Legião Indiana: O Exército Indiano Alemão na Segunda Guerra Mundial

de

Prof. Esp. Pedro Silva Drummond

Introdução

No século XX, as relações entre Índia e Grã-Bretanha, não eram boas, os indianos como muitos países que sofreram com a dominação europeia no século XIX e XX, não aceitavam o imperialismo britânico no seu território.  Com o passar dos anos, a relação das duas Nações só piorava, e com o declínio inglês após a Primeira Guerra Mundial e o surgimento de figuras importantes que ajudaram no processo de Independência da Índia, após a Segunda Guerra Mundial, o período entre a Grande Guerra e a Independência do País, foi de diversos acontecimentos que contribuíram para essa crise.

Um destes acontecimentos foi a Legião Indiana, conhecida também como Legião da Índia Livre ou 950º Regimento de Infantaria, que era uma unidade militar criada durante a Segunda Guerra Mundial e que fez parte das Forças Armadas da Alemanha no período do conflito.

A participação de grupos estrangeiros nas Forças Armadas da Alemanha, não era novidade, muitos grupos de diversas nacionalidades do Mundo, estiveram do lado dos alemães e os indianos que tinham seus atritos com a Grã-Bretanha não foi diferente.

Escudo da Legião Indiana usado no braço
https://www.warfareblog.com.br/2021/08/foto-homens-da-legiao-indiana-da.html#:~:text=A%20Legi%C3%A3o%20Indiana%20(Indische%20Legion,
da%20Waffen%2DSS%20a%20partir

Legião Indiana

A criação de uma força militar indiana com o apoio alemão tinha como objetivo inicial pelos indianos, de conseguirem apoio para lutar pela Independência da Índia. Essa motivação tem início em 1941, quando um dos líderes da independência indiana, Subhas Chandra Bose, viajou ao País, com a intenção de conseguir o apoio de Hitler, sendo que: “seis meses depois, com a ajuda do ministro alemão das relações exteriores, ele tinha montado o que chamava de “Centro da Índia Livre”, de onde publicava panfletos, escrevia discursos e organizava transmissões de rádio em apoio à sua causa. No fim de 1941, o regime de Hitler reconheceu oficialmente o “Governo da Índia Livre” provisório no exílio, e até concordou em ajudar Chandras Bose a montar um exército para lutar por sua causa. Foi a chamada “Legião da Índia Livre”. Bose esperara conseguir uma força de 100.000 homens que, quando armados e treinados pelos alemães, poderiam ser usados para invadir a Índia britânica. Ele decidiu recrutar seus homens durante visitas a campo de prisioneiros de guerra que, naquele tempo, era lar de dezenas de milhares de soldados indianos capturados por Rommel no Norte da África. Finalmente, em agosto de 1942, o recrutamento de Bose começou a ganhar impulso.” (DÁROZ, 2009).

Mesmo com a ajuda e o reconhecimento do governo alemão, Hitler não enxergava os indianos como grandes aliados, a boa relação que existiu em 1941, tinha como objetivo um trabalho de propaganda contra os britânicos, como relata Urmila Goel: “Hitler já havia polemizado contra os lutadores pela liberdade indianos em Mein Kampf e concedido aos britânicos o direito de governar a Índia. Ele não via os indianos como arianos com os quais queria lutar contra o inimigo comum, a Grã-Bretanha… A atitude de Hitler em relação à Índia não havia mudado, mas o trabalho de propaganda contra os britânicos agora era do interesse dos alemães.” (GOEL)

Mas, quem eram esses indianos, o pesquisador Filipe Monteiro, indica relata que “os primeiros voluntários foram feitos prisioneiros em El Mekili, durante as batalhas por Tobruk, na Líbia. No geral, havia cerca de 15.000 prisioneiros de guerra indianos na Europa, principalmente mantidos na Alemanha em 1943. Enquanto alguns permaneceram leais ao rei-imperador George VI e trataram Bose e a Legião com desprezo, a maioria foi pelo menos um pouco simpática à causa de Bose. Enquanto cerca de 2.000 se tornaram legionários, alguns outros não concluíram o treinamento devido a vários motivos e circunstâncias. No total, o tamanho máximo da Legião era de 4.500 homens formando um regimento.” (MONTEIRO, 2021)

Prisioneiros de guerra indianos, Líbia, 1941.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Legi%C3%A3o_da_%C3%8Dndia_Livre

Os prisioneiros de guerra indianos, que se tornaram voluntários, permaneciam com o status de prisioneiro, como explica Urmila Goel: “Todos os voluntários mantiveram oficialmente seu status de prisioneiro de guerra para que os britânicos não pudessem reconhecê-los como colaboradores e punir suas famílias por isso. Este regulamento não apenas significava que os soldados indianos poderiam continuar em contato com a Índia por carta, mas também continuaram a receber pacotes de alimentos da Cruz Vermelha durante a guerra. Independentemente desse status legal internacional, os voluntários indianos foram tratados em pé de igualdade com os soldados alemães na Alemanha e na Wehrmacht e foram livres para se movimentar livremente em seu tempo livre.” (GOEL)

Outro aspecto importante, em relação à formação da Legião Indiana, foi à organização das unidades, que não tinham divisões. Diferentemente do Exército Indiano Britânico que tinha uma separação nas suas unidades de acordo com a religião e castas, na Legião, as unidades  tinham lado a lado, muçulmanos, hindus e sikhs. “Na época de sua formação, no final de 1942, 59% dos homens da legião eram hindus, 25% eram muçulmanos, 14% eram sikhs e 2% outras  religiões.” (MONTEIRO, 2021).

Após o recrutamento, os integrantes da Legião Indiana participavam de cerimônias públicas e prestavam juramento de fidelidade a Adolf Hitler: “Eu faço por Deus este juramento sagrado,no qual obedecerei ao líder da raça e do estado alemão, Adolf Hitler, como comandante das forças armadas alemãs na luta pela Índia, cujo líder é Subhas Chandras Bose”. (DÁROZ, 2009).

Durante a Segunda Guerra Mundial, a força militar indiana foi criada inicialmente como um grupo de assalto, e que contribuiria para a “invasão conjunta alemã-indiana das fronteiras ocidentais da Índia britânica, apenas um pequeno contingente foi colocado em seu propósito original. Outro pequeno contingente, incluindo grande parte do corpo de oficiais indianos e da liderança dos suboficiais, foi transferido para o Exército Nacional Indiano pró-japonês no Sudeste Asiático. A maioria das tropas da Legião Indiana recebeu apenas tarefas não-combatentes na Holanda e na França até a invasão dos Aliados na Normandia. Eles viram ação na retirada diante do avanço Aliado pela França, lutando principalmente contra a Resistência Francesa. A 9º companhia do 2º batalhão da Legião foi enviada para a Itália em 1944, onde entrou em ação contra as tropas britânicas e polonesas, sendo depois empregada em operações anti-partisans até 1945, se rendendo aos Aliados junto das demais unidades do Eixo na Itália.” (MONTEIRO, 2021)

Soldados da Legião Indiana em serviço na França
http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/2009/06/legiao-livre-indiana-o-exercito.html

Como citado anteriormente, até a invasão do “Dia D”, a grande maioria dos indianos não tinham grandes participações em combate, isso começou a mudar, quando Himmler autorizou a transferência da Legião Indiana para o controle da Waffen-SS. A unidade foi renomeada como Indische Freiwilligen Legion der Waffen-SS.

Subhas Chandra Bose com Heinrich Himmler, em 1942
https://pt.wikipedia.org/wiki/Legi%C3%A3o_da_%C3%8Dndia_Livre

Nos últimos meses da Guerra, e consequentemente, com a perspectiva de derrota da Alemanha no conflito, as tropas da Legião Indiana que estavam na Alemanha, tentaram fugir para a Suiça. “Eles empreenderam uma marcha desesperada de 2,6 quilômetros ao longo das margens do Lago de Constança, tentando entrar na Suíça pelas passagens alpinas. A legião foi capturada pelas forças americanas e francesas, e entregues às forças britânicas e indianas na Europa. Há algumas evidências de que algumas dessas tropas indianas foram fuziladas por tropas francesas marroquinas na cidade de Immenstadt após sua captura, antes que pudessem ser entregues às forças britânicas. As tropas capturadas seriam posteriormente enviadas de volta para a Índia, onde alguns seriam julgados por traição.” (MONTEIRO, 2021)

Soldados indianos guarnecendo a “Muralha do Atlântico”
http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/2009/06/legiao-livre-indiana-o-exercito.html

Conclusão

Após o fim da Segunda Guerra Mundial, os indianos capturados na Europa, foram enviados de volta à Índia, onde foram julgados, como explica Carlos Dároz: “Um ano depois os legionários indianos foram mandados de volta para a Índia, onde todos foram soltos após pequenas sentenças prisionais.” (DÁROZ, 2009)

A Índia como muitas outras Nações, tiveram seus cidadãos envolvidos diretamente na Segunda Guerra Mundial, muitos integrantes das principais Forças Armadas do conflito, eram de outras nacionalidades. Em muitos casos, principalmente em Países africanos e asiáticos, o principal motivo era aliar-se aos países europeus para depois do conflito, conquistar a independência. Quanto à Índia, um grupo de indianos conhecidos como a Legião Indiana, buscou lutar do lado de um adversário da Grã-Bretanha com o objetivo de conseguir a sua Independência.

O desejo da Legião Indiana durante a Segunda Guerra Mundial, não foi realizado, mas, com as dificuldades que a Inglaterra enfrentaram após o fim do conflito mundial e todos os movimentos para o término do controle da potência europeia na Índia, que ocorriam por muito tempo, a Índia conquistará a sua independência, dois anos após a conclusão da guerra, em 1947.

Imagem de Destaque: Legionários indianos da Wehrmacht sendo inspecionados por oficiais alemães. – https://www.warfareblog.com.br/2021/08/foto-homens-da-legiao-indiana-da.html#:~:text=A%20Legi%C3%A3o%20Indiana%20(Indische%20Legion,da%20Waffen%2DSS%20a%20partir

Bibliografia

DÁROZ, Carlos. Legião Livre Indiana – O Exército Voluntário de Hitler. Disponível em: <http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/2009/06/legiao-livre-indiana-o-exercito.html>. Acessado em 20/04/2023.

MONTEIRO, Filipe do A. FOTO: Homens da Legião Indiana da Wehrmacht. Disponível em: <https://www.warfareblog.com.br/2021/08/foto-homens-da-legiao-indiana-da.html#:~:text=A%20Legi%C3%A3o%20Indiana%20(Indische%20Legion,da%20Waffen%2DSS%20a%20partir>. Acessado em 20/04/2023.

GOEL, Urmila. A Legião Indiana – Um pedaço da história alemã. Disponível em: <http://www.urmila.de/UDG/Biblio/legion.html>. Acessado em 20/04/2023.

Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.

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