A Marcha da Insensatez

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Desde o fim da Guerra Fria, Rússia e os Estados Unidos e seus aliados tem rasgado tratados e subvertido a Ordem Internacional, desrespeitados as Leis Internacionais de acordo com os seus interesses. 

A Rússia invadiu a Ucrânia faz um mês, antes e durante todo esse período a liderança dos Estados Unidos e dos principais países europeus só tem demonstrado sua incompetência em lidar com o tema.

Vamos deixar bem claro, que nada justifica os russos terem invadido a Ucrânia. Deveriam ter esgotados todas as possibilidades de negociação diplomática a fim de superar seus problemas e encaminhar a arbitragem internacional. Mas para Moscou isso seria muita humilhação, pois trata-se da segunda maior potência nuclear do planeta. Então resolveram que, de acordo com seus interesses nacionais, a Ucrânia deveria ser punida pela insolência de contrariar os desejos da Rússia, em uma atitude típica do século XIX e do início do XX.

No entanto, a Rússia tem toda a razão em reclamar da quebra de acordos verbais ou não, sobre a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte em direção ao Leste Europeu, pois confiança e credibilidade são as bases da diplomacia e da política internacional. 

Na percepção dos russos, a Otan não foi extinta, como o Pacto de Varsóvia, porque ela é direcionada contra a Rússia. Todas as tentativas russas de se integrar economicamente, em condições de igualdade, com a Europa Ocidental foram sabotadas pelas principais lideranças europeias e norte-americanas, dos russos só interessavam as commodities e o mercado consumidor. Suas demandas de segurança foram ignoradas em cada integração (legítima diga-se de passagem) das antigas repúblicas socialistas à Otan e a UE.

Desde 1991, os Estados Unidos e seus aliados rasgaram o direito internacional promovendo guerras ilegais, destruíram Estados baseados em informações falsas, assassinaram milhares de inocentes nas suas Guerras contra o Terror, de libertação, humanitárias e por aí vai, todas “justas”. Os grupos extremistas políticos e religiosos que o Ocidente financiou e treinou por anos na sua luta contra o comunismo. Sem o comunismo para combater, esses grupos “descobriram” quem era o seu verdadeiro inimigo e se voltaram contra seus antigos aliados. O neonazismo é fruto da omissão, principalmente, dos norte-americanos que relevaram crimes e inocentaram criminosos de guerra, banalizaram o mal a fim de que esses delinquentes (muitos deles psicopatas) fossem empenhados na luta contra o comunismo. Grupos neonazistas tem raízes profundas na Ucrânia, a estátua de Stepan Bandera, a glorificação da Divisão SS Galiza e o Batalhão Azov (entre outras milícias) estão a mostra, mas os políticos e a mídia ocidental insistem em não ver. O resultado desse acordo com o mal, está aí para todos verem.

E os russos? Fizeram a mesma coisa em uma escala menor na Chechênia, na Abecásia, na Geórgia, no Azerbaijão, nos cyber attacks contra vários países.

As grandes potências, especialmente as nucleares, agem contra as leis internacionais e desrespeitam a soberania nacional, sempre que seus interesses são contrariados. As “justificativas” são pífias.

Voltemos a Ucrânia. Crimes de Guerra com certeza russos e ucranianos estão cometendo, mas se vamos falar sobre isso que tal começarmos julgando George W Bush por ter declarado guerra com justificativas falsas e Barack Obama por sua ofensiva com drones que condenou à morte, sem julgamento, de dezenas de indivíduos e causou centenas de “causualties”, hum?

Desde o começo a respostas dessas lideranças Ocidentais e outras, foram sansões cada vez mais duras e incomuns, além de enviarem armas e mercenários(?) ao ucranianos, numa verdadeira guerra por procuração com os russos, às custas da destruição da Ucrânia.

Estamos vendo uma inédita tentativa de cancelamento e isolamento político, econômico e social da Rússia e dos russos, o nome disso é discriminação e um tipo de xenofobia pós-moderna, bem típico da atual conjuntura.

É vexatório as ofensas pessoais de Biden à Putin, seria senilidade? Pois argumentos para condenar os russos não faltam, ainda que seja muito cinismo. As ameaças a outros países para aderirem ao boicote e ao cancelamento sem sentido da Rússia e dos russos, nos lembra a “política das canhoneiras”. Não é assim que se faz diplomacia.

Por outro lado vemos fortes interesses econômicos do “campeão da democracia” aprofundando os laços de dependência e subalternidade dos europeus em nome da ordem internacional, a qual eles são ao mesmo principal fiador e contestador.

Nenhuma das lideranças ocidentais se preocupou em apresentar propostas concretas ao russos para que cessem as operações militares, muito pelo contrário aumentam o tom das ameaças acuando ainda mais o Urso e esperam que ele não reaja…sério!!!

A continuar com essa estratégia, isso não vai acabar bem para a Humanidade. 

Imagem de Destaque: https://jornal.usp.br/atualidades/guerra-na-ucrania/

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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