks-tupolev-ukraines-tu-141-strizh-likely-behind/

Esta não é a primeira vez que a Ucrânia lança ataques contra a Rússia continental. Em dezembro, por exemplo, parece ter estado por trás de dois ataques de drones Strizh (Tupolev Tu-141), um UAV de reconhecimento que foi reconfigurados para ataque a base aérea Engels-2 em Saratov, cerca de 563 km dentro do território russoa.

O Tupolev Tu-141 tem uma velocidade de cruzeiro de mil kilmetros por hora e um alcance de mil kilometros ê um teto de serviço de 6 km. Foram produzidos cerca de 152 entre 1979-1989.

No entanto, este último ataque foi mais próximo do Kremlin e fazia parte de uma série de ataques simultâneos. Os drones também atingiram um depósito de petróleo da Rosneft em Tuapse, na região sul de Krasnodar, perto do principal porto e base naval de Novorossiysk. Embora os ataques direcionados a alvos nas regiões de Adigeya, Belgorod e Bryansk pareçam não tenham tido os resultados esperado, os últimos ataques provocaram danos.

https://news.usni.org/2022/10/11/suspected-ukrainian-explosive-sea-drone-made-from-jet-ski-parts

Não podemos deixar de mencionar o ataque com veículos de superfície não tripulado mais conhecidos pela sigla em inglês USV (unmanned surface vehicle) na base naval de Sevastopol. O USV parece ser um jet ski que foi adaptado com carga explosiva acionado por espoletas de impacto. Os jet sky normalmente sao construídos de fibra de vidro e materiais semelhantes e tem motores potentes de alto desempenho que podem atigir mais de 110 km (ou 70 milhas). Este ataque obrigou a Frota do Mar Negro a tomar uma série de contra-medidas nos seus portos e no deslocamento das embarcações.

https://news.usni.org/2022/10/11/suspected-ukrainian-explosive-sea-drone-made-from-jet-ski-parts

Além desse USV, os ucranianos tem improvidados outros UCAVs de uso civil para atacar os russo como o SkyEye 5000 UAV anunciado como “avião de controle remoto”. O drone chinês tem 5 metros de envergadura, pode carregar até 45 kg e voar a até 150 km/h. a aeronave é feita em madeira o que ajuda a reduzir a assinatura de radar. O drone tem um alcance de apenas 10 km, mas eles podem trocar os motores, o equipamento de navegação e instalar censores, ou seja, existem inúmeras possibilidades, basta ser criativo e o que não falta são drones dos mais variados tipos e tamanhos a venda na internet.

https://meiobit.com/458631/ucrania-atacando-russia-com-drones-da-aliexpress/

Os ucranianos usam vários tipos de (“Veículo Aéreo Não Tripulado”) ou VARP (“Veículo Aéreo Remotamente Pilotado”). Estas siglas que foram criadas a partir do inglês UAV (Unmanned Aerial Vehicle) para designar os vários tipos de drones. As Forças Armadas da Ucrânia emprega seus drones para funções ISR (Intelligence, Surveillance and Reconnaissance) ISTAR (Intelligence, Surveillance, Target Acquisition and Reconnaissance) e ataque como o Leleca-100, Mavik-3, Matrix-300, Valkyrja e o Baykar Bayraktar TB2, além de vários tipos de Loitering munition conhecidos aqui no Brasil como drone kamikase.

Para saber mais sobre o emprego de UAV na Ucrânia acesse: https://historiamilitaremdebate.com.br/o-emprego-de-uav-pelas-forcas-armadas-ucranianas/  e https://historiamilitaremdebate.com.br/os-principais-drones-russos-empregados-na-guerra-da-ucrania/.

É interessante observar que a Ucrânia não tem se limitado a atacar o território russo com mísseis ou drones, mas tambem com DSRGs (Sabotage Assault Reconnaissance Group ou Destacamento de Sabotagem, Reconhecimento e Assalto) e com comandos como aconteceu recentemente em Lyubechane, na província de Briansk, fronteiriça com a Ucrânia.

Mark Galiotti escreveu que a populaçãoe parecem estar ficando nervosos com notícias de ataques com drones em território russo.

“Os relatos de um drone nos céus de São Petersburgo podem ter sido falsos, mas foram suficientes para fechar seu espaço aéreo, forçando o desvio ou cancelamento de vários voos e o lançamento de jatos interceptadores”. Mais tarde, o Ministério da Defesa afirmou que se tratava apenas de um exercício, em uma explicação retrospectiva em que poucos nas redes sociais da cidade parecem ter acreditado.

Talvez eles tenham motivos para se alarmar: pela segunda vez em uma semana, hackers invadiram os sistemas de vários canais de rádio e TV em Moscou e em várias regiões, para transmitir alarmes oficiais de que “um alerta aéreo está em vigor”. “Prossiga para os abrigos imediatamente.”

Kiev não comenta oficialmente os ataques em solo russo, mas não há dúvida de que esta é uma nova fase em suas operações. O alvo de instalações de energia – o ataque a Belgorod parece ter sido direcionado a uma subestação de eletricidade – ecoa a campanha de Moscou contra a infraestrutura ucraniana e pode ter sido um aviso de que dois poderiam jogar esse jogo. De forma mais ampla, porém, o objetivo parece ser abalar a liderança russa e também mostrar a uma ampla gama de russos que a guerra não está tão distante quanto eles poderiam ter pensado. Cortes de energia, fechamento de aeroportos e hacks de TV, afinal, só podem ser inconvenientes. Mas potencialmente afetam um grande número de pessoas, que, por sua vez, “discutem suas experiências com seus amigos e nas redes sociais, minando a tentativa do Estado de controlar a narrativa nacional”.

https://www.researchgate.net/figure/Figura-2-Putin-em-discurso-a-Assembleia-Nacional-por-ocasiao-dos-eventos-que-levaram-a_fig2_332363235

No entanto, até este momento Putin detém amplo controle sobre a mídia, vigia as redes sociais, reprime com todo o peso do Estado aqueles que se declaram opositores a guerra contra a Ucrânia. Os anúncios e a propaganda patriótica voltaram enchendo as mídas russas exortando a população se mater unida contra o inimigo. Os órgãos de imprensa oficiais e os da oposição consentida dá a Putin em certo controle sobre a narrativa.

Outro ponto é o amplo controle que Putin tem sobre o sistema de inteligência do Estado, do sistema repressor, das Forças Armadas e da elite político-econômica russa.

Mark Galiotti, do Spector, trouxe a informação que Anton Gerashchenko, conselheiro do ministro do Interior ucraniano, gabou-se de que “em breve Putin pode ficar com muito medo de se mostrar em público, já que os drones podem alcançar longas distâncias”. Sem dúvida uma bravata, que pode custar muito caro. Os drones utilizados pelos ucranianos não tem uma taxa de acerto muito grande a longas distâncias, pelo menos até agora. Além do que se Putin for alvo de um ataque direto por parte dos ucranianos, com certeza vai retaliar e tem muito mais capacidades de destruir a liderança ucraniana.

https://www.straitstimes.com/world/europe/ukraine-warns-of-emergency-blackouts-after-more-missile-hits

No entanto, os temores de Putin provavelmente estão mais relacionados a política interna e os impactos de que uma mobilização econômica e social mais profunda para a guera possa ter consequências deltérias na qualidade de vida da população.

Galioti afirma que “se ele quiser escalar ainda mais a guerra, seja mobilizando recrutas ou lançando uma nova onda de mobilizações, isso irá alarmar e desanimar ainda mais as massas. A repressão implacável e a sensação de futilidade do protesto – a apatia é a melhor amiga do ditador – conseguiram impedir qualquer resistência até agora. No entanto, ao tentar levar a guerra aos russos comuns, Kiev está presumivelmente tentando preventivamente torná-los cientes de sua escala e riscos”.

Os ucranianos estão implantando uma estratégia de alto risco com ataques com drones, que se não provocam muitos estragos tem efeito sobre o moral da população e a confiança no governo. Aliás, nós podemos afirmar que as operações militares russas na Ucrânia recebem críticas, muitas vezes muito duras, dos analistas (normalmente ex-militares) nas várias mídias.

https://www.cruzeirofm.com.br/2022/03/18/noticias/jornalismo/em-discurso-para-estadio-lotado-putin-avisa-nunca-tivemos-tanta-forca/

Até o momento, Putin tem sido cauteloso em mobilizar mais recursos para a Guerra, justamente para não sacrificar a população e perder o apoio popular, o que coloca em xeque as afirmações da Galioti.

https://estrategiaglobal.blog.br/2023/02/tropas-russas-neutralizam-drones-ucranianos-com-armas-antidrone-e-tiros.html

Mark Galiotti coloca dois pontos importantes: 1º, os ucranianos serão capazes de manter uma campanha de drones e ataques psicológicos esporádicos, mas contínuos? 2º,  o Kremlin será ágil o suficiente para deter, minimizar os estragos e as repercussões esse ataque?

Como sempre, esta é uma guerra de imaginação e política, tanto quanto de poder de fogo e manobra.

https://www.forbes.com/sites/davidaxe/2022/12/24/russia-electronic-warfare-troops-knocked-out-90-percent-of-ukraines-drones/?sh=461c557575cf

A Equipe HMD considera que a ameaça repesentada pelos diversos tipos de drones não deve ser subestimada por nenhum dos lados. Observamos que os russos estão comedidos em seus ataques que, até o momento, se limitaram as Forças Armadas Ucranianas e a infraestrutura de transporte e energia. Os ucranianos estão adotando uma estratégia semelhante em seus ataques com drones.

No entanto, nos último meses os russos tem desdobrada mais meios de guerra eletrônica e armas anti-drones no teatro de operações conseguindo mitigar muito do sucesso inicial dos ucranianos neste aspecto da guerra. Os russos alegam que conseguem abater 90% dos drones lançados, realmente uma taxa muito alta. Além disso, os russos tem implantado vários sistemas C4ISR, desenvolvido sistemas anti-drones e desencadeado operações de guerra cibernética para limitar ainda mais o emprego de drones pelos ucranianos com sucesso.  

Com relação as cidades russas, a ameaça é mais difícil de ser eliminada devido a extensão da área de fronteira comum e as possibilidades oferecidas pela ampla gama de tipos de drones que podem ser adaptados  para fins de combate.

Imagem de Destaque: https://www.spectator.co.uk/article/ukraines-drone-war-on-russia-could-backfire/

Bibliografia

GALEOTTI, Mark. Ukraine’s drone war on Russia could backfire. Spectator. 1/3/2023. Disponível no sítio eletrônico: https://www.spectator.co.uk/article/ukraines-drone-war-on-russia-could-backfire/ . Acessado em 1/3/2023

Guerra Ucrânia: o que se sabe sobre ataques com drones a alvos estratégicos dentro da Rússia. BBC Brasil. 9/12/2022. Disponível no sítio eletrônico: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63914427 . Acessado em 1/3/2023

Russia and Ukraine are fighting the first full-scale drone war. The Washington Post. 2/12/2022. Disponível no sítio eletrônico: https://www.washingtonpost.com/world/2022/12/02/drones-russia-ukraine-air-war/ . Acessado em 1/3/2023

How are ‘kamikaze’ drones being used by Russia and Ukraine? BBC. 3/1/2023. Disponível no sítio eletrônico: https://www.bbc.com/news/world-62225830 . Acessado em 1/3/2023

AXE, David. Ukraine’s drone boats are winning the Black Sea Naval War. Forbes. 20/11/2022. Disponível no sítio eletrônico: https://www.forbes.com/sites/davidaxe/2022/11/20/the-ukrainian-navy-has-no-big-warships-its-winning-the-naval-war-anyway-with-drones/?sh=7cd41eca4fc5. Acessado em 3/3/2023.

AXE, David. Russia’s Eletronic-Warfare troops knocked out 90 percent of Ukraine’s Drones. Forbes. 24/12/2022. Disponível no sítio eletrônico: https://www.forbes.com/sites/davidaxe/2022/12/24/russia-electronic-warfare-troops-knocked-out-90-percent-of-ukraines-drones/?sh=461c557575cf. Acessado em 3/3/2023.

CLARK, Bryan. The Fall and Rise of Russinan Eletronic Warfare. IEEE Spectrum. 30/7/2022. Disponível no sítio eletrônico: https://spectrum.ieee.org/the-fall-and-rise-of-russian-electronic-warfare. Acessado em 3/3/2023.

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

2 comentários em “A Guerra de Drones da Ucrânia contra a Rússia”

  1. Caro Ricardo.
    A opinião do Mark Galiotti tem mais valor do que nota de 3 yens, sobre os drones tajabara da Ucrânia o único efeito psicológico nos Russos foi rissos.
    Abraços, aprecio muito suas observações e do Rodolfo, são uma aula de conhecimento.

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