Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
A Batalha da Jutlândia ocorreu entre os dias 31 de maio e 1 de junho de 1916, entre as esquadras da Alemanha e do Reino Unido. A batalha ocorreu na costa da península da Jutlândia (Dinamarca) no Mar do Norte. As esquadras combateram durante 36 horas. Esta foi a maior batalha naval envolvendo encouraçados. Superando as Batalhas de Tsushima (1905) e do Mar Amarelo (1904) durante a Guerra Russo-Japonesa.
A Royal Navy se preparou para destruir a Esquadra de Alto Mar que era considerada uma grave ameaça a sua superioridade naval. A fim de cumprir esse objetivo, o Almirantado britânico concentrou a Home Fleet no Mar do Norte, em Scapa Flow, retirou navios de teatros secundários, delegando parte das tarefas de segurança das linhas de comunicação a aliados e mantendo uma vigilância naval em Wilhelmshaven, principal base alemã.
O objetivo de batalha da Esquadra de Alto Mar era atrair, capturar e destruir uma parte da Home Fleet, pois a Marinha alemã não era poderosa o suficiente para enfrentar a Royal Navy, em uma batalha decisiva. A batalha fazia parte de uma estratégia naval alemã que visava romper o bloqueio naval britânico à Alemanha e permitir o acesso de navios de guerra alemães ao Atlântico e atacar as linhas de comunicações marítimas britânicas.
A Home Fleet Britânica estava dividida em dois grupos, o 1º composto por 24 encouraçados, formados numa linha de seis divisões e protegida por 3 cruzadores de batalha, 8 cruzadores couraçados, 12 cruzadores ligeiros e 51 contratorpedeiros, estavam baseados em Scapa Flow e eram comandados pelo Almirante Sir John Jellicoe. Em Rosyth, estavam 4 encouraçados, 6 cruzadores de batalha, 14 cruzadores ligeiros, 1 porta-avião e 27 contratorpedeiros, sob o comando do vice-almirante David Beatty.
A Esquadra de Alto Mar alemã tinha 16 encouraçados, 5 cruzadores de batalha, 6 pré-encouraçados, 11 cruzadores leves e 61 torpedeiros. Os alemães partiram de Wilhelmshaven em direção ao mar do Norte e eram comandados pelo Almirante Reinhard Scheer
A estratégia britânica era impedir o acesso dos alemães ao Mar do Norte e forçar uma batalha decisiva. Os alemães buscavam sair ao mar e fustigar as costas britânicas por intermédio de operações da força de superfície e submarinos, antes que a força principal britânica se fizesse ao mar.
As táticas navais da 1ª Guerra Mundial
O princípio da concentração era fundamental para as táticas navais desse período (como o fora na Era da Vela). A doutrina determinava que uma esquadra deveria se preparar para a batalha adotando uma formação compacta em colunas paralelas, permitindo manobras relativamente fáceis e dando linhas de visão mais curtas dentro da formação, simplificando a passagem dos sinais necessários para o comando e controle.
A vantagem de uma esquadra em formação em coluna curtas (com um pequeno número de navios) poderia mudar de direção mais rápido do que uma formada em uma única coluna longa. Uma vez que a maioria dos sinais de comando eram feitos com bandeiras ou holofotes de sinalização entre os navios, a nau capitânia era geralmente colocada a frente da coluna central para que seus sinais pudessem ser vistos mais facilmente pelos navios da formação. O interessante, é que a telegrafia sem fio estava em uso, mas era considerada insegurança, pois permitia a localização de direção de rádio, a criptografia e os aparelhos de rádio tinham uma eficiência limitada, o que tornava seu uso extensivo problemático.
O comando e o controle dessas esquadras enormes eram difíceis, pois levava tempo para que um sinal da nau capitânia fosse retransmitido para toda a esquadra. Normalmente era necessário que o sinal enviado, fosse confirmado por cada navio antes que pudesse ser retransmitido para outros navios. Assim, uma ordem para realizar uma manobra por toda a esquadra teria que ser recebida e confirmada por cada navio antes que pudesse ser executada. Em uma grande formação de coluna única, um sinal pode levar 10 minutos ou mais para ser passado de uma extremidade para a outra da linha, enquanto em uma formação de colunas paralelas, a visibilidade através das diagonais era muito melhor (e em menos tempo) do que em uma única coluna longa. Além disso, as diagonais proporcionavam uma “redundância”, aumentando a probabilidade de que uma mensagem fosse rapidamente vista e corretamente interpretada.
No entanto, antes que a batalha fosse travada, os navios mais poderosos da esquadra (os encouraçados) seria se possível, desdobrados em uma única coluna. Para formar a linha de batalha, no rumo do inimigo. Para tanto, o almirante comandante precisava saber a distância, o rumo, o rumo e a velocidade da frota inimiga. Essa era uma tarefa das escoltas, ou seja, das forças encarregadas de fazer o reconhecimento a frente da formação principal. Essa força era constituída, principalmente, de cruzadores e destroyers, e sua missão era encontrar o inimigo e informar, em tempo suficiente e localização e o rumo da esquadra inimiga, e, se possível, negar às escoltas inimigas a oportunidade de obter a informação equivalente.
O objetivo da formação em colunas e das manobras realizadas era posicionar a linha de batalha de modo que cruzasse o rumo da coluna inimiga, a fim de que o maior número de canhões pudesse ser acionado, enquanto que o inimigo poderia atirar apenas com os canhões da proa dos navios. Essa manobra era conhecida como “cortar o T”
Antecedentes
Ao assumir o comando da Esquadra alemã, o Almirante Reinhardt Scheer adotou táticas mais agressivas atacando as linhas de comunicação marítima com submarinos e navios de superfície, lançou minas nos portos, determinou a realização de incursões com os modernos cruzadores alemães e o bombardeamento das costas britânicas.
Merece destaque o sucesso dos ataques dos U-boots contra a navegação comercial aliada, em uma fase da guerra, que as armas para a guerra anti-sumarino eram limitadas. Os aliados responderam aos ataques dos U-boots organizando comboios e utilizando destroyers (contra-torpedeiros) para escolta-los. Todos estes fatos provocaram uma perda de prestígio da Royal Navy que não conseguia das respostas ao desafio da Marinha alemã a hegemonia naval britânica.
A tática para a batalha de Scheer era atrair parte da Esquadra britânica com um grupo de cinco cruzadores modernos e velozes, isolando esse grupo de navios do corpo principal e destruí-lo. A fim de atrasar e desgastar o grosso da Home fleet, o almirante alemão posicionou submarinos nas possíveis rotas a serem utilizada pelos britânicos.
Os britânicos estavam cientes dos planos alemães, pois quebraram o código secreto de comunicações da Esquadra de Alto Mar. Além disso, estavam com patrulhas vigiando os movimentos da esquadra alemã, mas devido ao mau tempo o encontro foi fortuito.
O almirante John Jellicoe posicionou sua Esquadra ao largo da Noruega para impedir qualquer tentativa dos alemães de entrar no Atlântico Norte ou no Báltico através do Estreito de Skagerrak. A partir desta posição os britânicos poderiam cortar qualquer ataque alemão nas rotas marítimas do Atlântico ou impedir que se dirigissem ao mar Báltico. A esquadra de Jellicoe era composta por dezesseis encouraçados do 1º e 4º Esquadrão de Batalha, três cruzadores de batalha do 3º Esquadrão de Cruzadores de Batalha, a leste de Scapa Flow. Ele deveria encontrar o 2º Esquadrão de Batalha, com oito encouraçados comandados pelo Vice-Almirante Martyn Jerram vindo de Cromarty (Escócia).
O reconhecimento naval estava a cargo da Esquadra de Cruzadores de Batalha, sob o comando do almirante David Beatty, e era constituída por quatro encouraçados, seis cruzadores de batalha, 14 cruzadores leves e 27 contratorpedeiros. O reconhecimento aéreo cargo do porta-hidroaviões HMS Engadine, um dos primeiros porta-aviões da história a participar de uma batalha naval.
A batalha teve 4 fases: a 1ª foi o choque das forças de Hipper e Beatty, com vantagem alemã após o afundamento de dois cruzadores britânicos, o que obrigou Beatty a se retirar, no que foi perseguido por Hipper, essa manobra acabou por levar a esquadra alemã para a força principal de Jellicoe. A 2ª e a 3ª Fase se deu pelo choque da força principal de Jellicoe com o grosso da esquadra de Scheer. A esquadra alemã correu risco de ser esquadra derrotada. 4ª fase, combate noturno, no qual os ingleses levaram a melhor. No entanto, devido a dispersão das unidades da esquadra britânica, Jellicoe resolveu abandonar a perseguição, apesar da vantagem que tinha. Diante da situação, Scheer decidiu se retirar para suas bases. Vitória estratégica britânica.
Os ingleses perderam na batalha: 3 cruzadores de batalha, 3 cruzadores blindados e 8 contratorpedeiros, com 6.094 mortos.
Já os alemães tiveram afundados 1 cruzador de batalha, 1 couraçado, 4 cruzadores leves e 5 torpedeiras. As mortes chegaram 2.551.
Conclusão
O Almirantado britânico sofreu duras críticas sobre a qualidade dos projéteis perfurantes que não penetravam a blindagem dos navios alemães, da qualidade das comunicações entre a capitânea e as unidades subordinadas. Os britânicos ainda estavam apegados à métodos antigos, como o uso de bandeiras e sinais luminosos que com a névoa e a fumaça dos canhões eram difíceis de serem compreendidas ou recebidos. Detalhe, a comunicação rádio ou telégrafo estava disponível.
Na Batalha, Jellicoe conseguiu por duas vezes em uma hora manobrar contra a Esquadra de Alto Ma a fim de cortar o T, mas em ambas as ocasiões, Scheer conseguiu se virar e se desvencilhar, evitando assim uma ação decisiva.
Os navios alemães tinham uma blindagem maior, melhor subdivisão interna e menos portas e outros pontos fracos em suas anteparas, mas com a desvantagem de que eram menores, deslocavam menos carga e o espaço para a tripulação era muito reduzido.
Havia ainda um procedimento dos britânicos que contribuíram para a destruição dos seus navios, que era o fato de deixarem os depósitos de munições abertos durante a batalha para facilitar o fluxo de munição para as torres dos canhões.
Apesar dos britânicos terem perdido mais navios, foi uma vitória estratégica do Reino Unido já que restringiu a Esquadra alemã aos seus portos e pequenas incursões.
A Esquadra alemã ancorada em segurança em seu porto e pronta para sair para a batalha, se constituía em uma ameaça que não podia ser ignorada pelos britânicos, que os obrigava a manter a Home Fleet no mar do Norte, sem poder explorar na plenitude sua superioridade naval. A estratégia alemã foi definida por Mahan como “esquadra em potência”.
O almirante Jellicoe foi muito criticado por não ter aproveitado as oportunidades que teve de destruir ou pelo menos provocar grandes perdas na Esquadra de Alto Mar. Já o almirante Scheer se saiu muito bem, provou mais baixas entre os britânicos e percebeu a manobra de Jellicoe de tentar cortar o “T” evitando a destruição de parte da Esquadra.
O resultado de Jutlândia e da estratégia britânica de confinar a Marinha alemã nos portos levou o Almirantado alemão a decisão de atacar de forma irrestrita as linhas de comunicação marítimas britânicas com submarinos, ou seja, atacando, igualmente, navios de nações neutras. O famoso Telegrama Zimmermann. Este fato teve como consequência a entrada dos EUA na guerra ao lado dos Aliados.
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Bibliografia
– BROOKS, John. The Battle of Jutland. Cambridge: Cambridge University Press, 2016.
– VIDIGAL, Armando; ALVES DE ALMEIDA, Francisco E. Guerra no Mar. Rio de Janeiro: Record, 2009.
Sites consultados
– https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Jutland
– https://www.britannica.com/event/Battle-of-Jutland
Vídeos disponíveis no You tube, em inglês.
– The Battle of Jutland – Clash of the Titans – Part 1 (Beatty vs Hipper): https://www.youtube.com/watch?v=TkR2HpkrJ2c
– The Battle of Jutland – Clash of the Titans – Part 2 (Jellicoe vs Scheer): https://www.youtube.com/watch?v=MffyRgq23ps
Filme:
Existe um filme mudo alemão “Die versunkene Flotte” (A frota afundada), que recebeu versões em inglês “Wrath of the Seas” (Fúria dos Mares) ou “When Fleet Meets Fleet” (quando esquadras encontram esquadras), de 1926. Dirigido por Graham Hewett e Manfred Noa estrelado por Bernhard Goetzke, Agnes Esterhazy e Nils Asther. O filme retrata a Marinha Imperial Alemã durante a Primeira Guerra Mundial, particularmente na Batalha da Jutlândia e é baseado em um romance de Helmut Lorenz.
Recomendações de livros:
Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.
Tenho lido livros do primeiro ministro britânico, e assistido vários filmes sobre o tema. Adoro História. Tenho acompanhado a saga do povo europeu, des dos tempos dos imperadores romano. História é minha paixão. É a primeira vez que leio algo sobre os encouraçados na primeira grande guerra. Sou estudante de história UEA Amazonas Brasil.
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