Após a morte de Yevgeny Prigozhin, líder do Grupo Wagner, em 2023, o Ministério da Defesa da Rússia (MOD) tomou medidas rápidas para substituir as operações do grupo mercenário na África por uma nova unidade chamada “Corpo de Exército da África”. Essa transição não só absorveu ex-mercenários do Wagner, mas também seus recrutadores, que mudaram de aliança para o MOD, continuando a recrutar para a nova formação.
O Corpo de Exército da África, que iniciou oficialmente seus esforços de recrutamento no final de 2023, inicialmente tinha como meta recrutar 20.000 soldados para implantação em cinco países africanos: Burkina Faso, Líbia, Mali, República Centro-Africana e Níger. O Corpo se posicionou como uma força que luta pelos interesses da Rússia globalmente, ao lado de comandantes russos de elite e unidades militares privadas. Uma parte importante da estratégia do Corpo tem sido atrair ex-membros do Wagner, muitos dos quais agora atuam como recrutadores para o MOD.
Entre aqueles que mudaram de aliança está um ex-recrutador do Wagner da região de Perm, que atualizou seu perfil no Telegram para refletir seu novo papel no Corpo de Exército da África. A conta, anteriormente associada ao Wagner, agora anuncia serviços de contrato oficiais no Ministério da Defesa. Da mesma forma, outros ex-recrutadores do Wagner de regiões como Crimea e Oblast de Oryol seguiram o mesmo caminho, oferecendo contratos com o Ministério da Defesa em vez de com o Wagner, embora mantendo os símbolos e emblemas do antigo grupo mercenário.
A crescente influência do Corpo de Exército da África tem sido sentida no continente, especialmente em países como Líbia e Mali, onde a presença do Wagner foi substituída pela nova formação liderada pelo MOD. Algumas fontes indicam que, até o final de 2024, as operações do Wagner em Mali também cessarão, restando apenas o Corpo de Exército da África e algumas unidades do Ministério da Defesa no local.
Apesar das mudanças, o Wagner ainda recruta para “destinos remotos”, principalmente na África. No entanto, o processo de recrutamento agora canaliza em grande parte os recrutas para contratos com o Ministério da Defesa. Alguns ex-membros do Wagner foram até mesmo coagidos a renovar contratos sob ameaça de acusações criminais por atividades mercenárias. Aqueles que permanecem na África estão em grande parte trabalhando sob “acordos existentes” com as autoridades locais, embora muitos tenham sido oferecidos incentivos ou enfrentado pressão para transitar para a nova estrutura do Ministério da Defesa.
Para os recrutas, o Corpo de Exército da África oferece pacotes semelhantes aos que o Wagner oferecia: contrato de um ano com salário de pelo menos 240.000 rublos por mês (cerca de 4.000 a 5.000 USD), com benefícios médicos e sociais, opções de hipoteca militar e promessas de acomodação completa, alimentação, armas e munições. Esses termos, semelhantes às táticas de recrutamento do Wagner, são promovidos como oferecendo condições de “cinco estrelas” para aqueles dispostos a servir em uma unidade de elite.
No entanto, nem tudo vai bem nas fileiras. Apesar das promessas de estabilidade e benefícios, alguns voluntários têm relatado problemas com pagamentos e descumprimento de contratos. Queixas têm surgido em fóruns militares sobre a falha do Corpo de Exército da África em honrar acordos de pagamento e uma falta geral de comunicação. “Velha idiotice do exército”, escreveu um soldado descontente, expressando frustração com promessas quebradas e falta de apoio.
O Corpo de Exército da África também está ligado a várias entidades misteriosas na Rússia. Em Krasnodar, onde os recrutas são entrevistados, os edifícios que abrigam os escritórios de recrutamento estão conectados a organizações geridas por nacionais sírios com vínculos com o Oriente Médio, o que complica ainda mais a narrativa sobre as atividades do Corpo. Apesar das negações oficiais, existem fortes indícios de uma rede complexa facilitando o recrutamento, tanto na Rússia quanto no exterior.
À medida que o Ministério da Defesa continua a expandir sua influência na África, o futuro dos ex-recrutadores do Wagner e os objetivos a longo prazo do Corpo de Exército da África permanecem incertos. O que é claro é que as ambições militares da Rússia na África estão longe de terminar, e os métodos de recrutamento e gestão evoluíram, adaptando-se ao novo cenário geopolítico.
Fonte: From Wagner to the Ministry of Defense: Who Recruits Russians for the “Africa Corps” –