A Batalha de Hormuz de 1507

de

Prof. Dr. Ricardo Cabral

Em 1503, o rei D. Manoel I, de Portugal organizou uma esquadra com o objetivo de impedir o comércio muçulmano no Oceano Índico e se apropriar dele, para tanto ele designou como alvos Aden para bloquear o comércio através do Mar Vermelho vindo de Alexandria; Hormuz, para bloquear o comércio através de Beirute; e Malaca para controlar o comércio com a China.

Os portuguses contavam que teriam ajuda dos habitantes da ilha de Socotra. A ilha era habitada por cristão nestorianos e estavam sob o domínio do clã Banu Afrar de Qishn, na Arábia continental.

Em abril de 1506, a esquadra com 16 navios, sob o comando de Tristão da Cunha, levantaram ferros de Lisboa para capturar Socotra e ali estabelecer um forte. Cunha tinha como segundo em comando Afonso de Albuquerque, nomeado capitão-mor do mar da Arábia e encarregado de bloquear a navegação muçulmana no Mar Vermelho.

Em abril de 1507, os portugueses atacaram Suq, na ilha de Socotra, e após intenso combate tomaram o forte e o renomeram de São Miguel. Tristão da Cunha estabeleceu um tributo para sustentar o forte e partiu para Índia, deixando Afonso de Albuquerque com seis naus.

No entanto, Socotra logo demonstrou que não tinha recursos para sustentar a esquadra e o ambiente não era saudável (muito homens morreram por doenças). Então em 10 de agosto, Afonso de Albuquerque zarpou para o Estreito de Ormuz onde acreditava que poderia se abastecer e fazer os reparos necessários,  a fim de cumprir sua missão de subjugar Hormuz.

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Lembro que no início do século XVI, as cidades costeiras de Omã eram uma dependência do reino de Hormuz, e tinha seus próprios governantes.

Em 22 de agosto de 1507, a esquadra de Afonso de Albuquerque chegou a Qalhat, cujo governador preferiu entregar frutas e trocar reféns com os portugueses.

Qurayyat estava localizada mais ao norte, até tentou resistir, mas a cidade foi atacada e saqueada. Mascate era governada por um eunuco e ex-escravo do rei de Hormuz, que se rendeu a Afonso de Albuquerque, mas a guarnição anulou sua decisão. Os portugueses conquistaram e saquearam a cidade

Sohar era então a única cidade de Omã protegida por um pequeno forte, que capitulou prontamente ao avistar os portugueses. A vila foi poupada, presentes foram trocados e, em troca de uma promessa de vassalagem, foi confiado ao seu governador uma bandeira portuguesa para içar, e foi-lhe permitido manter o tributo anual para si e para as suas tropas à frente do forte. Finalmente, Khor Fakkan também tentou resistir, mas foi conquistada.

Cidade de Hormuz
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Hormuz

Em 26 de setembro de 1507, a frota portuguesa aproximou-se do porto de Hormuz, devidamente enfeitada com bandeiras e deu uma série de salvas de tiro a cidade, que não respondeu. A notícia da conquista de Omã pelos portugueses semeou uma angústia considerável na cidade, e espalhou-se o boatos sobre as violências cometidas pelos portugueses. Provavelmente por isso, Afonso de Albuquerque não foi recebido por nenhum emissário, com quem pudesse estabelecer relações diplomáticas, então entrou em contato com o capitão do maior navio do porto, uma nau de Gujarat, e o fez de mensageiro de suas intenções ao soberano de Hormuz.

Afonso de Albuquerque declarou ter vindo com ordens do rei Manuel I, de Portugal, para vassalar Ormuz e tomá-la sob sua proteção, mas ofereceu à cidade a chance de capitular sem derramamento de sangue. O governante de Hormuz não se intimidou com a frota comparativamente pequena e se preparou para resistir.

A batalha

Os portugueses estavam cercados por cerca de 50 navios mercantes armados no lado da terra e algo entre 120 a 200 barcos a remo leves no lado do mar. Afonso de Albuquerque não tentou escapar a este cerco; em vez disso, pretendia aproveitar o grande número de navios inimigos para que a artilharia disparasse livremente a fim de obter maior efeito destrutivo possível.

As negociações para a rendição de Hormuz foram interrompidas por volta das 9 h do dia seguinte, a nau capitânia de Afonso de Albuquerque, a Cirne, deu início a batalha abrindo fogo contra os navios ao redor e o resto da frota fez o mesmo. O inimigo respondeu de imediato, travando-se um furioso duelo de artilharia, acompanhado por contínuas descargas das arcabuzes e arremessos de flechas, tudo isso no meio de um barulho ensurdecedor e de uma densa fumarada que o vento, por ser muito fraco, não conseguia dissipar. A troca de tiros entre a frota de Hormuzi e os portugueses, com clara vantagem para os últimos, e grandes nuvens de fumaça se formaram ao redor dos navios, prejudicando muito a visibilidade.

Os navios de remos ligeiros de Hormuzi, transportando um grande número de arqueiros persas mercenários, manobraram para atacar a esquadra portuguesa. Nesta altura da batalha, os portugueses experimentaram algumas dificuldades devido à falta de pessoal, mas o compacto grupo de embarcações inimigas constituía um alvo ideal para os artilheiros portugueses: cerca de uma dúzia de barcos foram afundados e muitos mais inutilizados, obstruindo assim o caminho dos outros.

À medida que a confusão e a falta de comando se instalavam entre os Hormuzis, os portugueses passaram à ofensiva. Afonso de Albuquerque atacou a grande nau de Gujarat, que foi abordada e conquistada após uma dura luta. Um após o outro, os portugueses capturaram ou queimaram a maioria dos navios à tona.

Depois de destruir a maior parte das embarcações no mar, os portugueses desembarcaram junto aos estaleiros e começaram a incendiar os arredores de Hormuz. Diante da nova situação e temendo um ataque sangrento dos portugueses, o vizir Cogeatar ergueu uma bandeira branca sobre o palácio real anunciando a rendição.

Afonso de Albuquerque aceitou a rendição e exigiu o pagamento de um pesado tributo anual e da autorização para construir uma fortaleza na ponta norte da ilha, a fim de assegurar o domínio do Golfo Pérsico e regiões circundantes aos portugueses.

Essa foi uma das grandes vitória portuguesas, pois Afonso de Albuquerque com 500 homens e seis navios havia subjugado a mais poderosa potência naval do Golfo.

Imagem de Destaque: Naus e Caravelas portuguesas do século XVI – https://en.wikipedia.org/wiki/Portuguese_conquest_of_Ormuz#/media/File:Portuguese_ships_16th_century_Livro_das_Armadas.jpg

Fontes

https://www.vortexmag.net/batalha-de-ormuz-a-vitoria-de-6-naus-contra-160-barcos-de-guerra-persas/

https://en.wikipedia.org/wiki/Portuguese_conquest_of_Ormuz

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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