A Guerra dos Seis Dias: a guerra que mudou o Oriente Médio

de

Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral

A Guerra durou entre 5 e 10 de junho de 1967, do lado árabe uma aliança do Egito, Jordânia e Síria, apoiados por vários estados árabes como Kuwait, Arábia Saudita, Argélia e Sudão contra Israel. A guerra teve profundo impacto nas relações internacionais do período e mudou o mapa da região.

Antecedentes

Após a guerra árabe-israelense, de 1956, as tensões entre árabes e judeus permaneceram, para piorar a situação, nos estados árabes assumiram governos ligados ao pan-arabismo e ao nacionalismo árabe. As possibilidades de uma solução negociada não existiam.

Em 1958, Egito e Síria criaram a República Árabe Unida, liderada pelo egípcio Gamal Abdel Nasser com o objetivo de criar uma nação pan-árabe, com uma plataforma de nacionalização econômica, socialismo. Em 1956, Nasser tomou uma medida audaciosa ao nacionalizar o Canal de Suez, mostrando o caminho e fortalecendo a pauta pan-arabista. Apesar do apoio popular interno e externo do Iêmem e do Iraque, a inciativa fracassou em 1961, mas permitiu que determinados objetivos políticos fossem acertado como a destruição de Israel.

Em 1964, foi criada a Organização para Libertação da Palestina (OLP) que passou a realizar atentados terroristas contra judeus e na fronteira contra Israel. O Egito, a Jordânia, o Líbano e a Síria não vigiavam as fronteiras permitindo que os guerrilheiros realizassem ataques em Israel e se abrigassem nesses países.

Egito e Síria, com apoio da União Soviética, modernizaram seus exércitos e começaram a preparar a população para uma nova guerra contra Israel, uma pauta extremamente popular.

Em 1967, Gamal Abdel Nasser, presidente Egípcio, realizou uma série de medidas provocadoras, após conseguir que a ONU retirasse as tropas de Paz estacionadas na península do Sinai, levou várias unidades do exército para posições próximas a fronteira. Israel respondeu mobilizando as suas forças armadas. Em maio, o ditador egípcio fechou o estreito de Tiran e bloqueou o golfo de Aqba a navegação comercial israelense.

As provocações não cessaram, a Síria começou a desviar cursos d’água que abasteciam o lago Tiberíades a fim de não permitir que os israelenses usassem a água para projetos de irrigação. Damasco também posicionou artilharia nas colinas de Golã e começou a bombardear os kibutzim no nordeste da região da Galiléia. A aviação israelense respondeu destruiu várias posições sírias em Golã e seus caças sobre voaram Damasco, ameaçando-a com bombardeiros.

Tendo em vista a situação Egito, Síria e Jordânia decretaram estados de emergência. Em 30 de maio, a Jordânia aderiu ao Pacto Egito-Siria.

O aumento das tensões era visível. Israel estava na iminência de ser atacado por três direções. Vamos agora a correlação de forças entre Israel com Egito, Jordânia e Síria. Lembro que esses países receberam apoio de pessoal e material de outros Estados muçulmanos.

As forças em luta

Israel tinha cerca de 264 mil homens, entre membros da ativa e reservista. Contra as forças jordanianas na Cisjordânia, Israel mobilizou cerca de  quatro mil soldados e 200 tanques (oito brigadas). Os dispositivo israelense, após a mobilização era o seguinte, Comando Central  consistiam em cinco brigadas. As duas primeiras estavam permanentemente estacionadas perto de Jerusalém e eram a Brigada de Jerusalém e a Brigada Harel mecanizada. A 55ª Brigada de Pára-quedistas, de Mordechai Gur foi convocada e enviada para o Sinai. A 10ª Brigada Blindada estava estacionada ao norte da Cisjordânia. O Comando do Norte compreendia três brigadas lideradas pelo major-general Elad Peled, que estava estacionada no vale de Jezreel, ao norte da Cisjordânia. Israel tinha cerca de 250/300 caças (basicamente Mirrage e outros aviões da Dassasault) e 800 MBT (Sherman, Pattons e Centurions), largamente superados pelas forças árabes.

Na véspera da guerra, o Egito reuniu aproximadamente 100.000 de seus 160.000 soldados no Sinai, incluindo todas as sete divisões (quatro de infantaria, duas blindadas e uma mecanizada), quatro brigadas de infantaria independentes e quatro brigadas blindadas independentes. Mais de um terço desses soldados eram veteranos da intervenção egípcia na Guerra Civil do Iêmen do Norte e outro terço eram reservistas. Essas forças estavam muito bem armadas, contavam com 950 tanques (grande número de T-54 e T-55), 1.100 APCs (muitos BTR 40, 50 e 60) e mais de 1.000 peças de artilharia (152 mm, 122 mm, 105 mm, lança foguetes  BM-21 Grad entre outros). O exército da Síria tinha uma força total de 75.000 e foi implantado ao longo da fronteira com Israel.  A aviação era composta por MIG 21, 19 e 17, Su-7ª e do Il-28. Os árabes tinham baterias de míssei anti-aéreos SA-2

As Forças Armadas da Jordânia incluíam 11 brigadas, totalizando 55.000 soldados, dessas 9 brigadas (45.000 soldados, 270 tanques, 200 peças de artilharia) foram implantadas na Cisjordânia, incluindo o 40º blindado de elite, e duas no Vale do Jordão. Eles possuíam um número considerável de APCs M113 e estavam equipados com cerca de 300 tanques ocidentais modernos, 250 dos quais eram M48 Pattons dos EUA. Eles também tinham 12 batalhões de artilharia, seis baterias de morteiros de 81 mm e 120 mm, um batalhão de pára-quedistas treinado na nova escola construída nos EUA e um novo batalhão de infantaria mecanizada. O exército jordaniano era um exército profissional de longo prazo, relativamente bem equipado e bem treinado. A Força Aérea Real da Jordânia consistia em apenas 24 caças Hawker Hunter de fabricação britânica, seis aeronaves de transporte e dois helicópteros. De acordo com os israelenses, o Hawker Hunter estava essencialmente no mesmo nível do Dassault Mirage III de fabricação francesa, que era o melhor avião das IDF.

Outro países árabes estavam prontos a intervir, os iraquianos desdobraram próximo a fronteira com a Jordânia 100 tanques, uma divisão de infantaria, dois esquadrões de aviões de combate, Hawker Hunters e MiG 21.

A Arábia Saudita mobilizou forças para a frente jordaniana, dois batalhões de infantaria foram posicionados no sul da Jordânia, em Ma’an. Em 17 de junho, o contingente saudita na Jordânia havia crescido para uma brigada de infantaria, uma companhia de tanques, duas baterias de artilharia, uma companhia de morteiros pesados ​​e uma unidade de manutenção e apoio. No final de julho de 1967, uma segunda companhia de tanques e uma terceira bateria de artilharia foram adicionadas. Essas forças permaneceram na Jordânia até o final de 1977, quando foram chamadas de volta e reinstaladas na região de Karak, perto do Mar Morto.

As forças aéreas árabes seriam reforçadas por aviões da Líbia, Argélia, Marrocos, Kuwait e Arábia Saudita para compensar as enormes perdas sofridas no primeiro dia da guerra. Eles também foram auxiliados por pilotos voluntários da Força Aérea do Paquistão que obtiveram várias vitórias contra os israelenses.

Como vimos a disparidade de forças era grande, com os muçulmanos levando larga vantagem. Outro ponto, Israel não possuía profundidade estratégica, ou seja, tinha que se defender na linha de fronteira.

Os árabes estavam com suas forças reunidas próximas a fronteira, só aguardando o sinal para atacar. Detalhe: fariam um ataque surpresa.

Diante desse problema, o Mossad ofereceu uma solução: um ataque preventivo visando eliminar uma virtual superioridade aérea ao mesmo tempo lançar uma ofensiva terrestre; bater os inimigo por parte, primeiro atacando o mais forte: o Egito.

Operação Focus

No dia 5 de junho, às 5:45 h, a Força Aérea das Forças de Defesa de Israel (FDI), lançou a um ataque preventivo contra a Força Aérea Egípcia (FAE) e da Síria (FAS) ainda no solo. Os aviões israelenses voaram abaixo da cobertura do radar das baterias SAM-2. Ao chegar nos aeroportos e bases se preocuparam em destruir tanto os aviões, quanto as pistas de pouso, estações de radar, baterias de mísseis antiaéreo e algumas instalações, em surtidas durante todo os dias de guerra. Após os ataques, os aviões israelenses voltavam recarregavam e voltavam ao ataque. No fim do dia a Força Aérea Egípcia perdeu 388 aeronaves e os sírios 67 aviões. Os israelenses perderam 19 aviões, incluindo dois destruídos em combate ar-ar e 13 abatidos pela artilharia antiaérea. O ataque aéreo preventivo garantiu a supremacia aérea israelense pelo resto da guerra. Ataques a outras forças aéreas árabes por Israel ocorreram no final do dia, quando as hostilidades eclodiram em outras frentes.

https://www.todamateria.com.br/guerra-dos-seis-dias/

A conquista do Sinai e da Faixa de Gaza

As forças egípcias desdobradas no Sinai eram sete divisões: quatro blindadas, duas de infantaria e uma de infantaria mecanizada. No geral, o Egito tinha cerca de 100.000 soldados e 900-950 tanques no Sinai, apoiados por 1.100 APCs e 1.000 peças de artilharia. Ordem de batalha, baseada na doutrina soviética, onde unidades blindadas móveis em profundidade estratégica fornecem uma defesa móvel, enquanto unidades de infantaria se envolvem em batalhas defensivas.

As FDI desdobradas na fronteira com o Egito eram constituídas de seis brigadas blindadas, uma brigada de infantaria, uma brigada de infantaria mecanizada, três brigadas de pára-quedistas, totalizando cerca de 70.000 homens e 700 tanques, organizados em três divisões blindadas. Eles haviam se concentrado na fronteira na noite anterior à guerra, camuflando-se e observando o silêncio do rádio antes de receber ordens de avançar.

O plano israelense era surpreender as forças egípcias no momento aéreo da Força Aérea aos aeródromos egípcios, atacando pelas rotas norte e central do Sinai, em oposição às expectativas egípcias de uma repetição da guerra de 1956, quando as FDI atacaram pelas rotas central e sul) e usando uma abordagem de flanco de força combinada, em vez de ataques diretos de tanques.

https://en.wikipedia.org/wiki/Six-Day_War#/media/File:1967_Six_Day_War_-_conquest_of_Sinai_5-6_June.jpg

No Sinai, a principal batalha foi a de Abu-Ageila (5 e 6/6/67), entre a 38ª Divisão Blindada da FDI, lideradas pelo Major-General Ariel Sharon, contra a 2ª Divisão de Infantaria egípcia, comandada pelo general Maher Marzouk.

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As FDI usaram formações blindadas e mecanizadas, organizadas em forças-tarefa, unidades de aeromóveis e forças especiais em assaltos violentos e muito rápidos. Toda a manobra era apoiada pela artilharia rebocada e autopropulsada e, principalmente, pela aviação. A rapidez na execução do plano de batalha, com movimentos profundos das FT permitiu o controle dos passos de Mitla e Gidi, e daí a margem ocidental do Nilo.

Cisjordânia

https://en.wikipedia.org/wiki/Six-Day_War#/media/File:1967_Six_Day_War_-_The_Jordan_salient.jpg

Neste front, as FDI rapidamente neutralizaram as forças jordanianas. A principal batalha foi a Batalha na Colina das Munições, uma fortaleza jordaniana, conquistada pelas FDI. Os jordanianos se afastaram e a luta cessou.

Colinas de Golan

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Informações falsas vidas do Egito, dando conta da derrota dos israelenses no Sinai, levaram os sírios a atacarem Israel. Os egípcios esperam que o ataque sírio desviasse unidades de Israel para Golã aliviando a pressão no Sinai.

O lado ocidental das Colinas de Golã consiste em uma escarpa rochosa que se eleva a 500 metros do Mar da Galiléia e do rio Jordão, e depois se achata em um planalto levemente inclinado. As colinas eram bem defendidas por uma série de fortalezas, dispostas em profundidade, apoiadas pela artilharia e tropas blindadas e mecanizadas, o terreno ao redor das fortalezas eram cercados por campos de minas e com os acessos cobertos por fogos diretos e indiretos. O terreno das Colinas de Golã (encostas montanhosas atravessadas por riachos paralelos a cada vários quilômetros que correm de leste a oeste), e a falta geral de estradas, canalizou as forças ao longo dos eixos de progressão no sentido leste-oeste e restringiu a capacidade das unidades de se apoiarem nos flancos.

O exército sírio tinha em Golã, cerca de 75.000 homens, em nove brigadas, apoiadas por artilharia e unidades blindadas, de acordo com a doutrina soviética. As forças israelenses empenhadas em combate consistiam em duas brigadas (uma blindada e outra de infantaria) na parte norte da frente em Givat HaEm, e outras duas (uma de infantaria e uma blindada) no centro. Assim, os sírios poderiam se mover norte-sul no próprio planalto, e os israelenses se moviam de norte-sul na base da escarpa de Golã. Uma vantagem que Israel possuía era a informações da inteligência, fornecidas pelo agente do Mossad Eli Cohen (capturado e executado, na Síria, em 1965) sobre as posições de batalha sírias.

As FDI tomaram a inciativa atacando as posições sirias com aviação, foguetes e artilharia, destruindo várias fortalezas sírias abrindo o caminho para as unidade blindadas. As FDI enviaram reforços para manter o impulso do ataque, enquanto os sírios enviaram o que tinham para evitar o pior. Os combates foram sangrentos devido a grande resistência dos sírios, as baixas foram grandes em ambos os lados, por fim as FDI prevaleceram e conseguiram posições estrategicamente fortes que lhe possibilitavam defender melhor o tereno conquistado.

Conclusões

Os países árabes se sentiram humilhados e desejosos de uma desforra a fim de reconquistar pelas armas os territórios perdidos. Ao se reunirem na Conferência de Kartoun (1967) decidiram: não negociar, não a paz e não reconhecer Israel;

O Egito resolveu fechar o Canal de Suez e solicitar o apoio da URSS para reconstruir suas Forças Armadas, ao mesmo tempo mudou a estratégia de guerra contra Israel, uma longa guerra de desgaste a fim de exaurir Israel.

Israel deu uma demonstração da superioridade tática, estratégica e de inteligência. Suas forças eram mais bem equipadas e treinadas e a mobilização funcionava muito bem. Com a vitória Israel adquire profundidade estratégica. No Sinai, Israel investe na Linha de Defesa Bar-Lev, constituída de barragens, postos de observação, fortificações, apoiados por brigadas motorizadas e blindadas. Em Golã, constrói fortificações, espaldões para blindados e artilharia, depósitos de armamentos e suprimentos, centro de reunião etc.

Israel vai passar os próximos anos se preparando para a nova guerra que todos acreditam que acontecerá em breve e eles estavam certos.

Imagem de Destaque: https://www.cavok.com.br/guerra-dos-seis-dias-os-combates-pelas-colinas-de-golan

Fontes:

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-40200042

GUERRA DOS SEIS DIAS: Os combates pelas colinas de Golan

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Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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