Prof. Dr. Ricardo Pereira Cabral
Durante a Guerra Cisplatina (1825-1828) a principal missão da Marinha Imperial foi bloquear Buenos Aires, principal polo econômico do Prata. A Esquadra brasileira patrulhava o canal que dava acesso ao ancoradouro de Los Pozos, onde se refugiara a Esquadra Argentina, que esperava a oportunidade para sair dar combate utilizando o conhecimento que tinhas da região.
Ancorada em frente a Punta de Lara, a Divisão brasileira era composta pelos seguintes navios fragata Niterói (38 canhões), corvetas Itaparica (20 canhões) e Maceió (20 canhões); brigues Caboclo (18 canhões), Pirajá (22 canhões) e 29 de agosto (18 canhões), e a escuna Leal Paulistana (8 canhões). Tinha também outros barcos, distanciados a sotavento, a 2ª Divisão, composta por navios com menos capacidades como os iates-canhoneiras 9 de Janeiro – 2 canhões, o 12 de outubro – 2 canhões, o 7 de março – 3 canhões, e a Conceição – 4 canhões). A Divisão bloqueadora da Esquadra Imperial, era comandada pelo capitão-de-mar-e-guerra James Norton. No alvorecer do dia 30 de junho chegou a corveta Maria da Glória (30 canhões), trazendo a esposa de Norton e reforçando a Esquadra Imperial.
A barlavento, em linha reta, encontrava-se a esquadra argentina, com seus melhores navios: a fragata 25 de Mayo (36 canhões), o brigue-barca Congreso (18 canhões), o Independencia (22 canhões), o Republica (16 canhões) e o Balcarce (14 canhões); o corsário Oriental-Argentino (13 canhões); as escunas Sarandi (8 canhões), Rio de La Plata (1 canhão) e Pepa (1 canhão); e oito barcas-canhoneiras de nº 1, 2, 3, 5, 8, 9, 10 e 11. A Esquadra da República Argentina, comandada pelo Almirante William Brown.
Em 29 de junho de 1827, o almirante Brown expôs o seu plano: a sua esquadra suspenderia, cortaria a formação brasileira, envolvendo-a entre dois fogos e a destruindo, antes que os navios que estavam a retaguarda pudessem vir em seu auxílio.
As 22:30 h os navios argentinos saíram sob a liderança da fragata 25 de Mayo que após sair do canal fez contato com a escuna D. Paula e a abalroou. Alertada pela escuna Conceição, a fragata Niterói exibiu dois faróis com ordens para a esquadra brasileira suspender. A 25 de Mayo abriu fogo e quando chegou ao alcance a Niterói e a escuna Cabloco responderam. Só a escuna Rio de La Plata acompanhava a 25 de Mayo obrigando a arribar (retornar) para se ajuntar as demais unidades, frustrando seu plano de ataque.
Como na escuridão, o ambiente era muito confuso e havia o perigo dos navios da mesma esquadra combatessem entre si. Norton decidiu suspender fogo e aguardar o amanhecer, no que foi seguido por Brown.
No alvorecer do dia 30 de junho de 1826, as duas esquadras suspenderam e navegaram em paralelo no rumo SE, os argentinos a barlavento (uma vantagem) e os brasileiros desfalcados da corveta Liberal, da escuna Conceição e dos navios da 2ª Divisão, a escuna Leal Paulista, os iates-canhoneiras 9 de Janeiro, 12 de outubro e o 7 de março.
Entre as duas linhas de batalha, estava o brigue Pirajá que foi o primeiro a abrir fogo. A Divisão de Norton orçava¹ ao máximo a fim de diminuir a distância
Ao perder o barlavento, Brown rentou uma manobra ousada, arribar e cruzar a linha de batalha brasileira. No entanto viu que só a Rio de La Plata lhe seguia. Norton prevendo suas intenções. Virou por davante com a vanguarda, aproando para o norte e colocando a 25 de Mayo (capitânea de Brown) e a Rio de La Plata sob dois fogos. Encurraladas, a 25 de Mayo tinha pela aleta de bombordo, pelo través de boreste a Niterói e pela popa a Caboclo. Só lhe restou a retirada, mas perseguida pelos navios brasileiros foi sendo destruída e teve grandes perdas entre a sua tripulação. Com isso o restante da força naval platina se dispersou e depois buscou abrigo em Los Pozos.
A Batalha Naval de Lara-Quilmes foi a última tentativa do almirante Brown de furar o bloqueio da Armada Imperial imposto a Buenos Aires.
Martins e Boiteux argumentam que a manobra tentada pelo almirante Brown, foi semelhante a executada pelo almirante Nelson em Trafalgar. Esta manobra só poderia ser feita por um esquadrão homogêneo em material e, principalmente, em treinamento, e não por uma força improvisada, que nunca havia feito um exercício tático de manobra em conjunto. E falhou porque Norton a previu e manobrou adequadamente, aproveitando-se, ao mesmo tempo, do isolamento do adversário.
Para aqueles que gostaram e querem ler mais sobre o assunto recomendamos as seguintes obras:
– História Naval Brasileira. 3º Volume. Tomo 1. Marinha do Brasil. Rio de Janeiro: Serviço de documentação da Marinha, 2002.
– MAIA, João do Padro. A Marinha de Guerra do Brasil na Colônia e no Império.: tentativa de reconstituição histórica. Rio de Janeiro; Cátedra; Brasília: INL, 1975.
– Obras do Barão do Rio Branco VI: efemérides brasileiras. Rodolfo Garcia, organizador. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012.
¹ Orçar – direcionar (embarcação) para a linha do vento; navegar à bolina
Imagem de Destaque: Fragata Niteroy
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Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.
Obrigado.
Agradeço o comentário. Peço desculpas pela demora na resposta. Vamos continuar a publicar ensaios sobre a nossa Marinha do Brasil!!!