As primeiras impressões sobre o protesto do Grupo Wagner

de

Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Pereira Cabral

As áreas em roxo são onde as forças do Grupo Wagner estão estacionadas em seu período de descanso.

Desde fins de 2022, Yevgeny Prigozhin, dono do Grupo Wagner, tem feito uma série de declarações contra Ministro da Defesa e o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas.

No dia 23 de junho de 2023, o Grupo Wagner fez uma série de movimentações com suas formações militares e canas de mídia expondo seu protesto no que considera ações discriminatórias do MD russo.

Em 24 de junho de 2023, Vladimir Putin, presidente da Federação Russa fez um duro pronunciamento contra o protesto da PMC, recebendo apoio imediato de importantes atores da política russa.

Mediante análise preliminar e informações de campo (diretas e por fontes de cognição OSINT):

– a rebelião tem relação causal direta com o Decreto do Ministério da Defesa da Rússia, de 1 de junho de 2023, que determinou o enquadramento legal de todos Batalhões de Voluntários e Companhia Militares Privadas (Private Military Company, PMC) em cláusulas legais vinculativas ao Ministério da Defesa Russo, gerando reação virulenta de Prighozin diante das condições normativas que não concorda;

– o levante tem razões políticas inerentes às disputas de poder entre Prighozin e Shoigu/ Gerasimov (ministro da defesa e chefe do Estado-Maior), relacionadas à divergências na forma de condução de guerra; alegados descumprimento de repasses orçamentários a PMC WAGNER a títulos compensatórios pelas Batalhas no Donbass e da morte de 20 mil combatentes do Wagner Group;

– não há ideologia ou objetivo de tomada de poder no levante, mas projeção de força para barganha de anistias, atendimento das demandas econômicas e garantias específicas para atuação do Grupo Wagner. Daí o foco em negociar em Moscou em uma marcha militar e tentar a demissão de Shoigu;

https://www.rtp.pt/noticias/mundo/ucrania-grupo-wagner-comecou-a-transferir-posicoes-em-bakhmut_v1488896

– Prighozin apostou em sua ampla popularidade na sociedade russa, na legitimidade de suas demandas e no apoio direto de unidades oficiais das Forças Armadas da Federação Russa e tropas internas (guarda nacional, milícias nacionais e forças policiais) para atingir seus objetivos políticos, porém tal estratégia se revelou falha e galvanizou apoio interno ainda mais sólido à Putin e seu círculo de poder;

– a ausência de marco legal e normativo das PMCs é um risco à jurisdição e soberania de qualquer Estado-Nação em seu poder cogente;

– as forças envolvidas no levante armado e na repressão evitaram ao máximo conflitos e reações armadas que poderiam desestabilizar o país, evidenciando uma coesão social e psicológica em prol de um inimigo maior externo;

– a Ucrânia-OTAN não lograram êxito até o momento nas suas operações IPSO de criar pânico generalizado e agravar ou provocar novas instabilidades;

– no teatro de operações não houve degeneração da disciplina e das estruturas defensivas russas até o momento, sem avanços territoriais ucranianos tangíveis. Batalhas posicionais predominam no perímetro operacional.

– Como desdobramentos imediatos deste conflito estão a decretação da lei marcial em algumas regiões da Rússia pelo Presidente Putin e a introdução de regime de operação contra terrorista, com restrição a direitos individuais e coletivos e ampliação do poder de requisição do Estado para interdição de bens privados e públicos, bem como uso da força;

– A estrutura militar russa e sua forma de condução e guerra sofrerão alterações e consequências significativas, com aumento da escalada;

– Atores políticos como Kadyrov, Medvedev e Surovikin ganham força e maior legitimidade.

– Yevgeny Prigozhin aceitou a proposta do presidente da Belarus, Alexander Lukashenko, de interromper o movimento de “Wagner” no território da Rússia e dar mais passos para diminuir as tensões, marcadas como “urgentes”, informou o serviço de imprensa do presidente de Belarus.”

Shoigu e Gerasimov
https://www.france24.com/en/europe/20220304-shoigu-and-gerasimov-masters-of-putin-s-wars

Segundo fontes russas o acordo (provisório?) foi fechado em quatro itens:

1. O processo criminal contra Prigozhin será arquivado

2. PMC Wagner receberá garantias legais, soluções legislativas serão desenvolvidas.

3. Haverá inviolabilidade dos combatentes após a marcha.

4. Os combatentes do PMC Wagner foram e continuam sendo considerados soldados leais do Comandante Supremo.

– Possíveis desdobramentos:

1. Um reforma no MD, devido a sua atuação na Guerra Na Ucrânia, não pode ser descartado o afastamento de Shoigu e Gerasimov, alvo de críticas de vários atores importantes na política russa;

2. Exibiu uma falta de coesão preocupante dos comandos militares ao protesto do Grupo Wagner;

3. Um certo fortalecimento político ainda maior de Putin.

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Delegado de Polícia, historiador, pesquisador de temas ligados a conflitos armados e geopolítica, Mestre em Segurança Pública

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.

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