Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
Antecedentes
Em 15 de junho de 1815, Napoleão invadiu a Bélgica com o objetivo de derrotar parte dos exércitos da 7ª Coalizão, antes que se reunissem. O exército prussiano, comandado pelo marechal Gebhard von Blücher, de 117 mil homens. O outro exército era liderado pelos britânicos, cujo grosso era constituído por britânicos, 25 mil; a Legião Germânica do Rei, 6 mil; Países Baixos, 17 mil; Brunswick, 6 mil; Nassau, 3 mil, uma força heterogênea para cumprir uma missão difícil.
O exército de Napoleão era constituído por 73 mil homens, a grande maioria veteranos, extremamente leais ao Imperador, com a seguinte distribuição: 50.700 infantes; 14.390 cavalarianos; 8.050 artilheiros e engenheiros, 252 canhões.
Em direção a França se dirigiam três outros exército. O exército austríaco com 210 mil homens; um russo com 150 mil e outro austro-italiano com 75 mil homens que havia invadido o territórios francês.
Napoleão posiciona seu exército em um posição central, tática tantas vezes utilizada, e envia o Marechal Ney. A Quatre-Bras com uma força de 24 mil homens, para impedir a junção dos dois exército aliados.
No dia 16 de junho de 1815, Napoleão ataca os prussianos em Ligny, mas não consegue destruí-los, o experiente Blücher (que havia derrotado Napoleão em Leipzig), liderou, pessoalmente, uma carga de cavalaria que permitiu que seu exército recuasse em ordem. Napoleão não tinha tempo de perseguir os prussianos e acabar o “serviço”, então destacou um exército de 30 mil homens, sob o comando do marechal Emmanuel de Grouchy com ordens de perseguir os prussianos e impedi-los de se juntarem aos britânicos e seus aliados.
A batalha
Em 17 de junho de 1815, Napoleão e seu exército, chegaram a região do monte Saint Jean, e se posicionou ao longo da fazenda Belle Alliance. Os franceses contavam com 74 mil homens e 250 canhões.
O exército de Wellington contava com 67 mil homens, de várias nações, apoiados por 160 canhões, e se posicionou longo da elevação de Saint Jean, em uma forte posição defensiva. Sua estratégia era prolongar a batalha, na esperança da chegada dos prussianos. Wellington não sabia que Grouchy os perseguia.
O solo estava encharcado com a chuva que havia caído em 17 de junho, Napoleão então adiou o ataque que seria realizado na noite daquele mesmo dia para o meio dia de 18/6, na esperança de que o solo mais seco o beneficiasse.
O tempo era uma vantagem para Wellington que estava na defensiva e ele corria contra Napoleão.
Aproximadamente às 11 h, Napoleão lançou um ataque diversionário posição na fazenda Hougomount, mas Wellington não caiu na armadilha.
Às 12:30 h, Napoleão lança o corpo, do general D’Erlon, no comanda de 17 mil infantes, apoiado pela artilharia, contra o centro do dispositivo inimigo, a fazenda La Haye. Outro contingente se aproximava pelo flanco esquerdo. Os franceses tomaram a posição em Papellote e La Haye estava sucumbindo.
A reação de Wellington foi enviar tropas para retomar Papelote, o que foi feito, e a 5ª Brigada (veterana da Espanha) que provocou grandes baixas nas forças francesas, forçando-as a recuar. Wellesley viu a chance de liquidar a batalha. Acionou sua cavalaria para um contra-ataque no centro. As brigadas Household, Union e Vivian provocaram desordem entre os franceses. Mas por pouco tempo. Perto da linha de canhões inimiga, a cavalaria inglesa foi surpreendida por um contra-golpe mortal. A cavalaria pesada francesa, com seus Cuirassiers (cavalaria pesada), apoiados pelos Lanciers (cavalaria leve), atacou os ingleses. Os ingleses foram aniquilados. Napoleão deu o troco e continha os britânicos.
A batalha permanecia num impasse. Na ala direita de Wellesley, a luta prosseguia sem um resultado decisivo em Hougomount. No centro e na esquerda, os ingleses e os aliados batavos e alemães haviam a muito custo mantido La Haye Sainte e Papilotte. Foi nessa hora, entretanto, que Bonaparte recebeu uma notícia que o alarmou. Cerca de 40 mil homens se aproximavam do lado direito do exército francês, nas imediações de Papilotte.
Inicialmente pensou que fosse Grouchy, que havia tinha a missão de afastar os prussianos, Logo suas esperanças se desfizeram. Grouchy falhara. Aquele corpo de exército era a vanguarda do exército prussiano, que chegava para socorrer o aliado inglês. Napoleão teve que improvisar. Sua ala direita, comandada pelo general Lobau, se realinhou de modo defensivo para segurar a chegada dos prussianos e dar ao imperador algumas horas para agir.
Às 16 h, em uma tentativa de vencer a batalha, determinou que Ney tomasse La Hayse Saint e rompesse o centro britânico. Ney, com dois batalhões de infantaria, ordenou um ataque coordenado e capturou La Haye Sainte, uma fazenda no meio das linhas aliadas. A artilharia francesa então começou a atacar os aliados a partir do centro. Nesse momento Ney, cometeu um erro fatal. Em meio à fumaça dos canhões e à loucura da batalha, supôs que o exército inglês estava recuando. Ele então ordenou que sua cavalaria partisse para cima do inimigo. Napoleão achou o movimento precipitado, mas, uma vez que Ney era quem estava encabeçando o ataque, enviou mais cavaleiros para sustentar a carga. A tremenda carga dos Cuirassiers terminou de forma trágica. A infantaria inglesa não estava recuando, como Ney imaginava. Eles formaram quadrados e passaram a fuzilar os cavaleiros franceses, que não conseguiam romper as formações defensivas. Nas duas horas seguintes, Ney lideraria ao menos 12 cargas de cavalaria contra o centro inglês, com mais de 5 mil cavaleiros.
La Haye Sainte finalmente caiu em mãos francesas, mas os ingleses ainda mantinham seu centro coeso no alto do monte Saint Jean.
A cavalaria francesa lançou o assalto final e foi novamente batida. Os ingleses não estavam em melhor estado e suas linhas estavam a ponto de romper. Ney, dessa vez corretamente, identificou a oportunidade de vencer e implorou a Napoleão por mais tropas, que não as tinha. Mais um esforço e os ingleses teria sido derrotado. A essa altura, os prussianos estavam destruindo sua ala direita e Napoleão teve que priorizar esse setor para ganhar mais fôlego.
Napoleão decidiu então utilizar sua última e preciosa reserva: a sua famosa Guarda Imperial, a elite de seus veteranos. Ele enviou dois batalhões contra os prussianos — e mais uma vez eles fizeram valer a sua reputação. Quando a Guarda Imperial entrava em campo, os inimigos tremiam. Até então ela nunca havia sido derrotada em batalha. Os dois batalhões varreram sozinhos 14 batalhões prussianos, estabilizaram a ala direita e deram ao imperador a chance de lutar novamente contra os britânicos no centro. Havia esperança de as forças de Grouchy aparecessem.
Às 19 h, Napoleão enviou contra o centro inglês os últimos quatro batalhões da Velha Guarda em uma tentativa de quebrar a enfraquecida linha britânica. Nesta ocasião, Blücher apareceu com a maior parte das tropas prussianas, atingindo Napoleão no flanco, e Wellington ordenou o avanço geral.
Em desespero, o general inglês reuniu tudo o que tinha e esperou o ataque final entrincheirado no alto do Saint Jean. Enquanto subia o monte, a Guarda Imperial foi assaltada pelas unidades inglesas, alemãs e holandesas. Uma a uma, foram repelidas, enquanto os veteranos de Napoleão continuavam seu avanço. Mas o esforço foi em vão lutando, contra efetivos muito maiores. O centro inglês apesar das enormes perdas resistia. No flanco direito francês, finalmente, os prussianos conseguem derrota-los.
Em um último ato de coragem, três batalhões da Velha Guarda permaneceram lutando para dar ao imperador a chance de fugir. Lutariam até o fim. Cercados por prussianos, receberam ordem de rendição. O general Pierre Cambronne, declarou: “A Guarda morre, mas não se rende“. Em outro ponto, o marechal Ney, apelidado por Napoleão como “o bravo dos bravos”, ao ver tudo perdido, reuniu um grupo de soldados fiéis e liderou uma última carga de cavalaria, gritando: “Assim morre um marechal da França!”. Napoleão, agarrado por auxiliares, foi retirado à força do campo de batalha.
Às 19 h, Wellington se reúne com Blücher, seu salvador. Napoleão estava derrotado, agora de forma definitiva.
Os franceses tiveram de 24 mil a 26 mil mortos ou feridos, 6 mil a 7 mil capturados e 15 mil desaparecidos ou desertores. Já as forças da coalizão tiveram 4.7 mil mortos, 14.600 feridos e 4.7 mil desaparecidos.
Conclusões
A Batalha de Waterloo foi um batalha decisiva clássica e encerrou o ciclo de guerras da Revolução Francesa e do Império.
A derrota de Napoleão era certa, pois mesmo que batesse Wellington e Blücher, outros três exército, ainda maiores estavam invadindo a França. O Congresso de Viena já tinha decido excluir Napoleão do jogo político europeu e reverter vários dos avanços e transformações da implementados pela Revolução e Napoleão (ainda que sua influência fosse duradoura e uma volta ao passado logo se mostrou impossível).
Com relação a batalha propriamente dita, fora o erro grosseiro de Grouchy podemos salientar a resiliência da infantaria britânica em conter os avanços dos franceses e fatores como o tempo, clima e a posição no terreno se mostraram mais favoráveis aos defensores.
Clausewitz, chefe do estado-maior do III Corpo do Exército prussiano, em sua análise sobre as batalhas de Quatre Bras e Waterloo ressalta uma série de erros táticos cometidos por Napoleão e Wellington ao longo da batalha. Conceitos como fricção, acaso, a névoa da guerra, centro de gravidade, ponto culminante da ofensiva, ponto culminante da vitória e a superioridade da defesa sobre o ataque foram aplicados na sua análise presente no opúsculo lançado sobre a Campanha de 1815. Na opinião do general prussiano, a decisão de Napoleão atrasar o ataque e a chegada dos prussianos no momento em que os franceses estavam próximos de romper o centro do dispositivo britânico foram fundamentais para o resultado da batalha.
Imagem de Destaque: The Battle of Waterloo por William Sadler – https://en.wikipedia.org/wiki/The_Battle_of_Waterloo_(painting)#/media/File:Battle_of_Waterloo_1815.PNG
Bibliografia
CLAUSEWITZ, Carl v. On war.Edited and translated Michael Howard and Peter Paret. Princeton: Princeton University Press, 1976.
________________. Campaign of 1815. WELLESLEY, Arthur. On Waterloo. Translated and edited by Chrintopher Brassford, Daniel Moran and Gregory W. Pedlow. Published Clausewitz.com, 2015.
KEEGAN, John. A Face da Batalha. Rio de Janeiro: Biliex, 2000.
Sugestões de livros, filmes e documentários:
Recomendo o filme épico de 1970
CORNWELL, Bernard. Waterloo: A história de quatro dias, três exércitos e três batalhas. O confronto que deteve Napoleão. Disponível na Amazon: https://www.amazon.com.br/Waterloo-hist%C3%B3ria-ex%C3%A9rcitos-batalhas-confronto-ebook/dp/B0106KTYXC/ref=sr_1_5?crid=3CUL427AKRDQT&keywords=waterloo+bernard+cornwell&qid=1654982488&sprefix=waterloo%2Caps%2C243&sr=8-5&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6a09f7ec-d911-4889-ad70-de8dd83c8a74
Battleground: The Art of War – Waterloo. Disponível no sítio eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=oHaOQF0xrk0
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.