Batalha Naval de Camperdown

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Em 11 de outubro de 1797 ocorreu a Batalha Naval de Camperdown na 1ª Guerra de Coalizão, entre a Esquadra Britânica do Mar do Norte formado por 16 navios britânicos de linha e 2 fragatas do almirante Adam Duncan e a esquadra holandesa composta por 15 navios de linha e 6 fragatas comandadas pelo vice-almirante Jan de Winter.

A batalha foi a ação mais significativa entre as forças britânicas e holandesas durante as Guerras Revolucionárias Francesas e resultou em uma grande vitória britânica, que capturaram onze navios holandeses sem perder nenhum dos seus.

Em 1795, a França conquistou a Holanda e exigiu que a marinha holandesa os ajudasse a invadir a Irlanda. Em setembro, a esquadra holandesa sob o comando do almirante De Winter foi bloqueada dentro de seu porto no Texel pela esquadra britânica do Mar do Norte. No início de outubro, Duncan foi forçado a retornar a Yarmouth para obter suprimentos e De Winter aproveitou a oportunidade para realizar um breve ataque ao Mar do Norte.

Em 11 de outubro de 1797, quando Winter voltou para o porto, encontrou Duncan esperando em frente a vila costeira de Camperduin.

Os navios holandeses eram mais leves devido às águas rasas da Holanda. O bloqueio da Royal Navy impediu Winter de treinar suas tripulações em operações em alto mar. Isso os deixou em inferioridade em relação aos veteranos marinheiros britânicos no que se refere a artilharia (pontaria e cadência de tiro) e marinharia (rápido manuseio das velas). Os homens de Duncan eram mais bem treinados e mais experientes do que os holandeses, tendo passado muito mais tempo no mar e foram treinados a disparar três tiros contra os dois dos holandeses a cada rodada, o tempo  entre um tiro de canhão e outro podia variar de 5 a 10 minutos. Resumindo: os ingleses manobram e atiravam mais rápido. Além disso, muitos holandeses estavam irritados por servirem à força a França.

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Camperdown#/media/File:Camperdown_2.jpg

A esquadra holandesa era constantemente vigiada no seu porto por uma divisão britânica liderada pelo HMS Russel que ainda contava com os navios de linha HMS Baulieu, HMS Circe, HMS Martin e pelo cutter armado contratado Black Joke (que servia de sinaleiro e mensageiro). A esquadra holandesa foi avistada às 7 h de 11 de outubro, estava aproximadamente 3 milhas náuticas (5,6 km) mais a sudoeste, tornando-se visível para a frota às 08:30 h. Neste ponto, os holandeses estavam navegando em direção a terra, aproximadamente 9 milhas náuticas (17 km) ao largo da costa da Holanda do Norte, perto da vila de Camperduin. O tempo estava ruim, com mar agitado e forte vento do sudeste quebrado por frequentes rajadas de chuva. Um acontecimento interessante: esse clima muito ruim não impediu que centenas de civis holandeses se reunissem nas dunas para assistir a batalha.

O almirante de Winter formou uma linha de batalha. Duncan pretendia seguir as manobras de Lord Howe no Glorioso Primeiro de Junho ocorrida três anos antes e trazer cada navio através da linha holandesa entre dois oponentes, mas a formação holandesa e a proximidade da costa tornaram este plano impraticável. Devido ao vento as rajadas de chuva e a baixa visibilidade tornavam a leitura dos sinais vindos da capitânia de Duncan, o HMS Venerable um desafio, com isso a esquadra acabou por se dividir em 2 divisões. O HMS Trimph seguido pelo HMS Venerable, capitânea de Duncan, liderava a 1ª divisão e visava atacar a vanguarda de Winter. O HMS Russel liderava o ataque da 2ª Divisão, já que o HMS Monarch, capitânea da do vice-almirante Richard Onslow era o quarto da divisão, que atacaria a retaguarda de Winter.

Os britânicos navegaram direto para a linha de batalha de Winter, com o objetivo de cortar a sua linha de batalha (o famoso corte do “T”). A manobra era arriscada. Cada navio britânico era vulnerável a um ataque combinado quando fechava sobre a formação holandesa. Mas se eles conseguissem passar entre os navios holandeses, eles poderiam varrê-los com seus canhões em quase total segurança. Winter sabia disso e procurou fechar as lacunas de sua linha.

De Winter planejara fechar sua linha em uma plataforma defensiva sólida e recuar para águas mais rasas enquanto os britânicos formava sua própria linha de batalha No entanto, o desorganizado e repentino ataque britânico confundiu seus planos. Como resultado, abriram-se brechas entre sua vanguarda, centro e retaguarda, deixando os últimos quatro navios em grande desvantagem numérica e sem apoio. A linha de batalha holandesa era acompanhada por uma segunda linha a leste, formada por dez fragatas, brigues e embarcações menores. Esses navios, ao contrário dos navios menores da esquadra britânica, estavam bem armados e posicionados nos espaços da linha de batalha, de modo que seus canhões cobrissem as lacunas entre os navios que formavam a linha de batalha, prontos para varrer quaisquer navios britânicos que tentassem romper a formação.

Duncan atacou às 12:05 h. A batalha se dividiu em dois corpos, um ao sul, ou a sotavento, onde os britânicos mais numerosos subjugaram a retaguarda holandesa, e um ao norte, ou a barlavento, onde uma troca mais equilibrada se centrou nas capitânias em batalha. Enquanto a frota holandesa tentava alcançar águas mais rasas em um esforço para escapar do ataque britânico, a divisão de sotavento britânica juntou-se ao combate de barlavento.

Os 8 navios de Onslow se aproximaram e varreram com seus canhões os 4 navios da retaguarda de Winter, antes que o centro da formação pudesse ajudar. Todos os 4 se renderam às 13:45 h. A luta na divisão de Winter foi mais feroz. A nau-capitânea de Duncan, o HMS Venerable, de 74 canhões, atacou a capitânea de Winter, o Vrijheid, também de 74 canhões. O HMS Ardent de 64 canhões juntou-se à Venerable. Vrijheid a atacou, matando o Capitão Burges e incapacitando 100 homens.

https://www.rmg.co.uk/collections/objects/rmgc-object-11996

O centro de Winter se juntou à luta 4 navios os atacaram, 2 navios ficaram fora de combate, o 68 canhões holandês Hércules estava incendiando e ameaçava explodir. Outros navios lutaram para sair de seu caminho. A tripulação da Hércules jogou sua pólvora ao mar para evitar a explosão e finalmente conseguiram apagar o incêndio. A Wassenaar, de 64 canhões, rendeu-se. Um navio holandês atirou deliberadamente contra ela para convencê-la de volta à ação. Às 14:00 h, os navios de Onslow se juntaram à luta. A Hércules se rendeu. Os navios restantes de Winter 2 se renderam e o restante conseguiu fugir.

Bastante danificado a capitânea de Winter ficou para trás. Ele lutou contra a divisão de Duncan sozinho e recusou a se render. Vrijheid perdeu todos os 3 mastros – obstruindo sua bateria de estibordo – e todos os seus oficiais. O capitão William Bligh (famoso pelo caso de motim do HMS Bounty, em 1789) comandante do HMS Director, encurtou a distância e preparaou sue canhões sobre o que restava do Vrijheid e perguntou se de Winter se renderia. Winter desafiadoramente respondeu: “O que você acha?!” de Winter tentou sinalizar seus navios de volta, mas as adriças tinham desaparecido e o seu navio havia perdido os mastros na batalha. Os britânicos abordaram o Vrijheid por volta das 15h. Eles encontraram de Winter consertando pessoalmente o navio para navegar para outro navio e continuar a lutar. O almirante holandês foi capturado em embarcado no HMS Venerable.

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Camperdown#/media/File:Thomas_Whitcombe_(c.1752-1824)-_The_Battle_of_Camperdown-N01659-_National_Gallery.jpg

A esquadra de Duncan teve 203 mortos e 622 feridos. Winter teve 540 mortos, 620 feridos e 3.775 prisioneiros. As baixas em ambas as frotas foram pesadas, pois os holandeses seguiram a prática britânica de disparar contra os cascos dos navios inimigos em vez de seus mastros e cordames, o que causou perdas maiores entre as tripulações britânicas do que normalmente sofriam contra outras marinhas continentais.

Duncan ficou tão impressionado com a bravura de Winter que se recusou a aceitar sua espada, apertando sua mão. Os britânicos capturaram 9 navios de linha e 2 fragatas holandesas. Todos estavam muito danificados para voltar a prestar serviço na linha de batalha. O poder naval holandês estava destruído. A Grã-Bretanha agora detinha o domínio do Mar do Norte. Isso contribuiu para que Napoleão abandonasse seus planos de atacar diretamente a Grã-Bretanha.

Imagem de Destaque: https://www.rountreetryon.com/exhibitions/71/works/artworks_standalone11326/

Bibliografia

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Camperdown

The Line of Battle

Autor: Gregory Fremont-Barnes

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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