Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
Introdução
Após o Dia D e o avanço Aliado pela França, o tenente-general Dwight Ike Eisenhower, Comandante Supremo Aliado, estava sendo pressionado pelos britânicos Churchill e Montgomery e seus superiores norte-americanos como o tenente-general George Marshall, e subordinados como Omar Bradley e George Patton para aproveitar a degradação da unidades alemães. A Wermacht estava se retirando, oferecendo terreno em troca de tempo, para preparar posições defensivas mais robustas próximas a fronteira com a Alemanha, mas havia uma oportunidade e o marechal Montgomery fazia “exigências” de mais recursos e tropas (inclusive divisões norte-americanas).
A situação estratégica era interessante: na França os alemães faziam um movimento retrógrado dificultando o avanço aliado. No entanto, na Bélgica e na Holanda a resistência era maior devido a importância dos portos de Antuérpia (Bélgica) e Roterdam (Holanda) para os Aliados, além das pontes sobre o Escalda e do Reno que davam acesso a Alemanha. Esta situação levou os alemães a ocupar os bosques e as margens dos rios a fim de impedir ou pelo menos dificultar o avanço Aliado. No ar, a Luftwaffe mal conseguia combater a Força Aérea Aliada, ou seja, permitindo ataques as tropas e ao território alemão, o quadro era de uma virtual supremacia aérea dos Aliados.
Por outro lado, era do território holandês que os alemães atacavam as cidades na Inglaterra com as bombas V-2, o que justificaria uma ação por parte dos Aliados.
Devido ao sucesso das operações aeroterrestres na Itália e na França havia uma pressão para o emprego do recém criado 1º Exército Aliado Aerotransportado, constituído pelas divisões norte-americanas a novata 17ª, as veteranas 82ª e 101º Divisão Aerotransportada, das 1ª e 52ª Divisão Aerotransportada britânicas, além da 1ª Brigada Polonesa Paraquedista Independente. O comandante doera o tenente-general norte-americano Lewis Brereton não era paraquedista, mas tinha larga experiência na Força Aérea dos EUA.
O conceito estratégico da operação Market Garden era ocupar uma série de pontes na Bélgica e na Holanda por tropas paraquedistas que permitisse que um corpo blindado pudesse avançar até alcançar o território alemão. Essa manobra beneficiaria o 21º Grupo de Exércitos britânico, comandado por Montgomery, em detrimento de um ataque coordenado com 12º Grupo de Exércitos norte-americano à Linha Siegfried.
O planejamento da Operação Market
A ideia da operação foi levada por Montgomery ao Estado-Maior Conjunto Aliado em 10 de setembro, prevendo o início da operação em 15 ou 16 de setembro de 1944. Os comandantes paraquedistas norte-americanos reclamaram do pouco tempo para o planejamento (provavelmente os comandantes britânicos já tinham conhecimento da operação). Aliás, o planejamento da operação foi feito às pressas, sem a devida atenção aos dados de inteligência colhidos, inclusive pela resistência holandesa.
A principal (e praticamente a única) boa estrada para suportar os blindados era a Rodovia 69 (mais tarde apelidada de Rodovia do Inferno). tinha duas faixas de largura, parcialmente elevada acima de um terreno plano circundante de polder ou da planície de inundação dependendo do trecho. O solo em ambos os lados da rodovia era em alguns lugares muito mole para suportar o movimento de veículos e havia vários diques e valas de drenagem. Em vários pontos (mesmo ao lado da estrada) o terreno era pantanoso. Os diques tendiam a ser cobertos por árvores ou grandes arbustos, e as estradas e caminhos eram margeados por árvores oferecendo cobertas e abrigos. No início do outono, isso significava que a observação seria seriamente restringida e o deslocamento inseguro, pois, como de fato aconteceu, os alemães poderiam ocultar tropas nos bosques.
A logística era um grande problema dos Aliados. Vamos lá, o porto de Antuérpia, fora aberto pelos britânico, mas as margens e o curso do rio à montante estavam sob o controle alemão, o que dificultava o seu uso. Um grande erro estratégico de Montgomery. As boas estradas de rodagem capazes de suportar o tráfgo pesado eram limitadas e pouco extensas. As estradas de ferro foram danificadas pelo bombardeio aliado e pelas destruições alemães, faltavam caminhões para transportar os suprimentos, munição, combustível etc.
Outro ponto: havia seis grandes obstáculos entre o ponto de partida do XXX Corpo, unidade que lideraria o ataque terrestre, e o objetivo da margem norte do Nederrijn, a saber: o Canal Wilhelmina em Son en Breugel com 30 m de largura; o Canal Zuid-Willems em Veghel com 20 m; o rio Maas com 240 m; o Canal Maas-Waal com 60 m; o rio Waal em Nijmegen 260 m e o Nederrijn em Arnhem 90 m. Haviam duas áreas montanhosas que deveriam ser conquistadas uma no norte e outra no oeste, o cume Groesbeek, bem na zona de operações da 82ª Div Aerotransportada.
A Operação Market Garden
A Operação Market Garden teve início no dia 17 de setembro, com o lançamento do escalão de ataque, o lançamento dos demais escalões estava previsto para ocorrer nos dias seguintes. O objetivo era criar uma saliência de 103 km em território alemão com uma cabeça de ponte sobre o rio Reno, criando um rota de invasão aliada no norte da Alemanha. A operação tinha duas suboperações: a primeira, conquistar e manter nove pontes pelas divisões aeroterrestres dos EUA e do Reino Unido (Operação Market/Mercado); a segunda, o avanço por terra de forças blindadas e mecanizadas do RU que passariam pelas pontes fazendo a ligação com os paraquedistas (Jardim/Garden).
A operação Market seria a maior operação aerotransportada da história, entregando mais de 34.600 homens da 101ª, 82ª e 1ª Divisões Aerotransportadas e da Brigada Polonesa. 14.589 soldados desembarcaram de planadores e 20.011 paraquedistass. Os planadores também trouxeram 1.736 veículos e 263 peças de artilharia. 3.342 toneladas de munição. Os suprimentos também foram lançados de paraquedas até a junção com a força blindada.
A noite de 17 de setembro, foi uma lua escura e nos dias seguintes a lua nova se pôs antes do anoitecer. Naquela época a doutrina aerotransportada aliada proibia grandes operações na ausência de luz, portanto a operação teria que ser realizada à luz do dia. O risco de interceptação da Luftwaffe foi considerado pequeno, dada a esmagadora superioridade aérea dos caças aliados, mas havia preocupações sobre o número crescente de unidades antiaéreas na Holanda, especialmente em torno de Arnhem.
A operação à luz do dia, diferente do que conteceu na Sicília e na Normandia, teriam uma maior precisão de navegação muito maior e compressão de tempo de sucessivas ondas de aeronaves, triplicando o número de tropas que poderiam ser lançadas por hora. O tempo necessário de reorganização das unidades aerotransportadas na zona de lançamento após aterrissar seria menor e mais rápida permitindo que passassem quase que imediatamente a conquista de seus objetivos.
As divisões aerotransportadas tiveram apenas uma semana para o planejamento, escolha das ZL e a distribuição dos unidades pelos aviões, designação dos objetivos etc. Gavin reclamou da falta de tempo para o planejamento e tinha dúvidas sobre a possibilidade de êxito da operação.
A Operação Market designou como alvos da 101ª Divisão Aerotransportada as pontes ao norte de Eidhoven sob os rios Son e Veghel. A 82ª Divisão Aerotransportada saltaria a noroeste para tomar as pontes sobre o Grave e Nijmegen. A 1ª Divisão Aerotransportada britânica e a 1ª Brigada Independente de Paraquedistas saltaria no extremo norte da rota e sua missão era capturar a ponte rodoviária em Aenhem e a ponte ferroviária em Oosterbeek.
Os alemães
Após uma série de operações desastrosa para conter os Aliados na França, os alemães estavam se reorganizando. O XV Exército foi enviado para a Holanda, eram 65 mil combatentes, 225 canhões e 750 caminhões apoiados por uma flotilha de barcas e pequenos barcos.
O Marechal Walter Model era o responsável pela defesa da área e uma de suas primeiras medidas foi determinar que a 719ª Divisão de Infantaria ocupasse o canal Albert. Esta divisão era constituída por unidades recém formadas e remanescentes das 84ª, 85ª e 89ª Divisões de Infantaria que tinha sido retiradas da linha de frente, após sofrerem pesadas baixas no dia D e na tentativa de conter o avanço aliado, seu comandante o tenente-general Kurt Chill era metódico, agressivo e era um comandante de campo muito bom, um líder.
Model recebeu o 1º Exército Fallschirmjaeger (paraquedista), sob o comando do coronel-general Karl Student, para e formar uma linha defensiva a frente do canal. Este Exército não estava completo, pois estava sendo formado, reunindo as unidades paraquedistas espalhadas nas várias frentes de batalha, sobreviventes de outras unidades e por unidades em formação. Student também recebeu unidades da Kriegsmarine e SS para compor o seu exército.
No início de setembro, Model recebeu o II Corpo Panzer SS, contituído pelas desfalcadas 9ª e 10ª Divisões Panzer SS, sob o comando do tenente-general Wilhelm Bittrich. As duas divisões estiveram lutando desde o Dia D e contavam com apenas 30% da sua força de combate. A 9ª Div Panzer SS transferiu o seu efeitvo e material para a 10ª Div Panzer SS, sendo transferida para a Alemanha para ser reconstituída. Com isso o corpo blindado alemão tinha um efeitvo de aproximadamente 3 mil homens; um regimento de infantaria blindada, 1 batalhão de reconhecimento divisional, 2 batalhões de artilharia e 1 batalhão de engenharia, todos parcialmente motorizados
Entre 16 e 17 de setembro, duas divisões de infantaria do XV Exército foram reunidas no Brabante, estavam bem equipadas e Model as colocou na reserva. Em Eindhoven e Arnhem, estavam sendo formadas unidades Fliegerhorst (pessoal de terra da Luftwaffe) e Schiffstammabteilung (pessoal de terra da Kriegsmarine) reunindo pessoal remanescentes de várias unidades SS, da infantaria/pessoal de terra da Luftwaffe e da Kriegsmarine. Na Holanda estavam em treinamento batalhões de infantaria, de artilharia de campanha e antiaérea, e batalhões de depósito da Divisão Panzer Hermann Göring.
Por último Hitler prometeu a Model: 200 tanques Panther e que todos os tanques Tiger, canhões autopropulsados Jagdpanther e canhões de 88 mm disponíveis na Alemanha fossem transferidos para o Ocidente.
Como verificamos acima, os alemães estavam se preparando para uma ofensiva aliada pelo eixo dos canais Maas-Scheldt e Albert. Acreditavam que os aliados utilizariam suas unidades blindadas para forçar a travessia do Maas (nome holandês do rio Mosa) e depos do Rhin (nome holandês do rio Reno) a fim de invadir a área industrial do Ruhr. Não estavam descartando o emprego de paraquedistas, só não tinham certeza de onde.
O interessante é que a inteligência aliada tinha conhecimento dos preparativos alemães, da presença de unidades blindadas na zona de lançamento e na área de operações em Arnhem (onde saltaria a 1ª Divisão Aerotransportada britânica). No entanto, Montgomery se recusou a alterar os planos.
A 82ª Divisão Aeroterrestre em ação
A missão da 82 era conquistar e manter a ponte sobre o rio Mosa, em Grave, conquistar e manter o terreno elevado nas vizinhanças de Groesbeek, conquistar e manter uma das quatro pontes sobre o canal Mosa-Waal e conquistar e manter a grande ponte sobre o rio Waal, em Nijmegen. Os objetivos da divisão estavam espalhados por 40 km, a experiência ensinou que as ZL deveriam ser o mais próximos possíveis de seus objetivos.
Próximo a zona de ação ficava uma área densamente arborizada e no terreno elevado estava a cidade de Nijmegen. Ao redor do terreno elevado e arborizado havia uma planície com cerca de 8 km que se estende até o rio Waal. A conquista desse terreno elevado era fundamental para o cumprimento da missão. A ponte de Nijmegen tinha 550 m de extensão e provavelmente estava preparada para ser demolida. O planejamento inicial de Gavin previa conquistar primeiro o terreno elevado, ao mesmo tempo conquistar a ponte sobre o Grave e pelo menos um das quatro sobre o canal para só depois tentar tomar a ponte em Nijmegen.
Havia ainda um grande problema em potencial, a cerca de 40 km da zona de ação existia Reichwald uma zona arborizada, onde os britânicos desconfiavam que existiam unidades blindadas e SS, além de artilharia anti-aérea e 88mm.
Gavin recomendou aos seus subordinados: primeiro, cortar todos os fios que chegam a ponte; segundo, remover as cargas de demolição; terceiro, atacar a ponte pelos dois lados simultaneamente e depois de conquistada a ponte, organizar posições defensivas para mantê-la. Se tivessem conseguido cumprir as missões determinadas no primeiro dia, ao final da tarde ou a noite, um batalhão do 508º RIPqdt deveria ser designado para tomar a ponte de Nijmegem.
Gavin estava com muitas dúvidas sobre o sucesso da Operação Market Garden: um salto em combate diurno, a mais de 80 km atrás das linhas inimigas, com poucas informações sobre o inimigo e com uma série de ações prévias que deveriam dar certo. A unidade tinha muitos veteranos que tinham participado dos três saltos operacionais já realizados pelos Aliados, tinham participado de combates difíceis, muitos tinham sido feridos, até mais de uma vez e sabiam que as perdas seriam elevadas, como ocorrera das outras vezes.
Como aconteceu das outras vezes, Gavin se preocupava com os detalhes: o equipamento que os paraquedistas deveriam transportar, rações e munições extras, a orientação dos percussores na demarcação da ZL, as ordens, procedimentos, condutas de combate, as missões eram repassadas para que não tivessem dúvidas e fossem confiantes para a missão. O cuidado com as rotas a serem seguidas pelos aviões, procedimentos para o salto etc, tudo merecia sua atenção.
Os primeiros aviões da 82 decolaram às 11:09 h. A sorte estava lançada. Durante o voo, Gavin normalmente comandava o avião e tão logo se aproximaram do litoral, mandou todos levantarem-se, verificarem o equipamento e engancharem, a fim de poderem saltar rapidamente caso fossem atingidos pelo fogo anti-aéreo.
O salto foi mais rápido do que o normal, devido aos paraquedistas estarem sobre carregados. As unidades aterraram próximos as ZL, tão logo tocaram o solo, reorganizaram e partiram para seus objetivos, tudo estava ocorrendo como planejado. Cerca de 84% dos planadores pousaram nas suas zonas de pouso ou no seu entorno. Estava tudo indo muito bem.
Na 82ª Divisão Aerotransportada, 89% das tropas pousaram em ou dentro de 1 k de suas zonas de lançamento e 84% dos planadores pousaram em ou dentro de 1 k de suas zonas de pouso. Isso contrastava com as operações anteriores em que as quedas noturnas resultaram em unidades sendo espalhadas.
Por ocasião do pouso das unidades planadoristas, um aterrisou fora da zona de pouso e estava bem destruído. Os alemães ao patrulharem a zona, revistaram o planador e lá encontraram uma cópia da ordem de operações constando os objetivos, a distribuição das unidades, a previsão de hora e local de lançamento e desembarque de tropas e suprimentos. Esse planos chegaram as mão do coronel-general Karl Student que os encaminhou ao marechal Model que planejou uma série de contra-ataques contra os paraquedistas aliados e cortar a linha de comunicação entre aqueles e o XXX Corpo.
No primeiro dia, a 82 cumpriu parte de seu objetivos. Duas companhias 504º RIPqdt (coronel Reuben Tucker) tão logo reorganizaram forma conquistar seus objetivos, a 5ª Companhia do tomou a ponte de Grave e a 4ª Companhia a ponte da eclusa em Heumen do canal Maas-Waal. O 505º RIPqdt (coronel Roy Lindquist) e o 376º RArtPqdt (tenente-coronel Wilbur Grifiith) concentraram seus esforços em tomar as colinas de Groesbeek (a fim de bloquear um possível contra-ataque alemão vindo de Reichwald). A resistência alemã se concentrou na defesa das pontes e em algumas posições de artilharia anti-aérea, na maioria das ocasiões, os paraquedistas conseguiram derrotá-los. Tão logo conquistavam as pontes, os paraquedistas organizavam a defesa, foram plantadas minas nas vias de acesso, ninhos de metralhadoras, distribuídas armas anti-carro (bazucas, depois as alemães panzerfaust muito melhores), construídas tocas para duplas, e posições para a artilharia.
As pontes nº 8 e 9 foram demolidas. A 10 era um ponte rodoviária, cruzava o canal ao lado de um ponte ferroviária, era vital capturá-la, era a única que poderia suportar o peso dos blindados e por isso estava bem defendida com trincheiras e casamatas cercadas por arame farpado. O 508º recebeu a missão de capturá-la, dois pelotões tentaram tomá-la a noite, mas a resistência alemã impediu. Pela manhã, os alemães explodiram a ponte ferroviária, danificando a ponte rodoviária, isso não impediu que elementos do 508 a capturassem. Em consequência, somente a ponte 7, em Molenhoek, passou a ser fundamental para o cumprimento da missão, pois era a única ponte que permitia a passagem de blindados do XXX Corpo britânico. Os combates entre a 82nd Arirborne Division e a 6th Fallschirmjaeger Division pela posse da ponte foram dramáticos.
A noite, como combinado, o coronel Roy Linquist, comandante do 508º RIPqdt, enviou um batalhão para tomar a ponte de Nijmegen. O batalhão foi detido por uma unidade SS que havia se dirigido para o sul de Arnhem. Uma parte da unidade SS retornou a Arnhem, mas encontrou a extremidade norte da ponte de Arnhem ocupada por elementos da 1ª Divisão Aerotransportada britânica. Na tentativa de cruzar a ponte, a maior parte da unidade SS foi destruída.
O 508º RIPqdt foi encarregado de tomar a ponte de Nijmegen. Como estavam longe do objetivo, o 1º Batalhão demorou a chegar. Os alemães dispunham de blindados, canhões 88 mm e metralhadoras. O 3º Batalhão reforçou o ataque, mas os alemães do 9º Batalhão de Reconhecimento SS rechaçaram o ataque, posteriormente formaram uma linha defensiva na cidade de Elst, entre Arhem e Nijmegen.
Capturar esta ponte era vital. Ao contrário de algumas das pontes ao sul, que eram sobre rios e canais menores que podiam ser superados por unidades de engenharia, as pontes de Nijmegen e Arnhem cruzavam dois braços do Reno que não podiam ser superados facilmente. Se qualquer uma das pontes Nijmegen ou Arnhem não fosse capturada e mantida, o avanço do XXX Corpo seria bloqueado e a Operação Market Garden falharia.
Neste mesmo dia 18 de setembro, o 504 tentou tomar a cidade de Grave, mas bem defendida pelos alemães teve que recuar. Já o 508 estava bloqueando os contra-ataques alemães vindos em Horst, Grafwegen e Riethorst. Na área do 505, começaram a surgir alemães entre Wyle e Beek, no lado alemão da fronteira isso preocupava. O coronel Ekman estabeçeceu uma posição defensiva utilizando dois batalhões que cobriam o terreno elevado de Kamp até Wyler. Os regimentos foram orientados a patrulhar agressivamente o terreno à frente.
Outra notícia negativa, foi que os alemães passaram a atacar as zonas de pouso e as ZL para recebimento dos suprimentos e reforços como o 325º RIPlanador, obrigando Gavin a empenhar o 3º Batalhão (reserva da divisão naquele momento) para a ‘limpar” a zona de aterragem.
O 505 defendeu sua posição de uma série de contra-ataques alemães em Horst, Grafwegen e Riethorst. No início do dia, os contra-ataques alemães tomaram uma das zonas de desembarque dos Aliados, onde a segunda leva estava programada para chegar às 13h. O 508 atacou por volta das 13 h e em seguida limpou a zona de pouso, capturando 16 peças Flak alemãs e fazendo 149 prisioneiros. Atrasado pelo clima na Inglaterra a segunda leva só chegou às 15h30. Este leva trouxe elementos dos 319º e 320º Batalhões de Artilharia de Campanha Planador, do 456º Batalhão de Artilharia de Campanha Pára-quedista, 307º Batalhão de Engenharia Planadorista e elementos de apoio médico. Vinte minutos depois, 135 bombardeiros B-24 lançaram suprimentos. A maior parte dos suprimentos caíram na terra de ninguém, cerca de 80% foram recuperados.
Nesta altura, da campanha, Gavin se deu conta que as informações recebidas na Inglaterra não conferiam. Os alemães estavam bem equipados e motivados, nada a ver com “um exército desmoralizado e em retirada”. Orientou seu comandantes de regimento a serem comedidos no emprego das reservas, reforçando os pontos atacados com meios suficientes para repelir o inimigo e guardar uma parte da reserva para repelir ataques maiores. Os alemães faziam muitos ataques testando a frente, buscando os pontos mais fracos para concentrar seus esforços e abrir brechas. Felizmente para os norte-americanos, os panzers ainda não haviam chegado em grande número a linha de frente.
No dia 19 de setembro, os alemães sabiam que a ponte de Nijmegen era fundamental para toda operação e resolveram reforçar os efetivos e defendê-la. A 10ª divisão SS Panzer estava encarregada de deter o ataque Aliado e começou a tomar as posições para defender a ponte. Nesta manhã, o 504 fez contato com a vanguarda da Divisão Bld de Guardas do XXX Corpo, pemitindo que o regimento se engajasse e reforçasse o ataque a ponte de Nijmegen. O 1º e o 5º Batalhão da 5ª Bda Bld de Guardas passaram a reforçar a 82.
No dia 20 de setembro, Gavin (muito pressionado pelos britânicos e apesar das condições adversas) tomou a decisão que a ponte sobre Waal deveria ser tomada de qualquer jeito. Como toda a divisão saltou do lado sul e a melhor forma de tomar uma ponte é ataca-la pelos dois lados, a decisão foi atravessar o rio e ataca-la pelo lado norte. No entanto, os únicos barcos disponíveis eram os modelo bailey que estavam em algum lugar com a engenharia britânica do XXX Corpo. A demora na chegada dos barcos levou que o assalto fluvial fosse feito durante o dia (por volta das 15 h). Para o cumprimento dessa missão foi designado o 3º Batalhão/504º RIPqdt, sob o comando do major Julian Cook. O batalhão foi distribuído nos 26 barcos recebidos da Companha C do 307º Batalhão de Engenharia. Um ponto interessante, os barcos não tinham remos para todos e os paraquedistas improvisaram usando a coronha dos fuzis como remos. Apesar do fogo intenso dos alemães, a primeira vaga de ataque conseguiu formar uma cabeça de praia, mas o preço foi alto, batalhão perdeu cerca de 200 homens e apenas metade dos barcos sobreviveram à primeira travessia. Houve vários atos de bravura, os paraquedistas, mesmo antes de alcaçaram a margem pulavam na água, avançando pelas margens elameadas sob fogo pesado dos alemães, expulsando-os dos abrigos individuais. Os outros dois batalhões do 504 atravessaram no fim da tarde, avançando pela vila de Lent em direção a ponte, encontrando grande resistência por parte dos alemão, inclusive com tanques, travando uma batalha feroz.
No início da noite, elementos do 2º Batalhão da Divisão da Guarda Blindada Irlandesa e do 2º Batalhão (TC Ben Vandervoot), do 505º RIPqdt, conseguiram atravessar a ponte pelo norte apesar da enorme resistência reforçada dos Panzer Granadier. Um dado interessante, os paraquedistas progrediram casa a casa ou pulando de um telhado para outro no casario próximo a ponte sob fogo de metralhadores, morteiros e canhões pesados. Batalhão veterano, considerado por Gavin como um dos melhores da Divisão.
O SS-Gruppenführer (general de divisão) Heinz Harmel, comandante da 10ª Divisão Panzer SS, havia previsto o ataque dos paraquedistas e a possibilidade de explodir a ponte no caso dos Aliados estiverem na iminência de conquista-la. Os engenheiros britânicos conseguiram desarmar os explosivos deixados pelos alemães. Existe uma tradição, não confirmada, que afirma que quando a ponte foi conquistada, os paraquedistas acenaram para os tanquistas irlandeses com uma bandeira norte-americana informando que a ponte fora conquistada. Após “limpar a ponte”, paraquedistas e irlandeses atravessaram a ponte e tiveram que abrir caminho lutando até a vila de Lent, para fazer a ligação com o 504. A ponte de Nijmegen foi conquistada, cabia aos paraquedistas defende-la dos contra-ataques alemães.
A noite medida que elementos do XXX Corpo britânica avançavam, a resistência alemã aumentava reforçada pelas unidades panzer dotadas de tanques Tiger e muitas armas anti-carro. Em consequência o XXX Corpo passou avançar muito lentamente. Enquanto isso, os paraquedistas britânicos em Arnhem estavam em dificuldades cercados pelos alemães, lutando com pouca munição e armas anti-carro.
A situação não era muito diferente na área de atuação da 101ª e da 82ª, a infantaria alemã reforçada por blindados contra-atacavam, tentando cortas as linhas de comunicação e cercar os paraquedistas reforçados por unidades blindadas britânicas.
Ao longo do dia 20 de setembro, os três regimentos enfrentaram pesados contra ataques alemães. O 505 perdeu terreno, mas contra-atacou com os poucos recursos que tinha e expulsou os alemães e retomou Mook. O 508 depois de perder Beek, lutou bravamente até recuperá-la novamente. A batalha mais dura foi a do 504, a transposição do Waal pelo 3º Batalhão, do major John Cook, ficou registrado como uma passagens gloriosas da 82nd Airborne Division. O batalhão era veterano da Itália (Sicília e Anzio) e da Normandia.
No dia 21 de setembro, apesar da conquista da ponte, a área sob responsabilidade da 82 não estava segura. Tropas alemães com apoio de tanques Tiger rumavam para Lent, outras frações tentavam se infiltrar nas posições norte-americanas ou entravam em contato com as patrulhas dos paraquedistas. As unidades blindadas britânicas estavam empenhadas em repelir os contra-ataques alemães em vários pontos das posições norte-americanas, mas estavam distribuídas ao longo de 40 km na margem sul do Waal. Uma preocupação era garantir a estrada que trazia suprimentos para as tropas blindadas britânicas, que se encontrava constantemente sob ataque alemão. Toda operação dependia dessa única estrada, um falha gritante no planejamento.
O atraso no avanço para Arnhem, onde estava cercada e sob pesado ataque a 1ª Divisão Aeroterrestre britânica, permitiu que os alemães reforçassem suas posições e atacassem pesadamente norte-americanos e britânicos.
A divisão paraquedista britânica tinha sido lançada longe de seus objetivos e estava dispersa. Não havia conseguido tomar a ponte em Arnhem, nem assegurar as zonas de lançamento e de pouco, com isso os suprimentos lançados pelos aviões eram capturados pelos alemães e os reforços, vindos de planadores não podia aterrissar. Resumindo estava em muitas dificuldades
O lançamento de suprimentos e a chegada de reforços das tropas em planadores, em que pese a insegurança das zonas de pouso e lançamento, estavam o ocorrendo. Isso permitiu que a 82 e a 101, reforçadas por unidades blindadas britânicas, se engajassem em combates defensivos a fim de manter suas posições e a rodovia aberta, mas o avanço em direção Arnhem estava difícil. A posição dos aliados era instável e os alemães estavam realizando contra-ataques cada vez mais potentes. Nessa altura dos acontecimentos estava claro que o Operação Mercado Jardim havia fracassado. No entanto, as unidades paraquedistas norte-americanas permaneceriam na área, defendo o terreno conquistado.
Em 24 de setembro, uma parte da divisão paraquedista britânica começou a ser evacuada de Arnhem, que juntamente com Betuwe foram ocupadas pelos alemães que continuaram a avançar em direção a Nijmegen. Neste mesmo dia, o 325º Regimento de Infantaria Planadorista desembarcou na ZL do 504º, permitindo a 82 ocupar uma posição defensiva de cerca de 20 km que ia do rio Reno, à esquerda, até o rio Maas, a direita.
A partir de 28 de setembro, o II Fallschirmjäger Korps lançou uma série de ataques a partir do Reichswald contra as posições aliadas a leste de Nijmegen. Esses ataques foram uma preparação para um contra-ataque muito maior planejado por SS-Obergruppenführer (general de divisão) Wilhelm Bittrich, comandante do II Corpo Panzer SS (composto pela 9ª e 10ª Divisão Panzer SS). Os atrasos nos preparativos das divisões blindadas SS não os permiu apoiar os ataques da infataria que acabaram por ser repelidos, mas essa situação não ia perdurar.
Os alemães fizeram várias tentativas de destruir as pontes de Nijmegen, até que conseguiram explodir a ponte ferroviária que ficou inutilizada, mas a ponte rodoviária apesar de danificada pode ser reparada pelos engenheiros.
Em 29 de setembro, os alemães conseguiram, após várias tentativas, derrubar a seção intermediária da ponte ferroviária e um buraco na pista da ponte rodoviária.
De 30 de setembro a 8 de outubro, os alemães fizeram um série de contra-ataques mal-sucedidos visando recuperar o terreno perdido.
No dia 8 de outubro, a 82ª Divisão Aeroterrestre foi transferida do Corpo Aeroterrestre Britânico para XXX Corpo Britânico. Esse é um ponto interessante, os britânicos sempre que podiam se apossavam de divisões norte-americanas e isso dava muita confusão.
No dia 13 de novembro, a 82ª Divisão Aeroterrestre foi rendida pela 3ª Divisão de Infantaria Canadense. Os paraquedistas se deslocaram para o seu acantonamento na cidades de Sessone e Suippes, cerca de 30 km de Rheims, para descanso, recompletamento e treinamento.
Gavin achava que a guerra ainda não tinha acabado para a divisão….e ele estava certo.
Imagem de Destaque: Paraquedistas saltando sobre a Holanda em 17 de setembro de 1944 –
https://www.forte.jor.br/2019/09/26/os-75-anos-da-operacao-market-garden/
Bibliografia
Os 75 anos da Operação Market Garden
Luta na Frente Ocidental: 74 anos do fracasso da Operação Market
https://www.warhistoryonline.com/instant-articles/bridge-far-americans-true-story-101st-82nd-market-garden.html?firefox=1
http://www.ww2marketgarden.com/marketgarden82ndairbornedivision.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Market_Garden
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.