Ricardo Cabral, Alexandre Galante, Pedro Silva Drummond
Na noite do dia 28 de janeiro de 2023, ocorreram vários ataques contra instalações militares e fábricas de sistemas militares na cidade iraniana de Isfahan.
Já que ninguém assumiu a autoria do ataque, a nossa primeira pergunta seria quem foi o autor? Para responder essa pergunta seria necessário identificar quais os países que teriam as capacidades necessárias de penetrar no espaço aéreo iraniano, sem ser detectado, realizar o ataque e se retirar sem deixar vestígios.
A Arábia Saudita? grande rival regional do Irã não tem os meios necessários e nem motivação política, estão pode ser descartada.
Os Estados Unidos? tem uma base naval em Umm Al Houl e uma base aérea em al-Udeid, no Quatar, nas proximidades de Doha. Nessas bases, os EUA tem os meios operacionais necessários para realizar a missão. No entanto, a possibilidade dos EUA terem atacado os iranianos são remotas.
Israel? Muito provavelmente, o Estado Judeu tem os meios, a expertise e a motivação necessárias para realizar esta ousada operação com muito sucesso. Desde 2020, as IDF (Israel Defense Forces) têm se preparado por intermédio de jogos de guerra, simulações e treinamentos para atacar as instalações nucleares e militares iranianas. O Mossad (Instituto de Inteligência e Operações Especiais) e a Aman (Direção de Inteligência Militar ou a Seção de Inteligência) tem feito levantamentos sobre as instalações de interesse de Israel e infiltrado agentes no Irã. Desde 2010, os israelenses têm realizado vários ataques contra o programa nuclear iraniano (mas não só contra ele), as ações incluem: ataques cibernéticos, assassinatos seletivos contra cientistas, sabotagens e diversos tipos de operações de inteligência.
No entanto, o ataque do último dia 28 de janeiro foi direcionado a instalações militares: depósito de armamentos, fábrica de UCAVs e uma refinaria de petróleo (não está claro se está relacionado ao ataque contra os alvos militares, mas pode ter sido usado como uma distração, uma cortina contra os alvos principais).
Esse ataque tem como objetivo degradar as capacidades militares iranianas e podem ser uma etapa de uma operação mais complexa visando objetivos estratégicos ainda mais relevantes e por outro lado limitar as capacidades de retaliação iranianas.
O Irã tem sido alvo de um largo espectro de sanções, mas tem conseguido desenvolver uma indústria bélica diversificada, com produtos de qualidade, com destaque para os UCAVs (para maiores informações acesse: https://historiamilitaremdebate.com.br/o-programa-de-drones-do-ira/) que tem conseguido atender as necessidades mais imediatas de Teerã.
Nos últimos anos o Irã tem formado parcerias com a China, Paquistão e Rússia, o que lhe permitiu acesso à tecnologia, ampliar suas exportações e romper o isolamento comercial, diplomático e tecnológico imposto pelos Estados Unidos, Israel e seus aliados ocidentais.
Teerã tem uma importância cada vez maior no seu entorno regional (para mais informações acesse: https://historiamilitaremdebate.com.br/o-ira-e-a-balanca-de-poder-no-oriente-medio/) e tem influência direta em vários países como a Síria, Líbano, Autoridade Palestina (Faixa de Gaza), Iraque e Iêmen, além da comunidade xiita. (para maiores informações acesse também: https://historiamilitaremdebate.com.br/analise-do-conflito-curdo-iraniano/)
O ataque
Existem muitas especulações com relação ao ataque sobre como foi o ataque.
Os habitantes dos arredores das instalações militares de Isfahan foram acordados por uma série de explosões. Segundo as autoridades locais teria sido um ataque coordenado de drones, sendo que dois drones foram abatidos e outro causou apenas pequenos danos ao telhado da fábrica. Os ataques noturnos destruíram um complexo industrial militar que, segundo fontes ocidentais, se acredita ser um centro de produção de dones e mísseis usados em todo o Oriente Médio pelos aliados iranianos e pelas forças russas na Ucrânia.
Coincidência ou não, ocorreu um incêndio em uma refinaria de combustível no noroeste do Irã quase ao mesmo tempo em que as explosões foram ouvidas em Isfahan, às 23h30, horário local.
Os meios empregados
É bom lembrar que UCAVs têm desempenhado um papel cada vez mais relevante na guerra não-declarada travada entre o Irã e Israel nos céus do Iraque e da Síria, no Golfo Pérsico, no Mar Vermelho e até no Mediterrâneo oriental, onde navios-tanque foram atacados por ambos os lados desde o início de 2019.
O Irã, normalmente, tem desdobrado sistemas antiaéreos para proteger suas instalações estratégicas. As filmagens feitas no local mostraram uma poderosa explosão causada por uma detonação secundária ou por uma carga útil mais poderosa do que qualquer coisa que um drone pudesse carregar.
Israel tem treinado pilotos de seu caça a jato mais avançado, o F-35, para um possível ataque ao Irã. Ele usou os aviões (F-15, F-16 e F-35) de combate para atacar interesses iranianos na Síria, incluindo entregas de peças de drones ao grupo palestino-libanês Hezbollah.
Israel
O Irã acusa os EUA e Israel de sabotagens contra suas instalações nucleares e militares. Teerã afirma que o Mossad tem agentes infiltrados realizando esses ataques.
Israel, até o momento, não assumiu a autoria dos ataques, mas a imprensa israelense ressaltou que milícias curdas-iranianas e outros grupos de oposição ao regime podem ter realizado o ataque.
Tel-a-Viv tem usado uma variada gama de ações contra o Irã: atentados contra funcionários públicos importantes, militares e cientistas; ataques contra infraestruturas-chave; armando milícias, financiando e fomentando conflitos sociais, étnicos e religiosos, todos com o objetivo de desestabilizar o país e prejudicar a capacidade do Irã de apoiar seus aliados e realizar seus projetos estratégicos.
A utilização de drones nos ataques passa pela necessidade de contrabandear o equipamento por peças. Os agentes infiltrados devem reunir várias capacidades (montagem, guiagem etc) para realizar as operações. Daí o ataque noturno fazer todo o sentido, feito a uma distância segura, que permitissem os agentes realizarem o lançamento, direcionarem os drones para o alvo e rapidamente se evadirem.
Os quadricópteros se tornaram uma marca registrada dessas operações de ataque israelenses.
Em agosto de 2019, Israel enviou um quadricóptero explosivo ao coração de um bairro dominado pelo Hezbollah, em Beirute, Líbano, para destruir o que as autoridades israelenses descreveram como maquinário vital para a produção de mísseis de precisão.
Em junho de 2021, quadricópteros explodiram um dos principais centros de fabricação de centrífugas do Irã, que purificam urânio nas duas principais instalações de enriquecimento de urânio do país, Fordow e Natanz. Esse ataque foi em Karaj, nos arredores de Teerã. O Irã alegou que não houve danos ao local, mas imagens de satélite mostraram evidências de danos significativos.
Há um ano, seis quadricópteros explodiram em Kermanshah, a principal fábrica de drones militares e os depósitos que os guardavam no Irã.
E em maio de 2022, um ataque de drone atingiu um local militar altamente sensível fora de Teerã, onde o Irã desenvolve tecnologia sensíveis de mísseis, drones e nuclear.
Os alvos – presumivelmente incluindo a instalação militar em Isfahan – foram escolhidos em parte para abalar a liderança iraniana, porque demonstram a capacidade da inteligência israelense em localizar instalações-chave, mesmo escondidas no meio das cidades.
Outra possibilidade, seria o emprego de caças F-35 para realizar o ataque. A aeronave é a única que tem as capacidades de invadir o espaço aéreo iraniano sem ser detectada, realizar o ataque a uma distância segura e evadir-se. A imagem a seguir mostra as possíveis rotas de um ataque contra instalações nucleares e que podem ter sido usadas nesse ataque. A maior possibilidade seria a rota 2, diretamente a Isfahan.
Consequências
É praticamente certo que o Irã irá retaliar. As possibilidades iranianas são diversas. O ataque poder vir de aliados iranianos que estão nas fronteiras de Israel até operações contra interesses ou cidadãos israelenses em terceiros países. Teerã in extremis pode bloquear o estreito de Ormuz, mas acreditamos que essa possibilidade é mais remota.
Imagem de Destaque: https://content.api.news/v3/images/bin/e31cb906382fcd192c580d47af104c8f
Não deixem de assistir o vídeo sobre o ataque israelense à Isfahan no Canal História Militar em Debate no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=Cich6MfZeZM
Filme do ataque: https://twitter.com/FSeifikaran/status/1619451105293000705
Bibliografia
– Petróleo: qual o impacto dos ataques com drones a fábrica no Irá para a commodity?. Infomoney, 20/1/23. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/mercados/petroleo-qual-o-impacto-dos-ataques-com-drones-a-fabrica-no-ira-para-a-commodity/
– KNELL, Yolande. As simulações de guerra alimentam especulações sobre ataque de Israel ao Irã. BBC. 23/11/21. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59385877. Acessado em 30/1/23.
– WALLACE, Arturo, A implacável guerra secreta contra o programa nuclear do Irã. BBC. 31/12/20. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-59385877 . Acessado em 30/1/23.
– Israeli Sabotage of Iran’s Nuclear Program. United States Institute of Peace. 21/4/2021. Disponível em: https://iranprimer.usip.org/blog/2021/apr/12/israeli-sabotage-iran%E2%80%99s-nuclear-program . Acessado em 30/1/23.
– Iran’s ballistic missile capabilities. Al Jazeera. 23/9/2017. Disponível: https://www.aljazeera.com/news/2017/9/23/irans-ballistic-missile-capabilities. Acessado em 30/1/2023.
– Drone target Iranian weapons factory in central city of Isfahan. The Guardian. 29/1/23. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2023/jan/29/drone-attack-hits-iran-ammunition-factory-reports . Acessado em 30/1/23.
– WAGHORN, Dominic. Surprise drone attack on Iran was work of Israeli intelligence, US officials say. SkyNews. 30/1/23. Disponível em: https://news.sky.com/story/surprise-drone-attack-on-iran-was-work-of-israeli-intelligence-us-officials-say-12799304 . Acessado em: 30/1/2023.
– MORRISON, Murdo. The changing face os Israel´s UAV sector. Flight International. Disponível em: https://www.flightglobal.com/flight-international/the-changing-face-of-israels-uav-sector/136938.article. Acessado em 30/1/23.
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.
Os sionista não atacam os Persas por um motivo muito simples, porque a resposta do Iran será proporcional no estreito de Ormuz.
Obrigado pelo seu comentário.