A Batalha de Cannas

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

No dia 2 de agosto de 216 a.C. foi travada a Batalha de Cannas entre a República Romana e a Cidade-estado de Cartago. O local da batalha era no campo próximo a vila de Cannas, na Apúlia, sudoeste da Itália.

Segundo Políbio, o exército romano era composto por cerca de oito legiões (40 mil legionários), comandada pelo cônsules Lúcio Emílio Paulo e Caio Terêncio Varo. O Exército era constituído de 40 mil infantaria pesada romana e outros 40 mil dos aliados, 2 mil cavalarianos romanos e 4 mil cavalarianos aliados. As legiões convocadas possuíam 5 mil infantes e 300 cavalarianos, eram maiores do que as tradicionais que contavam com 4 mil infantes e 200 cavalarianos

Já o exército cartaginês era uma combinação de guerreiros de várias regiões, cujo efetivo variava de 40 mil e 50 mil. Sua infantaria compreendia cerca de 8 mil líbios, 5.500 gaetulianos, 16 mil gauleses, principalmente Boii e Insubres (8 mil foram deixados no acampamento no dia da batalha) e 8 mil de várias tribos da Hispânia, incluindo ibéricos, celtiberos e lusitanos. A cavalaria de Aníbal também veio de diversas origens 4 mil númidas, 2 mil ibéricos, 4 mil gauleses e 450 líbios-fenícios. Aníbal tinha um contingente auxiliar de escaramuçadores consistindo de 1 mil a 2 mil fundibulários baleares e 6 mil lançadores de dardos também de várias nacionalidades. O que unia o exército cartaginês era o vínculo pessoal que cada liderança tinha com Aníbal e podemos dizer também o ódio à Roma.

Cannas é uma das batalhas mais estudadas da história militar e a manobra de duplo envolvimento utilizada por Aníbal é considerada um dos maiores feitos táticos da história, tendo sido aplicada em outras oportunidades.

Contexto

A Segunda Guerra Púnica (219 a.C. – 201 a.C.) teve início quando os cartagineses, liderados por Aníbal, atacaram a cidade de Sagunto, aliada dos romanos, na Hispânia. Aníbal então fez a épica travessia dos Alpes, uma estratégia de superar o bloqueio das legiões romanas de Públio Cornélio Cipião. A travessia foi dura e cobrou uma alto preço ao exército cartginês pela ousadia. Em chegando a Península Itália, Aníbal derrotou os romanos em Ticino e no lago Trasímeno, na emboscada mais bem sucedida de todos os tempos.

Os romanos então elegeram Quinto Fábio Máximo (Fábio Cuntator) como ditador, para conter Aníbal. Fábio percebeu que seria difícil derrotar o cartaginês no campo de batalha, então o ditador romano resolveu adotar a estratégia de terra arrasada para minar o apoio que Aníbal tinha nas cidades rivais de Roma. A estratégia deu certo e Aníbal teve que conter sua ofensiva (em parte por perceber que seria difícil tomar a cidade).

Passado o maior perigo, o Senado elegeu cônsules Lucius Emílio Paulo e Caio Terêncio Varo que receberam a missão de derrotar Aníbal. Os romanos formaram oito legiões e convocaram aliados para formar um exército. Normalmente, os cônsules se revezavam, mensalmente, no comando do exército, mas como foi criado um só exército, o revezamento passou a ser diário.

Os antecedentes da batalha

No verão de 216 a.C. Aníbal levou seu exército para as proximidades da vila de Cannas e a conquistou. Cannas era estratégica, pois comandava o terreno em volta e era um importante centro logístico para os romanos. O seu objetivo era ocupar o campo de batalha se posicionando com o sol e o vento às suas costas, no seu flanco esquerdo estava o rio Aufidus. O acampamento cartaginês ficava na margem esquerda, os romanos instalaram dois acampamento maior, um em frente ao cartaginês e outro no outro lado da margem. 

Ao receber a notícia, o Senado determinou que o exército fossem de encontro à Aníbal. No caminho os romanos sofreram uma emboscada de elementos da infantaria leve e da cavalaria cartagineses. Varro que comandava o exército naquele dia, os derrotou e prosseguiu em direção a Cannas. Os romanos acamparam com dois terços do exército a leste do rio Aufidus, enviando o restante para fortalecer uma posição no lado oposto, a 2 km de distância do acampamento principal. O objetivo do segundo acampamento era cobrir os grupos de forrageamento do acampamento principal e assediar os do inimigo.

Os dois exércitos permaneceram em seus respectivos acampamentos por dois dias. No segundo dia, Aníbal, sabendo que Varo estaria no comando no dia seguinte, deixou seu acampamento e ofereceu a batalha, mas Paulo recusou. Aníbal verificou a importância do suprimento de água do rio Aufidus para as tropas romanas, então enviou sua cavalaria núbia ao acampamento romano menor para atacar os soldados carregadores de água que estavam fora das fortificações do acampamento. A cavalaria de Aníbal cavalgou até a borda do acampamento romano, causando estragos e interrompeu completamente o fornecimento de água ao acampamento romano no leste do rio.

Os soldados de uma legião romana, da esquerda para a direita: 1- Hastati, 2-Velites, 3-Triarii, 4- Príncipes
https://historiasderoma.com/2018/08/08/batalha-de-canas-o-dia-mais-sangrento-da-historia/

 Os exércitos

A Legião Romana da Segunda Guerra Púnica já havia sofrido modernizações devido aos combates travados contra os cartagines na Primeira Guerra Púnica. Os legionários estavam equipados com armaduras de couro, capacetes de bronze e o pesado escudo de madeira com detalhes em bronze, os dois pilum e o gládio. A legião possuía uma série de unidades de apoio fornecidas pelos aliados: arqueiros, infantaria ligeira armados de dardos, fundas e gládios, além de escaramuceiros. A cavalaria romana (equites) era pesada e especializada na carga. Os romanos contratarem mercenários para exercerem as funções de escaramuçadores, arqueiros e cavalaria leve. 0s mercenários, normalmente, eram das baleares, gauleses, cretenses etc.

O exército cartaginês era uma combinação de guerreiros de várias regiões cujo número varia de 40 mil a 50 mil dependendo da fonte. Sua infantaria compreendia cerca de 8 mil líbios-púnicos norte-africanos (infataria pesada armada ao estilo romano e com armas capturadas dos romanos), a infantaria leve era composta por 5.500 gaetulianos, 16 mil gauleses, principalmente Boii e Insubres (cerca de 8 mil foram deixados no acampamento no dia da batalha) e 8 mil ibéricos de várias origens. A cavalaria de Aníbal também veio de diversas origens, a cavalaria leve era composta por cerca de 4 mil númidas (comandada por Asdúbal, irmão de Anibal, e Maharbal) e a pesada era formada por cerca de 2 mil ibéricos, 4 mil gauleses e 450 líbios-fenícios, sob o comando do cartaginês Hanno. O número de escaramuçadores variava de mil a dois mil fundibulários baleares e 6 mil homens armados com dardos e espadas curtas de várias nacionalidades. O fator de união para o exército cartaginês foi o vínculo pessoal que cada grupo tinha com Hanniba.

O sítio da Batalha de Canas, com a coluna in memoriam que foi erguida já antiguidade. O rio Aufidus (atual Ofanto) mudou o seu curso ao longo de 2 milênios, mas a elevação é a mesma descrita pelos historiadores. Na coluna foi gravada uma citação de Tito Lívio sobre a Batalha: “Nenhuma outra nação poderia ter sofrido tamanhos desastres e não ter sido destruída.“
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O plano de batalha de Aníbal

O dispositivo mais comum para os exércitos da época era a colocar a infantaria no centro, com a cavalaria dividida em duas alas nos flancos. O dispositivo romano adotado era o tradicional com os manípulos dispostos em três linhas com os vélites (infantaria ligeira ou irregular) a frente de todo o dispositivo a fim de desorganizar as formações inimigas. A legião propriamente dita, infantes leve Hastati (soldados inexperientes), Princípes (infantaria pesada e experiente) e os Triari (também infantes pesados e veteranos) normalmente estavam na reserva, na terceira linha de batalha, Os romanos seguiram esta convenção bastante de perto, mas escolheram aprofundar o dispositivo da infantaria em três linhas, afim de que essa rompesse o centro da linha de Aníbal. Varo sabia que a infantaria romana havia conseguido penetrar no centro de Aníbal em Trébia e planejava recriar a manobra em uma escala ainda maior.

O comando do Exército romano estava distribuído assim: Emílio Paulo comandava a ala direita, Caio Varo a ala esquerda, o centro era comandado Marco Atílio e Cneu Servílio (cônsules antecessores). Os cartagineses estavam ao norte e o romanos ao sul, no começo do combate nenhum dos dois exército era incomodado pelo sol nascente.

Embora superassem em número os cartagineses, esse dispositivo em profundidade significava que as linhas romanas tinham uma frente de tamanho aproximadamente igual aos cartagineses numericamente inferiores. O estilo da guerra antiga era avançar continuamente a infantaria no centro a fim de dominar o inimigo. Aníbal entendeu que os romanos travavam suas batalhas assim, e ele pegou seu exército em menor número e os colocou estrategicamente ao redor do inimigo para obter uma vitória tática.

Aníbal desdobrou suas forças com base nas qualidades de combate particulares de cada unidade, levando em consideração seus pontos fortes e fracos. Este aspecto do gênio militar de Aníbal pode ser destacado pelo emprego de determinadas unidades explorando o máximo das suas possibilidades ou inovando no seu emprego, como o caso dos guerreiros baleares, que ele colocou atrás da infantaria para lançar seus dardos de longo alcance nos emassados manípulos romanos.  No centro do dispositivo, Aníbal colocou unidades de ibéricos, celtiberos e gauleses, alternando a composição étnica entre hispânicos e gauleses na linha de frente. Foi dessa posição central que Aníbal, ao lado de seu irmão Mago, comandou a batalha.  Essas unidades foram escolhidas por serem as tropas veteranas de outros combates capazes de suportar o avanço romano, pois seriam encarregados do recuo controlado que, em última análise, tornou possível o movimento de pinça de Aníbal. Enquanto isso, a infantaria líbia-púnica estava posicionada nos extremos do dispositivo no limite de sua linha de batalha. Esta infantaria permaneceria coesa e só atacaria os flancos romanos mediante ordem de Aníbal.

Asdrúbal comandava a cavalaria pesada hispânica e gaulesa à esquerda (sul perto do rio Aufido) do exército cartaginês. Ao colocar o flanco de seu exército no Aufidus, Aníbal impediu que este flanco fosse sobreposto pelos romanos mais numerosos. Asdrúbal tinha sob seu comando de 6 mil a 7 mil cavaleiros, enquanto que Anôn tinha de 3 mil a 4 mil númidas à direita.

Aníbal pretendia que sua cavalaria, composta principalmente de cavalaria hispânica pesada e a leve númida, posicionadas nos flancos, derrotasse a cavalaria romana em menor número e girasse para atacar a infantaria romana pela retaguarda, enquanto os romanos pressionavam centro enfraquecido de Aníbal. Suas veteranas tropas africanas, então, avançariam pelos flancos no momento crucial e cercariam os romanos emassados e sobrecarregados.

Os romanos estavam na frente da colina que levava a Canas e em seu flanco direito pelo rio Aufidus, de modo que seu flanco esquerdo era o único meio viável de retirada. Além disso, as forças cartaginesas haviam manobrado para que os romanos ficassem voltados para o leste. Não só o sol da manhã brilhava baixo nos olhos dos romanos, mas os ventos do sudeste sopravam areia e poeira em seus rostos quando se aproximavam do campo de batalha, um terreno plano e com pouca vegetação. Aníbal desdobrou o seu exército baseado no estudo do do terreno e na compreensão das capacidades de suas tropas em realizar a manobra planejada.

No curso da batalha vamos ver sua liderança e capacidade de comando para a execução perfeita da manobra.

Já o Exército Romano tinha problemas de liderança, com o relativamente inexperiente, audacioso, mas também imprudente Caio Varo no comando das ações durante a batalha e Emílio Paulo mais cauteloso e prudente comandando o lado direito do dispositivo. Os consules não chegaram há um acordo de qual seria a tática a ser empregada na batalha. Isso trouxe insegurança ao exército.

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Cannae#/media/File:Battle_of_Cannae,215_BC-_Initial_Roman_attack.svg

A Batalha

À medida que os exércitos avançavam uns sobre os outros, Aníbal gradualmente estendeu o centro de sua linha, a medida que faziam contato com os romanos, o centro cedia de modo a produzir uma formação em forma de meia-lua. As companhias posicionadas no flanco se distanciavam aumentando o espaço à medida que se prolongava. Aníbal planejara empregar as suas melhores tropas, os líbios-cartagineses como reserva, então começou o combate com os hispânicos e celtas.

Varo vendo que o recuo cartaginês, acreditou que o centro cartaginês estava prestes a ser rompido, intensificou a pressão e ordenou o avanço das reservas.

O centro cartaginês cedeu diante da pressão dos romanos, mas sem se desorganizar, recuando como em um crescente, curvando-se no centro do dispositivo com as unidades dos líbios-cartagineses em seus flancos entrando em formação escalonada, sem se engajarem. Acredita-se que o propósito desta formação era quebrar o impulso do avanço da infantaria romana e retardar seu avanço a fim de permitir a Aníbal desdobrar sua infantaria africana de forma mais eficaz nos flancos.

A maioria dos historiadores considera que a ação de Aníbal foi planejada, mas outros argumentam que o choque das duas forças representam o recuo natural que ocorre quando o emassado centro romano se choca com o centro do exército cartaginês, composto por tropas menos confiáveis.

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Cannae#/media/File:Battle_cannae_destruction.svg

A batalha começou com um feroz combate de cavalaria nos flancos, muitos dos cavaleiros hispânicos e celtas enfrentaram os romanos desmontados devido à falta de espaço para lutar a cavalo, com extrema brutalidade. A cavalaria cartaginesa composta por hispânicos e celtas derrotu a cavalaria romana. No outro flanco, os númidas engajaram a cavalaria aliada romana. Após derrotar a cavalaria romana, Asdrúbal levou a cavalaria hispânica e gaulesa para o outro lado do campo para atacar a cavalaria dos aliados romanos que ainda lutavam contra os númidas. Assaltada de ambos os lados, a cavalaria aliada fugiu antes que Asdrúbal pudesse entrar em contato e os númidas os perseguiram fora do campo de batalha.

Enquanto a cavalaria cartaginesa estava lutando para derrotar a cavalaria romana, as duas infantarias avançavam uma em direção à outra no centro do campo. O vento do leste soprou poeira nos rostos dos romanos e obscureceu sua visão. Embora o vento não tenha sido um fator determinante, a poeira que ambos os exércitos criaram dificuldades a visão, as tropas ainda poderiam se ver nas proximidades, só os comandantes dos exércitos tinham dificuldades. Além da poeira, os romanos enfrentaram outras dificuldades: acordaram mais cedo já que tiveram que se deslocar por mais tempo por estarem mais distantes do campo de batalha, estavam com sede, devido ao ataque da cavalaria númida ao acampamento romano no dia anterior que praticamente impediu o suprimento de água e finalmente o enorme barulho do combate dificultando entender as ordens do comando e o que estava ocorrendo.

No início da batalha, a infantaria leve de ambos os lados se engajou em escaramuças indecisas, causando poucas baixas e rapidamente se retirando através das fileiras da infantaria pesada. Quando a infantaria pesada romana atacou, Aníbal ficou com seus homens no centro do dispositivo, junto com as unidades hispânicas e gaulesas e os manteve juntos em um recuo controlado. As unidades hispânicas e gaulesas começaram a formar um côncavo, enquanto recuavam passo a passo. Sabendo da superioridade da infantaria romana, Aníbal havia instruído sua infantaria a recuar diante da pressão dos romanos, criando um semicírculo ainda mais apertado em torno das forças atacantes. Ao fazer isso, ele transformou a força da infantaria romana em uma fraqueza. Enquanto as fileiras da frente avançavam gradualmente, o grosso das tropas romanas começou a perder a sua coesão, à medida que as tropas das linhas de reserva avançavam para cobrir as crescentes brechas crescentes. Logo estavam tão compactados que tinham pouco espaço para manejar suas armas. Ao pressionar os cartagineses a fim de destruir a linha de frente, devido ao aparentemente colapso das tropas hispânicas e gaulesas que estavam no centro, os romanos ignoraram (possivelmente devido à poeira) que haviam outras tropas cartaginesas, não engajadas, em seus flancos. Isso também deu tempo à cavalaria cartaginesa para expulsar a cavalaria romana em ambos os flancos e atacar o centro romano pela retaguarda. A infantaria romana, agora desprotegida em ambos os flancos, formou uma cunha que se aprofundou cada vez mais no semicírculo cartaginês. Neste ponto da batalha, Aníbal ordenou que sua infantaria africana avançasse contra os flancos romanos, criando um cerco em um dos primeiros exemplos conhecidos como manobra de pinça.

Resumindo a manobra, Aníbal começou o ataque em forma de cunha, com o choque das duas infantaria começou a ceder terreno atraindo os romanos, na sequência da ação, as unidades cartaginesas no flanco entraram em formação escalonada formando um semi-círculo.

Quando a cavalaria cartaginesa atacou os romanos na retaguarda e as unidades cartaginesas atacaram os flancos, interrompendo o avanço da infantaria romana. Os romanos estavam presos em um bolsão, sem uma rota de retraimento. Os cartagineses os atacaram por todos os lados começaram a massacrá-los sistematicamente. Apenas 14 mil romanos conseguiram escapar (incluindo Cipião Africano, que conseguiu escapar do cerco com 500 homens), a maioria dos quais abriu caminho para a cidade vizinha de Canusium.

A importância da Batalha de Cannas para a Estratégia e a História Militar

A Batalha de Cannas se tornou o paradigma da batalha de aniquilação, com duplo envolvimento do inimigo. As condições para a realização desse tipo de manobra exigem do comandante um profundo conhecimento da história militar, da estratégia e da tática de modo geral, e mais especificamente do terreno do teatro de operações, uma avaliação realista das próprias capacidades e do inimigo, informações atualizadas sobre a movimentação do inimigo, liderança e que determinadas condições específicas se apresentem no desenrolar das operações.

“O estudo seminal de Hans Delbrück (History of the Art of War, Vol I: Warfare in Antiquity, 1900) sobre a batalha influenciou os teóricos militares alemães, particularmente o chefe do Estado-Maior alemão, Alfred von Schlieffen, cujo “Plano Schlieffen” foi inspirado pela manobra de envolvimento duplo de Hannibal. Schlieffen acreditava que o “modelo de Canas” continuaria a ser aplicável na guerra de manobra ao longo do século 20:

Uma batalha de aniquilação pode ser realizada hoje de acordo com o mesmo plano elaborado por Aníbal em tempos há muito esquecidos. A frente inimiga não é o objetivo do ataque principal. A massa das tropas e das reservas não deve se concentrar contra a frente inimiga; o essencial é que os flancos sejam esmagados. As alas não devem ser procuradas nos pontos avançados da frente, mas sim ao longo de toda a profundidade e extensão da formação inimiga. A aniquilação se completa através de um ataque contra a retaguarda do inimigo… Para conseguir uma vitória decisiva e aniquiladora requer um ataque contra a frente e contra um ou ambos os flancos” (FOLEY,  Robert. Alfred Von Schlieffen’s Military Writings: Military History and Policy. London: Routledge, 2012)

Schlieffen mais tarde desenvolveu sua própria doutrina operacional em uma série de artigos, muitos dos quais foram traduzidos e publicados em uma obra intitulada Cannas. (https://web.archive.org/web/20070311025853/http://cgsc.leavenworth.army.mil/carl/resources/csi/Cannae/cannae.asp#cannae#cannae)

Podemos relacionar como manobras semelhantes as batalhas de Leuthen (1757), Zorndorf (1758), Kunersdorf (1759), as campanhas de Napoleão (Itália, na Alemanha, Austerlitz (1805), em Jena (1806),  Eylau (1807), Ligny (1815) e Waterloo (1815)), as campanhas lideradas por Moltke contra os franceses, o próprio plano Schlieffen aplicado no início da 1ª Guerra Mundial, a invasão da Sicília pelos Aliados (apesar do Marechal Alexander não ter planejado essa manobra) e a Operação Tempestade no Deserto (com múltiplas ações de flanqueamento e envolvimento das unidades iraquianas).

https://en.wikipedia.org/wiki/Gulf_War#/media/File:DesertStormMap_v2.svg

Consequências

Após a vitória, os comandantes cartagineses exortaram Aníbal à marchar para Roma e tomar a cidade, mas o general resoveu enviar uma embaixada, chefiado por Carthalo, para negociar um tratado de paz em termos bem moderados. Por que Aníbal não foi ousado e fez um aproveitamento do êxito assaltando Roma e não lhe dando tempo de reação?

Bem, nós só podemos especular as razões:

– Roma era uma grande cidade para os padrões da época, tinha mais de 250 mil habitantes e era murada;

– Roma ainda tinha aliados, um exército na Sicília, outro na Espanha e em torno de 12 mil homens (+ de duas legiões) que haviam sobrevivido a batalha, ou seja, podia colocar em campo um exército tão grande quanto o que Aníbal havia derrotado;

– um cerco à cidade uma operação de alto risco devido a existência tropas inimigas à retaguarda;

– o assalto só seria possível após um longo cerco, que também desgastaria o exército cartaginês e poderia colocar em xeque a sua unidade;

– A conquista de Roma exigiria uma longa operação de cerco e muitos recursos, agravada diante das limitadas possibilidades de receber reforços de Cartago.

E o Senado Romano? Apesar da derrota a determinação romana não foi quebrada, a proposta de paz cartaginesa foi recusada. O Senado decretou uma mobilização geral, recrutou camponeses sem terras e até mesmo escravos,

A situação de Roma era crítica, pois além das perdas em vidas romanas, perdeu tembém importantes aliados para os cartagineses e o rei Felipe V, da Macedônia, aproveitou a oportunidade e atacou os romanos na Ilíria.

Como Roma conseguiu sair dessa situação? Acompanhem o site e saberão!!!

Imagem de Destaque: https://warfarehistorynetwork.com/article/slaughter-at-the-battle-of-cannae/

Bibliografia

ANDRÉ, Eduardo. Batalha de Canas – O dia mais sangrento da História. Link: https://historiasderoma.com/2018/08/08/batalha-de-canas-o-dia-mais-sangrento-da-historia/

RODRIGUES, Barrote. A Batalha de Canas e a Operação Tempestade no Deserto. Link: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/6961/1/A%20BATALHA%20DE%20CANAS%20E%20A%20OPERA%C3%87%C3%83O%20TEMPESTADE%20NO%20DESERTO%20-%20AN%C3%81LISE%20E%20PERSPECTIVA%20HIST%C3%93RICA.pdf

Slaughter at the Battle of Cannae

https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Cannae

Políbio. Histórias. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1985.

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

1 comentário em “A Batalha de Cannas”

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