Rodolfo Queiroz Laterza
Introdução
Recentemente diversas explosões ocorreram em áreas de infraestrutura crítica na Crimeia e em território russo, com forte repercussão midiática e gerando desdobramentos tático-operacionais por parte das unidades de segurança russas, notadamente o FSB (Serviço Federal de Segurança) e a Rosguardia (Guarda Nacional).
Este artigo analisará os métodos, características operacionais e estrutura organizacional do pouco conhecido Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), equivalente ao FSB da Rússia e altamente envolvido em diversas operações de sabotagem e destruição de infraestrutura crítica no atual conflito militar entre Rússia e Ucrânia.
1. A DINÂMICA OPERACIONAL
A especificidade das operações de informação e psicológica (IPSO) na Guerra da Ucrânia é que elas são realizadas levando em consideração a necessidade de desmoralização máxima, rebaixamento de capacidade operacional da força adversária, construção de narrativas de descrédito e derrotas sucessivas, bem como a formatação no imaginário coletivo mundial de uma ilegalidade, ilegitimidade e violação de soberania empreendidas pela Rússia.
Entretanto este trabalho essencial de IPSO, do SBU, ocorre desde o início do conflito de Donbass em 2014, quando forças russófonas insurgentes se rebelaram contra o movimento sociopolítica Euromaidan que resultou na renúncia do então presidente Victor Yanukovich, de inclinação política favorável a maior integração com a Rússia.
Este conflito emergiu para uma operação antiterrorista (ATO) decretada pelo Governo da Ucrânia, resultando em um estado de beligerância nos oblasts de Donetsk e Luhansk entre as Forças Armadas da Ucrânia e as milícias separatistas russófonas apoiadas pela Rússia
No contexto das especificidades das operações militares da Ucrânia contra as repúblicas do Donbass, com significativo apoio da OTAN, ocorreu um processo de cruzamento (hibridização) de formas de confronto relativamente independentes, como sabotagem e IPSOs, resultando numa melhor caracterização de tais ações promovidas pelo SBU como operações psicológicas de sabotagem (DPO).
O DPO é baseado em ações coordenadas e sistematizadas de desinformação e mentiras, provocações, intimidações e manipulação da opinião pública com objetivos gerais e específicos em um contexto de conflito interno e externo (no caso da Ucrânia, a DPO é conduzida contra a Rússia e seus interesses nacionais).
É importante entender que, embora o conflito militar da Ucrânia não seja uma verdadeira guerra com decretação oficial, ela tem certos componentes psicossociais e culturais de uma guerra civil no seio das sociedades envolvidas, começando com a inegável realidade de que existem setores pró-Rússia da população na Ucrânia, mas há também seções favoráveis ao regime político ucraniano no seio da população das áreas controladas pela Rússia e em seu território. Assim, ambos os lados têm pessoas capazes e dispostas a ajudar o outro lado adversário, o que facilita o recrutamento e as ações de cooptação pelas agências de segurança de ambos países.
Ademais, a cooptação e recrutamento para operações de sabotagem envolvem motivos ideológicos e corrupção simples, seguindo a doutrina das agências de inteligência nestes casos. Tanto o SBU / GUR (Inteligência Militar da Ucrânia) quanto o SVR / GRU russo têm acesso fácil a bancos de dados de cidadãos de ambos países o que lhes permite chantagear uma pessoa do outro lado para cooperação. Eles podem usar informações incriminatórias sobre qualquer atividade (passada ou presente) que possa, se tornada pública, causar grandes problemas a tal pessoa, mas também podem pressionar membros da família, podendo até ameaçar diretamente e induzir uma pessoa a cooperar.
Finalmente, há muitas pessoas pobres e desfavorecidas em ambos os lados, e elas realmente precisam de dinheiro, talvez não para comprar bens luxuosos, mas, por exemplo, para tratar a saúde de um membro da família. As agências de inteligência ocidentais são muito boas em encontrar e usar esse perfil de pessoas.
Outrossim, como em qualquer outro conflito, quando há uma guerra, certamente haverá pessoas que se beneficiarão com isso, mas sempre haverá aqueles que perderão muito e poderão ficar muito infelizes com isso. As pessoas ofendidas são excelentes recrutas para os serviços secretos (a maioria dos desertores soviéticos traiu o país por dinheiro, embora alguns o fizessem porque foram tratados injustamente por seus superiores ou pelo próprio Estado Soviético).
Dessa forma, do ponto de vista doutrinário para articular e dar execução a operações de sabotagem em um contexto maior de IPSO-DTO as agências de inteligência são muito hábeis em:
1) encontrar vulnerabilidades e,
2) explorá-las. Como, por definição, pessoas são singulares, com cargas emocionais próprias, convicções e idiossincrasias, pessoas vulneráveis a recrutamento para tais operações estarão em ambos os lados do conflito.
Segundo a doutrina de inteligência, o recrutamento é baseado em alguma hipnose psicossocial profissional. Em tempos de massivo uso de tecnologia digital, no entanto, os recrutadores não estão mais correndo pelas ruas em busca de pessoas, mas o processo de aproximação e recrutamento se dá pelas redes sociais. São selecionados para recrutamento nas operações de sabotagem e repasse de Informações sensíveis jovens de 15 a 30 anos. Nessa idade, segundo os psicólogos, uma pessoa muitas vezes ainda não decidiu sua posição na vida, sendo, portanto, influenciável.
As redes sociais são construídas de tal forma que o usuário expõe praticamente todas as informações de sua página. A partir de seus interesses e terminando com postagens, citações, status que demonstram claramente sua posição na vida, o que facilita a abordagem para recrutamento.
Para seu propósito, os recrutadores das agências de inteligência escolhem pessoas que estão insatisfeitas com suas vidas. Seja sofrendo de amor não correspondido, decepção com amigos ou pais, falta de dinheiro, recalques com a própria vida, frustração profissional, isolamento social, necessidade de autoafirmação, desejo de aventuras, a esfera de motivações psíquicas que ensejam um recrutamento bem sucedido por uma agência de inteligência é praticamente ilimitado, requerendo capacidade de persuasão pelo recrutador.
Em tais circunstâncias, não é nada difícil iniciar uma correspondência em uma rede social com um estranho. Geralmente começa com curtidas. Imperceptivelmente procede a uma discussão de interesses comuns que aparecem nas páginas dos usuários da rede social.
E quando um recrutador se comunica com uma pessoa, ele já entende sua atitude mental. Como resultado da comunicação, os recrutadores projetam a causa do problema de uma determinada pessoa nos interesses exigidos. Aos poucos, na correspondência, o recrutador começa a avaliar o poder, o sistema estatal, impondo imperceptivelmente o ponto de vista de que necessita. Convence uma pessoa de que seu problema pessoal não está nele, mas em fatores externos – naqueles que interessam ao recrutador. O próximo passo é aproximar a pessoa do recrutador. Sob sua influência, o jovem começa a acreditar que seu problema pessoal realmente surgiu por causa do que foi imposto. Nas páginas pessoais dos usuários nas redes sociais, é preciso identificar as dores dos jovens. É possível fazer isso de acordo com seus status, postagens e pensamentos, tornando mais fácil a um experiente operador de inteligência cooptar eficazmente militantes para obtenção de informações e atos de sabotagem.
Se nas regiões fronteiriças da Rússia, como em Belgorod, ocorrem ações de grupos furtivos ucranianos de reconhecimento e sabotagem, como foi o caso, por exemplo, com a explosão de uma ponte na região de Kursk, em regiões distantes da fronteira russo-ucraniana os atos de reconhecimento e sabotagem são baseados em moradores que se enquadram nos perfis psicológicos acima descritos para os serviços especiais ucranianos.
Um dos principais atores nesse campo são os adeptos das visões de ultradireita e membros de comunidades misantrópicas entre os jovens. Mas há outras categorias sociais que o SBU está tentando usar em sabotagem e ataques terroristas, com ofertas para sabotar a infraestrutura civil e profanar memoriais para soldados russos e soviéticos em troca de drogas, tal como recentemente foi verificado em salas de bate-papo de Telegram para viciados em drogas. Nesse contexto, algo já verificado história de várias agências de Inteligência são experiências e conexões com organizações criminosas criminal no recrutamento de colaboradores para obtenção de informações e realização de atos criminosos. Essas conexões podem ser efetivamente usadas para fins de sabotagem.
2. ESTRUTURAS OPERACIONAIS DAS AGÊNCIAS UCRANIANAS ENVOLVIDAS EM IPSO/DPO
O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) exerce a atribuição legal de autoridade policial no sistema de persecução penal da Ucrânia e é principal agência de segurança do governo nas áreas de atividade de contra-inteligência e de combate ao terrorismo.
De acordo com suas disposições estatutárias e legais, o Serviço de Segurança da Ucrânia é responsável por:
- proteção da contra-inteligência da soberania do Estado, ordem constitucional, integridade territorial, econômica, científica e técnica, capacidades de defesa, segurança da informação da Ucrânia, interesses vitais do Estado, direitos e liberdades dos cidadãos contra invasões de serviços secretos estrangeiros, organizações separatistas, grupos e pessoas que representem uma ameaça à segurança nacional da Ucrânia;
- oposição às atividades de inteligência, reconhecimento e sabotagem e outras atividades ilegais dos serviços secretos estrangeiros;
- proteção de contra-inteligência das autoridades estatais, científicas e técnicas, capacidades de defesa, complexo industrial -militar e infraestrutura de transporte, sistema nacional de telecomunicações e suas instalações, bem como instalações de infraestrutura crítica de importância estratégica;
- prevenção, detecção e resolução de crimes contra a paz e contra a segurança humana, cometidos no ciberespaço; adoção de medidas de contrainteligência, operacionais e de busca, direcionadas ao combate ao ciberterrorismo e à ciberespionagem; combate aos crimes cibernéticos, cujos possíveis resultados representem uma ameaça aos interesses vitais da Ucrânia; investigação de incidentes cibernéticos e ataques cibernéticos aos recursos de informação eletrônica do estado; teste de preparação para proteger instalações de infraestrutura de informação crítica de possíveis ataques cibernéticos e incidentes cibernéticos; garantia de resposta aos incidentes informáticos na esfera da segurança estatal;
- edição de leis administrativas complexas, organizacionais, operacionais e de busca, bem como execução de ações operacionais e técnicas de combate às atividades terroristas, inclusive internacionais e ao financiamento do terrorismo;
- combate a crimes que representem uma ameaça à segurança do Estado da Ucrânia;
- detecção e combate a grupos criminosos organizados transnacionais e inter-regionais, combatendo os sinais do crime organizado em diferentes áreas ( conforme exigido por lei das responsabilidades do Serviço de Segurança da Ucrânia nesta esfera);
- oposição a operações especiais de informação e influências dos serviços secretos estrangeiros, organizações, grupos e pessoas;
- combate ao tráfico e uso ilegal de equipamentos de escuta;
- realização de informações e atividades analíticas no interesse da segurança do Estado da Ucrânia;
- prevenção a crimes contra a segurança do Estado da Ucrânia.
O SBU se reporta ao Presidente da Ucrânia e informa a Verkhovna Rada (Parlamento da Ucrânia) sobre os resultados de sua atividade. A publicação dos resultados das atividades dos órgãos e unidades da SBU é realizada de acordo com os requisitos estatutários.
Entretanto, ressalte-se que informações sobre a organização, planos, conteúdo, formas, métodos, meios, apoio financeiro e logístico, resultados de atividades de contra-inteligência, desenvolvimentos científicos e de pesquisa relativos à segurança nacional e sobre indivíduos que cooperam ou cooperaram anteriormente de forma confidencial com a SBU órgãos e unidades que realizam atividades de contra-inteligência, os dados resumidos sobre o pessoal desses órgãos e unidades são segredos de Estado e devem ser protegidos de acordo com a Lei Federal “Sobre o Segredo de Estado” da República da Ucrânia.
O acesso às informações mencionadas pode ser dado nos casos e ordem definidos diretamente pelo SBU de acordo com os requisitos estatutários. É proibido publicar ou divulgar dados e informações coletados sobre a realização ou não de quaisquer atividades e medidas de contrainteligência em relação a determinada pessoa até que uma decisão pelos resultados de tal atividade ou medidas seja tomada.
O efetivo do SBU é estimado em 33.000 funcionários, tendo sua doutrina e estrutura ainda influenciadas pela antiga KGB (Comitê de Segurança do Estado da antiga União Soviética) e pelo próprio FSB da Rússia, agência pela qual até 2014 tinha forte vínculo e cooperação.
Quanto às estruturas organizacionais envolvidas na implementação do IPSO/DPO na Guerra da Ucrânia, inicialmente essas tarefas foram em grande parte atribuídas à SBU, à Direção Principal de Inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia e ao Ministério da Política de Informação. Em menor grau – ao Serviço de Inteligência Estrangeira e à Administração do Serviço de Fronteiras.
Esta área de atividade foi coordenada pelo Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia (NSDC). Grande relevância também foi atribuída às Forças de Operações Especiais (SSO) na estrutura das Forças Armadas da Ucrânia, pois também lhes foi confiada a implementação do IPSO, para o qual os centros de informação e operações psicológicas foram transferidos para o SSO.
As atividades desses centros são gerenciadas pelo Departamento IPSO do Comando das SOF. Um destacamento combinado e grupos operacionais de centros de operações especiais são destacados para cidades estrategicamente localizadas próximas aos principais fronts, cujo pessoal muda de forma rotativa.
No entanto, mesmo antes da criação da 1ª brigada das Forças de Operações Especiais, não havia escassez de forças de operações especiais nas Forças Armadas da Ucrânia. Até recentemente, as forças especiais consistiam no 3º regimento separado (OP) para fins especiais na cidade de Kropyvnytskyi e no 8º OP Forças Especiais na cidade de Khmelnitsky. Bem como o 140º Centro de Propósitos Especiais em Khmelnitsky, que é composto exclusivamente por oficiais e é projetado para resolver problemas especiais. Esta é a unidade mais treinada das Forças Especiais da Ucrânia, que recebeu um certificado da OTAN. As forças especiais da Marinha são representadas pelo 73º Centro de Operações Especiais da Marinha em Ochakovo. Qualquer uma dessas estruturas pode estar envolvida em sabotagem na Rússia. Além disso, não se pode descartar que o GUR das Forças Armadas da Ucrânia e o SBU possam ter à sua disposição os chamados grupos de inteligência adormecidos, anteriormente criados e escondidos no território da Rússia.
Do ponto de vista da realização de sabotagem e operações psicológicas contra a Rússia no contexto do conflito atual, duas estruturas merecem maior atenção na escalada das operações de sabotagem na Crimeia e em território russo – o SBU e o SSO.
Na SBU, três divisões são as principais responsáveis pela condução de tais operações, quais sejam: o Departamento de Proteção dos Interesses do Estado no Campo da Segurança da Informação (DKIB SBU), o Departamento de Proteção do Estado Nacional (DZNG SBU) e a Academia Nacional do SBU (NA SBU), um dos departamentos especiais do qual treina especialistas em operações de informação.
É dentre os colaboradores destas unidades que se forma um grupo de operações especiais de informação (SIO) no âmbito da Sede Conjunta da Direção Central da SBU (doravante designada como o OSh TsU SBU) – um órgão que desde janeiro de 2015 é totalmente responsável pelas atividades do Serviço de Segurança da Ucrânia no Donbass e que foi originalmente formado com base na ordem do Presidente do Conselho de Segurança da Ucrânia Valentin Nalyvaichenko Nº 7 de 14.01.2014.
A composição deste grupo é completada de forma rotativa, respetivamente, por colaboradores da DKIB, DZNG e da Academia Nacional da SBU.
Ao mesmo tempo, destaca-se que essas operações são realizadas em estreita cooperação com o Serviço de Inteligência Estrangeira, a Direção Principal de Inteligência do Ministério da Defesa e a Administração do Serviço de Guarda de Fronteiras da Ucrânia. Esta atividade é coordenada pelo Conselho Nacional de Segurança e Defesa da Ucrânia.
Essas unidades trabalham interconectadas desde 2015 nas áreas conflagradas em Donbass, atualmente intensificando o trabalho de sabotagem por meio da criação de grupos de combate disfarçado (reconhecimento e sabotagem) no território temporariamente ocupado da Ucrânia, incluindo entre os residentes que têm experiência de combate.
Ao mesmo tempo, há atenção especial pelo SBU às questões de legendagem confiável de atividades de combate operacional (sabotagem e reconhecimento), sob o pretexto da luta de grupos criminosos organizados e formações de redes locais criminosas e subversivas por esferas de influência, bem como infiltração em atividades políticas e movimentos sociais no âmbito das não reconhecidas Repúblicas de Donetsk e Luhansk, além de monitoramento de operações de serviços especiais russos nas áreas não controladas pelas Forças Armadas da Ucrânia – FAU.
As operações de DPO empreendidas pelo SBU seguem doutrinariamente a metodologia de outras agências de inteligência, como imputar as consequências da sabotagem e dos ataques terroristas a criminosos locais, supostamente organizando um confronto por esferas de influência, ou a um movimento de libertação rebelde fictício, ou a operações maliciosamente concebidas dos serviços especiais russos.
Para realizar uma IPSO-DPO, as forças de segurança ucranianas usam ativamente não apenas as redes sociais, mas também a mídia tradicional: mídia impressa, rádio e televisão. Ao mesmo tempo, não hesitam em retirar tempo de antena e frequências das estruturas comerciais, motivando-o pela necessidade de resistência à operação militar russa.
As operações psicológicas da informação se tornaram um tópico essencial da estratégia de guerra entre as forças militares e de segurança ucranianas. Desde a emergência do conflito em Donbass em 2014, estruturas de guerra de informação bastante técnicas e profissionais foram criadas nas Forças Armadas da Ucrânia para identificar e combater ameaças de informação. Ao nível do quartel-general das forças terrestres, foi formado um departamento de guerra de informação, em comandos operacionais – grupos de 3-4 oficiais, em brigadas e escritórios regionais de registro e alistamento militar – grupos de monitoramento e contra-ataque psicológico de 5 especialistas militares e civis.
Além de relatórios semanais sobre a publicação de materiais negativos sobre as Forças Armadas da Ucrânia na Internet, essas unidades também distribuem artigos positivos sobre o serviço militar e mantêm as páginas oficiais das brigadas militares no Facebook.
Os propagandistas militares encomendam certos tipos de materiais e trabalham de empreiteiros terceirizados. Informações sobre isso são frequentemente publicadas em domínio público em sites de compras públicas ou postadas por blogueiros. Em média, os centros IPOC gastaram em 2029 cerca de 10,5 milhões UAH em tais pedidos por ano, havendo um incremento de centenas de milhões de dólares desde o início do conflito em tais gastos.
Vale neste diapasão relembrar as várias operações de tentativas de assassinato da liderança político-militar do DPR-LPR e comandantes de milícias, versões foram lançadas imediatamente sobre confrontos criminais ou operações especiais pontuais das agências de inteligência e segurança russas como o FSB-GRU-SVR da Rússia para eliminar “pessoas indesejadas”.
De fato, a SBU e os executores por ela recrutados estavam por trás da organização de ataques terroristas e sabotagem contra alvos especificamente selecionados dentre as lideranças militares das Repúblicas separatistas de Donetsk (DPR) e Luhansk (LNR) desde 2014. Tomemos como exemplo o caso do antigo chefe do DPR, Alexander Zakharchenko, submetido a tentativas de eliminação física em 14 de agosto de 2014, 30 de janeiro de 2015, 8 de maio de 2017 e , finalmente,em 31 de agosto de 2018, quando operadores de sabotagem do SBU alcançaram seu objetivo matando o então líder da República de Donetsk.
Um dos ataques do SBU de maior destaque foi a morte de outro líder militar proeminente da DPR, o comandante do batalhão Sparta Arsen Pavlov (indicativo de chamada “Motorola”), que foi explodido em sua casa em 16 de outubro de 2016. Em 8 de fevereiro de 2017, ação de sabotagem matou o comandante do batalhão “Somália”, Mikhail Tolstykh (indicativo de chamada “Givi”). Todos esses casos se tornaram uma ocasião informativa para um grande número de versões alternativas da cadeia de eventos por parte da mídia ucraniana.
Outra ênfase por parte do SBU no contexto de IPSO-DPO se dá mediante operações de reconhecimento presencial, coleta de informações de campo, designação de potenciais alvos mediante fornecimento de coordenadas de geolocalização se tornaram crescentes no contexto de ataques crescentes por MLRS e drones nos teatros de operações de Kherson e Donbass.
Um dos ataques terroristas de maior destaque foi a morte de outro líder militar proeminente da RPD, o comandante do batalhão de Esparta Arsen Pavlov (indicativo de chamada Motorola), que foi explodido em sua casa em 16 de outubro de 2016. Em 8 de fevereiro de 2017, terroristas mataram o comandante do batalhão da Somália, Mikhail Tolstykh (indicativo de chamada Givi). Todos esses casos se tornaram uma ocasião informativa para um grande número de recheios da mídia do lado ucraniano.
No âmbito da IPSO-DPO empreendidas pelo SBU com bastante ênfase e resultados, estão operações que visam criar instabilidade social e política nas áreas controladas pela Rússia na Ucrânia e desacreditar as ações das administrações civil-militares coordenadas pelos russos, principalmente na área de Kherson e Zaporizhzhia. No curso deste tipo de operação está a criação de regulamentos falsos dos órgãos administrativos das regiões e cidades controladas pela Rússia, com o objetivo de desinformação, visando desacreditar a capacidade militar das forças inimigas, rebaixar sua prontidão operacional, massificar suas perdas e inferiorizar certos aspectos de sua atividades (notadamente que se refiram à eficiência operacional), iniciando o pânico, criando um cenário de derrota e fortalecendo as tendências centrífugas nas fileiras dos militantes ucranianos recrutados pelo SBU como parte de outras atividades operacionais de DPO.
Outro exemplo são as operações guerra psicológica bem sucedidas para desacreditar a Frota do Mar Negro da Federação Russa, cujas tarefas de informação e influência psicológica também estão definidas para o 73º Centro de Operações Especiais da Marinha (unidade militar A1594), que estava originalmente implantado em Ochakovo.
Além disso, “vazamentos” separados podem estimular as células mobilizadas a procurar traidores e apoiadores russos nas áreas controladas pela Rússia e deflagrar repressões nos aparatos administrativos das fileiras das agências ucranianas, como recentemente verificado com a suposta operação desencadeada contra supostos espiões russos e alegados colaboradores pró Rússia nas diferentes estruturas governamentais ucranianas, o que teria resultado em centenas de prisões.
E há muitos desses atos de sabotagem perpetrados desde o início do conflito em território russo, principalmente nas cidades de Belgorod e Kursk, de maior acessibilidade a células do SBU.
É possível que cada uma das sabotagens cometidas possa ser realizada por uma pessoa que possa trabalhar na instalação a ser alvejada. Mas como estamos vendo uma série de atos de sabotagem, podem ser agentes ucranianos operando em sua própria área. Para implementar esta tarefa, são necessários meios de sabotagem apropriados, que podem ser armazenados em depósitos camuflados ou entregues por agentes especiais aos executores.
As operações de sabotagem pode ser realizada não apenas por algumas “células adormecidas” vinculadas ao SBU, bem como por forças especiais das Forças Armadas da Ucrânia especialmente mobilizadas para operar na retaguarda russa. É quase impossível distingui-los das pessoas comuns, pois falam russo fluentemente e conhecem as peculiaridades culturais. Não há dúvida de que operam vestidos com roupas civis.
O método de retirada para a retaguarda das forças russas pode ser diferente. É improvável que em uma zona densamente povoada e com forte sistema de detecção e defesa aérea como vigente na Crimeia, alguém salte de paraquedas. Neste caso, seria mais conveniente retirar por mar grupos do 73º Centro Naval de Operações Especiais de Ochakov para a Crimeia, através de meios de superfície e subaquática. A via marítima é uma das mais secretas nestes casos, geralmente usada para operações de comandos anfíbios mobilizados para atuar atrás das linhas inimigas.
Especificamente na Crimeia, no auge da temporada de férias, as embarcações de água de superfície podem ser usadas de forma limitada. Ou seja, de um barco inflável, a cerca de uma milha da costa, à noite, os sabotadores vão ao mar e depois se deslocam em botes para a costa. À medida que se aproximam da terra firme, os mergulhadores esconderão suas roupas de mergulho, nadadeiras e aparelhos de respiração se entrarem debaixo d’água. Em seguida, eles receberão roupas, documentos e tudo o que for necessário em sacos lacrados. A bolsa será enterrada, fazendo para tal um esconderijo. Eles também podem usar macacões do tipo seco – sob eles estão as roupas que permitirão que eles se misturem com os turistas.
Outra forma de atuação destas unidades subversivas poderia ser a penetração na área de operações com legalização total ou parcial. Isso é um pouco mais difícil do que apenas nadar com equipamentos de mergulho. Mas dado que o 140º Centro de Forças Especiais das Forças Armadas da Ucrânia é composto exclusivamente por oficiais, eles podem ser levados da Ucrânia para o território russo através da fronteira sob a rubrica de refugiados, dentre os mais de 3 milhões e meio de cidadãos ucranianos que buscaram refúgio na Rússia.
Por exemplo, em 25 de maio, na região de Rostov, foi detido um nacionalista que preparava ataques terroristas nas escolas por ordem do SBU. Sabe-se que ele conseguiu recrutar 800 pessoas para organizações extremistas proibidas na Rússia.
Além disso, os sabotadores podem ser retirados da área de operações e do território da Rússia, onde anteriormente poderiam ser legalizados sob o pretexto de trabalhadores temporários- e até receber passaportes russos. Além disso, os recém-chegados podem ir a uma reunião com o agente e depois, de acordo com o plano dele, fazer a sabotagem por conta própria, silenciosamente saindo como vieram.
De acordo com uma série de variáveis consideradas, as ações dos sabotadores são espontâneas e não estão vinculadas a um plano geral que visa atingir um único objetivo de atrapalhar ou danificar um alvo específico. Os objetos, muito provavelmente, são selecionados de acordo com o grau de acessibilidade máxima. Afinal, o objetivo deles é fazer gerar o máximo de dano e repercussão consequente possíveis, criando necessidades e custos adicionais às forças russas diante da importância de se manter um regime de segurança reforçado para as principais instalações, inclusive na Crimeia. Tudo isso é chamado de “medidas especiais de contra-inteligência”.
3. AÇÕES DE CONTRA-INTELIGÊNCIA DO FSB NA UCRÂNIA
Diante do aumento exponencial de ataques de sabotagem na Crimeia e em território russo, recentemente o FSB e unidades da Rosguardia tem intensificado operações repressivas no escopo de uma estratégia mais ampla de contra inteligência, resultando no desmantelamento de várias unidades subversivas recrutadas pelo SBU, principalmente em Kherson e na Crimeia, com prisões e eliminação de operadores recrutados por aquela agência de segurança ucraniana.
As medidas de contra-inteligência são um conjunto de medidas realizadas por serviços especiais, partes da Guarda Nacional e da polícia para combater a inteligência inimiga e sabotadores. Eles incluem (de acordo com documentos relevantes): verificações secretas de cidadãos; seleção cuidadosa de pessoas para instalações de manutenção; vigilância secreta de pessoas suspeitas; penetração nas fileiras dos sabotadores; captura do pessoal dos corpos de reconhecimento inimigos; escuta e intercepção de comunicações em meios técnicos de comunicação; garantir a segurança interna nas instituições e unidades militares; informar militares e oficiais sobre questões de segurança; garantindo a segurança dos documentos.
Além disso, o FSB, a polícia e as tropas da Guarda Russa podem realizar as seguintes medidas de segurança, se necessário: registro da população e emissão de passes (certificados e instruções especiais) confirmando a identidade de um civil ( militar) ou permitindo movimentação, entrada na instalação; verificação de documentos; restrição do trabalho de transporte público (pessoal) e meios de comunicação; introdução de um toque de recolher; estabelecimento de controle sobre a produção, transporte e armazenamento de armas, munições e explosivos; proibição do uso de UAVs próximo a infraestrutura militar .
Para combater eficazmente os órgãos de reconhecimento e sabotagem do inimigo, os serviços especiais organizam eventos de natureza passiva e ativa. Os passivos incluem, por exemplo, camuflagem de objetos e atividades de tropas, desinformação e ações semelhantes.
Portanto, os serviços especiais russos já estão tomando uma série de medidas necessárias para conter a seria ameaças das ações de sabotagem inseridas no âmbito das operações de IPSO-DPO. Em primeiro lugar, é promovido um trabalho de verificação de representantes de grupos de risco – estruturas e organizações vistas anteriormente em cooperação com extremistas e com a inteligência ucraniana.
Além disso, com a escalada do conflito nas áreas fronteiriças, o FSB, a Guarda Nacional e a polícia tiveram que verificar a vulnerabilidade de todos os objetos, tanto civis quanto militares, cuja desativação poderia causar danos significativos. Para fazer isso, precisa-se olhar para o objeto através dos olhos de um sabotador. A assistência nisso pode ser fornecida por forças especiais, tanto o FSB quanto a inteligência militar.
4. APOIO DA OTAN ÀS OPERAÇÕES IPSO -DPO PELAS AGÊNCIAS UCRANIANAS
No contexto do agravamento do conflito de Donbass e derrotas militares sucessivas ocorridas em 2014-2015, o Governo da Ucrânia emitiu em 21 de abril de 2015, em caráter sigiloso, a “Decisão do Comitê Conjunto de Atividades de Inteligência sob o Presidente da Ucrânia de 21 de abril de 2015”, conforme abaixo se segue:
“O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), juntamente com as agências de inteligência da Ucrânia, dentro de duas semanas, por meio de estruturas de parceiros estrangeiros, devem resolver a questão da organização do treinamento de grupos operacionais de combate (reconhecimento e sabotagem) na infraestrutura existente na Ucrânia com o envolvimento de especialistas estrangeiros”.
Foi após esta decisão que especialistas dos EUA, Grã-Bretanha, Polônia e países bálticos apareceram na Ucrânia em massa, que começaram a treinar funcionários do Departamento de Contra-inteligência do SBU, a Direção Principal de Inteligência do Ministério da Defesa ucraniano e unidades do exército em cometer assassinatos e ataques furtivos em alvos específicos de interesse político -militar.
A título de exemplo desta conexão entre unidades de Inteligência de combate da OTAN e as congêneres ucranianas, duas equipes de combate de especialistas em operações de informação da 77ª brigada das Forças Armadas Britânicas (“Chindits”) operavam na zona próxima à operação da Ucrânia na linha de contato em Donbass. Os grupos consistiam em 10 pessoas, eles estavam localizados em Mariupol no hotel “Chaika” e no hotel “Reikartz Mariupol”, bem como em Kramatorsk no hotel “Sapphire”. Os britânicos estariam envolvidos na interceptação de conversas em telefones celulares, realizavam atividades de influência informativa e treinavam especialistas ucranianos em criptografia, telecomunicações e desinformação.
5. Considerações finais
A dinâmica e as perspectivas da guerra da Ucrânia indicam, diante da ausência de resolução do conflito a curto/médio prazo por meios diplomáticos, ambos países deverão se preparar para longas operações de contra-inteligência e contra-sabotagem que duram muitos anos, já que o custo e a facilidade de deflagração de operações de sabotagem e atentados é muito menor que mobilização de meios operacionais e tropas para confrontos de caráter convencional.
Novos atentados poderão ocorrer, seja em aeródromos, navios, portos, ferrovias, infraestrutura críticas, como hidrelétricas, represas, aeroportos, torres de energia.
A maioria desses ataques de sabotagem/terroristas ainda fazem parte do contexto de uma estratégia de IPSO-DPO e são principalmente para efeito de desgaste, desmoralização midiática e relações públicas. Em termos de seu impacto real nas capacidades militares russas ainda foi residual quanto a seu esforço militar, embora significativo em desgaste.
Para realmente impactar as operações militares, operações de sabotagem exigem um suporte de uma força partidária grande, viável e sofisticada, que os ucranianos e os russos, por ora, não têm por uma ampla margem. Além disso, para realmente afetar as operações militares, é essencial que haja continuidade em escala diária e múltipla, como aplicado pelo talibã no Afeganistão.
Outro desafio para as agências de inteligência envolvidas no conflito, quanto ao planejamento e implementação de operações de sabotagem e de guerra psicológica é o problema de coordenação e interação entre os órgãos de aplicação da lei, no caso da Ucrânia SBU-GUR-DKIB e da Rússia, as agências FSB-GRU-SVR.
Imagem de Destaque: https://www.ndtv.com/world-news/russia-says-explosions-at-arms-depot-in-crimea-acts-of-sabotage-3259100/amp/1
Fontes consultadas:
https://www.apa.org/monitor/2022/06/news-psychological-warfare
https://colonelcassad.livejournal.com/
https://www.goarmy.com/careers-and-jobs/specialty-careers/special-ops/psychological-operations.html
http://www.journal.forces.gc.ca/vo7/no1/special-eng.asp
https://polis.osce.org/country-profiles/ukraine#security-service-10627
https://www.rand.org/topics/psychological-warfare.html
https://rostovgazeta.ru/news/society/25-05-2022/ruka-sbu-ekspert-rasskazal-kak-spetssluzhby-ukrainy-verbuyut-rostovskih-podrostkov#:~:text=M%C3%A3o%20do%20SBU,correspondente%20da%20RostovGazeta
https://rusvesna.su/news
Sabotage and War in Cyberspace
Delegado de Polícia, historiador, pesquisador de temas ligados a conflitos armados e geopolítica, Mestre em Segurança Pública