Equipe HMD
A Guerra da Ucrânia mostrou a relevância contínua dos tanques no conflito, com as forças ucranianas queimando dezenas de tanques de fabricação ocidental, antes considerados superiores ao armamento russo. Qual é a visão do complexo militar-industrial dos EUA sobre o futuro da guerra de tanques e como o AbramsX se encaixa nisso?
O Exército norte-americano está avaliando a possibilidade de um substituto para o M1 Abrams como parte do programa Next Generation Combat Vehicle (NGCV), conhecido como Plataforma de Letalidade Decisiva (DLP).
Analistas de defesa estão publicando nas redes sociais suas impressões sobre o principal demonstrador de tanque de batalha AbramsX após sua apresentação ao público em geral no Centro de Colaboração de Manobras de Sistemas de Terra da General Dynamics em Sterling Heights, Michigan, nesta semana.
Quais são as características do AbramsX?
A reportagem da Sputnik cita que a General Dynamics ofereceu alguns detalhes dos recursos do protótipo do tanque desde que foi revelado pela primeira vez em uma exposição em Washington DC, em outubro de 2022.
Embora possa parecer semelhante a um MBT Abrams padrão, o AbramsX tem um peso relatado de apenas 49 toneladas, 17 toneladas a menos que um M1 Abrams totalmente carregado (M1 60 ton; M1A1 63 ton; M1A1 SA 67.6; M1A2 SEP v2 71.2 ton e SEP v.3 73.6 ton) e possui um comprimento de 7,9 metros e largura de 3,6 metros de largura, com um “corpo” de 2,3 metros de altura.
O protótipo apresenta um projeto de torre não tripulada com um canhão de cano liso XM360 de 120 mm e um arranjo de tripulação no cockpit para três pessoas, uma a menos que o M1 (soltando o carregador), incluindo uma escotilha separada para cada tripulante. As imagens da imprensa mostram que a torre do tanque inclui uma metralhadora XM914 de 30 mm, além de uma metralhadora coaxial de 7,62 mm.
Como seria de se esperar em um tanque de batalha principal de última geração, o AbramsX está configurado para ser equipado com recursos de inteligência artificial (IA) para diminuir a carga de trabalho da tripulação, inclusive para a identificação e priorização dos alvos e comunicações com drones amigáveis agindo como batedores ou veículos aéreos não tripulados (UAVs, na sigla em inglês) de ataque. É provável que o MBT inclua miras térmicas panorâmicas diurnas/noturnas de 360 graus — uma para o comandante e outra para o artilheiro.
A General Dynamics também planeja embalar o AbramsX com Arquitetura Eletrônica de Próxima Geração da Katalyst (NGEA, na sigla em inglês) do mesmo tipo que a gigante da defesa incluiu em seus futuros robôs de combate não tripulados, capacitando-os com a habilidade de navegar no terreno e evitar obstáculos. Os detalhes são escassos, mas esses recursos no AbramsX podem permitir que o tanque opere de forma totalmente autônoma.
Os projetistas também estão trabalhando em um sistema de proteção ativa para detectar e interceptar mísseis antitanque inimigos e granadas lançadas por foguetes.
O tanque realmente será construído?
Indiscutivelmente, uma das características mais significativas do tanque é seu motor híbrido elétrico-diesel, que deve melhorar a eficiência de combustível em até 50% em comparação com o M1 (cujo motor de turbina multicombustível Honeywell transformou o tanque Abrams existente em um dos grandes consumidores de combustível do mundo. Espera-se que o AbramsX seja capaz de funcionar em modo silencioso por curtos períodos usando energia elétrica, permitindo assim que o tanque consiga se camuflar com sucesso dos inimigo, algo pouco provável devido as características atuais e futuras das capacidades de reconhecimento e vigilância dos meios disponíveis nos exércitos (basicamente satélites e drones).
Não está claro se a General Dynamics obterá o apoio necessário do Pentágono desenvolver mais pesquisas e preparar a plataforma AbramsX para produção.
“É muito cedo para dizer qual será o futuro do tanque de guerra do Exército. O que posso dizer é que, sabe, estamos olhando para o futuro, sabe, quais são os investimentos que precisamos fazer, sabe, o que é atualmente a arte do possível, e penso que [o Comando de Futuros do Exército] continua a fazer experimentos por meio da equipe multifuncional de veículos de combate de próxima geração e começaremos a extrair algumas lições aprendidas”, disse o subsecretário do Exército Gabe Camarillo à mídia norte-americana no início deste ano, quando perguntado sobre as perspectivas do AbramsX.
O AbramsX é um Armata americano?
Especialistas militares não puderam deixar de encontrar muitas semelhanças importantes entre o AbramsX e o T-14 Armata, o MBT russo de última geração construído na Armata Universal Combat Platform que foi revelado pela primeira vez em 2015. As semelhanças de destaque incluem um design de torre não tripulada, tripulação de três homens, carregador automático e planos para integração de IA.
“Tanto o AbramsX, quanto o Armata são tanques em potencial”, disse o fundador do portal MilitaryRussia.ru, Dmitry Kornev, à Sputnik.
“O Armata é nosso futuro tanque de batalha, e o AbramsX é atualmente um protótipo de um tanque americano avançado. É claro que nossos tanques competem com os americanos, pelo menos no papel”, explicou Kornev. “. Já temos o Armata, na fase de testes. Já existe até produção em série limitada; está sendo produzido, passando para ser testado pelos militares. O AbramsX ainda é apenas um protótipo. Esta é a única cópia e ainda não é um tanque experimental.”
Kornev apontou várias características de destaque que distinguem os dois tanques, incluindo o canhão principal de 120 mm do AbramsX, em comparação com o canhão principal de 125 mm do Armata. “O nosso acabou sendo um pouco maior; além disso, um possível canhão de 152 mm está sendo desenvolvido para o Armata. Quando finalizar, fica claro que o poder de fogo da Armata será muito maior” do que o de sua contraparte norte-americana.
Comentário HMD: é provável que o canhão de 152 mm projetado para o Armata se destine a um autopropulsado.
“Em seguida, em relação ao projeto de layout do tanque. Não sabemos todos os detalhes, mas o layout do AbramsX não parece que vai mudar muito em comparação com o Abrams atual como o do Armata — que mudou de forma bastante revolucionária em comparação com as gerações anteriores de tanques russos. O Armata é genuinamente um tanque de outra geração — e tem um design modular, ou seja, módulos separados; um módulo de tripulação separado, um módulo de compartimento de transmissão de motor separado, um módulo de combate separado. Com o AbramsX, muito provavelmente, tudo é mais simples. Ou seja, um Abrams padrão foi levado e ligeiramente melhorado, por assim dizer. E o Abrams padrão não possui esse tipo de design modular”, disse Kornev.
O observador militar vê aparente “paridade” nas características gerais das torres não tripuladas dos dois tanques, “embora a julgar pela aparência, o protótipo AbramsX pareça ter uma torre mais volumosa, talvez para armazenar munições. As dimensões da torre Armata são minimizadas em relação à silhueta geral do tanque”, destacou.
Uma área em que o AbramsX pode ter uma vantagem sobre sua contraparte russa, se for produzido, é seu motor híbrido. “Ou seja, ele terá propulsão elétrica, e será movido por um motor a diesel — com princípio de funcionamento semelhante ao dos carros híbridos. Eles planejam reduzir pela metade o consumo de combustível – esta é uma vantagem bastante significativa”, enfatizou Kornev, explicando que um motor híbrido significa menor massa, níveis de ruído reduzidos e possivelmente maiores características de aceleração, o que pode ser crítico no campo de batalha.
Em relação à proteção, Kornev está confiante de que o tanque russo é superior. “O Armata é um dos tanques mais bem protegidos do mundo. Possui proteção dinâmica, blindagem espaçada, granadas de fumaça inteligentes e um complexo de proteção ativa instalável. O AbramsX é mais simples. Ou seja, embora seja possível implantar proteção dinâmica no tanque, os modelos mais simples podem ter apenas blindagem espaçada, às vezes inserções de urânio. A composição exata da blindagem ainda é desconhecida, mas provavelmente terá menos proteção do que o Armata, e talvez até o T-90M Proryv”, um MBT russo de terceira geração.
No final das contas, Kornev espera que o Armata seja mais barato que o AbramsX, embora ambos sejam caros (um Armata, por exemplo, custa várias vezes o preço de um novo T-90M para produzir).
“Provavelmente não é totalmente correto comparar o custo dos tanques russos e americanos, porque o custo de remuneração é diferente, as condições são diferentes. Os equipamentos americanos são tradicionalmente mais caros, custando uma vez e meia mais do que equipamentos similares produzidos na Rússia. Isso também se aplica a aviões, mísseis, submarinos e navios. O complexo militar-industrial deles é caro, mas eles têm dinheiro para isso”, resumiu o observador.
Comentário HMD: dependendo do protótipo o Armata custa de US$ 4 a 7 milhões. O T-90 custa em torno de US$ 4.5 milhões. O Abrams M1A2 SEP v3 custa em torno de US$ 9 milhões. O Leopard 2A7 custa algo entre € 13 e 15 milhões e o 2A6 em torno de € 6 milhões de euros. O Challenger 2 custa em torno de £ 4.5 milhões.
Lições ucranianas
A Guerra da Ucrânia com intensa participação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contra a Rússia na Ucrânia demonstrou que os princípios da guerra de tanques não perderam seu significado, mais de 80 anos após o primeiro desdobramento em massa de blindados durante a Segunda Guerra Mundial.
Depois de anunciar a entrega dos principais tanques de batalha da OTAN para a Ucrânia, as autoridades ocidentais e a mídia previram com confiança que os alemães Leopard 1 e 2 e os britânicos Challenger II derrotariam os tanques e defesas russos. No entanto, a lenta contraofensiva ucraniana e a destruição de colunas blindadas ucranianas por campos minados, poder aéreo e artilharia russas demonstraram o que a Sputnik vem dizendo o tempo todo: que a coordenação efetiva de armas combinadas, inteligência no campo de batalha, competência do comandante e a habilidade da tripulação do tanque geralmente é muito mais significativa do que as características no papel de qualquer tanque.
Existe apenas uma fábrica de tanques nos Estados Unidos, produzindo de 10 a 15 tanques por mês usando blindagens reformadas, é improvável que o AbramsX “esteja disponível em breve”.
Comentário HMD: não se pode excluir a possibilidade de aumentar as linhas de produção.
A plataforma “Armata“ representa a nova geração de veículos pesados de combate da Rússia, concebida para atender os requisitos de um tanque principal de batalha (MBT), um veículo de combate de infantaria pesado (HIFV), um veículo de combate engenharia (CEV), um veículo blindado de transporte de tropas pesado (HAPC), um veículo blindado de suporte em combate (TSCV), e os diferentes modelos de obuseiros de artilharia autopropulsada (SPG), todos baseados em um mesmo chassi.
O Armata reúne uma série de conceitos modernos como torre remota sem tripulantes, o armamento principal o novo canhão 2A82-1M, de 125 mm e 48 calibres, que promete, no mínimo, uma energia equivalente aos canhões ocidentais mais modernos, com remuniciamento automático (32 tiros prontos para uso), novas munições e um míssil antitanque guiado a laser, lançado pelo tubo, com alcance entre 7 a 14 Km, sistemas defensivos passivos inteligentes integrados com radares AESA e contramedidas reativas automáticas antitanque e antimísseis (ARENA e AFGHANIT), ampla automatização de sistemas (controle de tiro e comunicações digitalizados) e tripulação reduzida para apenas três integrantes (motorista, atirador e comandante do carro). Todos acomodados na parte frontal do chassi e envoltos em uma “banheira” de proteção blindada convencional e reativa do tipo ERA (Explosive Reactive Armor, ou blindagem explosiva reativa), inclusive para a função antiminas e IED’s (Improvised explosive device, ou artefato explosivo improvisado). O MBT deve pesar algo em torno de 48/50 ton.
Os russos estão em processo de nacionalização de vários componentes eletrônicos a fim de viabilizar sua produção em série a partir de 2023. Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, o T-14 Armata substituirá todas as gerações de blindados remanescentes da Guerra Fria no Exército Russo, estimando-se uma produção inicial de pelo menos 2.500 a 3.000 exemplares.
Em 19 de julho de 2023, a TASS citou duas fontes anônimas da indústria de defesa afirmando que o grupo de batalha do sul da Rússia havia implantado T-14s em combate direto na linha de frente para avaliar seu desempenho, antes de retirá-los da linha de frente. Nenhuma informação oficial foi publicada ainda sobre sua implantação na zona de conflito.
Comentário HMD
As lições aprendidas nos combates na Ucrânia empregando blindados vai provocar transformações na construção de várias famílias de blindados MBT, IFV, AFV etc tanto drones/robóticos, quanto tripulados.
Imagem de Destaque: https://www.turbosquid.com/pt_br/3d-models/3d-tank-abramsx-2022-model-2063585
Fontes
https://olhardigital.com.br/2022/10/13/carros-e-tecnologia/tanque-abrams-x-usa-inteligencia-artificial-para-localizar-possiveis-alvos/
https://sputniknewsbr.com.br/20230810/abramsx-vs-armata-como-o-tanque-de-batalha-de-ultima-geracao-dos-eua-se-compara-ao-analogo-russo-29874041.html
https://www.businessinsider.com/us-army-next-main-battle-tank-may-be-abramsx-2022-11
Armata – o fim da história
https://tecnodefesa.com.br/uralvagonzavod-t-14-armata-a-revolucao-russa/
