Batalha de Brisbane: O conflito entre norte-americanos e australianos na Segunda Guerra Mundial

Prof. Esp. Pedro Silva Drummond

Introdução

Durante o ano de 1941 teve início a Guerra do Pacífico, com os ataques e invasões japonesas em diversos territórios. O ataque em Pearl Harbor causou a região um novo momento na Segunda Guerra Mundial. A entrada dos Estados Unidos no conflito, acarretou no aumento dos conflitos, como por exemplo a Batalha de Brisbane (26 e 27 de novembro de 1942).

A Batalha de Brisbane é um conflito diferente daqueles que ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial, ele aconteceu entre Estados Unidos e Austrália, dois Países integrantes dos Aliados.

Poucos dias após o ataque japonês a Pearl Harbor, os militares norte-americanos analisavam a possibilidade de construir uma base na Oceania. O General Eisenhower sugeriu a construção na Austrália, e com a aprovação do Estado Maior do Exército dos EUA, as medidas para a chegada dos militares teve início em 22 de dezembro de 1941, quando “um comboio liderado pelo USS Pensacola desembarcou mais de 4.000 soldados em Hamilton Wharf em Brisbane.” (Ray)

Os problemas entre australianos e norte-americanos começaram após as decisões de MacArthur na região, como explica Michael Ray: “A primeira grande operação de MacArthur como comandante supremo foi a defesa da Nova Guiné depois que uma força de invasão japonesa ameaçou Port Moresby. Sob condições extremamente duras e sem as provisões mais básicas, tropas australianas em menor número sob o comando do general Sir Sydney Rowell lutaram bravamente, parando o avanço japonês a cerca de 32 milhas (50 km) de Port Moresby. MacArthur não escondeu sua crença de que as tropas australianas careciam de espírito, entretanto, e em setembro de 1942 ele ordenou que Rowell fosse dispensado do comando. A ação gerou ressentimento generalizado contra MacArthur entre as forças australianas, uma opinião que não diminuiria com o tempo.” (Ray)

Em novembro de 1942, Brisbane era uma cidade de guarnição, não era mais uma cidade do interior da Austrália, era a região onde o Alto Comando Americano conhecia como Base Seção 3. Neste período, o “Corpo de Polícia Americano tinha mais de 800 funcionários ativos; a equipe do Polícia Australiano na área era de 110. Em novembro, a lei e a ordem militar dos EUA eram de responsabilidade dos 814º e 738º Batalhões da PM baseados em Whinstanes.” (Wright).

Conflito

O conflito entre norte-americanos e australianos começou no Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos, quando o soldado James R. Stein, 404ª Companhia de Sinalização, do Exército dos Estados Unidos e Anthony E. O’Sullivan, 814ª MP Company, iniciaram um dos episódios mais notórios da guerra entre os Aliados.

Após Anthony E. O’Sullivan abordar Stein solicitando sua autorização por estar naquele local, um grupo de soldados australianos que estava na companhia do militar americano, tentou defender o norte-americano, neste momento “os bastões do MP voavam, mais australianos se juntavam à crescente briga fora do PX americano; os pubs locais tinham acabado de fechar e as ruas estavam cheias de soldados e civis. Alimentada por álcool e noções de camaradagem, a multidão hostil do lado de fora do PX logo ultrapassou 100 enquanto os policiais americanos tentavam manter um perímetro defensivo erguido às pressas em torno da entrada do local. Por volta das 20h, a multidão chegava a várias centenas, com algumas estimativas improváveis afirmando que até 4.000 australianos estavam sitiando o PX americano. Os MPs foram alvejados com pedras, tijolos e outros projéteis, já que as autoridades locais optaram por não se intrometer em uma situação de escalada. Quando um MP com uma espingarda apareceu na entrada do PX, todas as atenções foram voltadas para a arma, e houve uma disputa imediata pelo controle dela. A espingarda disparou, atingindo o artilheiro australiano Edward Webster no peito, matando-o instantaneamente. Mais dois tiros foram disparados e pelo menos meia dúzia de australianos mais tarde seriam tratados por ferimentos à bala. O motim continuou até as 22h, quando a paz foi temporariamente restaurada no centro de Brisbane. A rua principal do PX americano foi destruído e dezenas de indivíduos de ambos os lados sofreram ferimentos de vários graus de gravidade. Os censores militares agiram rapidamente para anular quaisquer relatos de um confronto mortal entre as tropas aliadas.” (Ray)

Quando todos imaginaram que os problemas entre norte-americanos e australianos tinham acabado, “na noite seguinte (27 de novembro) uma multidão de militares australianos se reuniu do outro lado da rua, em frente aos escritórios da Cruz Vermelha americana. O grupo então desceu o quarteirão até o prédio do quartel-general de MacArthur, mas o general havia deixado o país. Meia dúzia de um grupo forte de homens australianos se espalharam pela cidade, derrotando qualquer soldado americano que encontrassem; especialmente ​​os militares americanos vulneráveis que eram vistos com mulheres australianas. Os Australian provosts (polícia militar) e a polícia civil de Brisbane fizeram pouco para intervir, e os oficiais subalternos australianos não quiseram ou foram incapazes de restaurar a disciplina dentro de suas fileiras. Por volta da meia-noite, a violência havia diminuído, mas pelo menos 20 americanos sofreram ferimentos graves o suficiente para exigir hospitalização. A Batalha de Brisbane finalmente terminou quando, sob pressão dos comandantes, os polícias militares australianos adotaram uma postura de patrulhamento muito mais agressiva e interromperam a desordem.” (Ray)

Conclusão

Durante a Segunda Guerra Mundial aconteceram diversos conflitos entre países aliados, batalhas pelo desconhecimento daqueles que estavam no seu caminho (como já visto na Batalha de Nis) ou por divergências entre nações parceiras (como analisada neste texto).

Nos dois dias de conflito, a Batalha de Brisbane teve como resultado, o seguinte, no dia 26 de novembro, “um australiano morto, oito com pequenos ferimentos à bala, seis com ferimentos de bastão, centenas de outros com olhos roxos, bochechas inchadas, lábios rachados, narizes quebrados e escoriações diversas. Oito PMs ficaram feridos … As baixas na segunda e última noite da batalha foram 21 feridos, dos quais 11 foram hospitalizados. Todos eram americanos. O número incluiu oito soldados e quatro oficiais.” (Wright)

A relação entre militares de nações diferentes, mesmo aliadas, como entre norte-americanos e australianos, muitas vezes não eram as ideias, discriminações, pré-conceitos, ciúmes, invejas e etc., aconteciam na guerra, mas nos momentos mais difíceis, como os ocorridos no campo de batalha, a união acontecia, como explica Ken Wright: “Durante a Segunda Guerra Mundial, o respeito e a união entre os soldados americanos e australianos, tão desejáveis ​​nas circunstâncias, nunca foram totalmente nutridos no front doméstico. No entanto, respeito mútuo, camaradagem e unidade certamente foram encontrados nos vários campos de batalha onde os homens das duas nações, o australiano e o ianque, lutaram e morreram juntos por uma causa comum.” (Wright)

P.S.: MP: Polícia Militar/ PX: American PX vendia cigarros, álcool, chocolate e outros itens de luxo

Imagem de Destaque: https://www.youtube.com/watch?v=lVROKW-_Qmo

Bibliografia

– Ray, Michael. Batalha de Brisbane. Disponível em: <https://www.britannica.com/place/Brisbane>. Acessado em: 30/06/2023.

– Wright, Ken. Choque cultural: americanos no Pacífico Sul da Segunda Guerra Mundial. Disponível em: <https://warfarehistorynetwork.com/article/culture-clash-americans-in-world-war-ii-south-pacific/>. Acessado em: 30/06/2023.

– https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Brisbane