Divergências entre Brasil e Índia com a China sobre ampliação do BRICS e a ONU

de

Prof. Ricardo Pereira Cabral

Apesar da forte parceria comercial com a China e a Rússia, Índia e Brasil discordam da forma como a expansão do BRICS e do Conselho de Segurança da ONU deve acontecer, uma vez que os dois países têm objetivos diferentes.

A mídia brasileira especula que a movimentação diplomática chinesa poderia até levar o Brasil a se desengajar no BRICS, em movimento semelhante ao que está sendo feito pela Índia que tem sido cortejada pelos G-7 (EUA, Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Canadá, Itália e também a União Europeia)

Essa nova ordem mundial que começa a engatinhar para se estabelecer um mundo multipolar, um dos grupos de maior destaque é o BRICS, visto que é formado por países que acreditam no conceito de multipolaridade, cooperação econômica sem condicionamentos e na superação da hegemonia norte-americana e seus parceiros do G-7.

Com esse viés, o BRICS tem atraído cada vez mais a atenção de países que são refratários ou rivais ao G-7, em particular aos EUA, ou simplesmente querem relações internacionais que levem em consideração suas particularidades. Recentemente novos países formalizaram pedidos de adesão a organização internacional. Na reunião de ministros de Relações Exteriores do grupo, realizada na Cidade do Cabo, em junho, 19 países manifestaram o interesse à adesão, entre eles Arábia Saudita, Argentina, Argélia, Bahrein, Bangladesh, Cazaquistão, Comores, Congo, Cuba, Egito, Emirados Árabes Unidos, Gabão, Guiné-Bissau, Irã e Indonésia, além de outras nações que ainda não foram identificadas.

Entretanto, há uma divergência clara entre os membros sobre a expansão do bloco. Os chineses e russos tem pressa para promover a ampliação, já indianos e brasileiros estão mais cauteloso e propõem uma expansão com matizes semelhantes do que foi feito no Mercosul.

https://embassynews.info/brics-pedem-reforma-no-cs-da-onu-e-apoiam-candidatura-do-brasil-ao-colegiado/

Em reunião nesta semana em Durban, na África do Sul, o impasse continuou e o tema foi empurrado para a cúpula de líderes marcada para 22 a 24 de agosto em Johanesburgo.

Portanto, haverá muita pressão para que uma decisão sobre a ampliação ocorra no encontro dos presidentes. Nesse ambiente reservado, os líderes poderão dialogar sem constrangimento e chegar a uma solução sobre o ritmo de adesão ao grupo e outras propostas como a criação de uma moeda comum, sistema de compensações, investimentos entre outras.

A mídia brasileira afirma que o Brasil defende que a expansão consista em ter uma categoria intermediária de parceiros, para manter a unidade desse grupo que congrega países com características especiais.

Já Pequim, vê na ampliação dos BRICS uma coalizão de países em torno do polo chinês para contrapor-se à coesão do G7 que tenta frear as ambições de hegemonia chinesa. A divergência entre os dois pontos de vista é visível.

O gigante asiático, com apoio de Moscou, estaria buscando um movimento de mobilização contra o bloco ocidental, em torno de agendas anti-G7, o que não seria do interesse do Brasil e nem da Índia.

Nova Deli tem posições ainda mais duras contra a expansão do BRICS, mas por outras considerações políticas, como a disputa de influência com a China no Oriente Médio por exemplo. A Índia (e o Brasil) tem sido cortejada pelos EUA e seus aliados do G-7, se aproveitando da rivalidade indo-chinesa, para atraí-la para uma aliança anti-China. Já o Brasil tem sido atraído para uma agenda de maiores investimento, maior acesso a tecnologias entre outros pontos.

Ao mesmo tempo, Brasília e Nova Deli tem defendido a ampliação do Conselho de Segurança da ONU. Nesse ponto da agenda internacional, Moscou apoia os dois países.

Segundo a mídia brasileira, a China, apesar do apoio formal público, nos bastidores tem sido o país mais reacionário a expansão do Conselho de Segurança, já que enxerga risco de a reforma empoderar outros países, como Alemanha, Brasil e Índia, que poderão ampliar o seu grau de autonomia e serem capazes de tomaram posições independentes, que podem coincidir ou não com os interesses chineses.

De volta ao BRICS, em vez decidida a expansão, Brasília sinaliza com a criação de uma categoria intermediária de parceiros que lembra a figura de Estados associados ao Mercosul, ou seja, uma adesão em etapas antes de uma adesão plena.

A questão é complexa, um BRICS mais amplo e político, pode se tornar um Grupo dos 77, perdendo grande parte da sua utilidade e se tornando massa de manobra da China contra os EUA e seus aliados no G7.

Mas se a abertura do bloco ocorrer como Pequim e Moscou pretendem, o que pode acontecer com Brasília e Nova Deli no grupo?

https://www.poder360.com.br/economia/brasil-tem-maior-participacao-no-banco-dos-brics-desde-2020/

O Brasil pode promover um gradual desengajamento, onde ele participaria, mas iniciativas atuais de investimentos e cooperação como no campo espacial, no grupo de vacinas e outras áreas de trabalho em ciência e tecnologia sofreriam fortemente.

Nova Deli pode manter o engajamento e cooperação em determinadas áreas semelhante ao Brasil, ao mesmo tempo que aceita um envolvimento maior com o G7 e aprofunda parcerias e relações com o Brasil e a África do Sul.

Contudo, se o BRICS realmente impulsionar uma ampliação, com relação a América Latina, Argentina, Cuba, Honduras e Venezuela, já expressaram publicamente sua intenção de aderir ao bloco.

Muitos analistas internacionais, afirmam que os BRICS não são uma aliança contra o Ocidente, mas um fórum para aumentar autonomia de seus membros no sistema internacional. Para eles, África do Sul, Índia e Brasil estão simplesmente competindo por melhores condições.

Mas na prática não tem se mostrado assim, a China usa o grupo como plataforma para suas ambições políticas globais, apontando as ofertas de Pequim para mediar a guerra na Ucrânia, os exercícios militares conjuntos que realizou com a Rússia na África do Sul e base para seus projetos globais como a Nova Rota da Seda.

Brasília vê no BRICS uma coalizão de nações de peso econômico e importância geopolítica que poderia atuar com força em questões como mobilização de recursos para o desenvolvimento, reforma das organizações internacionais, a começar pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, além de mais simetria nas relações internacionais.

A Rússia tem usado o BRICS para romper o cerco promovido pelas sanções que recebeu pela invasão da Ucrânia. Moscou é a favor do ingresso de novos países, para fortalecer o seu poder político, se contrapor a hegemonia dos EUA, diminuir a influência do G7 e fortalecer o movimento em direção ao multipolaridade.

Em nosso entendimento, a expansão dos BRICS é irreversível, só faltam os membros fundadores acordarem o ritmo e em que condições.

Imagem de Destaque: https://correiodeminas.com.br/2023/04/04/brasil-china-russia-e-india-devem-lancar-moeda-propria-em-agosto/

Fontes

https://valor.globo.com/opiniao/assis-moreira/coluna/as-propostas-divergentes-do-brasil-e-da-china-sobre-a-expansao-do-brics.ghtml

Brasil, China, Rússia e Índia devem lançar moeda própria em agosto

https://veja.abril.com.br/mundo/por-que-19-paises-querem-entrar-nos-brics

Maduro: Venezuela quer fazer parte dos Brics, que está se “transformando em ímã dos que buscam paz e cooperação”

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

1 comentário em “Divergências entre Brasil e Índia com a China sobre ampliação do BRICS e a ONU”

  1. Ter cuidado a melhor coisa que apareceu neste seculo é o fortalecimento do Brics mas não devemos se perder por coisa pequena é importante a união e entender que USA é um inimigo resilente nunca desiste avança sobre o Brasil e a ignorancia do próprio brasileiro principalmente o alienado a repeito do que acontece no mundo.O identitário e o bocó não nacionalista sabota muito o país além do ambientalismo não cientifico ou manipulativo dos países ricos a respeito da soberania legitima do Brasil porém nossos recursos são muito cobiçados e nossos inimigos são muitos.Então todo cuidado é pouco.

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