Filme Irmão de Honra (Devotion)

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Filme norte-americano lançado em 2022, dirigido por J D Dillard, com roteiro de Jake Krane e Jonathan A Stewart, baseado no livro Devotion: An Epic Story of Heroism, Friendship, and Sacrifice de Adam Makos, com a produção liderada por Molly Smith e estrelado Jonathan Majors, Glen Powel, Christina Jackson entre outros. A distribuição é da Sony Pictures (Columbia Pictures). O filme tem 138 min de duração. O orçamento foi US$ 90 milhões e faturou US$21.5 milhões. A distribuição é da Paramount (DVD e streming)

Enredo

No início de 1950, o tenente Tom Hudner é transferido para o Esquadrão de Caça 32 (VF-32) na Estação Aérea Naval de Quonset Point, onde conhece o alferes Jesse Brown, o único afro-americano membro da unidade. Hudner se integra bem ao esquadrão, que recebe F4U-4 Corsairs – aviões poderosos com reputação de acidentes fatais se não forem manuseados adequadamente. Depois que o carro de Brown quebra, Hudner começa a dar carona a ele e acaba conhecendo sua esposa Daisy e sua filha Pam. Os Browns estão indo bem, mas lutam com vizinhos racistas, e Brown começou a gritar insultos racistas para si mesmo no espelho como motivação antes das missões.

O VF-32 passa em seus testes de porta-aviões com o Corsair e é transferido para o USS Leyte, que é implantado no Mar Mediterrâneo para impedir a agressão soviética. Antes de partirem, Daisy faz Hudner prometer que estará lá para ajudar Jesse. Na viagem, o membro do esquadrão Mohring morre em um acidente ao tentar pousar um Corsair. Hudner questiona por que Mohring não seguiu as instruções, mas Brown explica que nem sempre se pode seguir as instruções – se Brown tivesse feito apenas o que lhe foi dito, ele teria sido interrompido no início de sua carreira por muitos oficiais superiores racistas que queriam que ele falhasse.

A unidade tem licença em Cannes, na França, onde Brown encontra a atriz Elizabeth Taylor na praia e consegue convites para o esquadrão ir a um cassino, impressionando-os. Depois que Hudner entra em uma briga com um fuzileiro naval que já havia assediado Brown, Brown diz a Hudner para não lutar suas batalhas por ele, mas simplesmente para estar lá para ele. Brown recebe um relógio caro dos tripulantes negros de Leyte, que o admiram por seu trabalho.

No dia seguinte, o esquadrão é informado de que a guerra estourou entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, e Leyte está se redistribuindo para apoiar o sul. Em novembro de 1950, o VF-32 chega à Coréia e descobre que as tropas chinesas entraram na guerra do lado norte-coreano e começaram a repelir as forças americanas. O esquadrão se posiciona para destruir um par de pontes no rio Yalu entre a China e a Coreia do Norte, embora eles só tenham permissão para atirar no lado coreano da fronteira. Brown e Hudner lutam contra um caça a jato MiG-15 enquanto os outros atacam as pontes, mas um permanece de pé. Enquanto Hudner ordena uma retirada em face do fogo antiaéreo do lado chinês do rio, Brown o desobedece e ataca a ponte sozinho.

O relatório pós-ação de Hudner elogia Brown, mas também menciona que ele estava agindo contra as ordens, o que Brown diz a Hudner que será usado como desculpa para negar-lhe promoções pelo resto de sua carreira, apesar da tentativa de Hudner de revisar o relatório. Em outra missão para apoiar os fuzileiros navais sitiados no reservatório de Chosin (incluindo o fuzileiro naval que anteriormente assediou Brown), o Corsair de Brown é alvejado e ele é forçado a fazer um pouso forçado em uma clareira nas montanhas da Coreia do Norte. Hudner vê que Brown está vivo, mas preso em sua cabine e deliberadamente bate seu próprio avião na clareira para ajudar Brown. Embora apague o incêndio do motor, Hudner não consegue extrair Brown ferido dos destroços, e Brown morre logo após a chegada de um helicóptero da Marinha para ajudá-lo. De volta a Leyte, o comandante de Hudner determina que é muito arriscado tentar recuperar o corpo de Brown da área controlada pelos chineses, e VF-32 (menos o Hudner ferido) é enviado em um “vôo fúnebre” para destruir os Corsairs abatidos, com o cadáver de Brown ainda dentro.

Vários meses depois, um Hudner com o coração partido recebe a Medalha de Honra do presidente Harry Truman por suas tentativas de salvar Brown. Hudner fala com Daisy após a cerimônia e pede desculpas por não ter resgatado seu marido. Daisy comenta que ela apenas o fez prometer estar com Jesse, não para salvá-lo, e Hudner diz a ela que as palavras finais de Jesse foram sobre o quanto ele a amava. O filme termina com uma nota de que os restos mortais de Brown nunca foram recuperados da Coreia do Norte e que as famílias de Hudner e Brown permanecem amigas até hoje.

https://estacaonerd.com/critica-irmaos-de-honra-2022/

Reproduzo a crítica de Matheus Simonsen, de 6/12/22, publicada no site Estação Nerd (recomendo) link: https://estacaonerd.com/critica-irmaos-de-honra-2022/

Infelizmente ainda é muito comum em Hollywood ter esse discurso de aprendizado, um personagem branco recebe constantes lições e entende mais o ponto de vista do parceiro/amigo negro, de uma forma ou outra, o real protagonista da narrativa é Tom. “Em pleno 2022” é bizarro imaginar que existam ainda produções com esse tipo de discurso, totalmente ultrapassado, aquele famoso filme de guerra do “dia de ação de graças”, feriado muito respeitado nos EUA. Mesmo com a pegada “Green Book”, existem coisas boas em Irmãos de Honra para se observar, uma delas se chama Jonathan Majors.

Tom Hudner (Glen Powell) e Jesse Brown (Jonathan Majors) são dois pilotos de caça da elite da Marinha dos EUA que foram designados para a Guerra da Coreia. Nessa situação, eles precisam batalhar pela sobrevivência. Seus sacrifícios heroicos criam uma parceria para toda a vida, tornando-os famosos dentro das forças norte-americanas. Dentre todas as dificuldades, Jesse precisa constantemente batalhar contra o racismo sofrido.

É um filme muito bem intencionado, por bem ou por mal. Ele traz uma história extremamente importante, Jesse foi o primeiro piloto negro em combate pela marinha dos EUA, então é notável o prestígio que o longa traz para essa grande história esquecida entre tantos conflitos. Mas nessa escolha existe o discurso totalmente ultrapassado para lidar com esses eventos, o racismo existente na instituição militar é apenas passado em cenas totalmente genéricas e pra lá de infantis, desde coisas simples até briguinhas entre colegas preconceituosos. E toda essa escolha do diretor acaba que afetando o contexto da obra, a guerra da Coreia não existe quase nenhum pano de fundo para o telespectador entender melhor as motivações das missões, etc.

A história procura mostrar esse “protagonista” chamado Tom evoluir sua pessoa, não que ele seja um racista ou algo do tipo, mas sua visão é limitada sobre todo o contexto que o personagem do Jonathan Majors passa, muito em conta da criação e ambiente em que morou. Sim, isso era algo comum de se acontecer, pessoas aprendendo e vendo a importância da luta antirracista, mas novamente, é um discurso ultrapassado e já previamente contado em outras história ao longo do cinema. As dores ocorridas com Jesse servem de motivação para o personagem Tom, não existe de fato um argumento simbólico para representar essa luta.

Essa abordagem revela um filme frustrante e ultrapassado, mas não é de todo um mal. A presença de Jonathan Majors faz valer o entretenimento do longa. É prazeroso ver o crescimento do mesmo como ator em meio diversos projetos, e a prova disso é sua magnitude em tela, ele rouba a cena. Seja pelas atitudes, os olhares, a voz, é algo que homenageia a figura original do soldado, mas também traz seu próprio arquétipo do personagem. Mesmo que o roteiro não o ajude nisso, o ator consegue desviar de diversas escolhas duvidosas já citadas antes, ele traz o protagonismo para ele.

Uma semelhança curiosa e inevitável é com Top Gun Maverick, sucesso absoluto de 2022. É uma tendência de Hollywood em trazer produções com pegadas parecidas e tentar embarcar na onda que o filme anterior conseguiu alcançar. Mesmo que não seja de todo o foco da obra, é quase impossível não comparar as cenas de aviação e combate com as de Top Gun, ainda mais com seu lançamento fresco com o público. São paralelos de se acompanhar, desde algumas reações não naturais em meio ao combate até evidentes CGIs de tiros brotando na tela, no geral não atrapalham a experiência, mas comparando com produções mais ambiciosas e bem feitas, pode incomodar os mais exigentes.

Irmãos de Honra é o típico filme sessão da tarde, traz amizade, luta e companheirismo. No final das contas, existe a boa intenção, mas ela não fede nem cheira. É uma história que mesmo ignorando o fator crucial e olhando o lado do entretenimento, ela acaba esquecível. As suas longas 2h20 minutos acabam que mostrando as constantes repetições que o filme procura retratar nesse discurso antirracista totalmente feito no modelo de vítima, não empoderamento. São problemas antes visto em filmes como Histórias Cruzadas e Green Book, e novamente repetidos aqui, felizmente existem obras que consegue passar uma mensagem melhor e mais impactante do que o feito aqui.

Livro

Imagem de Destaque: https://www.imdb.com/title/tt7693316/

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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