Expectativa de continuidade e desafios renovadores
A eleição de Donald Trump para um novo mandato presidencial, com posse prevista para janeiro de 2025, é recebida de formas divergentes no Oriente Médio. Enquanto aliados tradicionais como Israel e Egito demonstram otimismo, países como Catar, Irã e outros membros do “Eixo de Resistência” optaram por uma postura diplomática de “indiferença política”.
Especialistas apontam que Trump tende a retomar uma abordagem peculiar para a região, marcada por sua busca por acordos de alto impacto. “Ele quer se apresentar como um grande mediador”, analisa Neil Quilliam, do Chatham House, indicando que os planos do presidente eleito incluem encerrar conflitos envolvendo Israel, revitalizar os Acordos de Abraão e negociar com o Irã
Acordos de Abraão: peça-chave da estratégia
Os Acordos de Abraão, mediados durante o primeiro mandato de Trump, permitiram a normalização das relações diplomáticas entre Israel e países como Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos. No entanto, as negociações com a Arábia Saudita esfriaram após os ataques de 7 de outubro de 2023, prorrogadas pelo Hamas.
“Trump tentará revitalizar os acordos, mas a Arábia Saudita só aceitará avançar se houver progresso na questão palestina”, avalia Quilliam. A criação de um Estado palestino, embora vista como essencial para os analistas, encontra resistência tanto em Israel quanto entre lideranças sauditas.
Conflitos regionais e papel de mediador
Os conflitos atuais entre Israel, Hamas e Hezbollah colocam Trump em uma posição solicitada. “A guerra em Gaza e os milhares de civis mortos complicam a excitação por uma mediação americana”, destaca Kristin Smith Diwan, do Arab Gulf States Institute. Ainda assim, a projeção de força de Trump pode atrair apoio de líderes no Golfo, especialmente pela “política química” entre ele e figuras como Mohammed bin Salman.
Por outro lado, grupos apoiados pelo Irã, como o Hamas e o Hezbollah, dificilmente flexibilizarão suas posições. Segundo Burcu Ozcelik, do Royal United Services Institute, Trump deve adotar uma postura linha-dura, ameaçando avaliações severas e respaldo a ataques israelenses contra alvos estratégicos iranianos.
Pressão sobre o Irã e possível “grande barganha”
O Irã permanece central na estratégia americana. Com seu programa nuclear e apoio a grupos armados sendo alvos frequentes de esforço, Trump provavelmente recorrerá à “pressão máxima” para enfraquecer Teerã.
Apesar de uma abordagem mais militarista dos republicanos, os analistas veem uma abertura para negociações. “Trump pode explorar conversas com Teerã como uma oportunidade para desescalar transferido, proporcionando-se como o líder que trouxe paz ao Oriente Médio”, sugere Ozcelik.
Cenário imprevisível e objetivos ambiciosos
O retorno de Trump promete redesenhar as dinâmicas do Oriente Médio, mas enfrentar um ambiente pós-7 de outubro mais complexo e polarizado. Com a guerra em Gaza, a resistência de grupos apoiados pelo Irã e a pressão por avanços diplomáticos com a Palestina, o novo governo terá de equilibrar ambições com realidades regionais.
Embora Trump busque consolidar sua imagem como mediador, o sucesso dependerá de sua habilidade em lidar com múltiplos atores e conflitos em um dos territórios mais instáveis do mundo.
Fonte: Novo mandato de Trump pode repercutir forte no Oriente Médio – DW – 08/11/2024