Prof. Dr. Thiago da Silva Pacheco
Nem brilhante, nem traidora: Mata Hari foi é vítima.
A verdade é que Mata Hari foi uma espiã inútil. Ela jamais obteve qualquer informação relevante para seus superiores na Alemanha. Descoberta em 1916, devido a interceptações de mensagens secretas alemãs, era uma mulher vaidosa e narcisista. Seu disfarce era tão ruim que foi fácil descobrir de quem se tratava aquelas mensagens.
Os franceses então decidiram usá-la como agente dupla, mas ela continuou leal aos alemães, que não nutriam os mesmos escrúpulos. Assim, eles deliberadamente deixaram uma informação vazar, entregando-a aos franceses. Estes, por seu turno, entenderam o jogo: os alemães a estavam descartando.
Mas o que fazer com a bela Mata Hari? Os franceses descobriram uma utilidade para a famosa espiã (e fama não é um elogio para qualquer espião da vida real), que era acusá-la de ser a responsável pelas várias derrotas da frança na guerra.
A acusação caiu como uma luva para a sociedade francesa. Sendo uma mulher, vaidosa, artista, meretriz, desprendida da moral ocidental-cristã com relação a sexo, Mata Hari era um bode expiatório perfeito para conservadores, moralistas e misóginos de toda sorte. Desviou a culpa da incompetência dos generais franceses.
O caso de Mata Hari é interessante na História da Espionagem no que toca ao gerenciamento das fontes humanas de Inteligência, ou seja, como as peças podem servir não para obter informações, mas para deliberadamente forjar informações. Também é um relato interessante para se notar o quanto a espionagem é volátil, desajeitada, amadora e, não raras vezes, inútil.
Além de expressar, também, uma fascinante trajetória de vida. Margareta Zelle tomou seu destino nas suas mãos. Não era vítima, pois trabalhou por escolha própria para os alemães. Mas Mata Hari, esta sim foi vítima: vítima da misoginia, do conservadorismo e da covardia dos generais franceses. Zelle era de fato culpada de ser espiã. Mas Mata Hari nunca foi culpada de levar a França a derrota alguma…