Prof. Esp. Pedro Silva Drummond
A Segunda Guerra Mundial abrangeu diversas histórias interessantes. O presente texto pretende analisar uma delas, a história dos irmãos Gerd Brunckhorst e Paul Heinrich, que lutaram em lados opostos na Guerra. Brunckhorst integrou a FEB (Força Expedicionária Brasileira), enquanto seu irmão Heinrich, lutou ao lado do Exército Alemão.
Introdução
Com o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, com a invasão alemã na Polônia, muitos cidadãos alemães foram requisitados a participarem das Forças Armadas da Alemanha. Na Alemanha Nazista, filhos de alemães eram considerados cidadãos, de acordo com a legislação do País.
No caso dos irmãos analisados nesse texto, foi o que aconteceu, Paul Heinrich, tinha viajado para Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial, e com o início do conflito, foi recrutado pelo exército alemão. O irmão mais velho, Gerd Brunckhost, entrou no conflito, de uma forma muito parecida, foi convocado pela FEB.
História envolvendo familiares durante a Segunda Guerra Mundial, como o caso dos irmãos citados, não são totalmente anormais. Os fatos que levaram os irmãos ao conflito que é muito especifico, um dos irmãos saírem de um Continente diferente de onde ocorreu a guerra (América do Sul), viajarem para Europa, e depois de um tempo, seu irmão, entrar no conflito por outra nação, é o que torna o essa situação diferente das demais.
Descendentes na FEB
No Brasil existia uma tradição de liberações de homens das classes mais ricas para a participação nas Forças Armadas do País, na sua maioria, os quadros das Forças Armadas, eram compostos por pessoas das classes econômicas menos favorecidas (o que hoje entendemos como classes C, D e E).
Essa distinção econômica que acontecia no Brasil, não aconteceu quando se tratava de descendentes no quadro das Forças Expedicionárias Brasileiras (FEB), como analisa o pesquisador Dennison de Oliveira, “a FEB parece ter recrutado de forma indistinta brasileiros, ítalo-brasileiros, nipo-brasileiros e teuto-brasileiros.” (apud Iervolino, 2011, p.43).
Como analisado por Oliveira, o Brasil teve dentro da FEB integrantes de diversas origens e culturas, não se pode esquecer de indígenas que lutaram pelo Brasil, e como é o caso analisado nesse texto de Gerd Brunckhost, que era descendente de alemães.
Gerd Brunckhorst e Paul Heinrich
Os país de Gerd e Paul chegaram ao Brasil em 1910, e por mais de duas décadas a família viveu em alguns Estados do Brasil. No final da década de 1930, Paul Heinrich viaja para Alemanha para fazer um tratamento médico. No período que Heinrich chegou à Alemanha, em 1938, a Segunda Guerra Mundial não havia começado, porém, com o decorrer da Guerra, o brasileiro, descendente de alemão, não consegue sair do País, e, em 1943, foi recrutado pelo Exército alemão.
Gerd Brunckhost por sua vez, permanece no Brasil e quando se inicia a Segunda Guerra Mundial, Brunckhost trabalha em uma companhia de seguros marítimos fundada por alemães. Quando o Brasil declara guerra aos países do Eixo, e os descendentes dessas nações começam a ser mal vistos pelo governo brasileiro, a situação de Brunckhost começa a mudar no local de trabalho, com é relatado pelo próprio “O novo diretor me chamou no escritório e falou para eu ir embora. Eu argumentei que sou brasileiro e que estava com as minhas obrigações militares em dia, mas não adiantou. Depois de quase um mês em casa, me encostaram em uma seção de preenchimento de formulários.” (Daróz, 2016).
Gerd Brunckhost, no entanto não permaneceu no Brasil por muito tempo, ele foi convocado pelas Forças Armadas Brasileiras, como explica Brunckhost, “um praça bateu na porta da minha casa e entregou minha convocação para a Força Expedicionária Brasileira. Tinha sido rebaixado no trabalho por ser descendente de alemães, mas para ‘boca de canhão’, me achavam bom”. (Daróz, 2016).
Bruchhost continua analisando a sua participação na FEB: “Os descendentes de alemães eram de segunda, terceira ou quarta geração. Eles já não tinham mais ligação com o nazismo. Nós que éramos a primeira geração brasileira, ainda falávamos alemão em casa, mas nos sentíamos brasileiros.” (Daróz, 2016).
Em junho de 1944, Gerd Brunckhost partiu para a Itália como integrante da Força Expedicionária Brasileira, nesse momento, os irmãos, Gerd e Paul, estavam em lados opostos no conflito.
Paul Heinrich que desde 1943, tinha sido recrutado pelo exército alemão, inicialmente, foi designado para trabalhar em uma fábrica de munições e com o decorrer da guerra, foi enviado ao front para lutar contra os soviéticos.
Gerd Brunckhost conta o momento que recebeu a última notícia do seu irmão: “quando eu já estava na Itália, soube de uma carta dele escrita à minha tia, de agosto de 1944, dizendo que ele iria embarcar em direção ao front russo. Depois disso, não voltou mais. A gente não sabe exatamente quando ele morreu” (Daróz, 2016).
Quando Gerd Brunckhost chegou à Italia, integrou o 9º Batalhão de Engenharia, responsável pela construção de estradas e pontes. A participação de Brunckhost, durou pouco, cinco meses após a chegada à Itália, uma fratura, enquanto preparava uma instalação sanitária provocou o afastamento dele do Batalhão, e o descendente de alemão, enquanto esteve no hospital passou a “a servir de intérprete entre pacientes brasileiros e médicos estrangeiros nos hospitais.” (Daróz, 2016).
Quando existiu a possibilidade de voltar, Gerd Brunckhost juntamente com outros feridos viajou de volta para o Brasil. Depois de uma longa viagem, Brunckhost, chegou ao Rio de Janeiro, e ficou no Hospital Central do Exército (HCE) até seu restabelecimento.
Dos irmãos Gerd Brunckhorst e Paul Heinrich, somente o primeiro sobreviveu, em nenhum momento os dois se encontraram na Segunda Guerra Mundial.
Relato de Gerd Brunckhorst sobre a experiência na Itália: https://www.youtube.com/watch?v=4hr77n7J0oY
Imagem de Destaque: Os irmãos Brunckhorst: Paul Heinrich e Gerd Brunckhorst –https://aventurasnahistoria.uol.com.br/media/_versions/brunckhorst_brothers_widelg.jpg
Bibliografia
Daróz, Carlos. Irmãos Brasileiros lutaram em lados opostos na 2ª Guerra Mundial. Blog História Militar, 2016. Disponível em: <http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/2016/10/irmaos-brasileiros-lutaram-em-lados.html>. Acessado em 17/01/2021.
Iervolino, Ana Paula. A participação de teuto-brasileiros na FEB (1944-1945): Memória e Identidade (Dissertação de Mestrado). Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, 2011.
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Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.