O Ataque do U-47 a Base Naval de Scapa Flow

de

Profº. Dr. Ricardo Pereira Cabral

Em de outubro de 1939, o Konteradmiral Karl Dönitz  assumiu o comando da Unterseeboot e resolveu marcar o seu comando com uma operação audaciosa: um ataque a base naval de Scapa Flow, nas ilhas Orkney.

Devido a uma série de fatores, Scapa Flow foi selecionada como a principal base naval britânica no Atlântico Norte. No entanto, as defesas construídas (e reforçadas) na Primeira Guerra Mundial eram inadequadas: a defesa antiaérea era deficiente, os bloqueios antissubmarinos haviam desmoronado e as redes antissubmarinos instaladas nas três entradas eram de fio traçado simples (ineficaz contra os U-bootes que enfrentariam). O número de contratorpedeiros, navios patrulhas e outros meios para a guerra antissubmarino (AS) eram insuficientes. Obras estavam sendo realizadas para reparar essas deficiências, mas a guerra pegou a base despreparada. O nível de despreparo era tal que Scapa Flow, era um convite para um ataque.

Não custa lembrar que durante a Primeira Guerra Mundial, dois U-bootes tentaram atacar a base, mas falharam.

O ataque tinha como objetivo convencer Hitler da necessidade de se investir em uma esquadra de 300 U-bootes. O ditador nazista já estava impressionado com os resultados da guerra de corso e pelo afundamento do porta-aviões HMS Courageous (em 17/9/1939) torpedeado pelo U-29, além dos revezes sofridos pela força de superfície da Kriegsmarine.

A fim de planejar o ataque, Dönitz ordenou que o U-16 reconhecesse a região e solicitou a Luftwaffe imagens aéreas. A partir do relatório do U-16 e da análise das imagens aéreas, Dönitz concluiu que havia uma lacuna de 16 m na entrada nordeste, entre os blocos afundados para barrar a lacuna entre Lamb Holm e o continente.

Dönitz escolheu para a tarefa o Korvettenkapitän Günter Prien. Vamos a um pequeno curriculum vitae do comandante Prien: entrou para a Marinha em 1931, era membro do Partido Nazista (1932), fez curso de submarinista, especialista em torpedos na Escola de Submarinos de Kiel (1935-1936) e embarcou no U-26 depois de concluído o curso. Durante a Guerra Civil espanhola serviu em um submarino designado para “acompanhar” as operações. Em 17 de dezembro de 1938, recebeu o comando do U-47.

O U-47 em U-boot Type VIIB, construído de 1936 a 1937, com a supervisão de Prien, foi comissionado 17 de dezembro de 1938. Deslocava 753 ton na superfície e 857 ton submerso, com um comprimento de 66.5 m, dois motores a diesel e dois elétricos, que lhe davam uma velocidade 17 nós na superfície e 7.6 nós submerso, um alcance na superfície de 8.700 milhas a 10 nós ou 90 milhas a 4 nós submerso, podiam descer a uma profundidade de 230 m, seu armamento constituía-se de 14 torpedos, 1 canhão de 88 mm e uma metralhadora antiaérea .30, sua tripulação era de 4 oficiais e 40 praças.

Em 8 de outubro de 1939, Prien e o U-47 partiram para sua segunda patrulha e mais importante missão. No caminho evitou contato com outros navios, submergindo e às vezes indo ao fundo para não ser detectado. No dia 14 de outubro, a noite, emergiu, sendo exposto pela aurora boreal. As luzes de navegação para as Órcades se acenderam por trinta minutos, permitindo-lhe determinar sua posição. Os vigias avistaram um mercante, Prien ordenou que o U-47 submergisse. No entanto, seguiu o mercante afim de realizar um ataque de treinamento. Prien comandou emergir a altura de periscópio para realizar o ataque, mas apesar da iluminação não conseguiu designar o alvo, resolveu então ataca-lo na superfície.

Chegando nas proximidades de Scapa Flow, Prien navegou pelo centro do canal entre a ilha de Lamb e o continente, contornando as barreiras. A maré permitiu que a passagem fosse feita rapidamente e o tempo era um fator primordial. No entanto, o U-47 ficou encalhado em um banco de areia e Prien teve que dar a ré para se soltar e avançar em direção ao porto. Na altura de periscópio avistou dois alvos compensadores o encouraçado HMS Royal Oak e o tender de porta-hidroplanos HMS Pegasus.

Prien lançou seu primeiro ataque às 00:58 h, mas os torpedos falharam ou saíram do curso, o segundo ataque foi 01:13, em que vários torpedos atingiram o encouraçado, que afundou rapidamente (em 13 min) e matou 835 homens. Concluído o ataque, Prien se retirou pela passagem a boreste do obstáculos submersos mais próximos a ponta de Lambs Holm por volta das 2:25 h o U-47 saiu de Scapa Flow rumo a Alemanha.

Pelo sucesso no ataque, Prien recebeu de Hitler a Cruz de Ferro. A incursão em Scapa Flow foi muito explorada pela propaganda nazista. Dönitz conseguiu chamar a atenção do ditador, mas não recebeu os 300 submarinos que queria, naquele momento.

Depois do ataque, a Royal Navy só retornou a Scapa Flow em março de 1940, depois que os pontos de infiltração utilizados pelo U-47 e outros fossem fechados e as defesas aéreas melhoradas.

O U-47 foi afundado, provavelmente, durante o ataque ao Comboio OB 293, pelos contratorpedeiros HMS Wolverine e HMS Verity, no dia 8 de março de 1941.

Imagem de Destaque: http://donhollway.com/scapaflow/index.html

Sites consultados

– HOLLWAY, Don. The Bull of Scapa Flow. Disponível no sítiio eletrônico http://www.donhollway.com/scapaflow/. Acessado em 07/2/2022.

– Günter Prien. The Last Hurrah. Disponível no sítiio eletrônico http://www.u47.org/english/u47_pri.asp?page=7.  Acessado em 07/2/2022.

https://en.wikipedia.org/wiki/G%C3%BCnther_Prien

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Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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