Prof. Esp. Pedro Silva Drummond
O Japão desde a Era Meiji tinha dado início a um processo de expansão territorial, participando de guerras principalmente, contra a China, Rússia e Coréia do Sul.
Á partir da década de 1930, o Japão inicia um processo de conquista de diversos territórios na China, conquistando a Manchúria em 1931 e com a Segunda Guerra Sino-Japonesa, que começa em 1937, tem o controle sobre outras regiões chinesas. Nesse período os japoneses entram em guerra contra os russos, na chamada Batalha de Khalkhin Gol, que tinha como objetivo, a soberania de uma região entre a Manchúria e a Mongólia.
No ano de 1941, o Japão dá início no que ficou conhecido como a Guerra no Pacífico, atacando a base norte-americana de Pearl Harbor e conquistando diversos territórios, principalmente possessões britânicas, como a Malásia e Birmânia. Durante esse período o Japão se concentrará em uma grande disputa contra os norte-americanos no Pacífico, porém, durante toda a Segunda Guerra Mundial, os japoneses batalharam por territórios no sudeste asiático, principalmente, contra as possessões britânicas, e é nesse contexto que acontecerá a Batalha de Infal. O conflito em Infal ocorrerá entre japoneses e britânicos, onde os primeiros desejavam invadir e conquistar o território indiano.
Batalha
No ano de 1943 e 1944, o Japão enfrentava uma grande resistência dos norte-americanos na Guerra do Pacífico, ao mesmo tempo, os japoneses no sudeste asiático, sofriam com a resistência dos chineses, que eram abastecidos pelos Aliados, que enviavam os materiais a partir da região de Brahmaputra, no nordeste da Índia. O objetivo japonês de invadir à Índia era cortar o abastecimento à China e criar um Estado tampão entre o território indiano controlado pela Inglaterra e a Birmânia, dificultando um ataque britânico aos territórios japoneses.
No início do ano de 1943, o comando japonês na Birmânia foi alterado. O tenente-general Masakazu Kawabe, assumiu a responsabilidade de assumir o comando do novo Exército da Área da Birmânia. O Tenente-General Renya Mutaguchi, foi o nomeado para comandar o XV Exército, que ficaria localizada perto da fronteira indiana, onde se localiza Infal. Infal é a capital do estado de Manipur, no nordeste do País, ficando no meio de uma planície.
O plano de Mutaguchi de invadir à Índia foi aprovado pelo Exército Expedicionário do Sul e pelo Quartel General Imperial em Tóquio. A operação foi batizada de Operação U ( U-Go ). O ataque japonês aconteceria da seguinte forma: “A 33ª Divisão de Infantaria sob o comando do Tenente-General Motoso Yanagida cercaria e destruiria a 17ª Divisão Indiana em Tiddim, atacando Imphal pelo sul… unidades destacadas das 33ª e 15ª Divisões Japonesas sob o comando do Major-General Tsunoru Yamamoto (comandante do Grupo de Infantaria da 33ª Divisão), destruiria a 20ª Divisão Indiana em Tamu, atacando Imphal pelo leste. A força seria apoiada pelo 14º Regimento de Tanques, equipado com 66 tanques variados, sob o comando do tenente-coronel Nobuo Ueda e o 3º Regimento de Artilharia Pesada sob o comando do tenente-coronel Kazuo Mitsui. A 15ª Divisão de Infantaria sob o comando do tenente-general Masafumi Yamauchi atcaria Imphal pelo norte. Em uma operação subsidiária separada, a 31ª Divisão de Infantaria sob o comando do tenente-general Kotoku Sato isolaria Imphal capturando Kohima na estrada Imphal-Dimapur e, em seguida, avançaria para Dimapur.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Imphal).
As forças de ataque do Japão tiveram a ajuda do Exército Nacional Indiano, que desejavam derrubar o controle britânico no País, desempenhando inicialmente as funções de apoio e reconhecimento, mas durante o conflito participou ativamente da batalha, com a “Primeira Divisão (inicialmente a Brigada Subhas ou 1º Regimento de Guerrilha, menos um batalhão enviado ao Arakan), cobrindo o flanco esquerdo do avanço da 33ª Divisão. O 2º Regimento de Guerrilha… O Grupo de Serviços Especiais, designado como Grupo Bahadur, atuando como batedores e desbravadores com as unidades japonesas avançadas nos estágios iniciais da ofensiva. Eles foram encarregados de se infiltrar pelas linhas britânicas e encorajar as unidades do Exército Indiano Britânico a desertar.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Imphal).
Infal foi defendida pelo IV Corpo do Exército, que tinha como comandante, Geoffry Scoones. O IV Corpo do Exército estava subordinado ao Décimo Quarto Exército, comandado pelo tenente-general William Slim. Na região da Batalha os adversários dos japoneses tinham, a 23ª Divisão de Infantaria Indiana , 20ª Divisão de Infantaria Indiana, 17ª Divisão de Infantaria Indiana, 50ª Brigada Indiana de Paraquedistas e a 254ª Brigada de Tanques Indiana.
Os militares que defendiam Infal, eram compostos “por pessoal britânico e indiano. Em cada brigada, havia geralmente um batalhão britânico, um gurkha e um indiano, embora duas brigadas (37ª Brigada na 23ª Divisão e 63ª Brigada na 17ª Divisão) fossem compostas inteiramente por unidades Gurkha. Cada divisão era apoiada por dois regimentos de artilharia de campo (geralmente britânicos) e um regimento de artilharia de montanha indiano.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Imphal).
No dia 8 de março, teve início a ofensiva japonesa “cruzando o rio Chindwin…, Scoones não deu ordem para recuar perto de Imphal até 13 de março. Como resultado, a 17ª Divisão indiana permitiu que seus depósitos de suprimentos fossem capturados pelos japoneses e cercados. No entanto, o 214º Regimento da 17ª Divisão contra-atacou com sucesso em Tuitum Saddle em 18 de março. Os japoneses seguiram de perto a retirada das tropas indianas. Assim que a 17ª Divisão indiana alcançou Imphal, o ataque começou. A 33ª Divisão japonesa atacou de Bishenpur pelo sul, embora o ataque tenha sido cauteloso e lento. De Tamu, o major-general Tsunoru Yamamoto, unidades de comando das 15ª e 33ª Divisões e duas brigadas de tropas indianas atacaram Shenam Saddle perto de Imphal e foram rapidamente detidos pelas tropas indianas neste cruzamento facilmente defendido. Do norte, o restante da 15ª Divisão atacou e primeiro capturou um pequeno depósito de suprimentos em Kangpokpi, em seguida, capturou a colina Nungshigum, que dava para o campo de aviação principal de Imphal. O ataque inicial não foi tão bem quanto Mutaguchi planejou originalmente, e a campanha possivelmente prolongada agora estava ameaçada por uma longa linha de abastecimento através das selvas birmanesas. Foi exatamente o que seus generais de campo alertaram. Para piorar as coisas, especialmente para a 31ª Divisão japonesa, a 23ª Brigada LRP britânica estava interrompendo seriamente as operações de abastecimento japonesas atrás das linhas, tornando quase impossível até mesmo a pilhagem a leste de Kohima.” (CHEN)
Com a vitória em Kohima pelas tropas britânicas/indianas o XXXIII Corpo conseguiu se unir ao IV Corpo, e atacou as tropas japonesas por toda estrada Dimapur-Imphal, perto do Marco 109, em 22 de Junho. “A 33ª Divisão japonesa, agora sob o comando do tenente-general Nobuo Tanaka e recentemente reforçada por batalhões das 53ª e 54ª Divisões, continuava a exercer pressão sobre as tropas indianas, apesar dos recentes contratempos. A 33ª Divisão quase rompeu a linha estabelecida pela 17ª Divisão indiana em Bishenpur, mas no final os japoneses sofreram tantas baixas que a ofensiva foi cancelada pelos generais da linha de frente em 3 de julho de 1944.” (CHEN)
Após a vitória das tropas adversárias do Japão em Kohima, unindo os Corpos de Exército em Infal, os japoneses não conseguiram resistir e a ofensiva japonesa na Índia e voltaram para Birmânia, com os restantes das tropas que tinham sobrevivido.
Conclusão
A derrota do Japão em Infal e consequentemente em Kohima foi uma das maiores perdas do País na Segunda Guerra Mundial, “dos 65.000 soldados da linha de frente, 30, 000 foram mortos, 23.000 feridos e 600 capturados; entre as 50.000 tropas de apoio, houve 15.000 baixas. Os Aliados sofreram apenas 17.500 baixas em comparação.” (CHEN)
Além das perdas humanas, os japoneses também perderam “12.000 cavalos de carga e mulas em suas unidades de transporte e os 30.000 bovinos usados como animais de carga ou como rações, e muitos caminhões e outros veículos. A perda de animais de carga iria paralisar várias de suas divisões durante o ano seguinte.” (https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Imphal).
Quanto aos britânicos,”Slim e três dos comandantes de seu corpo (Scoones, Christison e Stopford ) foram nomeados cavaleiros pelo vice-rei Lord Wavell , em uma cerimônia em Imphal diante dos regimentos” (https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Imphal).
Outro aspecto importante para vitória foi a Força Aérea Britânica (RAF), que teve papel decisivo, fornecendo diversos suprimentos e transporte necessário para a batalha, como: “19.000 toneladas de suprimentos e 12.000 homens para a região de Kohima-Imphal e retirou 13.000 vítimas e 43.000 não combatentes.” (CHEN)
A vitória britânica possibilitou que os japoneses continuassem sofrendo com a resistência chinesa, que era abastecido pelo território indiano e com os possíveis ataques ao território da Birmânia controlado pelo Japão. A conquista na Batalha de Infal e Kohima foi decisiva para que no ano seguinte os britânicos conseguissem expulsar os japoneses do território birmanês.
Em 2013, o British National Army Museum fez uma pesquisa para que as pessoas pudessem votar na maior batalha da Grã-Bretanha e o público elegeu a Batalha de Infal-Kohima, como a vencedora, ficando na frente inclusive, do Dia D, que ficou em segundo lugar, Waterloo, Rorke’s Drift e Aliwal.
Imagem de Destaque: Tanque britânico cruzando o rio em Imphal para combater o avanço japonês – https://www.iwm.org.uk/history/10-photos-of-the-battles-of-imphal-and-kohima
Bibliografia
– CHEN, C. Peter. Batalha de Imphal-Khima. Disponível em: <https://ww2db.com/battle_spec.php?battle_id=188>. Acessado em: 14/07/2023.
– https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Imphal
– https://byjus.com/free-ias-prep/battle-of-imphal-1944/
– https://www.awmlondon.gov.au/battles/imphal
Especialização em História Militar pela Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), Graduação em História (Bacharel e Licenciatura) pela Universidade Gama Filho (UGF), autor de Artigos em História Militar.