Batalha de Akaba

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Introdução

O Teatro de Operações do Oriente Médio era secundário, mas o desmantelamento do Império Otomano estava na lista de prioridades do Império Britânico. Acesso às fontes de Petróleo, controle dos acessos ao Canal de Suez e a reorganização territorial do Oriente Médio já estavam em execução. A Campanha da Mesopotâmia levada a diante pela Força Expedicionária Indiana que conquistou toda a região do atual Iraque em 1917.

Em junho de 1917, o General Edmund Allemby assumiu o comando da Força Expedicionária Egípcia e recebeu a missão de conquistar a Palestina e Damasco, na designada Campanha do Sinai e da Palestina.

Os britânicos irão apoiar, dentro dos seus interesses e dos acordos firmados com os franceses, a revolta Árabe, liderada sheriff Hussein bin Ali, da tribo Hashemita e Emir de Meca, seu filhos Faisal, Abdulla e ali funcionavam como seus comandantes de campo. Hussein havia criado, com o apoio britânico o Exército do Hejaz e contava a simpatia (comprada) de outras tribos árabes, como os Howeitat.

Akaba

Em 1917, o capitão T. E. Lawrence propôs ao sheik Faisal, do Hejaz, e um dos líderes da Revolta Árabe, uma ação conjunta com os irregulares e forças árabes, incluindo os homens de Auda Abu Tayi, Sheik da tribo Howeitat, que já havia estado a serviço dos otomanos, contra Aqaba. Mas por que Akaba? Segundo Lawrence, os árabes precisavam de Aqaba: primeiro, para estender sua frente, que era seu princípio tático; e, segundo, para fazer a ligação com as  forças britânicas. A manobra de Lawrence era se aliar as forças de Auda abu Tayi em uma marcha para Howeitat em seus pastos de primavera no deserto sírio. A partir daí formar uma força móvel de camelos para conquistar Akaba, pelo leste, na direção do deserto, nesta posição os turcos não tinham canhões ou metralhadoras. O leste era o lado desprotegido, a linha de menor resistência, por estar de frete para o deserto do Nefud.

Akaba, era um porto do mar Vermelho, na atual Jordânia, cercada por montanhas ao norte e leste e conectada ao interior por Wadi Itm. O longo e estreito desfiladeiro poderia ser usado pelos otomanos para reprimir qualquer invasão britânica por mar, embora não impedisse a Marinha Real de bombardear o local. A cidade, estrategicamente bem localizada, estava levemente defendida, em 1914, a guarnição era de apenas 100 homens.

Em 1917, a guarnição otomana foi reforçada e passou para 300 homens, oriundos principalmente gendarmaria otomano-árabe. Do ponto de vista estratégico Akaba era importante, pois os britânicos temiam que a posse do porto pelos alemães ameaçasse o flanco das tropas do general Archibald Murray, ou que ataques otomanos pudessem se desenvolver no Sinai, ou ainda que pudesse ser usada como base para os U-bootes germânicos no Mar Vermelho.

A Royal Navy não entrava na região do porto enquanto as baterias de artilharia apontadas para o mar estivessem na mãos dos turcos. Akaba poderia ser atacada pelo mar, mas os estreitos desfiladeiros que atravessavam as montanhas eram fortemente defendidos e teriam sido muito difíceis de tomá-los, a vulnerabilidade estava no leste, em frente ao Nefud. No seu relatório, Lawrence chamou de expedição militar árabe, sem apoio britânico, já que Faisal forneceu tudo o que precisavam para a expedição.

Lawrence também não informou aos seus superiores britânicos no Cairo, sobre os detalhes da expedição, devido à preocupação de que a operação fosse desautorizada, por ser contrária aos interesses franceses na Síria.

Em 9 de maio de 1917, teve inicio a travessia das 600 milhas do deserto do Nefud. A expedição era liderada por um dos homens de confiança de Faisal, o Sharif Nasir, de Medina, faziam parte da expedição Lawrence, Nesib el-Bekri e Auda Abu Tayi, líder da tribo de beduínos Howeitat do norte. O contingente era de 45 homens a camelo, das tribos Howeitat e Ageyl.

Lawrence

O tenente-coronel Stewart F Newcombe e T. E. Lawrence conseguiram ludibriar o exército turco dando a entender que o objetivo da expedição era realizar ataques em Damasco e Aleppo, desviando a atenção de seu objetivo real de Akaba. A expedição começou a se mover para Aqaba em maio, com poucas baixas. Faisal pagou a Nuri Shaalan 6 mil libras esterlinas em ouro pelo uso do Wadi Sirhan como base. Enquanto em Bair, Lawrence e Auda decidiram atacar a linha férrea na área de Daraa, para convencer os turcos de que a principal força árabe estava em Azrak, no Sirhan. Não encontrando alvos adequados tão ao norte, Lawrence e Zaal acabaram atacando a estação Atwi, ao sul de Amã, antes de retornar a Bair

Sharif Nasir

Três clãs Howeitat em Nagb el Shtar, o Dhumaniyeh, o Darausha e o Dhiabat, ajudaram no esforço para garantir a passagem de Aba el Lissan, ao longo da estrada Maan-Aqaba. O clã Dhumaniyeh atacou a fortaleza de Fuweilah na passagem, enquanto uma força árabe sob o comando de Auda e Lawrence atacou a guarnição de Ghadir el Haj ao longo da linha férrea ao sul de Maan, destruindo dez pontes. No entanto, os Dhumaniyeh foram incapazes de manter o controle da passagem quando um batalhão turco chegou e ocupou Aba el Lissan.

Em 2 de julho de 1917, Auda liderou pessoalmente uma carga de 50 cavaleiros contra as tropas turcas, enquanto 400 camelos sob Nasir e Lawrence atacaram o flanco. O resultado foi 300 baixas turcas e apenas 160 prisioneiros, enquanto os árabes tiveram dois mortos.

Havia mais três postos turcos no caminho para Aqaba: Guweira, Kethera e Khadra. Guweira foi capturado pelo Sheikh ibn Jad, quando Auda e Lawrence chegaram, os 120 soldados daquela guarnição turca haviam se tornado prisioneiros. Kethira foi conquistada na noite de 4 de julho. Khadra, na foz do Itm, e sua guarnição de 300 homens se renderam no dia 6. O caminho para  Aqaba e o mar Vermelho  estavam a quatro milhas e, agora, sem obstáculos.

Auda Abu Tayi

A força árabe havia aumentado para 2.000 Howeitats até o final do combate, e eles haviam feito 700 prisioneiros, incluindo 42 oficiais. Auda estabeleceu um posto avançado em Guweira com 600 homens de seu clã, que mantiveram a posição durante um mês e meio, tempo suficiente para que a conquista de Aqaba se consolidasse, embora os otomanos pudessem retomar Abu al-Lissan e Fuweilah. Postos avançados árabes também foram estabelecidos em Nabathean Petra, Delagha e Batra, ao longo das terras altas de Maan.

Lawrence, acompanhado por oito homens, viajou 160 milhas pela Península do Sinai através do Passo de Mitla até Suez, com o objetivo de levar a notícia da conquista de Akaba. Na estação de Ismailia, Lawrence convenceu Burmester e o almirante Wemyss a enviar o HMIS Dufferin para Akaba com suprimentos e trazendo os prisioneiros na viagem de volta. Lawrence então pegou um trem para o Cairo.

 No Cairo, Lawrence relatou a Clayton e depois a Allenby a conquista de Akaba. Solicitou a Allemby armas, suprimentos, 16 mil libras em ouro para pagar dívidas e mais 200.000 soberanos para apoiar seus planos de ameaçar as comunicações turcas com Jerusalém (principal obhetivo de Allemby).

Consequências

O general Allenby prometeu a Lawrence fazer o que pudesse e, posteriormente, fez uma avaliação da operação planejada por Lawrence: mesmo um sucesso parcial da operação, Lawrence poderia desorganizar seriamente as comunicações ferroviárias turcas ao sul de Aleppo, enquanto seu sucesso completo destruiria efetivamente a principal linha de comunicação turca.

Akaba tornou-se um importante depósito da Marinha Real, fornecendo e transportando as forças de Faisal após sua chegada em 23 de agosto, enquanto o HMS Euryalus e depois o HMS Humber guardavam o porto. Uma pista de pouso foi construída em Kuntilla. Em 4 de agosto o Royal Flying Corps estava bombardeando Maan, Abu al-Lissan e Fuweilah, complementando os ataques contínuos de Auda à ferrovia de Hejaz. De acordo com T E Lawrence, após a conquista de Akaba, por quatro meses as forças irregulares árabes destruíram dezessete locomotivas. Viajar tornou-se um terror para o inimigo.

Apesar do sucesso dos árabes e, em especial, dos beduínos na sua guerrilha contra as forças turcas, os britânicos continuavam a desdenhar suas capacidades militares e a minimizar seus feitos. Preferiam enaltecer a liderança militar de Thomas E. Lawrence. Esta conduta é explicada, pelo desejo britânico de estabelecer um protetorado na Palestina e em parte da Mesopotâmia, além de reorganizar a Península Arábica.

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Sites consultados

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Aqaba

https://en.wikipedia.org/wiki/Arab_Revolt

https://www.smithsonianmag.com/history/true-story-lawrence-arabia-180951857/

https://www.historynet.com/creating-chaos-lawrence-of-arabia-and-the-1916-arab-revolt.htm

Bibliografia

Paz e Guerra no Oriente Médio de David Fronkin. O melhor livro para se compreender o que estava ocorrendo no Oriente Médio na Primeira Guerra Mundial e suas consequências.

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Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, 1962), de David Lean. DVD Duplo com reprodução do Livreto Original de 1962.

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Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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