A PMC WAGNER GROUP: O QUE REALMENTE SÃO, CARACTERÍSTICAS, PERFIL OPERACIONAL

de

Ms. Rodolfo Queiroz Laterza

1. Introdução

No curso do conflito militar entre Rússia e Ucrânia, se tornou conhecida e bastante mencionada a atuação da empreiteira militar WAGNER GROUP, comandada por Yevgeny Prigozhin, que possui fortes ligações com o Kremlin.

Embora referenciado em batalhas como Soledar, Bakhmut, Popasna, Zaiteve, Uglerdarsk, os quais teve protagonismo operacional na expulsão de unidades de combate ucranianas, pouco é conhecido a respeito da PMC WAGNER.

Este ensaio buscará analisar as características operacionais, forma de atuação, sistema de recrutamento e o contexto de surgimento do WAGNER GROUP.

2. O que são as PMC

Empreiteiras militares privadas (conhecidas pelo acrônimo PMC – Private Military Contractor) cresceram e ampliaram seu espectro de atuação e alcance em conflitos militares a partir das intervenções militares dos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão, notadamente através da destacada e bastante notória atuação da empresa Blackwater.

Na verdade, qualquer empreendimento de segurança militar destina-se a servir doutrinariamente para o contratante (em geral Governos) não como uma ameaça, mas como uma ajuda aos contingentes militares locais estacionados em um determinado país ou região para finalidades militares e operacionais diversas de suporte às formações de combate regulares, em variados teatros de operações que abrangem insurgências ou conflitos de baixa, média e alta intensidade.

A recente proliferação de PMCs pode ser atribuída a quatro fatores:

  1. O fim da Guerra Fria resultou em responsabilidade setorizada pela paz e segurança de áreas conflagradas por instabilidades políticas, sociais, étnicas e sociais definidas por causas complexas, ao invés de um sistema de segurança baseado na presença permanente e estabilizadora de uma potência mundial;
  2. Estados menos poderosos que não podiam garantir sua própria segurança criaram uma demanda por recursos militares privados para produzir essa segurança;
  3. As superpotências da Guerra Fria reduziram seus exércitos permanentes. Em 1994, os Estados Unidos, por exemplo, reduziram suas forças em aproximadamente 30%; a Rússia na reforma militar de 2008-2010 reduziu fortemente seu contingente, para um exército com efetivo de apenas 360 mil soldados.
  4. O colapso da União Soviética desencadeou condições econômicas deprimidas em seus antigos Estados clientes. A fim de obter moeda estrangeira para reconstruir seus países, esses Estados venderam ativos lucrativos da antiga União Soviética, incluindo equipamento militar, para nações ocidentais não alinhadas e com interesses comerciais próprios.

Ademais, pela experiência e análise das guerras no Iraque e no Afeganistão, sabemos que a participação de empresas militares privadas também atenua a perda em confrontos de soldados das Forças Armadas e, portanto, baixas oficiais estatais. Afinal, os funcionários de uma PMC costumam receber as tarefas mais perigosas: escoltar comboios que transitam por áreas ameaçadas; guardar e defender instalações avançadas relacionadas à infraestrutura crítica; capturar e manter pontos e posições importantes – até que os militares oficiais cheguem para controle de área; proteger comitivas de jornalistas e pessoal de TV engajados na cobertura oficial de um conflito militar.

Tais funcionários de empresas militares privadas morrem com muito mais frequência do que militares oficiais, contingentes do exército ou forças regulares de ocupação. No Afeganistão, a título de exemplo, de acordo com informações confiáveis, pelo menos duas vezes mais “contratados privados” morreram do que soldados americanos. Só que o Estado não os atribuiu a perdas militares nem contabiliza como baixas oficiais, mitigando os efeitos negativos e críticos da sociedade e elite dirigente diante de perdas humanas.

Frequentemente, os funcionários dessas PMC são chamados de mercenários pela mídia ocidental.  Entretanto, mais precisamente, esse conceito é usado estritamente em um contexto político. O mercenarismo é ilegal do ponto de vista do Direito Internacional e do Direito Positivo de vários Estados-Nação, sendo um termo que evoca conotações negativas.  Um mercenário, em sentido simplificado, é aquele que vende sua habilidade de matar e seus serviços militares para receber recompensas materiais, em geral não sendo enviado por canais contratuais formalizados com o Estado para desempenhar funções oficiais.

Já um funcionário de uma empresa militar operando oficialmente como pessoa jurídica de direito privado com vínculo contratual perante uma estrutura estatal como um Ministério da Defesa é precisamente a pessoa por ela enviada para o desempenho de funções oficiais e de interesse do Estado contratante. Esta empresa em si nada mais é do que uma organização contratada comum (no sentido jurídico) que cumpre a ordem de seu empregador – o Estado, seja em concorrência pública, parcerias público-privadas ou atos formais contratuais diversos mas juridicamente validados pelo ordenamento daquele mesmo Estado. Não é por acaso que no mundo anglo-saxão, que foi o primeiro a criar empresas militares privadas ainda no século XX, é utilizado o termo contratados militares privados para os funcionários de uma PMC, em detrimento da palavra “mercenário”.

Na Rússia, o mercenarismo é proibido e punido com penas longas – de 7 a 15 anos. No entanto, em dezembro de 2018, pessoalmente, o presidente Vladimir Putin, durante sua coletiva de imprensa anual (ou seja, na frente de todo o povo), separou um do outro:

“Agora sobre Wagner e o que as pessoas estão fazendo. Podemos proibir totalmente as atividades de segurança privada, mas assim que fizermos isso, acho que eles virão a você com um grande número de petições, exigindo a proteção desse mercado de trabalho. Se esse grupo “Wagner” violar alguma coisa, o Ministério Público deve fazer uma avaliação legal.”

Obviamente, a linha aqui é muito tênue e depende muito de quais ordens de qual empregador a organização militar contratada executará. Mas é justamente nesse sentido que a PMC “Grupo Wagner” se posiciona como uma empresa militar especializada em trabalhar “na proteção armada” de navios no Golfo de Áden e áreas propensas à pirataria do Oceano Índico; escolta e proteção de comboios terrestres, funcionários de empresas e empreendimentos de qualquer forma em áreas com alta atividade terrorista e com instabilidade na situação política; dar suporte a operações de segurança e de pacificação em operações militares estatais.

https://www.thetimes.co.uk/article/wagner-groups-hardened-mercenaries-pictured-in-eastern-ukraine-td9jnwwsm

De acordo com declarações de vários especialistas em Inteligência militar russa, o Kremlin gostou muito da ideia de fazer como os americanos em relação ao emprego de PMCs em teatros de operações variados, pois tais contratações pelo Estado diluem os custos políticos, sociais e humanos das operações que passam a ser suportados por empresas privadas e não diretamente pelo Estado, sendo uma tendência crescente a expansão internacional das empreiteiras militares em locais de instabilidade geopolítica. No âmbito da Rússia, em 2012-2013, tais empreendimentos militares  começaram a tentar coletar veteranos de combate com nomes diferentes e enviá-los para testes nos locais onde era importante para o governo russo e sua comitiva indicarem sua presença.

Inicialmente foram criadas várias organizações militares, onde foram recrutados veteranos das guerras da Chechênia, forças especiais e aqueles que serviram como instrutores de forças especiais. Eles foram testados nas repúblicas separatistas de Donetsk e Luhansk na resolução de “problemas especiais”, neste período já em processo de reunião e consolidação de todas as organizações sob o controle formal de Yevgeny Prigozhin e  dentro do empreendimento “Wagner PMC”.

3. Surgimento e crescimento

O chamado “Wagner PMC” é, na verdade, uma marca guarda-chuva, nome comum de vários grupos paramilitares privados (formações constituídas em estruturas de destacamentos e esquadrões) de combatentes criados na Rússia desde 2013. Essas forças privadas armadas realizaram tarefas no interesse geopolítico do governo russo e de governos e estruturas corporativas de países como Bellarus, Armênia, Síria, República Centro-Africana, Sudão, Líbia, Moçambique, dentre vários outros países não identificados.

https://central.asia-news.com/en_GB/articles/cnmi_ca/features/2022/09/16/feature-01

O Wagner Group tem sua sede em Hong Kong, com faturamento anual estimado em centenas de milhões de dólares a partir de contratos firmados com inúmeras estruturas governamentais de distintos países.

A PMC Wagner Group foi financiada, entre outras coisas, por dinheiro de contratos que as empresas de Prigozhin receberam e recebem do exército russo (fornecimento de alimentos e rações secas), bem como parte da receita de empresas protegidas no Oriente Médio (Síria principalmente) e no interesse de vários países da África (envolvendo neste caso contratos para a proteção da produção de petróleo, exploração de ouro, dentre outros minerais).

A título exemplificativo, pela implantação de instrutores russos junto com o exército do Mali e pela proteção de oficiais de alto escalão, a República do Mali pagou à PMC Wagner declarados 9,1 milhões de euros.

A primeira dessas unidades paramilitares privadas foi o chamado “Corpo Eslavo”, que em 2013 recrutou cerca de 270 ex-militares e funcionários das agências policiais russas, a maioria deles com experiência de combate em “pontos quentes” de conflito, como Norte do Cáucaso, onde uma atuante insurgência Islâmica terrorista de natureza ideológica wahhabista atua desde o fim da Segunda Guerra da Chechênia. Além disso, em 2013, foram empregados na Síria para proteção de instalações petrolíferas controladas pelo regime sírio.

https://medium.com/dfrlab/wagner-group-continues-involvement-in-russian-operations-in-eastern-ukraine-4c1c9b07e954

Destacamentos da PMC Wagner também guarnecem  filiais pertencentes a empresas russas nos setores de  petróleo e minerais  na Síria, Líbia, República Centro-Africana, Nigéria, Sudão e Venezuela, além de outros países não identificados. Esta é a proteção de infraestrutura crítica situada em zonas de guerra. Patrulhamento, trabalho operacional com residentes locais, segurança de perímetro, incursões nas aldeias vizinhas, cujos habitantes podem representar uma ameaça ao objeto de proteção, também compreendem parte do escopo de atuação da PMC WAGNER em locais em que atuam.

Entretanto na África, especialmente na Líbia e no Sudão, os combatentes do Wagner Group participaram ativamente de batalhas e operações militares. Na República Centro-Africana, por exemplo, pacificaram vários assentamentos não controlados pelo presidente Touadéré e realizaram ataques de contra insurgência nas províncias daquele país.

https://www.theguardian.com/world/2022/oct/06/russian-mercenaries-exploiting-africa-to-fund-war-in-ukraine

Na Líbia, os combatentes da PMC WAGNER estão apoiando as forças leais ao general Khalifa Haftar.

Muitos desses mesmos empregados apareceram em 2014 na Crimeia como parte dos destacamentos paramilitares de “pessoas educadas” que desarmavam as tropas ucranianas. Inspirados pela vitória, eles foram para o sudeste da Ucrânia, em Donetsk e Lugansk, nos primórdios do conflito de Donbass.

Nesta região, eles começaram a montar o núcleo do chamado “Wagner PMC”, que era chefiado então pelo ex-GRU (Diretório de Inteligência Militar das Forças Armadas Russas) Tenente Coronel Dmitry Utkin com o indicativo de “Wagner”. Já no verão de 2014, carros utilitários com as letras W pintadas nas laterais foram vistos no Donbass – uma letra pela qual foi possível identificar inequivocamente os combatentes do referido grupo.

Veterano das guerras da Rússia na Chechênia, acredita-se que Utkin fundou a Wagner e a batizou com o nome de seu antigo indicativo de chamada de rádio, sendo posteriormente comandado como veremos por Yevgeny Prigozhin, um rico empresário apelidado de “chef de Putin” porque fornecia comida para o Kremlin.

Durante o conflito de Donbass, o embrião da  PMC WAGNER teria executado tarefas especiais, como a eliminação de comandantes de unidades de combate dentre as fileiras separatistas, dentre as quais  Alexander Bednov (conhecido como “Batman”), Alexei Mozgovoy, Pavel Dremov e outros comandantes de campo do DPR e LPR,  que tentaram se rebelar contra os líderes das autoproclamadas repúblicas aprovadas por Moscou e atuavam com excessiva autonomia e agiam em esquemas supostamente criminosos, como desvios das cargas materiais fornecidas por Moscou.

https://mwi.usma.edu/the-wagner-group-has-its-eyes-on-mali-a-new-front-in-russias-irregular-strategy/

Prigozhin liderou várias divisões do PMC Wagner, mas após problemas operacionais na Síria, ficou com o comando direto do  financiamento e a administração da empresa, sendo que os oficiais da Diretoria Principal do Estado-Maior assumiram a liderança da estrutura militar e de combate do grupo.

A preparação e base dos PMCs na Rússia até 2021 foram realizadas no campo de treinamento de Molkino, no território de Krasnodar. Em 2021, parte das unidades estava estacionada no Centro de Treinamento de Forças Especiais em Gudermes (Chechênia).

Atualmente no teatro de operações da Ucrânia, acredita-se que cerca de 20.000 contratados da PMC WAGNER estejam lutando em favor da Rússia, notadamente na região de Donbass, onde mais recentemente expulsaram forças ucranianas de Soledar e de assentamentos limitrofes a Bakhmut, cidade industrial considerada essencial para se cortar as comunicações e fluxo logístico das Forças Armadas da Ucrânia – FAU na linha de defesa estruturada para neutralizar ataques às cidades de Konstantinova, Slavyansk e Kramatorsk – última linha de defesa ucraniana na região.

Cerca de 1.200 funcionários da PMC Wagner foram supostamente retirados da Líbia e da Síria este ano para lutar na Ucrânia pela Rússia.

Conforme declarações de outros comandantes de destacamentos especiais que não faziam parte do grupo Utkin, os contratados pelo Wagner Group estavam empenhados em garantir a segurança dos generais da Diretoria Principal do Estado-Maior que trabalhavam nas áreas controladas pelos separatistas de Donetsk e Luhansk. Também controlavam a logística e segurança do transporte de armas.

Até a primavera de 2015, os destacamentos de Utkin também desempenhavam a função de policiais militares no DPR e LPR. Desarmaram milícias indisciplinadas com muitos bêbados e combatentes caucasianos indisciplinados, detiveram pequenos comandantes que se recusaram a obedecer às ordens da liderança das repúblicas e lidaram com empresários que buscavam atuar à margem das regras dos separatistas. Por exemplo, foi o “Grupo Wagner” que desarmou as famosas forças especiais de Troy, que entraram em conflito com a liderança da DPR.

Mais recentemente, a PMC Wagner passou a atuar na Sérvia, no momento em que as tensões continuam a aumentar na fronteira de Kosovo. O presidente sérvio Aleksandar Vučić – que não reconhece a declaração de independência de Kosovo em 2008 – ordenou que as tropas se posicionassem em posições prontas para o combate e ameaçou cruzar para o Kosovo para proteger os sérvios que vivem lá. A situação em Kosovo piorou desde novembro, quando as autoridades anunciaram que os sérvios teriam que entregar suas placas emitidas pela Sérvia. Desde então, o Wagner Group lançou operações de inteligência e guerra psicológica para combater atividades contra o regime de Putin.

4. Recrutamento e seleção

Entre os anos de 2014 a 2018, um grande número de funcionários da PMC Wagner foi recrutado nas regiões de Kemerovo, Sverdlovsk, Perm, Krasnoyarsk, Territórios de Altai. Outras regiões líderes em termos de número de contratados são o Território de Krasnodar, o Território de Stavropol e a Ossétia do Norte.

Desde 2019, pessoas das regiões separatistas de Donetsk e Luhansk foram aceitas com extrema relutância. Isto foi devido a várias razões. Os mercenários das autoproclamadas repúblicas não tinham experiência de combate suficiente, não estavam acostumados a disciplina e subordinação rígidas e eram suspeitos de terem ligações com os serviços especiais ucranianos.

A empresa militar privada russa Wagner começou a recrutar cidadãos do Quirguistão e do Uzbequistão para lutar na Ucrânia, informou o canal investigativo MediaHub do Quirguistão. Quando contatado, o recrutador responsável oferecia ao contratado um emprego “executando tarefas na zona de operações especiais na Ucrânia” por 240.000 rublos ( aproximadamente US$ 4.383) por mês.

Para serviço por mais de seis meses, a PMC Wagner juntamente com as estruturas oficiais do Governo russo fornecem também uma forma simplificada de obtenção da cidadania russa, algo bastante desejado por milhões de migrantes quirguizes, cazaques, uzbeques e tadjiques na Rússia.

A cidadania russa é um bem valioso para os migrantes da economicamente estagnada Ásia Central. Incapazes de pagar suas contas em casa, os centro-asiáticos vão para a Rússia em busca de trabalho e renda. As remessas de trabalho no exterior, principalmente da Rússia, representam 30% do produto interno bruto do Tajiquistão e 28% do Quirguistão. De acordo com estatísticas do governo russo, 4,5 milhões de trabalhadores do Uzbequistão, 2,4 milhões do Tadjiquistão e 920.000 do Quirguistão estavam trabalhando na Rússia em 2021. No final de dezembro de 2021 – menos de dois meses antes da invasão da Ucrânia – Putin propôs alterar a lei novamente para encurtar o processo de obtenção da cidadania russa para soldados contratados de ex-países soviéticos.

Uma vez contratado pela PMC WAGNER, o contratado das etnias destas antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central executará tarefas na zona de operações especiais na Ucrânia e no interesse do Ministério da Defesa da Rússia.

https://www.businessinsider.com/russian-mercenary-boss-gloats-that-army-no-part-recent-victory-2023-1%3famp

Antes do início da guerra na Ucrânia, a seleção para entrar na PMC WAGNER era mais rígida. Não contratavam quem tinha dívidas, inadimplentes, antecedentes criminais pendentes, aqueles com parentes e conhecidos no Serviço Federal de Segurança – FSB ou com parentes nos batalhões nacionais ucranianos. Posteriormente, presidiários passaram a ser recrutados, desde que não estejam cumprindo penas por terrorismo, extremismo e tráfico de drogas.

Para servir na Síria, um combatente comum da referida empresa recebia de 140 a 160 mil rublos por mês. Para trabalhar na Líbia – 170-190 mil rublos. O serviço na República Centro-Africana foi considerado o mais lucrativo – 200-240 mil rublos por mês.

Aqueles com notórias especialidades militares (tais como atirador, sapador, engenheiros) receberam 20-40% a mais de colegas sem tais qualificações, por exemplo. Os equivalentes a funções de oficiais tinham o dobro do salário de um soldado raso como o salário mínimo. Em alguns casos, o salário mensal de um equivalente a oficial pode ser de 500 a 700 mil rublos na PMC WAGNER.

No caso de morte da família de um combatente, a indenização se situa no valor de 1 a 5 milhões de rublos.

A PMC Wagner também estabeleceu centros regionais de recrutamento em mais de 20 cidades, postando os números de telefone dos recrutadores em canais populares de mídia social vinculados ao grupo.

5. Atuação da PMC WAGNER na Guerra da Ucrânia

Após o início da guerra da Ucrânia, os critérios de seleção para contratação da PMC WAGNER tornaram-se, como dito acima, mais suaves e os salários mais elevados.

Um combatente pode receber de 240 a 300 mil rublos por mês para participação direta nas hostilidades no teatro de operações da Ucrânia. Os equivalentes a oficiais ganham até três vezes este valor por mês. Em caso de morte, os parentes devem receber de 3 a 6 milhões de rublos.

Além dos russos, moradores do Donbass e algumas regiões da Ucrânia estão sendo novamente recrutados para o Wagner Group. Recentemente, o recrutamento ocorreu literalmente por anúncios distribuídos por meio de redes sociais e grupos fechados. Há casos em que ex-militares foram convocados com ofertas de emprego por funcionários dos cartórios de alistamento militar.

Os problemas de abastecimento do PMC Wagner são coisa do passado, pois a empreiteira militar têm todas as armas de infantaria leves e pesadas necessárias, incluindo lança-chamas, lançadores de granadas, metralhadoras pesadas e morteiros. Eles são fornecidos com sistemas de comunicação, termovisores, drones para reconhecimento de empresas do complexo industrial-militar russo e de outros países. Já que como pessoa jurídica de direito privado possuem liberdade de aquisição muito maior e mais flexível que as Forças Armadas, não se sujeitam a controle estatal quanto a preços e fontes de venda.

Equipamentos pesados ​​​​também estão em serviço usual na PMC WAGNER, tais como: tanques, veículos blindados, MLRS, alguns tipos de obuses e canhões autopropulsados.

Os combatentes do Grupo Wagner agora representam cerca de 10% das forças da Rússia na Ucrânia, de acordo com funcionários do governo do Reino Unido.

Pensa-se que a organização tinha anteriormente apenas 5.000 combatentes, a maioria dos quais eram ex-soldados, incluindo muitos de regimentos de elite.

https://www.independent.co.uk/news/world/europe/wagner-mercenary-group-russia-putin-b2261201.html%3famp

De acordo com o Royal United Services Institute, think tank britânico, o  Wagner Group também adotou um perfil mais corporativo – incluindo uma grande nova sede em São Petersburgo, recrutando abertamente em cidades russas através de anúncios em outdoors e está sendo nomeado na mídia russa como uma organização patriótica e essencial ao esforço militar russo na Ucrânia.

Durante a guerra na Ucrânia, combatentes do Wagner Group participaram das batalhas por Kyiv, Kharkov, Mariupol, Popasnaya, Rubizhne, Severodonetsk, Lisichansk, Zaitsevo.  Recentemente os avanços russos que resultaram no controle sobre a cidade de Soledar e cidades e assentamentos situados ao redor de Bakhmut foram creditados à efetiva atuação dos combatentes da PMC WAGNER em coordenação com formações militares regulares russas.

Entretanto, além das baixas significativas em meses de conflito, em 9 de junho de 2022, um ataque de artilharia das Forças Armadas da Ucrânia atingiu o estádio da cidade de Stakhanov, onde ficava a base da PMC Wagner, causando ampla destruição.  A grande maioria dos combatentes do Wagner Group que lá estavam morreram. De acordo com oficiais do grupo, havia combatentes recém-recrutados, com até 120  mortos sob bombardeios e até 200 feridos. Estas são as maiores perdas individuais da PMC Wagner desde a suposta batalha síria com o exército curdo -americano ocorrida em 2018.

https://thenewsdept.com/trending/218792.html

Prigozhin e Wagner estão sob sanções dos EUA há anos. Mas os EUA recentemente tomaram medidas adicionais para tentar controlar o acesso de Wagner às armas. No final de dezembro, o governo Biden implementou controles adicionais de exportação de Wagner, dificultando o acesso a qualquer equipamento com tecnologia americana.

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA- NSC, John Kirby, disse a repórteres no mês passado (dezembro) que, devido a sanções e controles de exportação, o Wagner Group procurou parceiros em todo o mundo para fornecer ferramentas para apoiar suas operações – e a Coréia do Norte concluiu uma entrega inicial de armas. O governo americano também está implementando medidas para designar a PMC Wagner como uma organização terrorista, criando restrições para empresas, pessoas físicas e países que negociarem diretamente com a referida empreiteira militar, inclusive aplicando sanções de diferentes modalidades a qualquer segmento que estabelecer parcerias de qualquer forma com o grupo.

6. Considerações finais

O uso pelo Governo da Rússia da PMC WAGNER permite ampliar a capacidade do país em fortalecer sua própria projeção de poder e capacidades de inteligência – não apenas confrontando as capacidades de inteligência militar ocidentais – mas também buscando de novos locais de operação e outras oportunidades que lhes dão acesso a locais estrategicamente importantes e com riquezas em recursos naturais.

O uso de empresas militares privadas como a PMC Wagner, particularmente como vimos em países com governança fraca, desafios de segurança contínuos e recursos naturais enriquecidos, fomenta acordos de segurança favoráveis à Rússia e é um mecanismo facilitador de futuras relações diplomáticas com esses países.

Diante do esforço militar russo cada vez maior na Ucrânia, a empresa militar privada Wagner Group recebeu a responsabilidade por setores específicos da linha de frente no leste da Ucrânia devastado pela guerra de maneira semelhante às unidades militares normais quanto à natureza das missões e modalidade de sistemas de armas empregados. Sua atuação na frente tem ocorrido através de conexão e coordenação conjunta com tropas regulares russas, principalmente forças aerotransportadas, unidades de artilharia e de aviação tática.

Esta é uma mudança significativa em relação ao emprego anterior do grupo paramilitar privado desde 2015, quando normalmente realizava missões distintas da atividade militar russa regular em grande escala.

O emprego de empresas militares privadas (PMCs) em conflitos armados — muitas vezes chamado de ‘mercenarismo moderno’ — goza de uma imagem relativamente negativa por causa dos teatros de guerra legalmente ambíguos em que operam, a falta de transparência e o grande número de oportunidades legais abertas que envolvem seu uso.

A privatização das funções militares e de segurança em inúmeros conflitos militares, como no caso da Ucrânia, implica uma terceirização não apenas dessas tarefas, mas também das responsabilidades internacionais decorrentes do Direito Internacional Humanitário (DIH) ao permitir que os Estados se escondam por detrás de empreiteiras militares privadas.

A PMC WAGNER, cujo nível de eficácia operacional tem-se revelado uma realidade na guerra da Ucrânia, opera em situação juridicamente opaca perante o direito internacional como as demais empresas militares privadas contratadas por Governos em todos os continentes do planeta.

A Guerra da Ucrânia expõe, quanto à relevância da PMC Wagner, uma realidade que emergiu a partir dos Estados Unidos no Iraque, em que o uso de companhias militares de caráter privado se tornou público e determinante para a condução de uma guerra de ocupação e com tarefas múltiplas que não podem ser suportadas unicamente por forças armadas estruturadas pelo Estado.

Imagem de Destaque: https://www.politico.com/news/2023/01/09/russias-wagner-group-ramping-up-operations-outside-of-ukraine-u-s-warns-00076859

Fontes consultadas:

https://www.aljazeera.com/news/2022/7/29/wagner-deployed-like-normal-army-units-in-ukraine-front-line-uk

The Private Military Company: A Legitimate International Entity Within Modern Conflict

https://www.politico.com/news/2023/01/09/russias-wagner-group-ramping-up-operations-outside-of-ukraine-u-s-warns-00076859

https://russianpmcs.csis.org/

https://www.theguardian.com/world/2022/aug/07/russias-private-military-contractor-wagner-comes-out-of-the-shadows-in-ukraine-war

https://t.me/s/pmc_wagner_official?before=223#:~:text=limparam%20Popasnaya%2C%20Svetlodarsk%2C%20Mironovsky%20e%20agora%20est%C3%A3o%20perto%20de%20Severodonetsk.

https://vienna.mfa.gov.ua/en/news/vistup-na-temu-privatni-vijskovi-kompaniyi-ta-yih-rol-u-suchasnih-regionalnih-konfliktah

Delegado de Polícia, historiador, pesquisador de temas ligados a conflitos armados e geopolítica, Mestre em Segurança Pública

4 comentários em “A PMC WAGNER GROUP: O QUE REALMENTE SÃO, CARACTERÍSTICAS, PERFIL OPERACIONAL”

  1. É sempre bom ou até mesmo excelente saber notícias das Tropas de Operações Especiais, pois são tropas super treinadas e que pouco se sabe de seus integrantes e de seus treinamentos, locais etc e as vezes nem seus familiares sabem, e quando morrem são comigo fumaça, Desaparecem por isto merecem todo os meus respeito e Admiração

    Responder
  2. Assisti o Sr. No Rogério, no farinazzo, e acompanho o Sr. Aprendi muito, o senhor é uma pessoa diferenciada pelo conhecimento. Que Deus abençoe sempre sua vida.

    Responder

Deixe um comentário

Gostou dos artigos e postagens?

Quer escrever no site?

Consulte nossas Regras de Publicação e em seguida envie seu artigo.

Siga-nos nas Redes Sociais