A Guerra do Fogo (“La Guerre Du Feu”), baseado no livro de J.H. Rosny Aîné, foi lançado em 1981 por meio de uma coprodução francesa e canadense. O filme com a direção de Jean-Jacques Annaud foi ambientado no ano 80.000 a.C, antes da invenção da escrita, um dos períodos mais desconhecidos da história humana. Todo conhecimento daquela época é fruto da pesquisa de antropólogos, historiadores e paleontólogos, que muito contribuíram para reconstituir o que teria sido a cultura pré-histórica.
O filme retrata de forma imaginativa como teriam sido as relações dos primeiros hominídeos entre si, suas relações com a natureza e entre as tribos em diferentes estágios de evolução. Esse clássico do cinema apresenta cenas brutais de combate e várias situações dramáticas num cenário com magníficas paisagens naturais, que foram filmadas no Canadá, Escócia, Islândia e Quênia.
O domínio do fogo é o principal elemento da história, onde a tribo Ivaka detinha a técnica de produzí-lo por fricção. As tribos Ulam, Wagabou e Kzamm o reverenciavam e tinham muita preocupação em protegê-lo. O fogo, fundamental para a sobrevivência das sociedades pré-históricas, era utilizado no cozimento dos alimentos, na proteção do frio e na defesa contra os animais. Os hominídeos eram nômades e muito dependentes da natureza, que se deslocavam constantemente em busca de alimentos e abrigo. A natureza era muito hostil e eles viviam em cavernas para se proteger dos animais e do frio.
Quando ainda não se fazia o uso da palavra, os hominídeos se comunicavam por meio de gestos corporais e grunhidos. Os indivíduos já viviam em grupos, de forma cooperativa, para enfrentar as adversidades de um mundo selvagem. Ao mesmo tempo, competição e dominação também faziam parte da dinâmica grupal.
Na abertura do filme, observa-se uma fogueira distante no horizonte noturno. Logo a seguir, aparece o primeiro personagem, um hominídeo Neanderthal da tribo Ulam. Ele está acordado, diante de uma fogueira mantendo a mesma acesa para evitar a aproximação de predadores e para exercer vigilância contra possíveis ataques de outras tribos. Enquanto isso, os demais hominídeos se encontram dormindo numa caverna próxima e são aquecidos por outra fogueira. Esse fato já demonstra a distribuição de tarefas no cotidiano da tribo. A principal chama acesa é mantida numa gaiola por outro hominídeo no interior da caverna. Eles não dominavam a técnica de produzir o fogo.
Pela manhã, a tribo Ulam é surpreendida por um ataque da tribo Wagabou na intenção de roubar o fogo. O sangrento combate, realizado corpo-a-corpo com pedras e pedaços de madeira, tem como maior prejudicada a tribo Ulam, com o apagamento do precioso fogo. Após deixarem aquele acampamento e constatarem a perda do valioso recurso para a sobrevivência, eles se reúnem para decidir quem iria desempenhar a tarefa da recuperação do fogo perdido. Naoh, o principal personagem do filme, é o escolhido e passa a ser acompanhado pelos personagens Gaw e Nam. Naoh assume a liderança da jornada para desbravar territórios não explorados, pois possuía força, iniciativa e inteligência.
Surgia, então, o primeiro traço de liderança como resultado de uma seleção que valorizava, principalmente, os mais fortes, assim como no mundo animal. Durante a primeira fase do percurso, os três guerreiros enfrentam muitas situações de perigo, como por exemplo, o ataque de leões.
A liderança, naquele período, mesmo sendo exercida de maneira intuitiva muito contribuiu para a sobrevivência daqueles hominídeos. O personagem Naoh também exercia uma espécie de liderança situacional, pois a necessidade de recuperar o fogo perdido para sua tribo implicava em pressão e urgência. Suas ações envolviam diversas variáveis, onde era exigido do líder constantes adaptações as diversas mudanças provocadas pelo ambiente hostil. Ao chegarem a um acampamento onde foi avistado o sinal de fumaça, os três guerreiros avistam a fogueira. Naquele local, estão os componentes da tribo Kzamm e após entrarem em combate, Naoh conquista o fogo. Em todas as lutas travadas entre as tribos pode se observar a existência de líderes e seguidores. Logo após, Naoh conhece Ika, uma mulher da tribo Ivaka, que estava prisioneira da tribo Kzamm. A tribo Ivaka era intelectualmente mais desenvolvida e a liderança daquele grupo era exercida pelos mais velhos. É possível perceber, também, que ela domina a linguagem de uma forma mais aprimorada que os três (Naoh, Gaw e Nam).
Ao travarem contato com outra tribo passam a conhecer a técnica de produção do fogo. Enfim, de posse desse valioso conhecimento, eles partem levando o fogo aceso de volta para sua tribo. Porém, durante o trajeto, o fogo cai na água e se apaga. Diante do novo desafio, Noah tenta reproduzi-lo, mas não consegue. Ika, a mulher da tribo Ivaka, aproxima-se e o auxilia na criação do fogo novamente; o que vem a causar uma grande emoção no grupo.
Na busca pela obtenção do fogo, o contato com outras tribos possibilitou o aprendizado de novas formas de linguagem, a construção de cabanas, o uso de novas ferramentas e, principalmente, a arte de produzir o fogo por atrito. Ao término da jornada, retornam para sua tribo e transmitem para todos os conhecimentos adquiridos.
A guerra do fogo é uma valiosa obra cinematográfica sobre à evolução do comportamento humano durante a pré-história.
Referências Bibliográficas e Sites Consultados
Aîné, J.H. Rosny, A guerra do fogo. Tradução Heloísa Prieto. São Paulo. Bamboo editorial. 2014.
Filme completo em português:
Sérgio Vieira Reale – Capitão-de-Fragata (RM1)